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A perspectiva da adequação psicológica no 

contexto da formação em Educação Física

Psychological adequacy perspective in Physical Education formation context

 

*Mestre em Ciências da Motricidade.

**Prof ª Dr ª, Coordenadora do LEL - Laboratório de Estudos do Lazer

Membros Pesquisadores do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer

IB/DEF/UNESP – Campus Rio Claro.

(Brasil)

Graziela Pascom Caparroz*

grazielacaparroz@hotmail.com

Gisele Maria Schwartz**

schwartz@rc.unesp.br

 

 

 

Resumo

          A Educação Física, com sua natureza multidisciplinar, trata dos aspectos relativos à cultura do movimento humano, tendo a possibilidade de abordar, assuntos relacionados à saúde, valores éticos, sociais e políticos, sobre o corpo, a prática de atividade física e de esporte, bem como, as danças, as lutas, os jogos, em diferentes âmbitos, incluindo-se o lazer, todos permeados dos aspectos psicológicos, das subjetividades, da motivação, da afetividade e dos relacionamentos interpessoais, travados nesses diferentes contextos de ação profissional. Entretanto, bem pouco se tem enfatizado sobre os conhecimentos acerca da adequação com o trato psicológico, durante a formação docente. Este estudo, de natureza qualitativa, privilegia seu foco em uma reflexão acerca das abordagens multifacetais da formação docente em Educação Física, evidenciando, juntamente com as perspectivas acadêmica, técnica, prática e de reconstrução social, a necessidade de inserção de uma quinta perspectiva, referente à adequação psicológica, visando suporte reflexivo acerca do universo das subjetividades e dos relacionamentos interpessoais travados, podendo contribuir qualitativamente na intervenção em diversos contextos de atuação, capazes de definir e gerar, não só a adesão à prática regular, como também, a manutenção destas, além de contribuir na disseminação de atitudes pró-ativas no lazer, sendo imprescindíveis novos olhares, focalizados neste universo temático.

          Únitermos: Educação Física. Adequação psicológica. Formação profissional.

 

Abstract

          Physical Education, with its multidisciplinary nature, deals with aspects of human movement culture, taking the opportunity to address issues related to health, ethical, social and political values, about the body, physical activity and sport practices, as well as dances, fights, games in varied ambits, including leisure, all permeated of psychological aspects such as the subjectivities, motivation, the affective and interpersonal relationships, locked in such different professional contexts of action. However, very little has been emphasized on the knowledge about the psychological adequacy for the teacher training. Therefore, this qualitative study was focused in a reflection on the multiform facet approaches of teacher training in physical education, highlighting, along with academic, technical, practical and social reconstruction prospectives, the need for inclusion of a fifth perspective based on psychological adequacy, seeking for a reflective support about the universe of subjectivities and interpersonal relationships, due to contribute on a qualitative intervention in different contexts of action, able to define and generate, not only joining the regular practice, as also, the maintenance of them, and contribute in the spread of pro-active attitudes in leisure, and vital new visions, focused in this theme.

          Keywords: Physical Education. Psychological Adequacy. Professional formation.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

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Introdução

    Indiscutivelmente, a Educação Física é uma área em expansão em todos os sentidos. O número de instituições de nível superior que apostam nesse crescimento também alarga os horizontes deste setor, o qual congrega múltiplas atividades humanas.

    A Educação Física, por ser uma área de caráter teórico-prático, que trata de temas relativos à cultura do movimento humano, tem a possibilidade e o dever de abordar, no seu corpo de conteúdos, assuntos relacionados à saúde, valores éticos, sociais e políticos sobre o corpo, sobre a prática de atividade física e de esportes, bem como, as danças, as lutas, os jogos, os conteúdos culturais do lazer, entre diversos outros.

    Em todos esses elementos, de certa forma, estão envolvidos os aspectos psicológicos e a subjetividade, seja em relação à motivação para a prática dessas atividades, ou no que tange às emoções e os relacionamentos interpessoais que perpassam essas vivências.

    Para que se obtenha sucesso, tanto na forma de transmissão desses conteúdos, como nas ressonâncias dessas abordagens multifacetais, promovendo autonomia e pró-atividade, com conseqüente ampliação positiva nos parâmetros do lazer e da qualidade de vida, torna-se necessário implementar os conhecimentos acerca da adequação psicológica e de outras temáticas importantes na formação desse profissional da área de Educação Física.

