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O professor de Educação Física e a produção de saberes

crítico-reflexivos em sua prática pedagógica 

compartilhada numa escola aprendente

 

Professor de Educação Física Especialista

em Ciência do Movimento Humano, UFSM

(Brasil)

Nilton Cézar Rodrigues Menezes

luzhinn@hotmail.com.br

 

 

 

Resumo

          O processo de produção de saberes crítico-reflexivos pela Educação Física mediante sua práxis pedagógica compartilhada numa escola aprendente está intimamente relacionado com a visão de homem, de sociedade, de conhecimento e de educação dos professores. Neste trabalho pretendeu-se identificar e analisar esses princípios na práxis pedagógica compartilhada de dois professores, com a finalidade de compreender os significados dos seus trabalhos. Com efeito, a forma prepositiva deste trabalho foi elencar quais os temas e conhecimentos que estes profissionais adquiriram e relacionaram em suas vivências na prática escolar que ao longo do tempo poderiam ser transformadas em ferramentas nos processos de formação inicial e continuadas produzindo uma práxis diferenciada de Educação Física. Desta forma, elaborando uma Educação Física voltada para a cultura do ser (homem) que tem uma história de vida, social, política e afetiva e não apenas corporal. Uma Educação Física que esteja presente na vida dos demais componentes curriculares influindo e transformando a comunidade onde a escola esta inserida. Os objetivos da pesquisa foram: levantar alguns temas pertinentes a uma práxis compartilhada inerentes a uma escola aprendente dentro das expectativas de dois professores de Educação Física em relação a sua disciplina, bem como investigar a criação ou apropriação dos saberes utilizados em sua prática pedagógica. A metodologia adotada foi à abordagem qualitativa, desenvolvida com dois professores de Educação Física que atuam nas séries finais do Ensino Fundamental em uma escola da rede Municipal de Passo Fundo. A coleta de dados foi realizada por intermédio de entrevistas e diário de campo baseado nas observações da prática pedagógica dos professores. Os resultados indicaram que os saberes adquiridos ao longo da carreira do professores de Educação Física são à base de sua prática pedagógica em detrimento do conteúdo dos cursos de formação que, ainda, estão desconexos com o cotidiano escolar. Dentre esses saberes destacam-se o gestual, o contato físico com os alunos, o diálogo, o saber ouvir entre outros. E os temas discutidos em compartilhamento com as demais disciplinas da escola foram: o ser humano num espaço de relações significativas; a relação educador-educando; a relação escola-família; a relação educando-educando; a relação pais-educadores; a relação escola-comunidade; a relaçãoeducador-educador. Na discussão dos resultados obtidos denotou-se que as influências que os professores sofreram ao longo de sua trajetória como seres humanos serviram para dar um ponto de sustentação aos entendimentos e compreensões dos diversos sistemas que compõem os saberes da experiência numa escola que aprende. Concluindo, os resultados indicam, ainda, que nesse processo de compreensão das concepções dos professores foram importantes as discussões sobre alguns temas pontuais, principalmente os políticos, as condições materiais, as lógicas das instituições escolares, a hierarquia e a relação de submissão a que está sujeito o trabalho docente e as diversas e interessantes interações entre os diferentes indivíduos no dia-a-dia da educação.

          Unitermos: Educação Física. Práxis compartilhada. Escola aprendente.

 

