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De Sport Club Novo Hamburgo a Floriano: 

o futebol e a Segunda Guerra Mundial

 

*Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP/SP)

Professor de Pós-graduação do Centro Universitário Feevale (Novo Hamburgo/RS)

Pesquisador do Grupo de Pesquisa Cultura e Memória da Comunidade

**Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/RS)

Professor de Graduação e Pós-graduação do

Centro Universitário Feevale (Novo Hamburgo/RS)

Pesquisador do Grupo de Pesquisa Cultura e Memória da Comunidade

Cleber Prodanov*

prodanov@feevale.br

Alessander Kerber**

alekerber@feevale.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este artigo procura analisar as transformações provocadas pela Segunda Guerra Mundial no futebol brasileiro, especificamente, no Sport Club Novo Hamburgo, fazendo um contraponto com outros clubes de futebol do Brasil, identificados com as etnias alemãs e italianas nesse contexto histórico em que as políticas de Estado buscavam a homogeneização da cultura nacional. Pretende, ainda, explorar as questões do Estado Novo e sua influência na política e cultura futebolística brasileira da década de 1940.

          Unitermos: Futebol. Identidade. Estado Novo. Segunda Guerra Mundial.

 

Abstract

          This article aims to analyze the transformations in Brazilian football provoked by the Second World War, focusing on Sport Club Novo Hamburgo, while comparing and contrasting this club with other football clubs in Brazil, identified with ethnic Germans and Italians during that period in history during which the State policy was to seek homogenization of the national culture. The article also aims to explore issues relating to the Estado Novo and its influence on the Brazilian politics and culture of football during the 1940s.

          Keywords: Football. Identity. Estado Novo. Second World War.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

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    Neste artigo, propomos uma análise do impacto das políticas estabelecidas durante o primeiro governo Vargas no Brasil (1930 a 1945) sobre os clubes de futebol de regiões de imigração alemã, mais especificamente, enfocando o caso da cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Tal cidade teve seu processo de formação marcado pela imigração alemã e as políticas estabelecidas no Brasil das décadas de 1930 e 1940 objetivavam a massificação de uma versão da identidade nacional brasileira que eliminasse a cultura de diversos grupos imigrantes, no intuito da construção de uma homogeneidade cultural, um “companheirismo profundo e horizontal”, como propõe Benedict Anderson (1989)

    No Brasil, especialmente nos anos 1930, avançaram transformações políticas e ideológicas nacionais e internacionais que empurraram os esportes populares e de massa, como o futebol, para um campo extremamente politizado.

    Assim, apesar da intenção disciplinadora, ao longo das três primeiras décadas do século XX, houve pouca intervenção direta no Estado no esporte. É somente a partir do final dos anos vinte, e principalmente nos anos trinta, que se produz um discurso centralizador e se objetiva uma forma mais atuante do Estado em relação às organizações esportivas. (RIBEIRO, 2003, p.2)

    Giulianotti afirma que a formação dos clubes de futebol e a associação constante e voluntária de torcedores e de jogadores ajudam a contrabalançar os sentimentos de atomização e de alienação que corrompem indivíduos nas impessoais cidades. Assim, os clubes ajudam a promover identidades, tanto em níveis locais quanto nacionais. (GIULIANOTTI, 2002)

    Com o advento dos regimes totalitários na Europa, da Revolução de 1930 no Brasil e o posterior recrudescimento do processo político expresso pelo Estado Novo, todas as atividades públicas de massas, inclusive o futebol, passaram a fazer parte do controle social do governo ditatorial de Getúlio Vargas.

    Si el fútbol ya era popular y movilizador, a partir de los años '30 pasa a ser utilizado en forma sistemática por los gobernantes como forma rápida de llegar "a las masas". Es, sin duda, una apropiación ideológica condenable, pero eso no quiere decir que sea ésta su única dimensión sociopolítica; al contrario: mientras no se resuelva de otra manera, el fútbol continuó (y continúa) siendo una forma que tienen los sectores excluídos de nuestra sociedad de conquistar el acceso a bienes y derechos que les son contínuamente vedados; de los cuales el primero quizás sea el derecho a sentirse brasileños. (FRANZINI, 1998, p.5)

    Essas questões de controle social sobre as manifestações populares acabariam se agravando seriamente no Brasil a partir do ingresso do país na Segunda Guerra Mundial, em 1942, colocando no lado oposto da nação brasileira o Japão, a Itália e a Alemanha. A Itália foi um dos países que mais imigrantes enviou ao Brasil nesse início de século XX, além disso, os imigrantes e seus descendentes fundaram inúmeros clubes de futebol em todo o Brasil e representavam uma grande massa de jogadores dirigentes de clubes e simpatizantes.