    Conforme salientou Pereira (1988)13, a tarefa docente do ensino de Educação Física, suas orientações técnicas para equipes desportivas e as situações de ensino e treinamentos, são de competência exclusiva dos profissionais de nível superior.

    Pode-se ir muito mais adiante, não focalizando somente o nível desportivo, como também, tudo que envolve a educação para todos os tipos de atividades físicas.

    É possível considerar o profissional de Educação Física como o principal responsável pela orientação técnica, tática e física de equipes desportivas, de praticantes do esporte em nível amador e no contexto do lazer, dos assíduos freqüentadores de academias, dos alunos na Educação Física escolar e de diversas outras práticas de atividades físicas, como evidencia Pereira (1996)14.

    De acordo com as necessidades individuais e coletivas, Alves (1988, p. 2)1 descreveu que: “[...] a humanidade se caracteriza pela capacidade de produzir conhecimentos e tecnologias visando atender suas necessidades e interesses”.

    Entretanto, nem sempre a formação profissional tem levado em conta as expectativas da própria sociedade em suas áreas. Santin (1990)15, com seu olhar mais voltado para a Educação Física escolar, já evidenciou a preocupação com uma formação mais adequada às demandas. Porém, este pensamento pode ser ampliado para todos os setores envolvidos nesta área.

    Esse mesmo autor salientou que a prática só será realmente autêntica se houver um alicerce teórico e, para se fortalecer, esse profissional necessita de conhecimentos que ultrapassam a simples aquisição das técnicas, buscando saberes pedagógicos de outras delimitações – psicológica, sociológica, filosófica, antropológica, entre outras – os quais sustentarão a ação do cotidiano do ambiente em que está inserido.

    No campo do lazer, para se atender às demandas vigentes na atualidade, o profissional requer, ainda, disposição, criatividade e empreendedorismo para lidar com grandes grupos, no sentido de cumprir seus papéis, ora de educador, ora de recreador e de animador cultural conforme apontam Bramante (1998)3, Marcellino (2003)11, aspectos nem sempre abordados com clareza em sua formação.

    Com base nesses pressupostos, pode-se perceber a variabilidade exigida para o profissional desta área, no sentido de ter que dominar todos esses conhecimentos e aspectos didático-pedagógicos, que o instrumentalizam para a prática e adaptação a cada contexto.

    Entretanto, esta polivalência em sua formação não corresponde à realidade, tendo em vista que se pode perceber uma desatenção em relação a muitos aspectos importantes para uma adequada intervenção profissional na área de Educação Física, havendo um hiato entre as propostas educacionais vigentes e a real necessidade de formação desse profissional, especialmente no tocante aos conhecimentos sobre os contextos aos quais ele pode ser inserido, bem como, sobre sua preparação para lidar com a pluralidade das interferências dos aspectos psicológicos envolvidos no universo das atividades físicas desses diversos contextos de atuação.

    Sendo assim, este estudo visa refletir sobre a importância da ressignificação dos valores acerca da adequação psicológica do profissional de Educação Física em sua formação, na perspectiva de ampliação do potencial qualitativo das intervenções.

Revisão de literatura

    Por suas características voltadas à compreensão do universo corporal de movimento, a Educação Física é considerada uma área de estudo que trata do conhecimento corporal socialmente construído e acumulado historicamente, tornando-se de fundamental importância suas contribuições na perspectiva de formação e reconstrução de atitudes e condutas pró-ativas, capazes de favorecer o usufruto saudável e qualitativo das práticas corporais, por meio de metodologias de ensino organizadas e de ações pedagógicas consistentes.

    Para tanto, é necessário que o profissional envolvido seja encaminhado com consistência ao universo que envolverá seu trabalho pedagógico, no sentido de se favorecer a aquisição do conhecimento formal, mas com reflexão.

    Santin (1990)15 ressalta que o profissional de Educação Física, quando consciente e empenhado em sua tarefa de educador, pode conduzir efetivamente sua ação pedagógica, inclusive superando as próprias deficiências e limitações advindas de sua formação profissional, levando seu aluno a refletir sobre sua própria ação.

    Bracht (1992)2 afirmou que é importante ter-se em mente que o profissional é um sujeito social e histórico e está inserido na sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. Sendo assim, esse profissional precisa ter conhecimento teórico, prático e reflexivo, para compreender a realidade em que o aluno está inserido, devendo estar atento às peculiaridades que ocorrem, procurando instrumentalizar-se para intervir conscientemente no contexto das relações, pois é este profissional, de certa forma, quem pode mobilizar e preparar uma sociedade com mais consciência.