Abstract

          The production process of you know critical-reflexive for the Physical Education by means of its pedagogic practice shared in a school to learn it is intimately related with man's vision, of society, of knowledge and of the teachers' education. In this work she intended to identify and to analyze those beginnings in the two teachers' shared pedagogic practice, with the purpose of understanding the meanings of its works. With effect, the prepositional form of this work was classified which the themes and knowledge that these professionals acquired and they related in its existences in the school practice that they could be transformed in tools in the initial and continuous formation processes producing a differentiated practice of Physical Education along the time. This way, elaborating a Physical Education come back for the culture from being (man) that has a history of life, social, politics and affective and not just corporal. A Physical Education that is present in the life of the other component curriculum influencing and transforming the community where the school this inserted. The objectives of the research were: to lift some pertinent themes to an inherent shared practice to a school aprendente inside of the two teachers' of Physical Education expectations in relation to its discipline, as well as to investigate the creation or appropriation of the you know used in its pedagogic practice. The adopted methodology went to the qualitative to fan, developed with two teachers of Physical Education that act in the final series of the Fundamental Teaching in a school of Passo Fundo Municipal . The collection of data was accomplished through interviews and field newspaper based on the observations of the teachers' pedagogic practice. The results indicated that know acquired they along the teachers' of Physical Education career are to the base of its pedagogic practice in detriment of the content of the formation courses that, still, they are desconexos with the daily school. Dentre those you know they stand out the gestual, the physical contact with the students, the dialogue, knowing to hear among others. And the themes discussed in compartilhamento with the other disciplines of the school were: the human being in a space of significant relationships; the relationship educator-educating; the relationship school-family; the relationship educate-educating; the relationship parents-educators; the relationship school-community; to relação educador-educator. In the discussion of the obtained results it was denoted that the influences that the teachers suffered along its trajectory as human beings were good to give a sustentação point to the understandings and understandings of the several systems that compose them you know about the experience in a school that learns. Ending, the results indicate, still, that in that process of understanding of the teachers' conceptions they were important the discussions on some punctual themes, mainly the politicians, the material conditions, the logics of the school institutions, the hierarchy and the submission relationship the one that is subject the educational work and the several and interesting interactions among the different individuals in the day-to-day of the education.

          Keywords: Physical Education. Shared praxis. School learner.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

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1.     Introdução

    O presente trabalho de pesquisa é de caráter propositivo e surgiu em decorrência de uma busca por um melhor entendimento sobre o trabalho realizado na Educação Física escolar mediante o pensamento crítico-reflexivo no contexto onde se desenvolve a disciplina, ou seja, a escola. Essa, obviamente uma escola aprendente. Para esse trabalho, mesmo em graus diferentes, os dois professores-sujeitos desta pesquisa contam no mínimo com cinco anos de experiência junto à disciplina de Educação Física escolar na rede municipal de ensino da cidade de Passo Fundo.

    Desta forma, o objetivo principal deste trabalho foi realizar uma análise do saberes produzidos e discutidos por professores de Educação Física junto com corpo docente numa escola aprendente. Destarte, é numa escola aprendente que se discute de forma compartilhada as questões pertinentes a melhoria geral da atuação de todas as disciplinas que compõem o seu currículo e a Educação Física é uma delas. Daí advém o problema desta pesquisa: quais os temas e produção de saberes podem e devem ser elencados, discutidos e melhorados pela Educação Física e que influenciam na sua atuação numa práxis pedagógica e que também afetam as demais disciplinas como um todo. Com efeito, tradicionalmente, a Educação Física é muito hábil no "agir pedagógico" e, por outro lado, pouco consistente em anunciar o que faz. Significa dizer que: sabe-se o que se faz, acredita-se que se faz bem, mas existem limitações em fazer inferências, generalizações, e verbalizações sobre este agir pedagógico.

    Desta maneira, uma nova perspectiva de trabalho, pela articulação de elementos de visão de mundo, da teoria da Educação e considerações sobre a Educação Física, voltada para pensar o trabalho permeado pelo pensamento crítico-reflexivo tornou-se imprescindível de se discutir perante a escola e a comunidade como um todo. Com efeito, o ponto de partida foi à construção de um espaço interativo significativo de discussões e que serviu de fundo para a Educação necessária para os alunos.

    Para este contexto, a metodologia constituiu-se de dinamismo, participação e interatividade, permitindo assim que os professores da escola e os alunos descubram as próprias necessidades e sejam agentes de sua própria transformação. Portanto, tornando-se, este é o ponto de partida para uma práxis compartilhada numa escola aprendente, que se preocupa mais com o aprender de forma participativa.

2.     Referencial teórico. Alguns temas pertinentes na produção de saberes

2.1.     O ser humano num espaço de relações significativas

    O ser humano se constrói na relação com o outro. Com efeito, a individualidade só se faz possível no social, mediante a apropriação ativa, com isso, marcando as diferenças individuais. Esta apropriação corrobora o processo de internalização das experiências que acontecem na relação proporcionada pelo social. Estabelece-se assim, entre o ser humano e o meio envolvente, um espaço interativo significativo de trocas mútuas que conduzem a ações e reações. Portanto, desde o nascimento, o ser humano tem seus gestos e atitudes significadas pelo outro. Desta forma, ao se apropriar desta significação, vivencia a história, a cultura e a ideologia do grupo social no qual está inserida.

