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Contextualização do vôlei de praia feminino do Brasil

 

*Concluinte do Ensino Médio (Colégio Santa Luzia)

Atleta de vôlei e vôlei de praia.  

**Graduado em Jornalismo (Unisinos) e Educação Física (Ulbra)

Pós-graduando em Administração e Marketing Esportivo (Gama Filho)

Autor dos livros “Universíade 1963 – História e Resultados

dos Jogos Mundiais Universitários de Porto Alegre”

“Tie Break – A saga dourada do vôlei masculino do Brasil”; e

“A Vitória vem dos Céus – A trajetória do brasileiro campeão mundial de judô”

Carolina Stumpf Aguiar*

Rodrigo Koch**

rodrigokoch@radioguaiba.com.br

 

 

 

Resumo

          O vôlei de praia é um esporte praticado em quadra de areia, principalmente na praia. Nesta modalidade os jogadores precisam atuar em todas as posições, trabalhar todos os fundamentos, e jogar em qualquer situação climática. Mesmo o vôlei de praia não tendo sua origem no Brasil, em pouco tempo as duplas formadas por brasileiros alcançaram o favoritismo, tornando o país um dos principais pólos do esporte no planeta, tanto pelo nível dos atletas quanto pelo sucesso de público. Em especial, o naipe feminino do Brasil criou uma escola em nível mundial. Através de revisão bibliográfica, pesquisa de campo e, em arquivos, apresentamos as principais personagens do vôlei de praia feminino brasileiro; e a evolução da modalidade no país. Nos quatro últimos Jogos Olímpicos o vôlei de praia feminino do Brasil esteve sempre presente no pódio, com exceção da última edição em Pequim. O ápice do desempenho brasileiro entre as mulheres na praia foi na edição de Atlanta-1996, com as duas duplas do país fazendo a final do torneio. Este desempenho possibilitou que houvesse maior incentivo financeiro, o que projetou este esporte tanto âmbito nacional quanto no internacional. Entre as atletas brasileiras se destacam Jaqueline Silva, Sandra Pires, Shelda, Adriana Behar e, atualmente Juliana e Larissa. 

          Palavras chave: Vôlei de praia feminino. Jogos Olímpicos.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 126 - Noviembre de 2008

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1.     Introdução 

    O vôlei de praia, conhecido mundialmente como beach volley, é um esporte praticado em uma quadra de areia, principalmente na praia. Nesta modalidade os jogadores precisam atuar em todas as posições, trabalhar todos os fundamentos, e, muitas vezes, jogar embaixo do sol forte. O modo mais conhecido de jogar é entre duplas, masculinas ou femininas, mas também pode ser jogado em quartetos que podem ser masculinos, femininos ou mistos.

    O vôlei de praia foi considerado modalidade esportiva recentemente. Começou a ser praticado nas praias do sul da Califórnia (Estados Unidos), por volta da década de 1940, enquanto que nessa época no Brasil era visto apenas como uma forma de lazer entre amigos ou em família. Na década de 1950, pela primeira vez o Brasil teve uma competição de vôlei de praia. Torneios amadores foram realizados em diversos pontos do país, principalmente no Rio de Janeiro.

Carolina Stumpf Aguiar

    No entanto, o esporte só viria a se desenvolver na década de 1980, com a ascensão do vôlei brasileiro nas quadras e a participação das estrelas da chamada ‘Geração de Prata’ em eventos organizados pela Confederação Brasileira de Vôlei com a presença dos grandes nomes do vôlei de praia americano. Em 1986 houve um grande salto na modalidade, quando no Rio de Janeiro sediou o primeiro campeonato mundial, com a participação de oito países. Mas nessa época, as mulheres ainda não participavam de campeonatos mundiais. Em 1992, foram realizadas as primeiras competições femininas e em 1994 o primeiro circuito mundial para mulheres.

    Depois de uma longa jornada, no ano de 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, o vôlei de praia passou a fazer parte das modalidades olímpicas, tendo o Brasil conquistado as medalhas de ouro e prata na categoria feminina e chegando ao nono lugar com a equipe masculina.

    Mesmo o vôlei de praia não tendo sua origem no Brasil, em pouco tempo as duplas formadas por brasileiros alcançaram o favoritismo, tornando o Brasil um dos principais pólos do esporte no planeta, tanto pelo nível dos jogadores quanto pelo sucesso de público. (SILVA, 2004).

2.     Vôlei de praia feminino do Brasil em Jogos Olímpicos 

    Em poucos anos de profissionalismo, o vôlei de praia apresentou um rápido desenvolvimento em território brasileiro, principalmente na categoria feminina, onde as duplas do país dividem as honras com as duplas norte-americanas. Basta acompanharmos a participação do Brasil em Jogos Olímpicos, entre as mulheres, para constatarmos a superioridade brasileira.

2.1.     Jogos Olímpicos de 1996 – Atlanta

    O vôlei de praia levou décadas até ser incluído como modalidade olímpica. Em 1996, pela primeira vez, este esporte esteve incluído em uma olimpíada. Em Atlanta (Estados Unidos), 24 equipes masculinas de 19 países e 18 femininas de 13 países brigaram pelas medalhas de ouro, prata e bronze. As duplas brasileiras entraram como favoritas ao ouro. Jacqueline Silva/Sandra Pires e, Mônica Rodrigues/Adriana Samuel foram as representantes do Brasil. “As rainhas da areia” não desapontaram, e como era esperado, chegaram a final garantindo as medalhas de ouro e prata.

    A dupla Mônica Rodrigues e Adriana Samuel ficaram com o segundo lugar, pois tropeçaram logo na primeira fase perdendo para a outra dupla brasileira, a mesma que enfrentariam na final.

    Jacqueline e Sandra ganharam todas as partidas da competição que disputaram em Atlanta Beach, tornando-se as primeiras mulheres brasileiras a conquistar uma medalha olímpica, pois até então nenhuma representante do sexo feminino havia conquistado medalha em competições olímpicas e, também nunca os brasileiros tinham ocupado os dois lugares mais altos do pódio. Logo na estréia, Jacqueline e Sandra ganharam fácil da dupla da Indonésia, Timmy e Eta, por 15/12; mas na segunda partida já encararam adversárias mais fortes, e apesar das dificuldades venceram a dupla australiana, Fenwick e Spring por 15 a 13. Na terceira rodada as brasileiras Mônica e Adriana não ofereceram resistência perdendo por 15/4. A vitória sobre a dupla norte-americana, Fontana e Henley, na segunda fase, as colocou na final. Na decisão, as duplas brasileiras, Mônica/Adriana e Jacqueline/Sandra se encontraram novamente. O primeiro set foi equilibrado, com parcial de 12/11 pró Jaqueline e Sandra. No segundo houve maior facilidade, pois Mônica e Adriana estavam abatidas, fazendo com que Jacqueline e Sandra fechassem o set sem muito esforço por 12/6, garantindo o ouro.

    Essa dobradinha brasileira na estréia da modalidade em Jogos Olímpicos foi o incentivo que faltava para o esporte ganhar força e estrutura no Brasil.

2.2.     Jogos Olímpicos de 2000 – Sydney

    Após a vitória histórica nos jogos de Atlanta, o Brasil passou a ser uma grande potência no vôlei de praia, o que lhe garantiu o favoritismo nos Jogos Olímpicos de Sydney. A classificação para as finais dos Jogos Olímpicos e a disputa do bronze confirmou a supremacia do vôlei de praia feminino no Brasil.

    A dupla Adriana Behar/Shelda conseguiu seu lugar na final ao vencer a dupla japonesa Saiki e Takahashi, com alguma dificuldade nas semifinais. Na disputa para a outra vaga na final estava a dupla brasileira Sandra Pires e Adriana Samuel contra as australianas Natalie Cook e Kerri Pottharst. A dupla local não deu ao Brasil o gosto de repetir o feito dos Jogos de Atlanta, vencendo Sandra/Adriana Samuel, que acabaram ficando com o bronze ao derrotarem as japonesas Saiki e Takahashi. Apesar de favoritas ao ouro Adriana e Shelda, mesmo começando a partida em vantagem acabaram cedendo e deixando a dupla australiana ultrapassarem no placar dando-lhes a vitória que valia o ouro. O resultado na praia de Bondi surpreendeu a todos, pois todos os prognósticos apontavam Adriana Behar e Shelda como favoritas absolutas. A reação da dupla brasileira após o jogo foi de tristeza e fracasso. Shelda declarou que "não podia pensar que todo trabalho foi jogado fora. Jogo é jogo. Em quadra você nem sempre vai ganhar. As adversárias jogaram melhor e, elas não aproveitaram as oportunidades. Teriam que trabalhar mais. Precisavam pensar por outro lado, pois colocaram o Brasil no pódio. Podiam cruzar outras dez vezes e não saberiam qual seria o resultado".

2.3.     Jogos Olímpicos de 2004 – Atenas

    A classificação final obtida nas areias de Faliro, em Atenas, não foi o melhor resultado conquistado por brasileiros no vôlei de praia em Jogos Olímpicos, mas pode-se dizer que foi satisfatória.

    A dupla brasileira formada por Ana Paula e Sandra Pires ficou em quinto lugar e, Adriana e Shelda perderam novamente a chance de confirmarem a medalha de ouro olímpica, mas desta vez a prata foi uma grande conquista para a dupla mais premiada do Brasil e uma das mais vitoriosas do mundo. Na época as brasileiras eram lideres do ranking mundial, mas perderam seu favoritismo para a dupla norte-americana Misty May e Kerri Walsh que desde o início daquele ano receberam o rótulo de principais candidatas à medalha de ouro nos Jogos de Atenas. Prova disso, foi a reação completamente diferente de Shelda quatro anos depois. A maior vencedora do circuito mundial de vôlei de praia declarou aos repórteres que se colocavam na zona de entrevistas da arena que "estava superfeliz, porque as americanas eram as favoritas. Conseguiram estar novamente em uma final olímpica. Um feito inédito no vôlei de praia. Não foi ouro, mas estavam felizes com a prata". Adriana ainda completou ressaltando o fato da dupla brasileira ser a única que havia mantido a parceria no último ciclo olímpico.

Rodrigo Koch, Atenas 2004

    Como já era esperado, a dupla norte-americana passou com facilidade pelas demais duplas dos outros países, não perdendo nenhum set até chegarem à final. Nem mesmo a dupla brasileira conseguiu vencer May e Walsh, que dispunham de um excelente bloqueio, uma defesa eficiente e um ataque definidor. Com a medalha de prata no pescoço, Adriana e Shelda comemoraram como se fosse de ouro, ao contrário do que fizeram na olimpíada anterior, onde se sentiram bastante abatidas ao perderem o título para a dupla australiana.

2.4.     Jogos Olímpicos de 2008 – Pequim

    A atuação que o vôlei de praia feminino teve em Pequim, foi com certeza, a pior na história dos Jogos Olímpicos.

    A dupla principal, Juliana e Larissa, enfrentou grandes problemas antes mesmo de começar os Jogos, quando Juliana rompeu os ligamentos do joelho direito. A jogadora desistiu de fazer cirurgia na articulação para poder disputar a Olimpíada. Entretanto, já em Pequim, Juliana voltou a sentir dores no joelho fazendo com que a delegação chamasse as pressas Ana Paula para substituí-la. Sentindo a falta de entrosamento, Larissa e Ana Paula conseguiram chegar apenas as quartas-de-final onde perderam para Walsh e May, que mantinham a mesma excelência de Atenas e, viriam a se tornar campeãs.

    Já Renata e Talita fizeram uma campanha um pouco melhor – e surpreendente – até encontrar com Walsh e May nas semifinais. As americanas mais uma vez mostraram sua soberania perante as duplas brasileiras vencendo-as. Na disputa da medalha de bronze, Renata e Talita não agüentaram a pressão das chinesas Xue e Zhang, e acabaram os Jogos de Pequim em quarto lugar, deixando o Brasil pela primeira vez em uma Olimpíada sem subir no pódio no vôlei de praia feminino.

    O quadro e o gráfico a seguir demonstraram as boas colocações obtidas pelas jogadoras brasileiras no vôlei de praia nas quatro edições que a modalidade esteve presente em Jogos Olímpicos, apesar de evidenciar uma queda no rendimento ano a ano. 

Colocações das Jogadoras Brasileiras de Vôlei de Praia em Jogos Olímpicos

 

Atlanta-1996

Sydney-2000

Atenas-2004

Pequim-2008

Jackie Silva

 

 

 

Sandra Pires

 

Mônica

 

 

  

Adriana Samuel

 

  

Adriana Behar

 

 

Shelda

 

 

Ana Paula

 

 

Larissa

 

 

 

Renata

 

 

 

Talita

 

 

 

2.5.     Crescimento do vôlei de praia no Brasil

    O vôlei de praia até chegar aonde chegou passou por grandes e numerosas modificações, pois antes era visto no Brasil apenas como uma forma de lazer, praticado por um grupo de amigos ou familiares à beira da praia.

    Não é possível afirmar com certeza o responsável pela introdução dessa modalidade esportiva no Brasil. Com o aumento de praticantes foram realizados pequenos torneios informais, organizados pelos próprios jogadores.

    Na década de 1950, ocorreu no Brasil, pela primeira vez, uma competição de vôlei de praia, com direito a cobertura jornalística e patrocínio. (VIEIRA, 2007).

    Nas décadas seguintes o número de adeptos a essa modalidade foi crescendo, cobrindo as praias do Rio de Janeiro e Niterói nos fins de semana. Ainda, praticado mais como diversão, novos torneios foram organizados, mas todos de forma amadora. (VIEIRA, 2007).

    O ano de 1986 foi de grande importância para a consolidação do esporte no Brasil, pois foi o ano em que foi realizado o primeiro torneio de exibição internacional do esporte, que nos Estados Unidos já era praticado profissionalmente desde 1975. Os jogadores brasileiros, Renan, Badalhoca, Montanaro e Willian – que faziam parte da seleção de vôlei de quadra e ainda tinham pouca experiência na praia – ao lado das jogadoras Jacqueline, Isabel, Vera Mossa e Regina Uchoa deram os primeiros passos na areia e ajudaram a popularizar a modalidade.

    Em 1990, a FIBV (Fédération Internationale de Volleyball) decidiu promover o primeiro Circuito Mundial Masculino. Nessa época o Brasil já havia se estabelecido como um dos principais pólos do esporte, por ter jogadores com um nível excelente e por ter um grande sucesso de público. As três etapas do circuito ocorreram no Rio de Janeiro.

    No ano de 1991 foi criado o Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia e, a criação desta disputa proporcionou o surgimento de novos atletas e sua afirmação no cenário mundial. No primeiro ano, o torneio era aberto apenas para duplas masculinas e teve cinco etapas. O campeonato superou as expectativas, e seu crescimento foi inevitável. Devido ao seu sucesso, em 1992, o torneio passou a ter 16 etapas e cinco delas femininas. Jacqueline e Isabel foram às primeiras campeãs.

    Em 1994 o Brasil venceu o circuito mundial nas categorias femininas e masculinas pela primeira vez. O vôlei de praia passou a receber maior incentivo após os Jogos Olímpicos de Atlanta, onde houve um grande sucesso das duplas femininas brasileiras e, a partir de então foram surgindo várias duplas; todas fazendo jus à denominação Reis e Rainhas da praia.

