Catira: uma tradição cultural na perspectiva do entretenimento | |||
Lazer e Educação, Natureza e Cultura Departamento de Pós Graduação da Educação Física UNESP – Rio Claro – SP (Brasil) |
Caroline de Miranda Borges Carmen Maria Aguiar | Sandra Kussunoki Marcelo Vieira | Sergio Jucosky |
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Resumo Nossa discussão nos leva a relacionar dança com entretenimento e lazer junto às comunidades caipiras do centro sul brasileiro. Já que a dança do catira nas culturas tradicionais, mostra dos seus praticantes uma alegria contagiante, um compromisso social que eleva a alto estima e estimula o bem estar comunitário. As reuniões das comunidades catireiras atualmente estão sendo incentivadas pelos governos e empresas privadas, devido ao alto ganho de marketing e imagem cultural. Fica aqui algumas questões a serem refletidas: Essas festas como estão sendo organizadas irão atingir os objetivos de baixar o nível de stress, melhorando a saúde pública e ampliando o ganho social? Essa seria a função do entretenimento? Nosso artigo visa colocar em debate essas questões sócio-cultural e políticas de comunidades ainda resistentes à cultura capitalista. Unitermos: Lazer. Dança. Catira. Manifestação popular. Entretenimento. Stress. Marketing. Imagem cultural. Sapateado. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008 |
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Este trabalho se refere à discussão se a dança do catira seria mais uma opção de entretenimento entre as comunidades tradicionais caipiras. Nos dias atuais a necessidade por entretenimento é mais que uma realidade, é uma questão de saúde pública. O stress do dia a dia arrebata o tempo e deixa expostos todos os desequilíbrios físico-psíquicos que o trabalho intenso e descontrolado provoca em todos nós. Se observarmos as comunidades que desenvolvem a cultura popular como meio de entretenimento, não encontraremos esse perfil de stress. A dança do catira nas culturas tradicionais, mostra dos seus praticantes uma alegria contagiante, um compromisso social que eleva a alto estima e estimula o bem estar comunitário.
Os catireiros aprendem a dança com suas famílias e amigos, participando de festas populares e apresentações locais. Desde cedo as crianças são submetidas a esse tipo de atividade participativa e alegre, desenvolvendo nelas o interesse pela dança e pela cultura popular. No catira além da dança temos a parte lúdica e interpretativa, que diverge de uma região para outra, mas que traz a mesma mensagem de descontração, envolvimento social e desenvolvimento artístico, visto que a viola é a comandante do espetáculo, o seu som e ritmo controlam a cadência do sapateado.
Hoje em dia as festas que trazem as danças e manifestações populares, estão sendo muito incentivadas pelos governos e empresas privadas, devido ao alto ganho de marketing e imagem cultural. Coisas que nos dias de hoje, traz grande prestígio à administração e marcas. Essa metodologia de levar entretenimento à população das grandes cidades, seria uma forma de sobrevivência social defendida por muitos estudiosos. Ficam aqui algumas questões a serem refletidas: Essas festas como estão sendo organizadas irão atingir os objetivos de baixar o nível de stress, melhorando a saúde pública e ampliando o ganho social? Essa seria a função do entretenimento?
Segundo Cândido (1989) a incorporação do homem à economia capitalista altera sua estrutura tradicional e possibilita o aparecimento de elementos nocivos a sua cultura e a seu equilíbrio social.
Estas festas, quando não organizadas pelos seus iniciadores originais, alguém da própria comunidade local e pertencente à cultura que as gerou e que lhe deu continuidade, a tal tipo de comemoração ou reunião, acabam por lançar mão de suas características mais genuínas, mergulhando em um tipo de padrão e perdendo a sua identidade. O que pode ocorrer muitas vezes é não mais existir uma adesão total de participação dos habitantes locais na festa, ficando então uma festa para turista, ou como diz a expressão “para inglês ver”. As pessoas que anteriormente organizavam tais festas não as reconhecem mais, quando estas se engrandecem com patrocinadores, apoios políticos, novos produtos, grandes quantidades, enfim, festas totalmente diferentes das quais se originaram. Os participantes de antigamente se distanciam, não se responsabilizam mais pelas coisas e fatos, como se aquilo não fosse mais deles. E realmente não é mais.