    De acordo com seu nível consciêncial de inacabamento, de incompletude, ele, então, volta-se a sua realidade ôntica e passa a relacionar-se consigo e com o outro de forma dialética. A partir disto passa a visualizar a sua individualidade e a do outro, assim reconhecendo-se como ser em evolução na grande teia da vida, dela sendo um fio que se liga a uma da suas tantas ramificações como a do triunfo pessoal. Entretanto, possuindo em sentido ético uma meta maior, ou seja, a transcendência dos próprios objetivos alcançados, orientado por princípios adquiridos ao longo da sua vida. Com efeito, para contextualizar-se como um ser de relações ao longo de sua existência o ser humano pode organizar-se em torno de quatro pilares fundamentais:

    aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que intera as três precedentes. È claro que estas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta (Delors, 2000, p.90).

    Esses quatro pilares constituem o todo de uma unidade complexa. E o todo não se reduz a mera soma dos elementos que constituem as partes. É mais do que isso, pois cada parte apresenta sua especificidade e, e contato com as outras, modificam-se as partes e também o todo. Desta forma, no âmbito escolar, as relações entre os indivíduos num espaço interativo significativo se materializam na diversidade das realidades do seu cotidiano. A família, nesse contexto, é de suma importância para o crescimento pessoal e intelectual do educando. Sempre que o educando estiver amparado pela sua família, com afeto, diálogo, este se sentirá mais seguro e motivado para aprender.

2.2.     Relação educador – educando

    Num ambiente de relações significativas, uma das formas de relação de reciprocidade entre educador - educando caracteriza-se como competência intelectual. A competência intelectual expande-se através da linguagem, num processo de conhecimento verdadeiramente comunicativo que reside entre educador - educando e, em perguntas e informações, nos quais os dois se modificam. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém. Esta é uma compreensão do homem como um ser de relações por conotarem-se como seres históricos e inacabados” (Freire, 2003, p.23).

    O mediador cria uma atmosfera propícia para a aprendizagem e estimula o interesse pelo tema e quando os alunos encontram tarefas práticas para apropriação efetiva do tema a ser aprendido, expressam alegria no processo do aprendizado, explicam, quando necessário, o que está sendo aprendido e se envolvem no aprendizado.

    Esta forma de o educador relacionar-se com o educando refere-se a esclarecimentos e apreciações dados pela voz ou pela vibração, pelos exemplos e pela vitalidade dos enfoques que estão sendo dados ao estudo e aprendizado. O educador está conseguindo atingir esta forma mediadora quando consegue ajudar os alunos a descobrir o sentido que faz o estudo para suas vidas e realiza aproximações entre o estudo e a realidade concreta.

    O educador que tem clara a necessidade da solidariedade e da qualidade significativa da aprendizagem estimula de forma sistemática a interação entre educandos para a efetivação da aprendizagem. “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os contam, não se reduzem à condição de objeto um do outro” (Freire, 2003, p.23). A publicação das idéias e a apreciação dos colegas tende a fortalecer a autoconfiança e o espírito de cooperação.

2.3.     Relação escola – família

    A família é de fundamental importância para formar estruturas sociais, emocionais e morais que alicerçarão o ser em desenvolvimento. Cabe a ela apresentar suas concepções religiosas, morais, culturais, sociais, ideológicas e inseri-las no mundo coletivo que o cerca, construindo, assim, referenciais positivos e verdadeiros de afeto, respeito, segurança e amor.

    A modernidade trouxe com ela mudanças na família nuclear. Novos arranjos formam-se por descasamentos, re-casamentos com incorporação de filhos, bem como casamentos entre homossexuais. Essas mudanças, muitas vezes, fazem com que os papéis estruturais (paterno e materno) não sejam adotados ou mesclam-se gerando confusões e insegurança aos filhos. Percebe-se também que algumas famílias perderam os referenciais anteriores, não mais se sentem seguros ao tomar atitudes e soluções domésticas. Essa falta de rumo, de segurança, atenção, compromisso e autoridade geram um descaso com o educando nas suas mais variadas necessidades. E não raro a escola é que toma por tarefa aquelas ações que deveriam ser de responsabilidade familiar.