    O vôlei de praia, no Brasil, é reconhecido como esporte pelas principais entidades que controlam o segmento no país: Ministério do Esporte, Comitê Olímpico Brasileiro e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a pesquisa Dossiê Esporte, em seu capítulo 2, o vôlei de praia aparece entre as dez modalidades mais acompanhadas pelo público brasileiro através da mídia, estando inclusive na frente do futsal. No entanto, o mesmo estudo nos mostra que o vôlei de praia em relação aos demais esportes ainda é pouco praticado pelos brasileiros e, que também – por enquanto – não conseguiu produzir ídolos e atletas de referência para futuras gerações.

2.6.     História de Jaqueline Silva e Sandra Pires

    Jaqueline Silva começou sua carreira jogando vôlei de quadra, e aos 14 anos já fazia parte da seleção brasileira de vôlei indoor. Conquistou inúmeros títulos junto com a seleção e foi considerada a melhor levantadora nos Jogos Olímpicos de Moscou. Mudou-se para os Estados Unidos na década de 1980 onde começou a praticar vôlei de praia e, ao voltar para o Brasil fez duplas com várias jogadoras, mas foi com Sandra Pires com quem obteve melhores resultados.

    Já Sandra, começou no vôlei de praia aos 19 anos, disputando torneios na praia; mas foi aos 23 anos que conseguiu seu maior título, uma medalha de ouro inédita nos Jogos Olímpicos de Atlanta ao lado de Jaqueline.

    A parceria dessas duas atletas começou no inicio dos anos 90, onde ganharam praticamente todos os torneios disputados no Brasil e Estados Unidos, mas nenhum se compara ao feito de ser a primeira dupla feminina a ganhar uma medalha de ouro em jogos olímpicos e a única brasileira a ganhar esse título.

    Nas seguintes olimpíadas Sandra conquistou a medalha de bronze ao lado de Adriana Samuel nos Jogos de Sydney, e ficou em quinto lugar nos Jogos de Atenas ao lado de Ana Paula.

    Jaqueline Silva e Sandra Pires foram jogadoras fundamentais para a consagração do vôlei de praia feminino no Brasil, pois juntas receberam da Federação Internacional de Vôlei o título de Melhor Dupla da Última Década do Século XX.

2.7.     História de Adriana Behar e Shelda

    Não foi nas areias do Rio de Janeiro que a carioca Adriana Behar começou sua carreira, mas sim jogando vôlei de quadra pelo Flamengo. Passou a jogar vôlei de praia no ano de 1992; e antes de fazer dupla com Shelda, disputou o Circuito Brasileiro de 1993 com Ana Richa e o Circuito Mundial de 1993 a 1995 com Magda.

    Shelda Bedê nasceu em Fortaleza no ano de 1973. Influenciada a traçar o mesmo caminho da mãe e da irmã, foi jogar no time de vôlei de quadra do BNB de Fortaleza aos 14 anos de idade. Em 1989, conseguiu entrar para a Seleção Brasileira Infanto, mas, logo foi cortada. Convencida de que não teria futuro devido à baixa estatura, trocou as quadras pela areia. Deixou a família em Fortaleza e foi jogar no Rio de Janeiro. Antes de formar dupla com Adriana, Shelda jogou com Magda e por último com Isabel.

    Patrocinadas pelo Vasco, Adriana Behar e Shelda Bedê formaram uma das duplas mais vitoriosas e bem-sucedidas da história do vôlei de praia mundial incluindo a categoria masculina.

    Conforme informações do netvasco, em 12 anos de parceria, foram mais de mil vitórias em cerca de 1.200 jogos e 114 títulos, entre eles os de octacampeãs do Circuito Brasileiro (1996, 1997, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004), hexacampeãs do Circuito Mundial (1997, 1998, 1999, 2000, 2001 e 2004), bicampeãs mundiais (1999 e 2004), medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1999, ouro no Goodwill Games de Nova York (1998), prata no Goodwill Games da Austrália (2001), prata nos Jogos Olímpicos de Sydney (2000) e prata nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004).

