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Análise das ações de salto na fase final 

da Liga Mundial de voleibol 2005

 

*Mestre em Ciência da Motricidade Humana – PROCIMH / UCB-RJ

Faculdades Integradas Maria Thereza – FAMATH/RJ

**Mestrando do Programa em Ciência

da Motricidade Humana – PROCIMH / UCB-RJ

***Doutorando em Educação Física da Universidade Autonoma de Assunção - PY

Centro Universitário de Barra Mansa – UBM

****Doutor em Ciências da Saúde pela UFRN - RN

*****Doutor em Educação Física pelo Instituto de Investigação Científica

de Cultura Física e Esportes da Rússia – IICCFER / RÚSSIA

Docente da Escola de Educação Física e Desporto – UFRJ

Marcelo de Castro Haiachi*

pesquisa@knowhowsports.com

José Lúcio Pereira Alves**

Cláudio Luis Toledo Fonseca***

Paulo Moreira Silva Dantas****

José Fernandes Filho*****

jff@pq.cnpq.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar as ações de saltos da Seleção Brasileira de Voleibol Masculino na Liga Mundial de 2005. O estudo foi descritivo com tipologia de levantamento de dados, obtidos através de filmagens dos jogos da fase final da competição. Os dados foram tratados através de uma estatística descritiva utilizando os valores de tendência central e derivados, além de uma escala de freqüência. Em média, por jogo, a quantidade de ações de saltos foi de 525 saltos (±29,51) enquanto a média por set foi de 131 saltos (±23,87). A ação que apresentou a maior incidência de saltos foi o bloqueio com 41%, seguido pelas ações de ataque com 27%, de saque com 18% e de levantamento com 14%. O tempo de bola em jogo, média de 4,34 minutos por set, ratifica a preocupação de identificar fatores determinantes no treinamento do voleibol, sendo a força explosiva decisiva já que os rallies no masculino, duração média de 5,77 segundos, estão cada vez mais difíceis nos dias de hoje, pela velocidade do jogo e vigor dos jogadores.

          Unitermos: Voleibol. Treinamento. Força explosiva. Rally.

Abstract

          The aim was analyze the actions of jumps the Brazilian Men's National Volleyball Team in the World League 2005. This study was descriptive with typology of data collecting that were obtained through the film-version game analysis in the final phase of the competition. The data had been analysed through descriptive statistic using of the values of central tendency and it's derived beyond frequency scale. On average, per game, the quantity of jumps was 525 jumps (±29,51), how ever the average per set was 131 jumps (±23,87). The biggest incidence in jumping was the block with 41%, followed by the actions of attack with 27%, than the service with 18% and the setting with 14%. The time of the ball in play was 4,34 minutes in average per set, what asures the preocupation in identifying the factors that were determinate in the volleyball training, being the explosive strength decisive since rallies in the men's games has an average duration of 5,77 seconds and are more and more difficult nowadays by the speed of the game and the vigor of the players.

          Keywords: Volleyball. Training. Explosive strength. Rally.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 126 - Noviembre de 2008

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Introdução

    O voleibol é uma modalidade esportiva com 112 anos de existência (Cordeiro Filho e Albergaria, 2005) que passou por um período de adaptação e modificação, principalmente em relação as suas regras e treinamento. Transformou-se em um esporte de ações de períodos curtos, com intensidade máxima e de intervalos reduzidos (Stanganélli, 1995; Esper, 2001). Variáveis como força explosiva de membros superiores, força explosiva de membros inferiores, velocidade e agilidade são características importantes para o sucesso na modalidade (Silva, 2005). Com a evolução do jogo, as ações de salto passam a ganhar grande importância, tornando-se um diferencial em equipes de alto rendimento (Bobbert, 1990; Newton, Kraemer et al., 1999; Hasson, Dugan et al., 2004; Newton, Rogers et al., 2006). Além disso, está presente em 67% das ações do jogo (saque, levantamento, ataque e bloqueio) fato que faz com que a quantidade destas ações de salto seja mensurada, já que uma quantidade acentuada de saltos pode ser lesiva para os atletas (Newton, Kraemer et al., 1999; Lian, Engebretsen et al., 2005; Martel, Harmer et al., 2005).

    A Liga Mundial é uma competição organizada pela Federação Internacional de Voleibol e faz parte do calendário oficial do voleibol masculino. Foi criada em 1990 e encontra-se na sua 17ª edição. A seleção brasileira participou de todas as edições da competição e apresenta um excelente retrospecto, 12 pódios e 06 títulos. O foco da nossa pesquisa são os jogos finais que reuniram as três melhores equipes dos grupos de classificação (Brasil, Cuba e Polônia) além da equipe do país sede das finais (Sérvia e Montenegro).