    O abandono aqui pode ser visto de várias formas: há aquela em que o ser em questão não existe para a família (não sabe se vai à escola, como age), outra, em que a escola com suas normas, procedimentos e combinados é vista como nada tendo a ver com o seu filho, mas a forma mais comum de abandono diz respeito aos pais de baixa escolaridade, que por saberem da sua condição intelectual acham que não são aptos a contribuir e a decidir sobre as ações solicitadas.

    Trabalha-se constantemente para que esses abandonos desapareçam e para que se efetive uma relação de diálogo e participação, mediante a construção de sentidos e significados na sua integralidade. Com efeito, a relação escola-família torna-se produtiva nos múltiplos aspectos somando-se os conhecimentos, dividindo as responsabilidades e exultando-se com os êxitos.

2.4.     Relação educando – educando

    As relações entre os educandos se estabelecem de forma horizontal, visto que seus desejos e anseios são parecidos. Todo o ser humano tem a necessidade vital de vir a ser reconhecido e aceito pelos demais como igual, valorizado, respeitado, desejado, e amado. Contudo, esse ser passa a sua vida inteira saindo e saindo de grupos. A escola, após a família, se constitui num espaço formado de grupos, pois fomenta interações determinadas e aleatórias. Todo o ambiente escolar deve possibilitar que essa integração se efetive saudavelmente respeitando-se as diferenças de gerações e objetivos. Entre os iguais, o ser se desenvolve dividindo seus anseios, encontrando eco nos seus pensamentos e devaneios num sentido de progressão. Toda a geração precisa acreditar que a sua é a melhor de todas as gerações, assim o mundo progride, é por acreditar nisso que trabalham e realizam ideais.

    Esse positivismo em um grupo harmônico e democrático com bases familiares firmes e afetuosas fará educandos ativos, estruturados e participativos na comunidade escolar. Códigos próprios, linguagem, vestuário, músicas e lazer diferentes são próprios da adolescência, e a escola deve respeitá-los e valorizá-los colocando-se à disposição do diálogo quando for necessário. Neste diálogo deve-se compreender que nem sempre as relações entre os educandos são harmônicas. Assim acontecendo alterações hormonais, de humor, desejos inconscientes, necessidades básicas emocionais e materiais geram atritos e confrontos.

    Entretanto, é natural que o relacionamento entre educandos se expanda além dos limites da escola. Nesse caso, cabe à escola o papel de acompanhar de perto quais os tipos de relacionamento que se estabelecem principalmente, quando há drogas, envolvimento sexual, desvio de conduta e, uma vez constatados esses problemas, imediatamente, avisar aos pais ou responsáveis. Quando esses casos acontecem no ambiente escolar, faz-se necessário dialogar, redobrar a atenção e coibi-los de forma coerente.

2.5.     Relação pais – educadores

    Os professores e as famílias dos estudantes compartilham da tarefa de preparar as crianças e os jovens para a inserção crítica, participativa e produtiva na sociedade, mas divergem nas de ensinar. A escola tem a função de favorecer a aprendizagem dos conhecimentos construídos pela humanidade e valorizados pela sociedade em um dado momento histórico, de ampliar as possibilidades de convivência social e de legitimar uma ordem social. A família, por sua vez, tem tido a tarefa de promover a socialização das crianças, estabelecendo condições para seu bom desenvolvimento, o que inclui a aprendizagem de padrões comportamentais, atitudes e valores aceitos pela sociedade em geral e pela comunidade a que pertencem. Assim, os objetivos são distintos, mas se interpenetram. 

    Dentre os diversos tipos de conhecimento que professores devem ter para ensinar, o principal é o domínio do conteúdo específico da área em que atuam, pois este oferece a base para o conhecimento do conteúdo pedagógico, que, por sua vez, possibilita aos professores representar as idéias a serem ensinadas de modo a torná-las acessíveis aos seus alunos. Para fazer a transposição do conhecimento do conteúdo específico para a sala de aula, conhecer os alunos é fundamental, posto que as suas aprendizagens dependam de experiências prévias, de sua relação com o saber e do contexto em que vivem. Com o estreitamento dessas relações os professores podem ter maiores informações a respeito de quem são os alunos, suas famílias, sua cultura, sua vida cotidiana e isso pode ajudar a desenvolver o seu trabalho de forma mais competente.

    nossa experiência na universidade tende a nos formar à distância da realidade. Os conceitos que estudamos na universidade podem trabalhar no sentido de nos separar da realidade concreta à qual, supostamente, se referem. Os próprios conceitos que usamos em nossa formação intelectual e em nosso trabalho estão fora da realidade, muito distantes da sociedade concreta (Freire, 2001, p.131).

