efdeportes.com

Análise longitudinal da força de membros 

superiores de pessoas da terceira idade

Longitudinal analysis of the upper limb strength in aged people

 

* Prof. Dra. do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano 

da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. 

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Laboratório de Gerontologia – LAGER.

** Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano 

da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. 

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Laboratório de Gerontologia – LAGER. Bolsista Capes/DS.

*** Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano 

da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. 

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Laboratório de Gerontologia – LAGER.

**** Graduada em Educação Física pela da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.

***** Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Experimental 

da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Laboratório de Neurociências do Esporte – LANESPE.

Giovana Zarpellon Mazo*

Adilson Sant'Ana Cardoso**

Roges Ghidini Dias***

Alanna Roslindo de Simas****

Caroline Di Bernardi Luft*****

d2gzm@udesc.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento da força de membros superiores de pessoas da terceira idade praticantes de hidroginástica no decorrer de três anos. Neste estudo longitudinal e comparativo, a amostra foi constituída por 13 pessoas da terceira idade com idade média de 66,4 anos (DP=6,91). Os dados foram coletados diretamente do banco de dados do Grupo de Estudos da Terceira Idade pelos pesquisadores. A análise estatística foi feita por meio da análise univariada de variância para medidas repetidas. Observou-se uma diferença significativa entre as médias no decorrer do período analisado (F(2,89)=15,7; p<0,001), com acréscimo significativo (p=0,001) de 63,72% na força entre o início e o final do acompanhamento. Os períodos de interrupção não exerceram efeitos significativos nos índices de força. Conclui-se que o programa de hidroginástica resultou em alterações positivas nos níveis de força de membros superiores da amostra.

          Unitermos: Força muscular. Exercício. Idoso.

 

Abstract

          The aim of this study was to analyze the upper limb strength pattern of third aged people who practiced hydrogymnastics in a three-year follow up. In this longitudinal and comparative study, sample was composed by 13 third aged people with mean age of 66,4 years old (SD=6,91). Data were collected directly from the Grupo de Estudos da Terceira Idade’s database by the researchers. Statistical data analysis was carried out through univariate analysis of variance for repeated measures. A significant difference was observed in strength levels means through out the follow up (F(2,89)=15,7; p<0,001), with a significant increase (p=0,001) of 63,72% in strength levels between the begin and end of follow up. The detraining periods did not had significant influences on strength levels. It is concluded that the hydrogymnastics program resulted in positive alterations on sample’s upper limb strength levels.

          Keywords: Muscle strength. Exercise. Aged.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

1 / 1

Introdução

    A expectativa de vida vem aumentando consideravelmente ao longo dos anos em todo o mundo. No Brasil é estimado para o ano de 2020 um total de aproximadamente 13% da população nacional composta por idosos (IBGE, 2002). Deste modo, o interesse de investigar a saúde e a qualidade de vida do idoso cresce constantemente (CARVALHO; SOARES, 2004).

    O envelhecimento traz consigo alterações fisiológicas caracterizadas por um processo contínuo durante o qual ocorre redução das capacidades funcionais dos sistemas cardiovascular, respiratório, nervoso e músculo-esquelético, e, decorrente disso, a redução das capacidades físicas, tais como força muscular, flexibilidade, velocidade e capacidade aeróbia (MATSUDO, 2001).

    Uma das funções mais prejudicadas pelo avanço da idade é a muscular. A musculatura quando não usada regularmente perde sua função, derivando em atrofia e perda da força, resultando em um quadro de sarcopenia. Acredita-se que a sarcopenia seja a principal responsável pelo comprometimento da autonomia do idoso e, conseqüentemente, sua dependência (MATSUDO, 2002). Segundo Mazzeo et al. (1998) geralmente encontra-se na literatura que entre os 50 e 70 anos de idade há uma redução de aproximadamente 30% na força, o que se acentua após os 70 anos. Lexell (1997) descreve que o avanço da idade afeta as unidades motoras, principalmente o motoneurônio inferior, e que este processo, decorrente da degeneração do sistema nervoso, é uma das principais causas da diminuição de massa e força muscular. Essa atrofia muscular reduz a capacidade funcional do indivíduo, e pode comprometer sua mobilidade e a realização de atividades diárias.