Procedimentos metodológicos

    Foram analisados os jogos contra as seleções da Sérvia e Montenegro (partida de cruzamento e final) e Cuba (semifinal). A equipe brasileira era composta pelos seguintes jogadores: Levantador 1, Levantador 2, Oposto 1, Oposto 2, Ponta 1, Ponta 2, Ponta 3, Ponta 4, Meio 1, Meio 2, Meio 3, Líbero. Os itens observados foram: a quantidade de ações de salto por set, por jogo, por posição tática de jogo e por fundamento; o tempo de bola em jogo (rally) e o tempo de esforço e pausa durante a partida.

    Os jogos foram filmados para facilitar a coleta dos dados, que consistia em registrar o número de repetições de saltos e a duração de cada rally.

    Foi utilizada uma estatística descritiva utilizando os valores de tendência central e derivados além de uma escala de freqüência. O programa estatístico adotado para tabulação dos dados foi o Microsoft Excel XP, baseando-se na planilha de controle de saltos elaborada por Haiachi, 2005. Na busca de observar se os dados se apresentam distribuídos dentro de uma curva normal, foi realizado um teste não-paramétrico de Kolmogorov-Smirnov, onde as variáveis não-paramétricas foram representadas também pela mediana.

Resultados

    Foram encontrados os seguintes resultados:

Tabela I. Quantidade total de ações de salto por set e por jogo.

Jogos

1º Set

2º Set

3º Set

4º Set

TT

Χ jogo

dp

cv

Sérvia x Brasil

131

132

147

145

555

138,8

8,42

6%

Cuba x Brasil

116

134

139

135

524

131,0

10,23

8%

Brasil x Sérvia

120

120

138

118

496

124,0

9,38

8%

Total

367

386

424

398

1575

525,0

29,51

6%

Χ set

122,3

128,7

141,3

132,7

131,3

dp

7,77

7,57

4,93

13,65

7,96

cv

6%

6%

3%

10%

6%

X set= média de saltos por set; X jogo= média de saltos por jogo; dp= desvio padrão; cv= coeficiente de variação.

 

Gráfico I. Quantidade total de ações de salto por posição tática de jogo

Gráfico II. Quantidade total de ações de salto por fundamento

 

Tabela II. Tempo de duração de uma partida, quantidade de rally, tempo de bola em jogo, 

tempo de esforço e tempo de pausa durante os jogos da fase final

Jogo

duração partida

total rally

tempo bola em jogo

tempo esforço

tempo pausa

Sérvia x Brasil

6060*

190

1199

6,31

25,58

Brasil x Cuba

5820

182

928

5,10

26,88

Brasil x Sérvia

5400

163

961

5,90

27,23

Total

17280

535

3088

17,31

79,70

X

5760

178,33

1029,33

5,77

26,57

dp

334,07

13,87

147,86

0,62

0,87

cv

6%

8%

14%

11%

3%

* tempo em segundos

 

 

 

 

X= média; dp= desvio padrão; cv= coeficiente de variação

Discussão

    Analisando outros estudos, encontramos a quantificação de saltos em partidas com três sets apresentando a média de 318 ações de salto (± 15,39), com média de 106 ações de salto por set (Gonçalves, Lucero et al., 2005b). Já em partidas com cinco sets as ações de salto elevam-se para 675 ações (± 34,92), com média de 135 ações de salto por set (Haiachi e Fernandes Filho, 2006). Para os jogos com quatro sets, como é o caso do nosso estudo, três estudos encontraram valores aproximados: Jogos finais da Superliga Nacional temporada 2004/2005 (Campeonato Brasileiro de Clubes), média de 456 ações (± 20,99) com 114 ações de salto por set (Gonçalves, Lucero et al., 2005a); Final dos Jogos Olímpicos de 2004, média de 562 ações (± 14,57) com 141 ações de salto por set (Haiachi e Fernandes Filho, 2006) e em um jogo da fase classificatória da mesma competição, média de 662 ações (± 29,27) com 166 ações de salto por set (Haiachi, Alves et al., 2005).

    Diversos fatores influenciam as ações de salto como o adversário, a situação da partida, a importância da partida, a motivação, a torcida, o clima, o treinamento e a quantidade de sets jogados. Seu alto volume, 140 a 150 por jogo, leva a uma perda significativa de rendimento e promove fadiga nos atletas, prejudicando assim o resultado da equipe (Andres, 2001). Do número total de ações de salto (1.575) o fundamento bloqueio representou o maior índice entre os demais fundamentos (41%; 646 saltos), sendo os jogadores de meio responsáveis pelos maiores índices de saltos (290 saltos). Este fato confirma-se pela especificidade da posição, que tem como principal função impedir as ações ofensivas da equipe adversária. Estudos realizados confirmam a maior incidência de ações de salto pelos jogadores de meio (Esper, 2003; Fonseca, Souza et al., 2003). As ações de salto no ataque corresponderam a 27% do total de ações de salto (427 saltos) e os jogadores de meio repetiram os maiores índices com 42% destas ações (181 saltos). Este fato acontece devido a sua intensa participação em combinações de ataque, visando desestruturar o bloqueio adversário. O saque, considerado como um dos fundamentos mais importantes do voleibol no dias de hoje (Bizzocchi, 2004), aparece com 18% das ações de salto (280 saltos), sendo que os jogadores de ponta e de meio apresentaram índices bem próximos (95;92 saltos). O levantamento apresentou 14% do total de ações de salto (222 saltos), sendo o levantador responsável por 96% destas ações. O levantador é responsável por 481 ações de levantamento durante uma partida, ratificando sua função de distribuidor das ações ofensivas da equipe (Ramos, 2004). Eventualmente o líbero pode efetuar esta ação, mas nas três partidas observadas ele participou apenas em 08 destas ações (4%). Os jogadores de meio também podem participar eventualmente desta ação, mas nos jogos finais esta situação não ocorreu com a utilização do salto.

    A força explosiva (força rápida) ganha uma grande importância no treinamento já que esta qualidade física está diretamente associada à capacidade neuromuscular de recrutar o máximo de unidades motoras com velocidade e intensidade máxima (Weineck, 1999; Sebastiani e Gonzáles, 2000; Barbanti, 2005). Focamos nosso estudo na freqüência dos saltos e não na intensidade dos mesmos. O tempo médio de bola em jogo, 4,34 minutos, faz com que as ações em uma partida de voleibol sejam curtas, intensas e intercaladas com períodos de repouso (Stanganélli, 1995). Esta característica faz com que o voleibol seja um esporte predominantemente anaeróbico (alático), por utilizar o sistema energético creatinofostático que apresenta uma atividade de duração máxima entre 6 a 10 segundos (Verkhoshanski, 2001; Platonov, 2004). O estudo apresentou um tempo médio de esforço (rally) de 5,77 segundos e pausa de 26,57 segundos. Em apenas 10% dos rallies a duração chega a 10 segundos, apresentando em média um tempo de 9 segundos de esforço máximo com 12 segundos de pausa (Kunstlinger, Ludwig et al., 1987). Outro estudo, (Viitasalo, Rusko et al., 1987) , apresenta um tempo de 7,6 segundos de esforço com 14,1 de pausa.

    A diminuição do tempo de esforço deve-se a mudança da regra (sistema de vantagem para pontos corridos) enquanto que o aumento do tempo de pausa ocorreu pelo fato do estudo considerar como tempo de pausa todas as interrupções ocorridas durantes o set: tempo técnico, tempo de descanso e tempo decorrido das substituições. Durante o tempo de pausa, média de 26,57 segundos, ocorre o restabelecimento oxidativo da fonte energética (ATP) utilizada no esforço (Kunstlinger, Ludwig et al., 1987). Podemos dizer então que a recuperação no voleibol acontece de forma ativa já que o jogo é caracterizado por ações intensas e de curta duração, seguido por pausas ou movimentos menos intensos que possibilitam a recuperação (Smith, Roberts et al., 1992).

Conclusão

    O voleibol atualmente apresenta variáveis como a velocidade, a força e o tempo de reação como informações valiosas para melhora no desempenho de atletas (Ramos, 2004). Consequentemente a determinação dos níveis ideais de carga de treinamento, levam o atleta a um estágio melhor de desempenho (Furtado, Melo et al., 2006). Portanto ao analisar o volume de ações de salto, média de 190 saltos (jogadores de meio), ratifica-se a importância de se estudar a força explosiva de membros inferiores no voleibol, procurando utilizar-se de um treinamento específico e personalizado para superar e suportar este volume de saltos, assim como prevenir futuras lesões. (Kasabalis, Douda et al., 2005; Fong, Hong et al., 2007). Os tempos médios de esforço e pausa corroboram com o fato dos jogadores não ultrapassarem 15 segundos de atividade, devendo utilizar o tempo de 10 segundos como referência para esforço máximo com pausa de 30 segundos. Estes valores confirmam a importância de cada rally em um jogo.

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