    Por parte dos pais, relações mais estreitas com a escola podem favorecer a escolarização dos filhos por dar indicações à escola a respeito de suas expectativas e por contribuir para que este processo ocorra sem transtornos. Se as duas esferas estabelecerem uma linguagem comum e definirem estratégias comuns aos aspectos do desenvolvimento e da escolarização dos estudantes, é possível que as crianças consigam ter um desempenho escolar mais significativo. 

2.6.     Relação escola – comunidade

    A escola e a comunidade devem contribuir para a emancipação do ser humano tornando-o cidadão autônomo, sensíveis, engajados no seu meio social, capaz, de interferir e transformar, mediante a cooperação e reflexão. Principalmente pela tomada de decisões sempre norteadas pelos princípios da ética e do bem estar. A escola juntamente com a comunidade deve conceber a educação como a maneira pela qual o ser humano é despertado para o aprimoramento de suas aptidões inatas e, assim deve procurar trabalhar para desenvolvê-las bem como a vivenciar conhecimentos e habilidades e competências especificas relacionadas à cultura humana geral. Com efeito, escola e comunidade, mediante um diálogo cultural desenvolvem condições favoráveis para o sustentáculo e eficácia do regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação. Pela colaboração e intercâmbio entre estes dois pilares de trabalho promove-se a conexão entre as estruturas aparentemente dispersas, mas que, no entanto fazem parte de uma complexidade maior formando uma unidade de ação cada vez mais proponente a realizações.

    Desta maneira, escola e comunidade devem promover um ensino de qualidade, que favoreça a socialização do educando, priorizando seu desenvolvimento critico social, pressupostos básicos para a formação da cidadania, respeitando suas diferenças sociais; que desenvolvem a capacidade de aprendizagem, a formação de hábitos e valores, que levem o educando a perceber-se integrante e transformador do ambiente criando-se atitudes de solidariedade pelo trabalho adquiridos pela experiência em contato com a realidade.

    Desta forma acreditamos na construção de um educador que possa dar concretude a proposta, e que se caracterize pelo pensamento reflexivo para identificar problemas, discernimento para percebê-los e que por si só já é um forte argumento em favor da prática reflexiva, porém se faz necessário romper com visões tradicionais e analisar em grupo (equipe diretiva, educadores, conselho participativo, associação de pais e mestres), as formas de organizar o trabalho pedagógico que garanta o crescimento de todos, provocando um repensarem nas relações sociais dentro e fora da escola, aproximando o educador do aluno e a escola da comunidade, pois o sucesso do ensino depende da sintonia e parceria ente a escola e a vida do educando fora dela. È indispensável, para tanto, a abertura ao diálogo, o estabelecimento de um clima de confiança que dêem sustentação a grupos pedagógicos reflexivos.

2.7.     Relação: educador-educador

    Na atualidade, dentro das diversas realidades da sociedade brasileira, o educador brasileiro enfrenta desafios de múltipla ordem. Convive com situações imprevisíveis. Diante das novas exigências experimenta a desconstrução de seu saber pedagógico acumulado. Vive muitas vezes a sensação de abandono e desamparo. A única saída possível e necessária se configura na mudança de pensamento na forma de pensar e agir em que a comunicação exercida em todos os sentidos. Assim chega-se ao pensamento reflexivo desde a expressão dos afetos e das contradições à proteção e segurança de estar fazendo junto.

    Construir esta boa formação reflexiva de trabalho entre educadores se mostra um vai-e-vem constante e permanente ente o individual e o grupal, entre o meu e o outro, entre mim e o nós, entre o egocentrismo que garante a sobrevivência e a cidadania que possibilita apoio no coletivo. Portanto, construir uma formação reflexiva suficientemente boa, enquanto educador envolve pensar e agir buscando uma coerência ética. Mas não é fácil esta construção. A experiência de encontros ou de reuniões profissionais mostra que mais facilmente nos desentendemos que nos entendemos, que mais facilmente competimos do que cooperamos e que mais facilmente enfatizamos nossa afirmação pessoal do que participamos do discurso coletivo. O que se pode fazer é ir de encontro a este desafio pelo agir reflexivo comunicativo. Este que levaria a uma maior conscientização de nossos impedimentos em nos comunicarmos e abriria a possibilidade da dissolução de estruturas lineares à livre comunicação do sujeito consigo mesmo e com os outros.

    Este pensamento representa uma ação concreta que permitiria o advento de um estado de comunicação interna nos grupos de educandos, de tal ordem que todos os interessados possam participar de contextos discursivos nos quais se expõem idéias, se argumenta, em conseqüência, se influência nas decisões coletivas. Enfim, propõe que usemos nossa reflexão critica, nossa racionalidade sobre os processos de educação permanente.

    o educar se constitui no processo em que a criança ou adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço da convivência. O educar ocorrer, portanto, todo o tempo e de maneira recíproca. Ocorre como uma transformação estrutural contingente com uma história no conviver, e o resultado disso é que as pessoas aprendem a viver de uma maneira que se configure de acordo com o conviver da comunidade em que vivem (Maturana, 1999, p.29).

    Com efeito, cada vez mais vem se fortalecendo e ampliando o conceito do educador como educador reflexivo. Tal conceito se fundamenta no princípio de que o ensino de qualidade deve começar pela reflexão do educador sobre sua própria atividade e reconhece que o educador que reflete se torna um “produtor e não um simples consumidor de teorias alheias”. Portanto, a valorização da reflexão do educador sobre sua prática apóia-se no pressuposto de que a docência é fonte de conhecimento, por se constituir numa forma de investigação e experimentação. O educador ao refletir, constrói uma teoria particular, explicativa da sua prática e contribui para a sistematização de novos conhecimentos. Desta forma, a reflexão atua como impulsionador de desenvolvimento, tanto do pensamento como da ação na identificação de situações singulares, no procedimento de informações sobre essas situações, na elaboração do diagnóstico e na tomada de decisões relativamente ás necessárias intervenções pedagógicas. Portanto, é importante que haja na escola um espaço interativo para que estes possam ser ouvidos e considerados, pois as relações respeitosas tendem a melhorar o rendimento escolar como um todo.

3.     Metodologia: algumas luzes

    Para refletir sobre que Educação Física numa escola aprendente, um ponto inicial seria decifrar que mundo é este em que se vive, onde algumas características o fazem diferente de outros períodos históricos. Afinal, não se pensa pedagogia de forma abstrata, mas sim, para um grupo específico em um dado período histórico. Desta forma, se pega como fundamentação neste trabalho, as quatro teses do paradigma emergente da ciência propostas por Boaventura Santos. Estes sem dúvida podem trazer algumas luzes neste contexto. Portanto, Boaventura Santos depois de criticar a ciência newtoniana, diz que um novo modelo precisa ser pensado para nossos tempos, e propõe algumas diretrizes para esta compreensão:

    todo o conhecimento científico-natural é científico-social: é necessária uma aproximação entre as ciências sociais e humanas com as ciências naturais e exatas, pois sua distinção não tem permitido se estabelecer um diálogo entre os cientistas, e uma alternativa seriam as abordagens integrativas (ou holísticas); todo o conhecimento é local e total: devemos tentar pensar contra um reducionismo muito comum no meio acadêmico, que são a parcelização e a disciplinarização, pois já é "senso comum" que nossos doutores sabem cada vez mais de cada vez menos; todo o conhecimento é autoconhecimento: a antiga prerrogativa das ciências naturais e exatas da separação sujeito- objeto precisa ser revista, é preciso aproximar o homem do conhecimento; todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum: é preciso restabelecer a importância do senso comum, que faz coincidir causa e intenção; é prático; assumir a insegurança em vez de a sofrer (Boaventura Santos, 2002, p.32), .

    Contudo, a pedagogia, enquanto área do conhecimento humano que se detém em pesquisar, refletir e propor elementos para a práxis educativa, também deve ser pensada para esses novos tempos e, principalmente, para novos alunos que compõem uma nova escola- a escola aprendente. Portanto, pensar uma pedagogia na sociedade, é pensar uma pedagogia voltada para “aprender”, para novos saberes, para a produção destes. Mas hoje, pensar uma pedagogia para este novo tempo, estes novos alunos numa nova escola- uma escola aprendente ou a caminho desta fase, pressupõe encontrar algumas pontos coerentes com as reflexões iniciais. Com efeito, inicialmente esses pontos vão de encontro a algumas obras como a "Declaração Delors" e de Edgar Morin, "Os sete saberes necessários à educação do futuro", ambos elaborados com a chancela da UNESCO. Quais seriam os pressupostos de uma educação para este novo mundo? A obra "Educação: um tesouro a descobrir", e aponta em suas conclusões, 04 pilares para se pensar a educação do futuro: aprender a conhecer: mais do que aquisição de um repertório de saberes codificados, conhecerem os próprios instrumentos do conhecimento; aprender a fazer: formação profissional; colocar em prática o que aprendeu; deslocar o eixo de "qualificação" para "competência", considerando-se a desmaterialização do trabalho; aprender a viver juntos: tendência a valorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos desfavoráveis em relação aos outros; a solução seria a descoberta progressiva do outro; participação em projetos comuns; aprender a ser: desenvolvimento integral, espiritual, corporal, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, desumanização pela evolução técnica. Também a obra intitulada "Os sete saberes necessários à educação do futuro" apresenta algumas possibilidades para pensarmos a educação numa escola aprendente. Seu ponto de partida encontra-se na seguinte passagem:

    este texto antecede qualquer guia ou compêndio de ensino. Não é um tratado sobre o conjunto das disciplinas que são ou deveriam ser ensinadas: pretende, única e essencialmente, expor problemas centrais ou fundamentais que permanecem totalmente ignorados ou esquecidos e que são necessários para se ensinar no próximo século (Morin, 2002, p. 13).

    Por conseguinte, estes elementos direcionam algumas reflexões sobre um possível currículo a ser pensado no trabalho numa escola aprendente. Uma primeira reflexão para começarmos se situa na distinção contemporânea entre currículo prescrito e currículo ativo (em ação). Onde, pouco tempo atrás, as reflexões curriculares se detinham ainda no "que ensinar", e as discussões que se desenvolviam em torno da importância deste ou daquele conteúdo, quais metodologias utilizar como estabelecer bons objetivos e melhor avaliar os alunos.

    Desta maneira, todos aqueles elementos que conhecemos da didática constituem o que hoje podemos chamar de "currículo prescrito", e tem uma nítida concepção de "preparação para a ação". Outro conceito importante a ser salientado é o de currículo oculto, caracterizado como aqueles elementos que não estão assentados em nenhum documento oficial do ensino, porém são assimilados pelos alunos.

3.1.     Discussão dos resultados obtidos: uma reflexão

    Entende-se a Educação Física como um campo de ação aberto, que não se esgota com as formas de ação institucionalizadas e regras estabelecidas. A prática pedagógica deve abranger temas complexos, abertos aos interesses e às experiências construídas durante a história. Na Educação Física, existe possibilidades aliadas ao movimento que permitem situações de experiências, tornando presente, positiva e cotidiana a manifestação cultural própria de cada ser humano. Entretanto, desde que as práticas pedagógicas sejam consistentes e enraizadas nas concepções de homem, de mundo e de sociedade, com vistas à emancipação humana. Portanto, uma relação dialética entre homem e mundo através do “movimentar-se”, entendido como um diálogo reflexivo entre ambos.

    Nesta visão, o homem é sujeito do seu próprio movimento, é o ator/autor da situação a ser vivenciada de uma forma mais consciente e relevante, não simplesmente mecânica. O movimento é entendido como sendo histórico e relacionado aos agentes em seus respectivos contextos e situações/significados. Ainda nesta postura, entende-se a Educação Física como uma prática que tematiza com a intenção pedagógica as manifestações da cultura no qual a comunidade escolar é uma peça fundamental.

    Levando em consideração que nem todas as pessoas poderão se enquadrar neste tipo de “movimentar-se”, surgem novas possibilidades na busca da reformulação da Educação Física voltada para a construção da Ciência do Movimento Humano. Esta nova forma procura trabalhar o movimento humano através da expressividade, da linguagem corporal, da harmonia com o mundo e a tematização com intenção pedagógica. Sabe-se que a cultura imprime marcas no indivíduo em todas as dimensões, intelectual, afetiva, moral e física. A natureza humana é eminentemente cultural, o corpo é construído culturalmente, e para entendermos o Movimento Humano é preciso colocar o homem enquanto sujeito da vida social. Para compreendê-lo é preciso colocar os movimentos corporais como parte de um todo social.