    O fortalecimento muscular é fundamental para a manutenção das atividades da vida diárias, como varrer a casa, vestir-se, carregar objetos entre outras. Quando o programa de atividade física é constituído por atividades generalizadas, este deve ter como um de seus objetivos principais o desenvolvimento de melhores níveis de força (MATSUDO; MATSUDO; BARROS NETO, 2001), ou pode se tornar insuficiente para o incremento destes níveis (CARVALHO et al., 2004). Assim, um aspecto fundamental de um programa de exercícios físicos deve ser o fortalecimento da musculatura, a fim de proporcionar o aumento da massa muscular e, por conseguinte, a força muscular, evitando assim, a incapacidade e quedas (DESCHENES, 2004).

    Para minimizar os efeitos do envelhecimento nos sistemas fisiológicos do indivíduo recomenda-se a atividade física como uma importante e eficiente estratégia para promover o bem-estar e o condicionamento físico e funcional do idoso. Estudos (LIMA, 2005; SHEPHARD, 2003) indicam que o idoso que pratica atividade física regular, e devidamente orientada, atinge resultados positivos tanto na prevenção quanto no tratamento da sarcopenia e na melhora de sua capacidade funcional e no seu estado de saúde.

    Atualmente observam-se diversos programas de atividade física que são oferecidos aos idosos, dentre os quais se destacam as atividades realizadas em meio líquido, como a hidroginástica. Tais atividades atendem as necessidades desse público, pois apresentam menos contra-indicações com relação às atividades realizadas em seco e proporcionam um ambiente de alegria, descontração e prazer (CORAZZA, 2001).

    A atividade física em meio aquático aproveita a resistência da água como sobrecarga, fortalecendo os músculos, com ou sem equipamentos, e melhorando o condicionamento físico do idoso (SOVA, 1998). Para Tahara, Santiago e Tahara (2006) as atividades realizadas em meio líquido contribuem positivamente para os aspectos físicos, por não causarem impacto nas articulações e tendões e estimular toda a musculatura, propiciando a manutenção do tônus muscular, beneficiando os sistemas respiratório e cardiovascular e na recuperação de enfermidades. Em relação aos aspectos psicológicos, alivia o estresse, aumenta a auto-estima e a disposição para realizar as atividades diárias.

    Devido aos benefícios da hidroginástica ela é uma das atividades mais recomendadas, pelos profissionais da área da saúde, para pessoas com idade avançada. No programa de extensão Grupo de Estudos da Terceira Idade – GETI, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC a hidroginástica é uma das atividades mais procurada pelos idosos (GETI, 2007).

    Mesmo sendo reconhecidos os benefícios das atividades aquáticas, foram encontrados poucos estudos que relacionam tais benefícios para aptidão física do idoso. Alves et al. (2004) observam em seu estudo uma melhora significativa em todos os testes de aptidão física aplicados, após o treinamento de três meses com aulas de hidroginástica. Passos e Oliveira (2003), também afirmam que o exercício físico aquático proporciona ao praticante uma acentuada melhora na capacidade funcional dos músculos.

    Todavia, mesmo sabendo-se da importância do trabalho de força para pessoas da terceira idade, poucos estudos analisaram longitudinalmente o comportamento da força de membros superiores a partir da intervenção com hidroginástica, atividade muito difundida neste grupo etário. Diante disto, este estudo tem como objetivo analisar o comportamento da força de membros superiores de praticantes de hidroginástica da terceira idade no decorrer de três anos (2004, 2005 e 2006).

Métodos

Tipo de pesquisa

    Esta pesquisa é do tipo longitudinal e comparativa (RUIZ, 1996). Foi realizada após a autorização da coordenadora do GETI/UDESC, e aprovação no Comitê de Ética da UDESC em 30/08/2007, processo nº. 96/2007.

População e amostra

    A população do estudo foi composta por 90 (noventa) mulheres da terceira idade cadastradas em março de 2004 no projeto de hidroginástica do Grupo de Estudos da Terceira Idade – GETI da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC.