    Torna-se necessário o estabelecimento de objetivos a serem alcançados, a partir destas relações travadas entre professor e aluno, tendo-se o professor como mediador do conhecimento a ser transmitido, promovendo vivências significativas ao aluno, e este, por sua vez, assumindo uma participação mais intensa e autônoma, como sugere Freire (1994)6.

    Entende-se que as reflexões acerca desses aspectos devam ser possibilitadas aos profissionais já durante sua formação inicial, por meio de um ambiente favorável, em que as práticas pedagógicas tenham o objetivo de promover e desenvolver o acadêmico para o exercício da crítica e da reflexão.

    Silva (1994, p. 87)17 defende que: “O papel assumido pelo professor seja como intelectual, orgânico ou transformador, deve combinar, na prática pedagógica, a ação e a reflexão [...]”, sendo que, para isto, ainda segundo o mesmo autor, não basta o profissional participar de cursos esporádicos. O autor referido ainda adverte que “[...] a formação precisa estar vinculada à prática pedagógica [...] abordar a educação e aspectos relativos à afetividade e à criatividade, éticos e estéticos presentes no fazer educativo”.

    Nesse sentido, Mattos e Neira (2000)12 advertem que uma ação pedagógica descompromissada, limitaria a apropriação desses saberes pelo aluno, impedindo as perspectivas de atuação futura rumo a uma prática de significado social mais intenso.

    Seguindo o raciocínio de Mattos e Neira (2000)12, na formação dos cursos de Educação Física ainda existe uma preocupação com as disciplinas que irão compor a grade curricular, visando atender e agradar à clientela, fato que contribui para a “fragmentação do saber e o distanciamento da realidade social”.

    Refletindo um pouco mais, de que maneira, atualmente, essa formação pode contribuir para esse profissional adequar-se de modo significativo para que não haja esse distanciamento da realidade da qual pertencerá e atuará e, consequentemente, não aconteçam prejuízos aos seus alunos?

    Ainda, corroborando com o pensamento de Mattos e Neira (2000)12, os cursos de licenciaturas, atualmente, estão deixando o seu real valor em segundo plano e enfatizando, em demasia, a formação técnica, de alto rendimento, fato que já resvalou, inclusive, nos programas de Pós-Graduação de grandes universidades do país.

    Apesar de os acadêmicos estarem sendo, supostamente, bem preparados tecnicamente, quanto aos conteúdos com os quais trabalharão, ainda falta um trabalho do professor formador, no sentido de que o acadêmico compreenda a importância do seu papel de mediador na organização das instituições familiares, do trabalho e do lazer.

    Mattos e Neira (2000)12 ainda afirmam que, uma vez que não lhe foi propiciado o exercício de análise e reflexão dos conhecimentos adquiridos na graduação, o resultado é a ausência de reflexão que se estende no exercício da profissão.

    Questões como saúde, valores éticos, ecologia, tecnologia, cultura, estados emocionais e qualidade de vida, passam a promover, em alguns profissionais da área, uma visão mais ampla e sistêmica da complexa realidade presente nas relações e nos comportamentos humanos. No entanto, esses aspectos são, por vezes, pouco abordados ou explorados pelos cursos de formação, não oferecendo ao graduando a oportunidade de internalizá-los como questões necessárias para sua futura prática profissional.

    Dando sua contribuição a esta reflexão, Chiavenatto (2000, p. 91)5 propõe quatro perspectivas importantes, as quais devem ser levadas em consideração para a formação docente: “[...] perspectiva acadêmica, perspectiva técnica, perspectiva prática e perspectiva de reconstrução social”.

    O autor anteriormente referido complementa o pensamento, reforçando a importância de os professores conhecerem as condições sociais a que serão submetidos na prática pedagógica, além das implicações institucionais que balizam esta prática, notadamente, no que se refere ao “quê” e ao “como” ensinar. Assim, a reflexão ampla é apontada nesse texto, como possibilidade para uma reconstrução social ou uma prática pedagógica transformadora, instigante.