    Desta forma, os educadores, não podem ser coniventes com práticas reprodutivas e não-reflexivas, desconsiderando o universo cultural, social e de movimento. A ação pedagógica perpassa o movimento mecânico, é dotada de sensibilidade, percepção, sutileza das propostas de atividades, na relação afetiva, tomando cuidados para que sejam propostas inclusivas. Com efeito, ao pensar-se na construção de uma pedagogia para a Educação Física numa escola aprendente deve-se refletir sobre o trabalho que muitas vezes torna-se prático e pouco reflexivo. Afinal que tipo de intervenção o profissional de Educação Física está realizando com os alunos? Que saberes esta produzindo? O que a escola esta aprendendo com isso? Um dos pontos a considerar é a questão da motivação para contatos sociais que pode ser trabalhado com esta população.

4.     Considerações finais

    Os trabalhos educacionais numa práxis compartilhada pensam a Educação como mediação reflexiva, nas funções biopsicossociais dos indivíduos, com vistas, nas relações generosas consigo mesmo e com os outros, com o ambiente e com a natureza durante a vida. A educação pode ser entendida como o processo de conduzir, de forma solidária alguém para certas direções na qual o educador entende que sejam boas para o educando. Esse processo de intervenção mais ou menos voluntária, mais ou menos solidária e mais ou menos emancipatória, depende dos critérios de desenvolvimento do educador que age em relação ao educando.

    Desta forma, o fundamental da práxis compartilhada sob um olhar crítico-reflexivo esta na produção e desenvolvimento de saberes. Neste contexto, um dos primeiros passos na educação é entender o ser humano, como agente de sua educação. Desta forma ao longo desta pesquisa estabeleceram-se pela reflexão algumas premissas que fundamentam a produção de saberes pelos temas elencados pelo trabalho compartilhado numa escola aprendente como: o Educador deve possuir sensibilidade – e para isso deve ter conhecimento, do desenvolvimento humano em toda sua dimensão, quanto mais abrangência tiver sobre o desenvolvimento e produção de saberes, mais consistente será sua intenção; qualidade de quem observa – constante e aprofundado estudo sobre as realidades vividas pelos professores e escola; preocupação com a intervenção – a vontade de resolver ações e mediações. Não adianta ver o problema que afligem professores, é preciso ação; ações interdisciplinares - a ação para ser eficaz não pode ser isolada. Importante salientar a participação e autonomia da escola, ela deve revelar interesse e tomarem conta do processo de mudança; principio da atividade: a capacidade de manter-se ativo mediante um processo educativo de ampla cobertura social incrementa a autonomia e a auto-realização.

    O enfoque incide não sobre o que a pessoa é, mas sobre o que ela pode ser. A escolha do tipo de atividade deve ser livre, uma decisão livre; principio da independência: a educação deve preparar a escola para manter sua independência e autonomia. Evitando-se que seja mero receptor passivo das políticas sociais existentes; principio da participação: a pessoa humana é um ser social por definição, assim, deve ser respeitado seu direito a interação e participação social. Talvez o mais importante passo da educação e da intervenção, no trabalho que desenvolvemos com os colegas de trabalho e os alunos, seja despertar neles o interesse, a opinião própria, o desejo e a participação voluntária.

Referências bibliográficas

  • Delors, Jacques - Educação um tesouro a descobrir. 8ª ed. SP: Cortez; Brasília, DF: MEC:UNESCO, 2003.

  • Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia. Ed. Paz e Terra. São Paulo, 2003

  • Freire, Paulo. Educação e mudança. Ed. Paz e Terra. São Paulo, 2001.

  • Maturana, H, R. & Varela, F, J, G. De máquinas e seres vivos. Ed. Artmed, POA, 1999.

  • Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4ª ed. SP: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.

  • Santos, Boaventura. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 8ª ed. SP: Cortez, 2001.

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revista digital · Año 13 · N° 125 | Buenos Aires, Octubre de 2008  
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