    Shelda e Adriana, devido ao imenso sucesso que fizeram enquanto jogaram juntas, foram as primeiras atletas brasileiras, masculino ou feminino de qualquer esporte, a serem integradas na galeria dos Heróis Olímpicos do Comitê Olímpico Internacional.

    Adriana Behar, antes de completar 39 anos de idade resolveu abandonar a carreira devido à série de contusões que vinha sofrendo. Deixou Shelda livre para formar parceria com Ana Paula para a temporada de 2008. 

    Em quatro edições dos Jogos Olímpicos, com a presença do vôlei de praia no programa de competições, apenas quatro países subiram no pódio feminino da modalidade. O Brasil, com exceção dos Jogos de Pequim-2008, sempre esteve presente entre as duplas premiadas. Nas duas últimas edições dos Jogos Olímpicos, as duplas australianas deixaram de ser premiadas e houve o crescimento dos Estados Unidos, em função da dupla formada por Walsh e May.  

2.8. Duplas brasileiras da atualidade

2.8.1.     Juliana e Larissa

    Juliana começou a jogar vôlei apenas para evitar as aulas de educação física da escola. Jogou no Colégio Marista e na Seleção do Rio Grande do Norte, e jogava na praia apenas nas férias. Depois de jogar no Sport Recife, no Amapá e, em Ribeirão Preto, optou por seguir carreira no vôlei de praia, quando a convidaram para jogar em Fortaleza, cidade onde nasceu. O único título importante conquistado por Juliana, sem a parceira Larissa, foi no Mundial sub-21, em 2002, quando jogou com Taiana Lima. Disputou etapas dos Circuitos Brasileiro e Mundial com Jacqueline Silva.

    A história de Larissa é parecida com a de Juliana, tendo começado e jogado durante quatro anos vôlei de quadra. Em 2001 resolveu passar para o vôlei de praia. Conquistou medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo-2003 ao lado de Ana Richa. Depois passou a jogar com Juliana e, então, a carreira decolou. Foi vice-campeã do Circuito Mundial e do Circuito Banco do Brasil em 2004. Larissa chegou ao título das duas competições em 2005. Nesse ano, Larissa e Juliana disputaram 15 etapas do Circuito Mundial e subiram ao pódio 14 vezes, seis delas para receber a medalha de ouro. Larissa e Juliana se destacam no cenário atual e, prometem trazer muitos títulos para o Brasil.

2.8.2.     Renata e Talita

    Renata Ribeiro, assim como muitas atletas do vôlei de praia, começou jogando vôlei de quadra no ano de 1993. Jogou no Botafogo, no Fluminense e no Flamengo. Após alguns anos, resolveu trocar a quadra pela areia. Em 2001 estreou jogando com Rejane. Em 2002 atuou com Talita e, de 2003 a 2004 com Shaylyn.

    Aos 19 anos, Talita impressionou a campeã olímpica Jacqueline Silva, quando jogaram juntas pela primeira vez na etapa de Maceió. Em 2001, a convite Jacquie, Talita se mudou para o Rio de Janeiro para jogar como sua parceira. Mas Jacqueline sofreu uma contusão e Talita passou a jogar com Renata. A atleta ainda jogou alguns campeonatos fazendo parceria com outras jogadoras, mas em 2005 retomou sua parceria com Renata, com quem vem obtendo ótimos resultados.  

2.8.3.     Maria Clara e Carol

    As irmãs Maria Clara e Carol formam a mais nova dupla brasileira de destaque no circuito mundial. Treinadas pela mãe, a ex-jogadora das quadras e areias – Isabel –, as duas em pouco tempo já atingiram resultados significativos.

    Maria Clara Salgado Rufino, desde janeiro de 2003 joga ao lado da irmã, Carol. A atleta joga vôlei desde os 12 anos. Passou cinco anos no Flamengo, mas sempre jogou na praia paralelamente. Em 2000, trocou a quadra pelas areias e virou parceira de Jacqueline.