    Por outro lado, os alemães, bem menos numerosos, também tinham uma tradição associativa e clubística muito forte. No sul do Brasil, diversas colônias de imigrantes multiplicaram-se e, nas primeiras décadas do século XX, estavam prosperando economicamente, especialmente passando das atividades agrícolas e artesanais para processos industriais.

Sociedades e clubes de futebol em Novo Hamburgo

    Novo Hamburgo é uma cidade que se constituiu a partir do processo de imigração alemã para o Brasil. Como o próprio nome do município já produz indício, Novo Hamburgo construiu sua identidade ligada a essa origem alemã. Se essa afirmação identitária foi, em certa medida, aceita pelo governo brasileiro até os anos 1920, a partir da década de 1930, estabeleceram-se políticas cada vez mais agressivas no intuito de eliminar elementos culturais que não estivessem de acordo com a versão sobre a identidade nacional brasileira que se apresentava na época.

    O início do XX marcou um momento extremamente fértil na formação de clubes de futebol em todo o Brasil. Esse movimento não foi diferente no Rio Grande do Sul. Depois de presenciar a formação dos primeiros clubes nas cidades de Rio Grande e Pelotas, o Estado viu penetrar pela fronteira platina a febre futebolística, que logo atingiu a Capital gaúcha, nos primeiros anos da década de 1900.

    Essa avalanche esportiva e futebolística no Rio Grande do Sul influenciou fortemente comunidades fundadas por italianos e alemães, estes últimos mais próximos da capital gaúcha, por isso mais expostos a esse novo esporte e organização popular.

    Nas regiões de influência alemã, existia uma grande tradição de criação de clubes de diversos tipos de organização. Cabe destacar as sociedades de tiro, de canto e música e de esportes. Elas eram muito fortes do ponto de vista da participação e envolvimento e foram instituídos já na origem e formação das vilas e cidades, juntamente com as igrejas e escolas. O trinômio igreja, escola e clube marcou as comunidades, que se organizaram a partir da imigração alemã no Rio Grande o Sul.

    Inicialmente, essas sociedades, especialmente em Novo Hamburgo, eram fechadas e procuravam manter e exercitar sua “germanidade”. Havia, também, um forte controle do ingresso de sócios, quase sempre limitados aos de descendência germânica, além do uso exclusivo da língua alemã nas dependências e atividades das sociedades.

    Essas associações vinham se estruturando desde os primórdios da colonização no Estado, mas na região de Novo Hamburgo começaram a se erguer fortemente no final do século XIX. Assim, nessa cidade, surgiram a Sociedade Frohsin (1888), Sociedade Atiradores (1892), Sociedade Gymnastica (1894), Sociedade Gymnastica de Hamburgo Velho (1896) e a Sociedade de Atiradores de Hamburgo Velho (1896), Tiro de Guerra 251 (1916), Clube União Juvenil (1916), Sociedade de Canto Bruderbund (1917) e a Sociedade de Canto, Música e Teatro Palestrina (1919), apenas para marcar essa passagem de século.

    Em Novo Hamburgo, as agremiações germânicas estão presentes há muito tempo e tinham um papel relevante na promoção e no fomento dos laços de identidade respaldados em uma apropriação simbólica da história da colonização. (SEYFERTH, 1994, p. 234)

    Esse movimento fundacional denotava uma verdadeira paixão dos imigrantes e seus descendentes pela prática esportiva e o culto ao corpo. Entretanto, não foi das sociedades tradicionais que emergiu a paixão pelo futebol e a formação de clubes que levaram adiante essa força esportiva na região.

    Nesse sentido, a formação dos clubes de futebol na região de Novo Hamburgo apareceram eminentemente ligados ao desenvolvimento das empresas e à formação de um operariado local, muitas vezes marginal e excluído dos tradicionais clubes sociais e esportivos da região. Novo Hamburgo experimentava rapidamente, nos primeiros anos do século XX, uma expansão econômica e o fortalecimento de um processo industrial ligado à produção de couros e calçados. Atividade com uso intensivo de mão-de-obra, criava em ritmo acelerado uma massa de imigrantes operários, com um perfil diferente daquele encontrado nas populações residentes nos primeiros anos de colonização.