    Para definir a amostra foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 55 anos de idade; ser do sexo feminino; praticante regular do programa de hidroginástica durante os anos de 2004, 2005 e 2006; ter 75% de presença nas aulas em cada ano; ter realizado os testes de força dos membros superiores (FMS) no início (março) e final (dezembro) de cada ano; ter as informações completas do sujeito no banco de dados do GETI.

    Assim, a amostra deste estudo foi composta por 13 pessoas da terceira idade com idade igual ou superior a 55 anos, média de idade de 66,4 anos (DP=6,91), em março de 2004, que praticaram hidroginástica durante 35 semanas - entre março (T1) e dezembro (T2) - no ano de 2004, com uma interrupção de 12 semanas, entre dezembro de 2004 (T2) e março de 2005 (T3), devido às férias do programa. Praticaram hidroginástica por mais 35 semanas - entre março (T3) e dezembro (T4) - no ano de 2005, com uma interrupção de 12 semanas, entre dezembro de 2005 (T4) e março de 2006 (T5), devido às férias do programa, e por mais 35 semanas - entre março (T5) e dezembro (T6) - no ano de 2006.

    O pequeno número da amostra justifica-se pelos critérios de inclusão e por se tratar de uma pesquisa longitudinal, onde a perda amostral é grande, principalmente quando se pesquisa pessoas da terceira idade, que apresentam doenças crônico-degenerativas, e que muitas vezes, devido a estas se afastam do projeto ou ficam ausente das aulas por um período prolongado, o que interfere na aptidão física, mais especificamente neste estudo, a força dos membros superiores.

Projeto de hidroginástica

    O projeto de hidroginástica ocorreu nos períodos matutino (uma turma) e vespertino (duas turmas), numa piscina medindo 25m x 12,5m, com água na temperatura aproximada de 28 a 30°C, duas vezes por semana, com duração de 50 minutos. As aulas consistiam em três fases: 

  1. Fase de Aquecimento (alongamento e flexibilidade, método estático, pequenas corridas com baixa intensidade, durante 5 minutos); 

  2. Fase Principal (exercícios aeróbicos e exercícios localizados, por 40 minutos) 

  3. Relaxamento (exercícios de volta à calma, ou sociabilização, por 5 minutos).

Instrumento de coleta de dados

    Este estudo foi realizado com dados secundários, componentes do banco de dados do programa de extensão Grupo de Estudos da Terceira Idade – GETI, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Esse programa mantém em seu banco de dados informações sobre os dados pessoais dos participantes (sexo, idade, estado civil, entre outros) e os resultados dos testes físicos aplicados no início e no final de cada ano.

    Para ter acesso ao banco de dados e as informações sobre os dados pessoais dos participantes (sexo e idade) e os resultados do teste físico de força dos membros superiores (FMS), inicialmente obteve-se a autorização da coordenadora do GETI/UDESC, a qual é a guardiã legal dos dados.

    O teste físico empregado para verificar a força dos membros superiores (FMS) dos participantes do estudo foi o teste de flexão de cotovelo da bateria de testes da AAHPERD (OSNESS et al., 1990), o qual consiste em realizar com halteres de ferro de 2 Kg para as mulheres e de 4 Kg para os homens o máximo de repetições da flexão do cotovelo em 30 segundos (OSNESS et al., 1990).

Coleta de dados

    Os dados utilizados no presente estudo foram coletados pelos pesquisadores no banco de dados do GETI/UDESC. Os sujeitos do estudo estavam descaracterizados, sendo identificados apenas pelo número de cadastro no programa. Do banco de dados foram retirados às informações sobre o sexo, idade e os resultados do teste de força dos membros superiores físicos referentes a março (T1) e dezembro (T2) de 2004, março (T3) e dezembro (T4) de 2005, e março (T5) e dezembro (T6) de 2006.