    Considerando essas perspectivas, além dos aspectos social e pedagógico, a inserção de outro contexto – a perspectiva psicológica – se faz também necessário, para o qual, esse profissional, apropriado do conhecimento, encaminharia seu aluno para refletir mais sobre seu papel, seus compromissos e ações dentro de contexto social, assim como, favoreceria, também, o conhecimento sobre si, com um olhar crítico sobre o enredo psicológico, sua personalidade, valores, escolhas, suas formas de se relacionar consigo, por intermédio de seu corpo em movimento, e com o outro.

    Malaco (2004)10 diagnosticou que os trabalhos acerca da afetividade na formação de professores de Educação Física ainda são pouco explorados e o desenvolvimento pessoal dos alunos não é considerado relevante no processo de formação, que, em geral, são relacionados em saberes que não levam em consideração o indivíduo, suas particularidades e projetos de vida. Malaco (2004, p. 79)10 afirma que: “[...] as questões afetivo-cognitivas e de identificação profissional, que permeiam a formação do educador, precisam ser mais exploradas, conhecidas e estudadas.”

    No entanto, para que isto possa se efetivar, torna-se necessário que ocorra investimento e boa vontade dos dirigentes dos cursos de formação, dos organizadores das políticas públicas no contexto educacional e, mais particularmente, do próprio profissional, no sentido de perceber que, sem engajamento, não há razão para propostas que são, em essência, positivas e que poderão gerar, mesmo que sejam mínimos, benefícios, não só aos próprios futuros acadêmicos, mas, que poderá ter ressonâncias sociais significativas.

    Na obra de Kunz (2001)7, verifica-se um reforço à idéia de que o profissional de Educação Física deva refletir mais sobre a própria prática pedagógica. O autor reafirma, ainda, a importância de se investir na formação do profissional de Educação Física, argumentando ser por meio de sua interação madura, consciente, crítica e democrática com os alunos, que se construirá uma sociedade mais justa.

    Para reforçar um pouco mais a importância de uma ação reflexiva na atuação profissional, complementando a proposta de Chiavenatto (2000)5 sobre as quatro perspectivas na formação docente, Caparroz e Schwartz (2005)4, baseadas em seus estudos, sugerem a inserção de uma quinta perspectiva, a qual seria a perspectiva de adequação psicológica na formação docente, visando uma suplementação desses conteúdos, no âmbito do enfoque das disciplinas que tratam de aspectos psicológicos da Educação Física.

    Nesse referido estudo realizado pelas autoras, foi investigado se o profissional de Educação Física estava adequadamente preparado para lidar com elementos subjetivos que perpassavam aspectos relativos aos conteúdos afetivo-emocionais durante aulas, visando identificar a importância e a interferência desses na qualidade do relacionamento interpessoal com seus alunos. Para tanto, as autoras fixaram a atenção no contexto das academias, tendo em vista que, de certa forma, este ambiente reflete grande parte da realidade dos conhecimentos abordados durante os cursos de graduação.

    De acordo com os dados desse estudo, realizado com professores de academias, na cidade de Jales, SP, para 100% dos sujeitos entrevistados - profissionais de Educação Física - não houve preparação psicológica durante a graduação e 80% dos profissionais atuantes não se sentiam adequadamente preparados para lidar com os diferentes estados de ânimo e necessidades psíquicas de seus alunos.

    Fatores como estes, facilmente diagnosticados acerca da formação do profissional de Educação Física, podem interferir na possibilidade de envolvimento com a prática e necessitam novos olhares, para aprimorar as ações com relação à eficácia interpessoal, diante das adversidades emocionais de seus alunos, instigando, dentro desse contexto, outras investigações.

    Estando o profissional adequadamente preparado, seu olhar para com seu aluno será mais consciente e suas ações mais consistentes, respaldadas pelo conhecimento e criticidade, podendo-se obter uma atuação conseqüentemente mais norteadora, capaz de fazê-lo olhar para si mesmo e refletir sobre suas próprias emoções, sentimentos, auto-estima, relações interpessoais, antes de agir frente a seus alunos.

    Para haver assertividade na forma de conduzir e lidar com os alunos e suas adversidades psíquicas, torna-se indispensável perceber se e como o profissional aprendeu, didático-pedagogicamente, a perguntar e ouvir, querendo realmente saber o que seus alunos pensam ou sentem, refletindo melhor sobre a resposta a ser dada e, necessariamente, comentando e apoiando as ações cabíveis.

    A Educação Física deve proporcionar e estimular a adoção de comportamentos favoráveis para a manutenção ou aprimoramento de componentes do estilo de vida relacionados à saúde e ao comportamento preventivo. Para isso, tem como recurso o processo ensino-aprendizagem, o qual pode se dar por meio de vivências sistematizadas de diversas dimensões da cultura do movimento humano, conforme afirma Santos (2005)16.

    Nestes procedimentos, então, deve-se incluir a perspectiva de se proporcionar, também, o aprimoramento de componentes subjetivos e afetivos das relações, os quais são abrangentes e complexos.

    Segundo Leite e Tassoni (2002)8, a afetividade se compõe como um fator de enorme significância na demarcação do caráter das relações que se instituem entre os alunos e os demais objetos do conhecimento. Desta forma, pode-se colocar que a afetividade está presente em todos os momentos ou fases do trabalho pedagógico.

    Leite (2006)9 afirma que todas as determinações pedagógicas adotadas pelo professor, desde o planejamento da aula até a avaliação final, incluindo-se o seu desenvolvimento, têm comprometimento direto com o aluno, nos níveis afetivo-cognitivo.

    De acordo com Santos (2005)16, as diversas crises sofridas por esse campo de atuação profissional, fizeram com que várias questões, advindas da conscientização sobre a complexidade das ações humanas, fossem trazidas para essa área tão ampla do conhecimento humano, mas, muitos desses enfoques, ainda não estão merecendo a atenção devida.

    Percebe-se que o trabalho docente é uma profissão relacional, em que o principal instrumento de trabalho é a pessoa do professor, interagindo com outros indivíduos, cuja atividade envolve grandezas existenciais e afetivas que não podem ser ignoradas.

Considerações finais

    A continuidade na formação do docente após o término de sua graduação tem sido diretamente vinculada à conscientização e à percepção que este profissional tem de si mesmo e do papel da Educação Física nos diversos contextos sociais, cabendo, então, aos cursos de formação, chamarem para si a perspectiva de subsidiarem as reflexões necessárias a uma prática consistente.

    Independente dos objetivos mobilizadores de uma pessoa à procura da atividade física e de seus possíveis benefícios, inclusive, quanto à melhoria de sua condição de ser humano, acredita-se que um fator primordial para que esses objetivos esperados possam efetivamente ser alcançados, com o máximo de eficiência, respeitando-se as integridades física, psicológica ou ética, diz respeito ao compromisso e ao nível de envolvimento profissional durante o desenvolvimento de seu trabalho.

    O profissional de Educação Física é responsável por prescrever, orientar e acompanhar a todos aqueles inseridos no âmbito da prática da atividade física ou desportiva e, na base destas exigências, insere-se sua formação inicial. Esta é capaz de promover ou de negligenciar reflexões acerca de compromissos e da necessidade desse profissional estar sempre consciente e de elevar os níveis de autonomia a procura de novos conhecimentos, por intermédio de uma educação continuada.

    A qualidade destas intervenções pode ser capaz de, efetivamente, definir e gerar, não só a adesão à prática regular, tanto no contexto escolar quanto no das academias, como também, a manutenção nas mesmas. Além disto, possivelmente, a ação significativa poderia implementar a pró-atividade no lazer, sendo imprescindíveis que novos olhares sejam focalizados acerca deste universo, no sentido de imprimir a assertividade no trato afetivo e inter-relacional nestes espaços, para se produzir reverberações positivas.

    Para que isso efetivamente aconteça com significância em todos os âmbitos da aprendizagem, o profissional deve se formar multi, pluri e interdisciplinarmente, com a profundidade necessária que essa totalidade exige. Tal realidade efetivada, não mais seria visto a cultuação vazia e desnecessária de corpos ditos perfeitos ou então, a cobrança demasiada com relação ao desempenho desportivo, e sim, indivíduos conscientes de que se cuidar também é preciso, além de cuidar do outro, porém, sem os encouraçamentos aos quais se assiste atualmente.

    Formar um profissional suficientemente capaz de lidar com todas as nuances envolvidas na prática de atividades físicas, extrapola, inclusive, a noção de educação, apenas voltada para a transmissão de conhecimentos, tomando-a, necessariamente, como reconhecimento dos papéis sociais, dos compromissos com o corpo do outro e, mais do que isto, com a qualidade das relações que perpassam emocional e afetivamente este domínio, para que ela possa galgar o status almejado de ser uma educação significativa.

Referências

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