    Especialmente entre esses trabalhadores e operários locais, difundiu-se rapidamente a paixão pelo futebol. Seja pela simplicidade de suas regras ou pelos equipamentos necessários a sua prática, ou mesmo pela característica coletiva e integradora que esse esporte proporciona. Essa constituição parece não ter sido diferente em outras cidades e regiões do Brasil ou da América Latina, especialmente Argentina, Uruguai e México.

    El acceso fácil al deporte, la libertad de expresión corporal y la malicia, adquirida por los habitantes del barrio desde edades tempranas, gambeteando las carencias económicas familiares y las dificultades que se presentan en la calle, han sido el caldo de cultivo para el surgimiento de los jugadores. (RIVAS, 2001, p. 2)

    Um dos pioneiros e mais tradicionais clubes de futebol da região de colonização alemã no Rio Grande do Sul foi o Sport Club Novo Hamburgo, mais tarde esporte Clube Novo Hamburgo – ECNH, fundado no dia primeiro de maio de 1911. Seu nome representou a vitória daqueles que defendiam dar o nome da localidade, que mais tarde se tornaria um município, para o nascente clube de futebol.

    O futebol, desde os primeiros tempos, foi utilizado como instrumento político e com o Sport Club Novo Hamburgo não foi diferente. Desde antes da emancipação política, o clube era constantemente chamado a atrair em suas partidas os simpatizantes da separação política e administrativa do Distrito de Novo Hamburgo de sua sede, o município de São Leopoldo.

    Em 1926, portanto às vésperas da emancipação que ocorreria em 5 de abril de 1927, as lideranças políticas locais conclamavam os moradores de Novo Hamburgo para os jogos de futebol do ECNH.

    Assim, ao longo da década de 1920, o ECNH serviu também de catalisador das aspirações políticas das lideranças locais, que tinham o firme propósito da emancipação política local e da constituição de uma nova municipalidade, e utilizavam o futebol para atrair a população, realizar suas manifestações e arrecadar recursos.

    Ao adentrar nos anos 30, as questões seriam políticas e sociais, passando a ter outras dimensões, e o envolvimento desse clube de futebol, que representava uma cidade de descendência germânica, adquiriu outras conotações.

O primeiro governo Vargas e o Brasil em Guerra

    No Brasil, a República Velha (1889 a 1930) havia assistido a uma política organizada a partir dos conchavos entre as elites regionais. Esse período foi caracterizado, em nível cultural, por uma certa tolerância na diversidade de manifestações culturais regionais e as regiões marcadas pelo processo de imigração tiveram pouca censura do Estado em relação à afirmação de identidades ligadas às nações das quais provinham esses imigrantes.

    Com os conflitos na política brasileira dos anos 1920, a quebra da “Política do Café com Leite” e a crise mundial, que afetou especialmente os produtores de café de São Paulo, desencadeou-se o processo que gerou a Revolução de 1930 e a chegada de Getúlio Vargas à presidência da República. De 1930 a 1937, várias tendências políticas e ideológicas foram perseguidas e eliminadas do jogo político, até que se organizou um Estado que, apresentando-se como o defensor da nação em si, acima de todas as ideologias, utilizou largamente a propaganda e a censura na intervenção sobre a cultura e deu especial atenção às representações sobre a nação.

    No contexto que estamos estudando, a nação tornou-se um elemento fundamental do imaginário brasileiro. O nacionalismo desse período pode ser explicado, em grande parte, como uma resposta à grande crise internacional. Num momento de crise, a nação é tida como um elemento de salvação. É nesse sentido que Hobsbawm afirma que a nação “[...] pode preencher o vazio emocional causado pelo declínio ou desintegração, ou a inexistência de redes de relações ou comunidades humanas reais [...]” (1990, p. 63).

    O nacionalismo que se configurou a partir dos anos 30 não é mais o liberal, mas o do tipo autoritário, centrado no Estado, o qual teve grande poder para autorizar ou censurar seus símbolos. Capelato, no artigo “Fascismo: uma idéia que circulou pela América Latina” (1991), analisa a influência das idéias fascistas nos regimes de Vargas e Perón, concluindo que eles não podem ser classificados como fascistas, apesar de sofrerem grande influência desses. As idéias fascistas circularam pela América Latina entre as décadas de 30 e 40, influindo, especialmente, em dois aspectos: no desenvolvimento do nacionalismo e na emergência do estado autoritário que atuou mais sobre a cultura nacional.