    Carolina Salgado Collet Solberg, começou a jogar vôlei na praia, aos nove anos, na escolinha da mãe, e aos 11 anos, entrou para o time do Flamengo. Em 2002, jogou na seleção infanto-juvenil e foi campeã sul-americana. Neste ano, juntou-se a irmã Maria Clara passando a se dedicar só às areias. Desde 2003, Carol representa o Brasil em campeonatos mundiais. Foi vice-campeã no Circuito Sub-18, na Tailândia, e bronze no Sub-21, na França, ao lado de Maria Clara. Em 2004, ficou com o ouro no Mundial Sub-21, feito que repetiu em 2005. Foi considerada uma das revelações das temporadas 2004 e 2005 do Circuito Banco do Brasil.

    A jovem dupla subiu ao pódio pela primeira vez no Circuito Mundial em novembro de 2005, na etapa da África do Sul, quando ficaram em terceiro lugar, atrás das campeãs olímpicas Walsh e May e das já consagradas Juliana e Larissa. Em 2008, Maria Clara e Carol estiveram entre as melhores nas etapas de Jablonski (Polônia), de Marselha (França), e de Dubai (Emirados Árabes) e, foram campeãs da etapa de Myslowice (Polônia); ocupando a terceira colocação no ranking, atrás de outras duas duplas brasileiras (Ana Paula/Shelda e Renata/Talita).

2.9.     Transferências de jogadoras de quadra para praia

2.9.1.     Ana Paula

    Ana Paula Rodrigues começou a carreira jogando voleibol de quadra. Antes de ser convocada para a seleção, defendeu o Mackenzie e o Minas Tênis Clube. Em 1989 foi chamada para a seleção juvenil e rapidamente conquistou um lugar na seleção brasileira adulta. No ano de 1992, disputou a primeira Olimpíada da carreira. Ficou durante bastante tempo no vôlei de quadra, e foi eleita em 1994 a melhor jogadora da Copa do Mundo de Voleibol, mas optou em continuar a carreira no vôlei de praia. Na areia fez parceria com Sandra com quem foi campeã do Circuito Mundial, e conseguiu vencer outras três etapas com três parceiras diferentes: Mônica Rodrigues em 2000; Shaylyn em 2005; e com Leila em 2006.

2.9.2.     Leila Gomes de Barros

    Leila começou a carreira aos 15 anos de idade, e jogava de ponta quando foi convocada pelo técnico André Muzzi para treinar na AABB. Morou durante três anos em Belo Horizonte com outras duas jogadoras da seleção, Hilma e Edmara. Começou no Minas Tênis, e, em 1991, já estava na Seleção Brasileira. Após três anos foi cortada pelo técnico Bernardinho, o qual alegava ser a jogadora muito baixa para o esporte e não saber dar passes. Ela não desistiu da carreira no vôlei, e passou a treinar na equipe do L’Acqua di Fiori, onde praticava impulsão e passe de bola, e, ainda, trabalhava a musculação. Com esse treinamento, obteve excelentes resultados, ganhando em 1996 o título de melhor jogadora do mundo, no Grand Prix da Ásia, ano em que também conquistou a medalha olímpica de bronze. Em 2000 passou a treinar pelo Flamengo, porém ficou nessa equipe apenas um ano, já que o time se desfez. Leila ainda jogou no Rexona-Ades, melhor equipe do vôlei brasileiro até hoje, e, depois, encerrou a carreira nas quadras e passou a jogar vôlei de praia, fazendo dupla com Sandra.