No processo da cidadania, o lazer é observado como um direito social, uma conquista dos cidadãos, passa ser uma necessidade para seu equilíbrio e sua qualidade de vida. Quando se fomenta uma atividade cultural, trazemos com ela, muitas vezes, o consumo exacerbado. Passamos então a observar tais manifestações como um descontrole da oferta e da procura, há uma regra básica que diz, quando aumentamos a oferta atingimos uma maior demanda, com isso aparece à exploração das festas tradicionais, que até então tinham foco voltado a cultura local e hoje estão à mercê do capitalismo, deste consumo que é tão feroz e deturpador.
O poder econômico determinante, nos impõe, constantemente padrões que influenciam as nossas formas de agir e de pensar, somos levados a consumir por vários fatores aquilo que não nos interessa. Trocamos de carro, de celular, de alimentação, de rotina, de roupa, de computador, de emprego, de relações....trocamos diariamente de vida sem parar para pensar no que estamos fazendo ou para onde estamos indo, não sabemos o que estamos fazendo com a gente mesmo e nem com os outros que estão a nossa volta. Viver limitado sobre o atual sistema dominante é viver a vida dos outros, é perder o domínio sobre si mesmo, é perder a identidade, é ser consumido como produto, é viver sem sentir a si mesmo. Buscamos incessantemente alguma coisa, que não sabemos bem o que é, e quando estávamos correndo atrás, logo já pensamos em mudar tudo de novo.
Corremos em busca de algo que nos faça sentido, adquirimos sem saber o porque algo que tenha valores agregados, compramos artesanatos regionais, utensílios com caráter artístico, queremos ter as coisas apenas para mostrar que somos os proprietários. Infelizmente não nos preocupamos com o reflexo das nossas ações, não identificamos que estamos ao tomar estas atitudes, modificando o comportamento daqueles que sem saber o porque, estão vendendo a sua autenticidade.
Segundo Veblen (1983) para o homem atual o consumo de bens valiosos passou a ser um instrumento de respeitabilidade e não mais de necessidade como era nos primórdios da humanidade, onde se tinha o que se precisava ter.
Mas para os intelectuais a autenticidade, não tem preço, não tem valor, está carregado de sentimentos e de sentidos e é o que motiva o estudo e pesquisa da cultura. Nesse contexto de mundo, de sobrevivência superficial e artificial, aquilo que é autêntico mais cedo ou mais tarde vai ser reconhecido. Dessa maneira, as festas que envolvem os costumes locais, as tradições populares, as formas de convívio social, deveriam ser valorizados como os “tesouros” da nossa sociedade atual.
Cada vez mais está difícil encontrar a autenticidade no ser humano como encontramos nos catireiros por exemplo, e quando ela é descoberta, rapidamente ganha status e vira produto de comércio, vendem-se de tudo (suas músicas, seus hábitos, seus livros, seus pertences... etc.) inclusive vende-se a própria vida das pessoas que neste processo estão diretamente envolvidas.
Ao compreendermos a catira como dança e como mais uma opção de lazer e entretenimento, devemos atentar para um processo de educação para manifestações culturais, valorizando e permitindo o desenvolvimento de consciências acerca das mais diversas possibilidades de expressão através do corpo segundo SOUZA e MELO (2004).
Neste momento deve-se colocar a questão que mais incomoda: o que fazer? Deixá-los na autenticidade das suas vidas? Mas aí podem desaparecer por não serem valorizados... Ou valorizá-los, levando-os para a “nossa sociedade” e correndo o risco de serem consumidos por ela?
Referências
AGUIAR, C.M., Educação, Cultura e Criança, Ed. Papirus, Campinas-SP, 1994.
AGUIAR, C.M., Educação, Natureza e Cultura Um Modo de Ensinar, USP, 1998.
CANDIDO, A. Parceiros do Rio Bonito, Ed. 34, 1989.
DA MATTA, R., Carnavais, Malandros e Heróis, Ed. Zahar, Rio de Janeiro-RJ, 1983.
GOMES, Christianne Luce. Belo Horizonte, Autêntica, 2004.
RIBEIRO, D., O Povo Brasileiro, A Formação e o Sentido do Brasil, Companhia das letras, 2001.
SOUZA, M. I. G. MELO, V. A. Dança (in) Dicionário Crítico do Lazer (ORG).
VEBLEN, THORSTEIN, A Teoria da Classe Ociosa, Editor Vitor Civita, 1983.
revista
digital · Año 13 · N° 125 | Buenos Aires,
Octubre de 2008 |