    O ano de 1937 marcou, no Brasil, a institucionalização do “Estado Novo”, marcado por inspiração em idéias fascistas. Porém, apesar do modelo de Estado implantado no Brasil aproximar-se do alemão e do italiano, com a emergência da Segunda Guerra Mundial, houve um complexo jogo de relações em que foram feitas diversas negociações com os países envolvidos nos dois lados da Guerra, como analisam Moura (1984) e Tota (2000).

    Essa fase coincide com a chamada de “Política de Boa Vizinhança”, a nova relação internacional estabelecida a partir dos anos 30 entre os Estados Unidos e os países da América Latina. Durante sua vigência, os Estados Unidos fizeram uma série de concessões econômicas e investiram nas trocas culturais. Para o Brasil, a mais significativa das concessões feitas foi o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional, em 1942. Essa política intensificou-se entre o final dos anos 30 e início dos anos 40, em função do contexto da Segunda Guerra Mundial o do interesse dos Estados Unidos em conseguir apoio brasileiro para os Aliados, o que propiciaria um ponto estratégico para sediar as forças militares americanas, além de fornecer recursos naturais para a Guerra, como é o caso da borracha, necessária à indústria bélica. Essa política foi incentivada, também, por medo de que o Brasil se aproximasse dos países do Eixo, com os quais o Estado Novo se identificava politicamente.

    O ano de 1942 marcou, dessa forma, a decisão do Brasil em entrar na Guerra ao lado dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que ocorria essa mudança na política externa brasileira, internamente houve um controle e censura cada vez mais acirrada em relação aos imigrantes alemães, italianos, japoneses e seus descendentes.

Guerra e futebol

    A guerra bateu no esporte brasileiro com uma vara controladora e disciplinadora. Aqueles clubes efusivamente criados nas décadas anteriores por imigrantes e seus descendentes, dentro de estruturas elitistas ou operárias e que mantinham um caráter fortemente étnico, foram atingidos de várias maneiras em todo o território nacional.

    A desconfiança dos governantes nacionais com os novos cidadãos, em sua maioria, imigrantes italianos e alemães e seus descendentes, levou a uma ação de controle do Estado em várias esferas, e a esportiva não ficaria de fora disso. Assim, a partir de 1941, especialmente após a entrada do Brasil na Guerra, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixou uma série de regulamentações para o esporte, afinando-o a um projeto nacionalista do regime do Estado Novo (1937-1945).

    Assim sendo, os clubes de futebol foram obrigados a expulsar dirigentes e associados estrangeiros, principalmente os ligados aos países do Eixo, ou seja, Japão, Itália e Alemanha.

    Alguns casos clássicos da história futebolística brasileira atingida pela política do Estado Novo foram o Palestra Itália em São Paulo e Belo Horizonte, o próprio Corinthians Paulista, alguns clubes no Paraná e, até mesmo, o Sport Club Novo Hamburgo.

    O clube de futebol Palestra Itália foi fundado em 1914 por membros da colônia italiana da cidade de São Paulo e era formado, em sua maioria, por trabalhadores das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Entretanto, esse clube foi obrigado a mudar de nome por ocasião da Segunda Guerra Mundial. O governo brasileiro decretou que clubes e associações brasileiras não poderiam possuir nomes estrangeiros, sob pena de fechamento, prisão de seus dirigentes e até a perda do patrimônio das agremiações.

    No atendimento à enorme pressão política e até policial durante o período da 2ª Guerra Mundial, o Palestra Itália alterou seu nome, em março de 1942, para Palestra de São Paulo.

Palmeiras Campeão de 1942.

“O Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu Campeão” 

(Foto: Acervo do Palmeiras. Disponível em: http://www.palmeiras.com.br/historia/historia_40.asp)

    O nível de violência simbólica do Estado era tamanho que a palavra "Palestra" continuou a incomodar alguns setores do governo e da polícia paulista. Assim, de modo definitivo, no período do Estado Novo, houve a mudança total do nome, mesmo ignorando o argumento do Clube de que a palavra “palestra” não era de origem italiana, mas grega. Assim, o Palestra passou a denominar-se Palmeiras.