Tratamento dos dados

    Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS 13.0 para WindowsÒ. Para analisar o comportamento das médias de força de membros superiores nos diferentes períodos de avaliação (março (T1) e dezembro (T2) de 2004; março (T3) e dezembro (T4) de 2005; e março (T5) e dezembro (T6) de 2006) utilizou-se a análise univariada de variância (ANOVA) para medidas repetidas, com análises de Post-Hoc com graus de liberdade (gl) ajustados pela fórmula de Bonferroni e intervalo de confiança de 95%.

Resultados

    Com o objetivo de verificar se existe diferença nos níveis de força de membros superiores dos idosos participantes de hidroginástica entre os diferentes períodos (março e dezembro dos anos de 2004, 2005 e 2006) foi empregado o teste de análise univariada de variância (ANOVA), o qual indicou diferença significativa entre as médias comparadas (F(2,89)=15,7; p<0,001), com um efeito geral de 56,7% (n²=0,567). Na Tabela 1 podem ser observados os principais resultados derivados desse teste.

Tabela 1. Comparação das médias e desvios padrão da força de membros superiores (MS) e Análise de variância

Aptidão Física

Ano/Teste

ANOVA

2004

2005

2006

T1

 (DP)

T2

(DP)

T3

 (DP)

T4

 (DP)

T5

 (DP)

T6

 (DP)

F

gl

p

Força MS

13,15

(3,46)

17,15 (2,96)

18,46 (3,75)

20,3 (4,04)

18,61 (5,4)

21,53 (4,68)

15,7

2,89

<0,001*

* Significante ao nível de p<0,01

    Com relação aos efeitos derivados do programa de hidroginástica sobre a força (T1 a T2, T3 a T4 e T5 a T6) observou-se que a força de MS aumentou apenas em T1 para o T2 (p=0,004). No outros dois períodos de treinamento as médias mantiveram-se sem diferença estatística.

    Para os períodos de interrupção de 12 semanas, de T2 a T3 e de T4 a T5, não foram observadas diferenças estatísticas nas médias. Já a comparação entre os períodos de retorno de férias (T1, T3 e T5) apresentou um aumento significativo entre T1 e T3 (p=0,006) e entre T1 e T5 (p=0,018). Entre T3 e T5 não foi observada diferenças estatisticamente significativa.

Figura 1. Comportamento das médias das forças membros superiores (FMS).

Médias seguidas por letras iguais não diferem nas análises de Post-Hoc.

    Ao comparar o início (T1) e o final (T6) da avaliação da FMS observa-se um aumento significativo (p=0,001), com um acréscimo de 63,72% (diferença entre as médias T1 e T6) na força. Observa-se também um aumento significativo no ganho de força de membros superiores entre T2 e T6 (p=0,011). Para uma melhor visualização do comportamento das médias das FMS o mesmo está expresso na Figura 1.

Discussão

    Os resultados observados indicam que durante o período deste acompanhamento os níveis de FMS dos sujeitos do estudo sofreram alterações significativas, as quais resultaram em acréscimo de 63,7% nesses níveis entre o início (T1) e o final do programa (T6).

    Considerando as alterações fisiológicas, associadas ao avanço da idade, que ocorrem no sistema musculoesquelético e os resultados encontrados neste estudo, é possível afirmar que, para as participantes do estudo, a prática da hidroginástica contribuiu para a melhoria dos níveis de força de membros superiores. Estudos (DESCHENES, 2004; CHARETTE et al., 1991) evidenciam que a força muscular atinge seu pico por volta dos trinta anos de idade e é satisfatoriamente preservada até os cinqüenta anos. Entre os 60 e 70 anos de idade há um declínio de 15% e após a sétima década, tende a declinar cerca de 30% da força máxima individual a cada década. As fibras do tipo I (aeróbias, de contração lenta) parecem ser resistentes à atrofia associada ao envelhecimento, pelo menos até os 70 anos, enquanto a área relativa das fibras tipo II (anaeróbias, de contração rápida) declina de 20 a 50% com o passar dos anos (LARSSON; SJODIN; KARLSSON, 1978; LEXELL; DOWNHAN, 1992).

    A prática regular de exercícios, desde jovem, lentifica a perda muscular do idoso. A intervenção mais eficaz para prevenção e recuperação da perda muscular é o treinamento resistido (DOHERTY, 2003). A hidroginástica utiliza a água como resistência, que por sua vez pode auxiliar na manutenção da força (SOVA, 1998).