2.9.3.     Virna Cristina Dantas Dias

    Virna começou a carreira no vôlei de quadra. Em 1991 foi convocada para a seleção brasileira adulta de vôlei feminino, e nessa época atuava apenas nos jogos de menor importância, ficando a maior parte do tempo no banco. Quando o técnico Bernardo Rezende, em 1993, assumiu a seleção, Virna passou a integrar o grupo de forma permanente. Ela esteve presente nas principais conquistas do voleibol brasileiro, tais como a medalha de ouro no Grand Prix de 1994 e os vice-campeonatos mundiais do mesmo ano e da Copa do Mundo em 1995, mas ainda como reserva. Algumas das maiores atletas da história do vôlei no Brasil estavam na equipe nessa época, dificultando sua permanência como titular. Virna teve a grande oportunidade nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, pois a ponta Hilma Caldeira estava lesionada. A partir daí tornou-se titular e uma das jogadoras mais importantes da seleção. Junto com a seleção conquistou vários títulos. Entre eles, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney e mais três títulos do Grand Prix (1996, 1998 e 2004). Após o fracasso nos Jogos Olímpicos de Atenas, encerrou em definitivo sua carreira internacional pela seleção. Virna ainda jogou uma temporada no campeonato italiano e depois, em 2006, passou a jogar vôlei de praia. 

    Além dos bons resultados em Jogos Olímpicos, o sucesso das duplas brasileiras também é verificado no Circuito Mundial, onde em 17 anos de competição, o Brasil perdeu apenas duas vezes, se tornando campeão nos outros 15 eventos. Shelda, que em 2008 conquistou seu oitavo título do Circuito Mundial, é a maior vencedora do torneio.

 Duplas Campeãs do Circuito Mundial de Volei de Praia - Feminino

3.     Considerações finais

    Os resultados das duplas brasileiras em Jogos Olímpicos comprovam a qualidade do vôlei de praia feminino no Brasil cujas atletas nunca ficaram fora do pódio olímpico, com exceção da última edição dos jogos onde não conseguiram uma boa colocação. Mesmo assim, o Brasil continua figurando entre os melhores, devido ao grande potencial das atletas.

    A grande motivação desencadeada a partir dos incentivos dados após o ciclo olímpico de Atlanta, com grande sucesso das duplas Jaqueline Silva/Sandra Pires e Mônica Rodrigues/Adriana Samuel, fez com que este esporte alcançasse maior projeção nacional e internacional.

    Além disso, a hegemonia brasileira no Circuito Mundial também é demonstrada pelos títulos conquistados pelas duplas de Adriana Behar e Shelda nos anos de 1997, 1998, 1999, 2000, 2001 e 2004; e de Juliana e Larissa que participaram de 15 etapas do Circuito Mundial e subiram ao pódio 14 vezes, seis delas para receber a medalha de ouro, obtendo um índice de aproveitamento impressionante.

    Para próximo ciclo olímpico, a projeção é a de obter melhores resultados que os deste ano, em que as atletas não garantiram nenhum lugar no pódio.

Referências bibliográficas

  • Beach Volleyball 2000, Olympic Media Guide 

  • Beach Volleyball 2004, Olympic Media Guide 

  • CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE VÔLEI. Disponível em http://www.volei.org.br/newcbv/istitucional/historia , consultado em 01/06/08. 

  • DEZ NA REDE. http://www.deznarede.com/editoriais/mais_esportes_2624, consultado em 19/07/08 

  • DOSSIÊ ESPORTE – Um estudo sobre o esporte na vida do brasileiro. Ipsos Marplan – Media Research. 

  • GAZETA ESPORTIVA http://www.gazetaesportiva.net/reportagem/outros/rep083_voleidepraia.php, consultado em 29/09/08 

  • http://esporte.uol.com.br/olimpiadas/medalhistas/beharshelda.jhtm, consultado em 30/09/08 

  • SILVA, Jaqueline. Jackie do Brasil – autobiografia de uma jogadora não autorizada. Ediouro, Rio de Janeiro, 2004. 

  • UOL http://www1.folha.uol.com.br/folha/olimpiada2000/emcimadahora/volei/ult312u148.shtml, consultado em 30/09/08 

  • VIEIRA, Silvia e FREITAS, Armando. Vôlei de praia. Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2007. 

  • YAHOO. http://br.esportes.yahoo.com/china2008/história/atlanta1996, consultado em 19/07/08

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