    Em 30 de janeiro de 1942, em plena 2ª Guerra Mundial, o governo brasileiro, através de um decreto lei, proibiu do uso de termos e denominações referentes às nações contra as quais o país se encontrava em guerra.

    O nome Palestra Itália foi comum a muitos clubes de futebol brasileiros em diversos Estados da Federação onde os imigrantes italianos e seus descendentes eram numerosos. Em Minas Gerais, também existiu um clube chamado Palestra, cujo destino foi similar ao seu homônimo de São Paulo.

    Em Belo Horizonte, em 1921, havia sido fundado oficialmente a Societá Sportiva Palestra Itália e atendia um desejo da colônia italiana de Belo Horizonte. As cores adotadas pelo Palestra foram as mesmas da bandeira italiana. O primeiro uniforme do Clube foi camisa verde, calção branco e meias vermelhas, com detalhes em branco e verde. Esse clube, em seus primeiros anos, restringia a participação de outras etnias em seus quadros associativos e no seu time de futebol. Essa restrição desapareceria apenas em 1925, quando também ocorreu o aportuguesamento de seu nome, que passou a se chamar Sociedade Sportiva Palestra Itália.

    Com o decreto-lei de 1942, o Palestra Itália de Minas passou a chamar-se Palestra Mineiro. No entanto, como ocorrera em São Paulo, as autoridades não se satisfizeram com essa mudança e forçaram-no a se transformar em um clube com maiores características nacionais. Assim, em 29 de setembro de 1942, houve mais uma mudança de nome e clube passou a chamar-se “Ypiranga”. No entanto, o time atuou com esse nome em apenas uma partida, mudando de nome para “Cruzeiro Esporte Clube”, como uma afirmação de nacionalismo brasileiro através de uma homenagem ao símbolo maior da pátria, a constelação do Cruzeiro do Sul.

Com o nome de Cruzeiro e o novo uniforme com a camisa azul, escudo redondo com o fundo azul e a constelação do Cruzeiro do Sul ao centro. 

(Foto: Acervo do Cruzeiro Esporte Clube. Disponível em: http://www.cruzeiro.com.br/?section=historia_fundacao&idm=2)

    A força do nacionalismo e o braço do Estado Novo também foi sentido no Rio Grande do Sul, especialmente em Novo Hamburgo, cidade fundada por alemães e no seu principal clube do futebol, Sport Club Novo Hamburgo, que carregaria em seu escudo uma clara alusão a uma das principais cidades alemãs, o estratégico porto de Hamburgo.

    Em 1942, o Sport Club Novo Hamburgo tinha uma dimensão relevante, a ponto de ter se tornado o vice-campeão do estado do Rio Grande do Sul. Contudo, a pressão exercida pelo Estado Novo naquele período de intensa repressão a representações que remetessem à nação alemã fez-se sentir.

Na foto, aparece o time do Sport Club Novo Hamburgo, que recém havia mudado seu nome para Floriano, em manifestação patriótica apontada no slogan “Pela grandeza do Brasil” (Foto: Acervo de Alceu Feijó)

    Durante a guerra, quem falava alemão não era bem visto pelas autoridades, que impuseram a mudança do nome dos clubes e escolas, além da proibição do uso e do ensino da língua alemã em todas as atividades públicas e, mesmo, privadas.

    Essa onda de mudança e de aportuguesamento dos nomes chegou mesmo a ameaçar a cidade, que quase mudou de nome para Marechal Floriano Peixoto, em uma homenagem forçada ao Marechal Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro, o segundo Presidente da República do Brasil e um militar de linha dura. O time de futebol, porém, não resistiu à pressão política e houve a transformação do Sport Club Novo Hamburgo em Floriano.

    Essa pressão pela mudança de nome pode ser compreendida como uma das manifestações da influência das idéias fascistas no Brasil, especialmente no que se refere a sua perspectiva de uniformização da cultura nacional. Esse nome permaneceria no clube até o final da década de 60, quando o clube retornou às origens, aportuguesando seu nome para o atual Esporte Clube Novo Hamburgo – ECNH.

Referências bibliográficas

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  • SCHEMES, Claudia. Pedro Adams Filho: Empreendedorismo, Indústria Calçadista e Emancipação de Novo Hamburgo (1901-1935). Porto Alegre: 2006 (tese de Doutoramento) PUCRS, 2006.

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  • TOTA, Antonio Pedro. O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.

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