    Em um estudo semelhante Alves et al. (2004) avaliaram 74 idosas, um grupo de 37 mulheres recebeu duas aulas semanais de hidroginástica durante três meses, e as outras 37 mulheres serviram como controle, na cidade de Recife e para avaliar a aptidão física utilizaram a bateria de testes desenvolvida por Rikli e Jones, que avaliou a força de membros superiores com o teste de "flexão do antebraço". Os testes foram realizados no inicio do estudo e após três meses do início das aulas de hidroginástica. As aulas eram realizadas duas vezes por semana, com duração de 45 minutos e dividida em quatro fases: 

  1. Aquecimento (duração de 5 min), 

  2. Exercícios aeróbicos (duração de 20min), 

  3. Exercícios localizados (duração de 15 min) e 

  4. Relaxamento (duração de 5 min). 

    Os autores constataram que a prática da hidroginástica colaborou para a melhoria e manutenção da aptidão física do idoso e ganhos de força de membros superiores.

    Pereira et al. (2002) em seu estudo avaliaram 41 idosos de ambos os sexos com faixa etária entre 60 e 75 anos, que praticavam regularmente hidroginástica na academia. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário dividido em duas partes, a primeira verificava os dados pessoais (sexo, idade, escolaridade, tempo e freqüência) e na segunda parte, 09 (nove) perguntas relacionadas aos benefícios fisiológicos da prática da hidroginástica. Os autores concluíram em seu estudo que houve melhoria na capacidade funcional do idoso e que os mesmos perceberam mudanças significativas em seus parâmetros físicos havendo assim uma influência nas atividades de vida diária.

    Resultados semelhantes foram encontrados também em um estudo (BORGES et al., 2004) realizado na Universidade Federal de Uberlândia, onde se avaliou a influência da prática de hidroginástica na aquisição de força de membros superiores. A amostra foi composta por 85 idosas e o instrumento utilizado foi o teste de flexão de cotovelo protocolado por Rikli e Jones. Os autores concluíram que as atividades de hidroginástica apresentam influência na aquisição de força dos membros superiores.

    Os dados encontrados no presente estudo são concordantes com os estudos citados anteriormente quando estes indicam a importância da hidroginástica, das atividades e exercícios físicos, na melhoria da aptidão física relacionada à saúde, neste caso específico a força.

    No presente estudo, em relação à influência do período de interrupção não foram observadas diferenças significativas nas médias de força em ambos os períodos de interrupção. Devido a isto, observa-se uma manutenção desses níveis de força durante os períodos de interrupção.

    Já outros estudos (RASO; MATSUDO; MATSUDO, 2001; FIATARONE; MARKS; RYAN, 1990) indicam a ocorrência de decréscimos significativos nos índices de força durante interrupções no treinamento. Porém, estes decréscimos aparentemente estão relacionados com a intensidade no qual o exercício, ou a atividade física, é realizado, acarretando menores perdas aos indivíduos que praticam atividades com intensidades mais altas (FATOUROS et al., 2006). Lemmer et al. (2002) indicam que as principais perdas decorrentes do destreino ocorrem após a décima segunda semana de interrupção. Salienta-se, também, que o estilo de vida adotado no período de interrupção é um fator que influencia os índices de força, sendo que os indivíduos que mantém uma atividade física regular nos períodos de interrupção, vivenciam reduções menos significativas de suas aptidões físicas (TRAPPE; WILLIAMSON; GODARD, 2002).

    A adoção e a manutenção de um estilo de vida ativo durante o período de interrupção é uma recomendação permanente nos programas desenvolvidos pelo Grupo de Estudos da Terceira Idade – GETI. Com isso acredita-se que não foram observados declínios significativos nos níveis de força avaliados, em virtude, talvez, da manutenção de alguma prática de atividade física durante o período de interrupção.

    Todavia, a falta de controle de algumas variáveis – como as atividades realizadas no período de interrupção, aspectos motivacionais, a prática paralela de outro exercício físico, e o controle da quantidade e da intensidade dos exercícios de força durante as aulas; importantes para este estudo compõem as principais limitações, e restrições para determinados argumentos. Estas limitações decorrem principalmente deste estudo ser baseado em um banco de dados já existente, o que resultou em uma coleta de dados em variáveis já existentes a priori. Também o tamanho reduzido da amostra é um fator limitante deste estudo.

Conclusão

    Com base nos resultados obtidos no presente estudo pode-se concluir que o projeto de hidroginástica contribuiu para a melhoria dos níveis de força de membros superiores das participantes deste estudo.

    Observou-se a existência de um aumento significativo na força de membros superiores no decorrer dos três anos avaliados do projeto de hidroginástica. Em relação aos períodos de interrupção (12 semanas), constatou-se que houve em ambos os períodos uma manutenção da força de membros superiores, não sendo constatada diferença estatística significativa.

    Deste modo, recomenda-se a prática da hidroginástica para a aquisição e manutenção dos índices de força de membros superiores. Contudo, ressalta-se que os resultados deste estudo limitam-se aos participantes do mesmo. Assim, sugere-se a realização de estudos futuros, em amostras maiores, que busquem maiores subsídios para o entendimento deste fenômeno.

Referências

  • ALVES, R.V.; MOTA, J.; COSTA, M.C.; ALVES, J.G.B. Aptidão física relacionada à saúde de idosos: influência da hidroginástica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 10(1): 31-37, 2004.

  • BORGES, L.J.; COSTA, G.A.; SOUZA, L.H.R.; NASCIMENTO, P.V.; SANTOS, E.R. Análise da força muscular dos membros superiores em idosas praticantes de hidroginástica do projeto AFRID. In: SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Educação Física para Idosos: Por uma Prática Fundamentada. Brasília; p.142-142, 2004.

  • CARVALHO, J.; OLIVEIRA, J.; MAGALHÃES, J.; ASCENSÃO, A.;, MOTA, J.; SOARES, J.M.C. Força muscular em idosos I - Será o treino generalizado suficientemente intenso para promover o aumento da força muscular em idosos de ambos os sexos? Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 4(1): 51-57, 2004.

  • CARVALHO, J.; SOARES, J.M.C. Envelhecimento e força muscular - breve revisão. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 4(3): 79-93, 2004.

  • CHARETTE, S.L.; MCEVOY, L.; PYKA, A.G.; SNOW-HARTER, C.; GUIDO, D., WISWELL, A.; MARCUS, R. Muscle hypertrophy response to resistance training in older women. Journal Applied Physiology, 70: 1912-1916, 1991.

  • CORAZZA, M.A. Terceira idade - atividade física. São Paulo: Phorte , 2001.

  • DESCHENES, M.R. Effects of aging on muscle fiber type and size. Sports Medicine, 34(12): 809-824, 2004.

  • DOHERTY, T.J. Invited Review: Aging and Sarcopenia. Journal of Applied Physiology, 95: 1717-1727, 2003.

  • FATOUROS, I.G.; KAMBAS, A.; KATRABASAS, I.; LEONTSINI, D.; CHATZINIKOLAOU, A.; JAMURTAS, A.Z.; DOUROUDOS, I.I.; AGGELOUSIS, N.; TAXILDARIS, K. Resistance training and detraining effects on flexibility performance in the elderly are intensity-dependent. Journal of Strength and Conditioning Research. 20(3): 634-642, 2006.

  • FIATARONE, M.A.; MARKS, E.C.; RYAN, N.D. High-intensity strength training in nonagenarians: effects on skeletal muscle. Journal of American Medical Association, 263: 3029-3034, 1990.

  • GETI – Grupo de Estudos da Terceira Idade. Grupo de Estudos da Terceira Idade - programa de extensão. Florianópolis, SC: Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do estado de Santa Catarina, UDESC, 2007.

  • IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil. Estudos e Pesquisas n9. 2002.

  • LARSSON, L.; SJODIN, B.; KARLSSON, J. Histochemical and biochemical changes in human skeletal muscle with age in sedentary males, age 22-65 years. Acta Physiologica Scandinavica, 103: 31-9, 1978.

  • LEMMER, J.T.; HURLBUT, D.E.; MARTEL, G.F.; TRACY, B.L.; IVEY, F.M.; METTER, E.J.; FOZARD, J.L.; FLEG, J.L.; HURLEY, B.F. Age and gender responses to strength training and detraining. Medicine & Science in Sports & Exercise, 32(8): 1505-1512, 2000.

  • LEXELL, J. Evidence for Nervous System Degeneration with Advancing Age. Journal of Nutrition - American Society For Nutritional Sciences, 127: 1011S-1013S, 1997.

  • LEXELL, J.; DOWNHAM, D.Y. What determines the muscle cross-sectional area? Journal of Neurological Science, 111: 113-114, 1992.

  • LIMA, R.M. Efeitos do treinamento resistido sobre a capacidade cardiorrespiratória de indivíduos idosos. Lecturas: Educación Física y Deportes, 10(84): Maio, 2005. http://www.efdeportes.com/efd84/idosos.htm.

  • MATSUDO, S.M.; MATSUDO, V.K.R.; BARROS NETO, T.L. Atividade física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 7(1): 02-13, 2001.

  • MATSUDO, S.M.M. Envelhecimento & Atividade Física. Londrina: Midiograf, 2001.

  • MATSUDO, S.M.M. Envelhecimento, Atividade Física e Saúde. Revista Mineira Educação Física, 10(1):193-207, 2002.

  • MAZZEO, R.S.; CAVANAGH, P.; EVANS, W.J.; FIATARONE, M.A.; HAGBERG, J.; McAULEY, E.; STARTZELL, J. Exercício e atividade física para pessoas idosas. Posicionamento Oficial do Colégio Americano de Medicina do Esporte. Tradução Vagner Raso & Sandra Matsudo. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, (3)1: 48-78, 1998.

  • OSNESS, W.H.; ADRIAN, M.; CLARK, B.; HOEGER, W.; RAAB, D.; WISWELL, R. Functional Fitness Assessment for Adults Over 60 Years. The American Alliance For Health, Physical Education, Recreation and Dance. Association for research, administration, professional councils, and societies. Council on aging and adult development.1900 Association Drive. Reston; 1990.

  • PASSOS, B.M.A.; OLIVEIRA, R.J. O Envelhecimento, Flexibilidade, Hidroginástica e as Atividades da Vida Diária. In: DANTAS, E.H.M.; OLIVEIRA, R.J. Exercício, Maturidade e Qualidade de Vida. 2ed. Rio de Janeiro: Shope, 2003.

  • PEREIRA, A.S.C.; SILVA, E.S.; ANDRADE, F.C.; SANTOS, M.E.S.C.; SANTANA, T.S. A percepção da melhora da capacidade funcional em indivíduos da terceira idade praticantes de hidroginástica. Revista Digital Vida & Saúde, 1(1): 01-07, 2002.

  • RASO, V.; MATSUDO, S.M.M.; MATSUDO, V.K.R. A força muscular de mulheres idosas decresce principalmente após oito semanas de interrupção de um programa de exercícios com pesos livres. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 7(6): 177-186, 2001.

  • RUIZ, J.A. Metodologia cientifica: guia para eficiência nos estudos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

  • SHEPHARD, R.J. Envelhecimento, atividade física e saúde. São Paulo: Phorte, 2003.

  • SOVA, R. Hidroginástica na terceira idade. São Paulo: Manole, 1998.

  • TAHARA, A.K.; SANTIAGO, D.R.P.; TAHARA, A.K. As atividades aquáticas associadas ao processo de bem-estar e qualidade de vida. Lecturas: Educación Física y Deportes, 11(103), Dezembro, 2006. http://www.efdeportes.com/efd103/atividades-aquaticas.htm

  • TRAPPE, S.; WILLIAMSON, D.; GODARD, M. Maintenance of Whole Muscle Strength and Size Following Resistance Training in Older Men. The Journals of Gerontology Series A: Biological Sciences and Medical Sciences, 57: B138-B143, 2002.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 125 | Buenos Aires, Octubre de 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados