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Temperamento e traços de personalidade: uma abordagem histórica

Temperament and dashes of personality: a historic apprach

 

*Professora do Curso de Educação Física da ULBRA/SM

Especialista em Pesquisa: Aprendizagem Motora pela UFSM

Mestre em Desenvolvimento Humano: Psicologia do Esporte pela UFSM

Doutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS

Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Conhecimento Psicológico do Ser Humano e a sua relação com a prática de atividades físicas.

**Aluno colaborador do Curso de Educação Física da ULBRA/SM. Bolsista de Iniciação Científica da FAPERGS.

*** Aluna colaboradora do Curso de Educação Física da ULBRA/SM. Bolsista de Iniciação Científica do PROICT/ULBRA.

Maria Cristina Chimelo Paim*

Daniel Rossi**

Diesse Steyding Richter***

crischimelo@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão bibliográfica sobre os estudos do temperamento e traços de personalidade. Escrever, pensar e refletir sobre o conhecimento psicológico do ser humano, em especial o entendimento desses traços de personalidade e temperamento e sua relação com a atividade física e esportiva, é hoje fator essencial na formação dos professores de Educação Física, pois através do conhecimento desses aspectos pode-se busca alternativas teórico-metodológicas para a melhoria da qualidade da prática pedagógica da Educação Física, visando contribuir para que os professores encontrem subsídios para entenderem e trabalharem com as diferenças individuais de cada aluno.

          Unitermos: Temperamento. Traços de personalidade. Educação Física e Esporte.

Abstract

          The purpose of this study was a literature review on the studies of temperament and personality traits. Writing, think and reflect on the psychological knowledge of human beings, especially the understanding of these traits of personality and temperament and their relationship to physical activity and sports, is today an essential factor in the training of teachers of physical education, because through knowledge of things may be seeking alternatives to the theoretical and methodological improvement in the quality of practice teaching Physical Education, aiming to help ensure that teachers are grants to understand and work with individual differences of each student.

          Keywords: Temperament. Traces of personality. Physical Education and Sports.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    Considera-se que a característica mais notável do Ser Humano é a sua individualidade, e que todo o ser humano é portador de um genótipo singular, que faz com que jamais dois seres humanos (com possível exceção dos gêmeos idênticos), tenham sequer a potencialidade de um desenvolvimento idêntico, sobretudo quando a todas essas diferenças genéticas acrescentarmos as diferenças que ocorrerão nos ambientes e nas experiências de cada indivíduo. Estas peculiaridades, ou seja, os traços de personalidade são perceptíveis a partir das reações diferenciadas das pessoas no grupo, determinando assim o seu temperamento.

    O entendimento deste tema oportuniza aos professores de Educação Física o conhecimento psicológico dos alunos, com a finalidade de promover um entendimento e crescimento pessoal, objetivando também que os alunos e professores compreendam e aprendam a lidar com suas emoções, reações e atitudes, no sentido de contribuir para a melhoria da prática de Educação Física Escolar. Para poder assim se utilizar de estratégias que maximizem o processo de aprendizagem.

    Desta forma o presente artigo de revisão, fruto de pesquisa que vem ancorando os estudos da autora sobre o temperamento e traços de personalidade, há mais de cinco anos, tem como objetivo escrever, pensar e refletir sobre o conhecimento psicológico do ser humano, em especial ao entendimento dos traços de personalidade e temperamento e sua relação com a atividade física e esportiva.

Abordagem histórica sobre os estudos do temperamento e traços de personalidade

    A origem da Teoria da Personalidade deve-se aos médicos e as exigências das práticas médicas, visto que a formação dos pioneiros nesse campo é o resultado da combinação de suas teorias da personalidade com a prática psicoterápica como meio de tratamento de doenças mentais, na tentativa de entender tanto a natureza básica do Ser Humano quanto os desvios e as peculiaridades de seu sistema nervoso. À medida que a psicologia progride de uma análise introspectiva da mente humana, para uma ciência do comportamento humano surge à necessidade do estudo da personalidade ser retirado do domínio médico e psicoterápico para tornar-se parte integral de uma psicologia científica. Há também, os processos motivacionais, os quais de acordo com Machado (1997) assumem um papel importante e decisivo para o ajustamento do Ser Humano ao meio. Essa relação pelo interesse dos processos funcionais e motivacionais gera uma compreensão adequada do comportamento humano que só será possível a partir do estudo da sua personalidade total.

    A Personalidade é a síntese integral das atividades psíquicas, e atributo característico único dos Seres Humanos. Segundo Allport (1966), é difícil dizer que um bebê recém-nascido tenha personalidade, pois não tem a organização característica de sistemas psicofísicos (o funcionamento da personalidade inseparável corpo e mente). Mas afirma que a personalidade começa no nascimento, que o bebê tem uma personalidade potencial, sendo quase inevitável que certas capacidades se desenvolvam. Para o autor, são componentes da personalidade, o físico, o temperamento e a inteligência, sendo esses considerados a matéria prima da personalidade. Dentre os três, o físico é o mais ligado à hereditariedade, mas existem muitos estudos que provam que as bases do temperamento e da inteligência são também determinadas geneticamente. Allport alerta que os três fatores, dentro de certos limites, são influenciados, durante a vida, pela nutrição, pela saúde, pela doença e pelo ambiente.

    Segundo Kalinine & Schonardis Filho (1992), pode-se observar que a influência das reações comportamentais na vida dos Seres Humanos e em seus destinos tem atraído a atenção dos cientistas. A mais antiga teoria psicológica de que se tem notícia é, ao mesmo tempo, a que teve mais influência através dos séculos. Segundo Allport (1966), a teoria começa com a antiga crença grega, atribuída a Empédodes, do século V a. C., de que a natureza é composta de quatro elementos, isto é, ar, terra, fogo e água. O segundo estágio da teoria foi acrescentado por Hipócrates, o “pai da medicina”, segundo o qual essa fórmula para a natureza como um todo (o macrocosmo) deve refletir-se na constituição do Ser Humano (o microcosmo). E esses elementos são representados, no corpo humano, sob a forma de quatro “humores”. Se um humor predominasse no corpo, deveríamos esperar uma predominância correspondente de um temperamento. A teoria foi mais bem elaborada pelo médico romano Galeno, no século II da era cristã. Galeno via os humores como a raiz não apenas do temperamento, mas também das doenças. Embora a ciência moderna tenha mostrado que as substâncias hormonais do corpo são mais numerosas e mais complexas do que o supunham os antigos, a idéia de que o temperamento - “que é a base emocional da personalidade”, seja condicionado pela química do corpo foi cada vez mais confirmada pela pesquisa moderna.

    Além da idéia a respeito da química do corpo, existe outra razão, ainda mais completa, que sustenta essa teoria, são os quatro padrões descritos pela teoria, pois são perfeitamente adequados para qualquer esquema dimensional moderno de classificação do temperamento. É verdade que os nomes dos temperamentos têm um colorido qualitativo: colérico significa irascível, sangüíneo significa esperançoso, melancólico significa triste e fleumático significa apático. Mas esses coloridos qualitativos são coerentes com uma visão lógica e qualitativa das possíveis dimensões do temperamento (ALLPORT, 1966).

    Segundo Petroviski (1985), o temperamento é a característica da personalidade que permite identificar as peculiaridades dinâmicas dos processos psíquicos como intensidade, velocidade, cadência e ritmo. Dois componentes do temperamento, atividade e emocionalidade, estão presentes na maioria das classificações e teorias do temperamento. A atividade do comportamento caracteriza o grau de energia, de impetuosidade, de velocidade, de inércia e de lentidão. A emocionalidade caracteriza as peculiaridades da transcorrência das emoções, dos sentimentos, dos estados de espírito e suas qualidades, como: o sinal (positivo/negativo) e a modalidade (alegria, mágoa, medo, tristeza, cólera, etc).

    Segundo Anastasi (1972), são conhecidos três sistemas básicos para explicar a essência do temperamento, dos quais os dois primeiros têm somente interesse histórico. O primeiro sistema (humoral), o qual já foi citado anteriormente, liga o estado do organismo com a proporção dos sucos (os líquidos e humores) que circula pelo organismo. Pela prevalência dos tipos de líquidos que circulam pelo organismo, foram destacados os seguintes temperamentos: sangüíneo; colérico; fleumático e melancólico.

    O segundo sistema (constitucional) se apóia nas diferentes constituições do organismo, sua estrutura física, proporções de diferentes partes do corpo e proporções de diferentes tipos de tecidos. A constituição é o aspecto físico-morfológico da personalidade. É a estrutura ou arquitetura do corpo humano. O estudo da constituição é objetivo da Biotipologia, ciência que estuda os diversos tipos humanos com suas particularidades somáticas e psíquicas, as quais se associam intimamente. Embora não haja unidade de doutrina relativamente à classificação dos tipos constitucionais, pode-se afirmar que há uma estreita relação entre a forma e o espírito, entre a figura e o caráter, entre o soma e a psique (ANASTASI, 1972).

    A relação entre os traços físicos e psíquicos também tem sido considerada do ponto de vista de tipos constitucionais. Na tentativa de simplificar as variações, quase infinitas, observáveis entre os indivíduos, estudiosos como Kretschemer e Sheldon propuseram certos tipos humanos básicos. Um indivíduo específico pode então ser descrito mais ou menos se aproximando a um desses tipos. Estes tipos constitucionais são apresentados como sendo uma caracterização do indivíduo, nos traços físicos, intelectuais e emocionais, e não são encarados como quaisquer qualidades isoladas do organismo (ANASTASI, 1972).

    A tipologia constitucional representa uma abordagem ao estudo da relação entre características físicas e psicológicas. As duas teorias mais aceitas e utilizadas são as de Kretschemer e Sheldon. Sendo que a mais utilizada foi à tipologia de Sheldon, a qual nós abordaremos a seguir.

    Segundo Davidoff (1983), Sheldon defendia o ponto de vista de que as pessoas com um determinado tipo de corpo tendem a desenvolver tipos especiais de personalidade. Sheldon calculava que os seres humanos são geneticamente dotados de características físicas que determinam as atividades nas quais tendem a destacar-se e, conseqüentemente, as que julgam agradáveis. Se um homem tem músculos fortes e bem desenvolvidos, provavelmente será bom para esportes e gostará deles, nos quais se empenhará. Os atributos corporais moldam as expectativas dos outros também. As pessoas gordas, por exemplo, são imaginadas como joviais e de bom temperamento.

    Sheldon & Stevens (1942) analisaram o corpo de 4000 estudantes de College, através de observação pormenorizada de fotografias, sendo que cada pessoa foi fotografada desnuda e em pose padronizada nas posições frontal, lateral e dorsal. As medidas foram tomadas diretamente das fotografias com compasso de ponta de agulha. Procedimento paralelo foi observado para chegar-se aos componentes do temperamento. Em primeiro lugar, o autor coligou uma lista de 650 traços temperamentais descritos na literatura, sendo que a sua maioria se relaciona com a introversão e extroversão. Depois de adicionar algumas de suas próprias observações, reduziram a lista a 50 termos que pareciam compreender toda a categoria. Um grupo de 33 rapazes, foram então avaliados em uma escala de 7 pontos ( 1 ponto indica a presença mínima de um componente; 4 , o termo médio e 7, o máximo) para cada um desses 50 traços.

    Assim o somatotipo de cada indivíduo compõe-se de três números que representam suas avaliações em endomorfia, mesomorfia e ectomorfia, respectivamente. Assim 7-1-1 representa endomorfia extrema; 6-2-2, endomorfia pronunciada; 4-3-3, endomorfia moderada; 1-7-1, mesomorfismo extremo; 1-1-7, ectomorfismo extremo e 4-4-4, representa perfeito equilíbrio dos três componentes. Teoricamente, existem 210 combinações de somatotipos, mas, Sheldon descreve 88 somatotipos que foram realmente observados. O emprego de uma escala de 7 pontos é, naturalmente, arbitrário e apenas uma questão de conveniência. As avaliações se basearam numa série de 20 entrevistas intensivas efetuadas pelo investigador, durante um período de um ano, e foram submetidos a observações cotidianas. Todas as 1225 intercorrelações entre os resultados dos 50 traços foram computadas. Um estudo desta tabela de correlação sugeriu aos autores que os traços se dividissem em três aglomerados principais. Os autores então mantiveram apenas os itens com correlação positiva de 0,60 ou mais. Nesta base manteram-se 22 dos 50 traços originais. Em estudos subseqüentes em maior número de sujeitos, os investigadores se propuseram a redefinir os 22 traços iniciais e acrescentar outros que haviam atingido o critério de correlação acima exposto. A escala final desenvolvida por esta técnica compreendeu 60 traços, 20 em cada aglomerado (ANASTASI, 1972).

    A partir dessa análise enumerou três categorias de tipos somáticos, com a seguinte nomenclatura: Endomorfismo, Mesomorfismo e Ectomorfismo. Essa nomenclatura teve influencia da embriologia do ser humano. No embrião há três camadas celulares concêntricas e superpostas em volta de uma cavidade central: o endoderma, desdobrando-se dá origem aos órgãos da vida vegetativa e nutritiva (vísceras digestivas); o mesoderma forma o esqueleto e músculos; o ectoderma deriva a pele e o sistema nervoso. O sistema de Sheldon foi originalmente elaborado com homens. A extensão do sistema para incluir as mulheres foi construída mais tarde. Em seus estudos Sheldon registra que as mulheres tendem a ser mais endomórficas que os homens. A semelhança destes somatotipos aos de Kretschemer é aparente. O endomorfo predominante corresponde ao tipo pícnico de Kretschmer, ao passo que o mesomorfo e ectomorfo predominantes representam os tipos atléticos e leptossômico, respectivamente. O somatotipo descrito como 4-4-4, seria classificado como tipo intermediário ou misto no sistema de Kretschmer (ANASTASI, 1972).

    Sheldon após o estudo dos somatotipos realizou um estudo de correlação entre os componentes do físico com o temperamento, este foi observado num período de 50 anos, chegando às seguintes formas de físico relacionadas com o temperamento:

  • F: Endomorfo- gordas vísceras digestivas super desenvolvidas, predominam as formas arredondadas;

  • T: Viscerotônico- expansivo apreciador de conforto, sociável.

  • F: Mesomorfo- musculoso, predomina os tecidos ósseos, atlético;

  • T: Somatotônico- firme, afirmativo, corajoso, gosta de correr riscos.

  • F: Ectomorfo- delgado, predominam as formas lineares, alto, magro, frágil, é o que possuí o maior cérebro, sistema nervoso sensível;

  • T: Cerebrotônico- tendência a retraimento, introversão, inibido, gosto pela solidão e isolamento.

    O terceiro sistema liga os tipos de temperamentos com a atividade do sistema nervoso central. A teoria do temperamento de PAVLOV é a mais aceitável pela sua aplicabilidade no esporte e pela influência significativa do tipo de sistema nervoso central nas peculiaridades dinâmicas do comportamento do ser humano. Em meio do século XX Pavlov apud Kalinine & Schonardis Filho (1992), com base em outras investigações sobre o funcionamento do sistema nervoso nos animais, inclusive nos Seres Humanos, observou através do sistema nervoso, a capacidade dos seres de adaptar-se em suas vidas ao ambiente em que vivem.

    Pavlov (1979), em seus estudos, identificou quatro tipos de sistema nervoso, e classificou-os de acordo com três peculiaridades básicas do sistema nervoso central: a intensidade, neste caso o sistema nervoso pode ser Forte ou Fraco; o equilíbrio, o qual dividiu em sistema nervoso equilibrado e sistema nervoso desequilibrado e a mobilidade ou a inércia dos seus processos. Dessa forma, é possível dizer que há seres humanos com sistema nervoso forte, móvel, mas desequilibrados, nos quais os dois processos são poderosos, mas a excitação predomina sobre a inibição, que são os coléricos, segundo Hipócrates, tipo excitável e impulsivo. Os indivíduos com o tipo de sistema nervoso forte, equilibrado, mas inertes, são os fleumáticos, calmos e lentos. Em seguida o tipo forte, equilibrado, hábil, vivo e móvel, os sangüíneos. E finalmente um tipo fraco, sensível, delicado, que corresponde ao tipo melancólico de Hipócrates.

    Tendo como base os estudos de Pavlov, autores como Merlin (1973); Rodionov ( 1973); Viatkin, (1978), Petroviski (1985) desenvolveram estudos sobre as peculiaridades tipológicas dos indivíduos. Ancorada nesses estudos a psicologia esportiva investiga a influência das peculiaridades tipológicas do atleta no seu desempenho esportivo. As principais peculiaridades tipológicas do sistema nervoso do homem, de acordo com os autores acima citados, que têm maior influência no desempenho esportivo são Força dos Processos de Excitação do Sistema Nervoso (FPE); Força dos Processos de Inibição do Sistema Nervoso (FPI); Equilíbrio dos Processos de Excitação e Inibição do Sistema Nervoso (E), Nível de Mobilidade (M) e Tempo de Reação (T).

    De acordo com Petroviski (1985), a Força dos Processos de Excitação do Sistema Nervoso do ser humano é uma das peculiaridades básicas do sistema nervoso. Ela caracteriza o limite da capacidade de trabalho das células nervosas do córtex e do encéfalo, ou seja, a sua capacidade de suportar altos estímulos, sem entrar no estado de inibição. A Força dos Processos de Excitação do Sistema Nervoso do ser humano é uma peculiaridade que influi em todas as outras, e é fator determinante no processo de desenvolvimento do comportamento (MERLIN, 1973).

    Por exemplo, pessoas cujo sistema nervoso tem alto nível da força dos processos de excitação se formam, na maioria dos casos, pessoas corajosas, ativas, extrovertidas e autoconfiantes. Por outro lado, pessoas que têm baixo nível da força dos processos de excitação do sistema nervoso, na maioria dos casos, se tornam introvertidos, melindrosas, pouco ativas e pouco confiantes (MERLIN, 1973).

    O processo de excitação surge somente com o nível determinado do estímulo externo, na qual prevalece o limiar absoluto de excitação sendo a peculiaridade de cada órgão do organismo. Os processos de excitação junto com os processos de inibição formam a base da atividade de excitação, que caracteriza a força do sistema nervoso.

    A Força dos Processos de Inibição do Sistema Nervoso do Homem influi no comportamento do ser humano e, caracteriza a sua capacidade de serem discreto em suas emoções, condutas, ações e relações. A inibição segundo Pavlov apud Petroviski (1985), é um componente necessário na atividade integral e de coordenação do sistema nervoso. Os processos de inibição juntamente com os processos de excitação asseguram a adaptação do organismo para o ambiente, que está em constante mudança.

    O Nível de Mobilidade do Sistema Nervoso é uma das primárias propriedades do sistema nervoso, que consiste na capacidade de reagir rapidamente às mudanças do ambiente (PETROVISKI, 1985). O nível de mobilidade dos processos de excitação e inibição que ocorre no sistema nervoso caracteriza a facilidade para passar de uma atividade para a outra com velocidade de adaptação às novas condições. Pessoas com alto nível de mobilidade do sistema nervoso possuem a capacidade de mudar suas atividades rapidamente sem perderem o raciocínio, conseguem fazem duas ou mais tarefas ao mesmo tempo.

    O Equilíbrio dos Processos de Excitação e Inibição que ocorrem no sistema nervoso do homem é uma peculiaridade que se revela pela proporção entre os processos de excitação e dos processos de inibição (PETROVSKI, 1985). A noção de equilíbrio dos processos nervosos foi introduzida por Pavlov, e foi considerada por ele, como uma das independentes peculiaridades do sistema nervoso e, formando junto com as outras peculiaridades do sistema nervoso (força e mobilidade) o tipo de atividade nervosa superior

    O Tempo de Reação segundo Schmidt (1993), é uma medida importante de desempenho, indicando a velocidade e eficácia da tomada de decisão. O tempo de reação é considerado também uma peculiaridade tipológica do sistema nervoso. Esta peculiaridade do ser humano caracteriza sua mobilidade (agilidade) e rapidez, devendo ser bem desenvolvida nos atletas de atletismo de alto rendimento, da modalidade sprint, salto em altura, salto em distância e salto triplo, onde o tempo de reação simples se encontra entre 110-148 milésimos de segundos (Rodionov apud MACHADO, 1998).

    Kalinine (1994) esclarece tipos de sistema nervoso que podem influenciar na formação das peculiaridades individuais e que mostram diferenças em relação às capacidades físicas, segundo o autor as quatro categorias de Pavlov, podem ser diferenciadas da seguinte forma:

  • Sangüíneo: onde os processos de excitação e inibição ocorrem no sistema nervoso de maneira forte, móvel e equilibrado, a sensibilidade tem nível baixo;

  • Colérico: onde os processos de excitação e inibição ocorrem no sistema nervoso de maneira forte, móvel e desequilibrado, onde os processos de excitação prevalecem sobre os de inibição e a sensibilidade tem nível baixo;

  • Fleumático: onde os processos de excitação e inibição ocorrem no sistema nervoso de maneira forte, porém inertes tendo o nível de sensibilidade baixo;

  • Melancólico: onde os processos de excitação e inibição ocorrem no sistema nervoso de maneira fraca, tendo o nível de sensibilidade muito alto;

    Segundo Viatkin (1978), no esporte estes tipos de temperamento manifestam-se de maneira diferente. O Sangüíneo dá preferência para modalidades esportivas que exijam coragem, e ligadas com um alto nível de mobilidade. Facilmente se transferem de um exercício para outro tipo de atividade, mas seu nível de assiduidade e de concentração é insuficiente, principalmente em atividades monótonas. Durante a aprendizagem de movimentos novos, os sangüíneos aprendem rapidamente, podendo executar com facilidade na primeira tentativa, mas com erros. Seus resultados esportivos são estáveis e como regras, nas competições apresentam maior rendimento do que nos treinos, e também estão em estado de prontidão para combate no início de um jogo. São atletas sociáveis, autoconfiantes e possuem boa capacidade de trabalho.

    O atleta Colérico da preferência por modalidades esportivas com alto nível de emoção (basquetebol, handebol, saltos) e movimentos intensos e rápidos. Com prazer e paixão começa a praticar a modalidade esportiva escolhida, mas o entusiasmo logo desaparece. Os coléricos executam a contragosto o trabalho exigido nos treinamentos prolongados, principalmente os exercícios de força e resistência, mas possuem a capacidade de repetir muitas vezes um exercício perigoso e difícil, se provocado o seu interesse. Seus resultados nas competições têm estabilidade insuficiente, com tendência antes das competições de estar em estado de hiperexcitação, o que freqüentemente não os permitem a realização plena de suas potencialidades nas competições (VIATKIN, 1978).

    No atleta Fleumático a aprendizagem de movimentos acontece de forma mais lenta, mas depois de aprendidos se destacam pelo alto nível de solidez e conservadorismo. Preferem as modalidades esportivas que consistam de movimentos calmos, uniformes e com tendência para o desenvolvimento metódico das capacidades físicas e treinamento de movimentos esportivos de modo prolongado. Como regra estes atletas são persistentes e perseverantes, com nível de sociabilidade neutro. Seus resultados esportivos são estáveis, imediatamente antes da competição estes atletas estão em estado de combate.

    Os atletas Melancólicos caracterizam-se pela responsabilidade muito alta e com nível de desenvolvimento dos analisadores cinestésicos e percepção tátil refinada. O atleta melancólico tem uma insuficiente capacidade de trabalho, pouca estabilidade contra estímulos externos e alto nível de ansiedade provocando falta de confiança em si mesmo. Atletas com este tipo de temperamento preferem atividades esportivas individuais, que não são ligadas ao combate imediato como em equipes. Seus resultados são instáveis, devido a alta angustia na véspera das competições, onde este estado provoca o desenvolvimento do estado de apatia ao início das mesmas, dificultando o alcance de resultados elevados.

    Em estudos realizados por (Kalinine & Giacomini, 1998), identificaram um quinto traço, que eles consideraram como sendo a mistura de todos os outros quatro traços de temperamentos, o chamado de Intermediário, na qual se supõem que a maioria das pessoas se encontre nesta quinta categoria. Nos atletas Intermediários os processos de exitação e inibição que ocorrem no sistema nervoso são médios e a sensibilidade tem nível médio. Através da educação, da influencia da cultura, podemos moldar temperamentos intermediários. Por exemplo, dependendo da educação recebida crianças com este temperamento podem ser: intermediário com tendências a sangüíneo; intermediário com tendências a colérico; intermediário com tendência a fleumático e intermediário com tendência a melancólico. Com a maturidade estas pessoas aprendem a se conhecer e moldam o seu temperamento conforme seu estilo próprio são pessoas com estabilidade emocional controlada e de fácil convívio.

    Estudos realizados por Paim et al (2008 a), com estudantes do ensino médio praticantes de diferentes atividades físicas no contexto escolar, foi encontrado índices médios que indicam que em média os estudantes de ensino médio que se envolvem com esportes coletivos como o handebol se encontram no temperamento intermediário, mostrando tendência ao temperamento colérico e sanguíneo. Esses achados corroboram com os estudos realizados por Viatkin (1978) e Kalinine e Giacomini (1998).

    A teoria do “Trait” (traços) é outra teoria muito utilizada nos estudos sobre personalidade, seus principais representantes são: Allport (1966); Catell (1950; 1979) e Eysenck (1970; 1971). Na teoria do “trait”, a personalidade de uma pessoa é caracterizada pelo somatório individual dos traços de personalidade, que são interesse, atitudes, motivos, temperamento, entre outros (SAMULSKI, 2002).

    Os traços evoluem ao longo do tempo, com a experiência. Podem mudar à medida que o individuo aprende novas maneiras de se adaptar ao mundo (CLONINGER, 1999). Allport (1966) fazia uma distinção entre traços individuais que é próprio de uma única pessoa, e traços comuns, próprio de muitas pessoas, cada qual com um momento diverso.

    De acordo com Allport (1966), a unidade Básica da personalidade é denominada de traço. A enumeração dos traços de uma pessoa fornece uma descrição da sua personalidade. No presente resgate histórico, buscamos a teoria de Eysenck utilizada por Paim (2002). Eysenck foi um pesquisador que mais explorou em experimentos, pesquisas e teorias os estudos das diferenças individuais. Para Eysenck a definição de personalidade é “a soma total dos padrões de conduta presente no organismo, determinada pela hereditariedade e pelo ambiente, os quais se originam e desenvolvem mediante a integração funcional dos setores formativos onde se organizam os padrões condutores”.

    A Teoria de Eysenck combina diversas linhas de pesquisa, tanto do próprio autor, como de outros autores. Uma Teoria que influenciou muito as pesquisas de Eysenck foram às pesquisas do fisiologista russo Ivan Pavlov. Outra fonte, que influenciou a Teoria de Eysenck foi a Tipologia da personalidade de Jung. Inicialmente Jung desenvolveu sua Teoria a partir de observações psiquiátricas e em uma descrição da personalidade em que existe sempre uma espécie de equilíbrio dos opostos. Quaisquer aspectos que sejam manifestos ou evidentes na superfície têm suas opostas contrapartes presentes no Inconsciente. Um desses pares é a extroversão – introversão (SAMULSKI, 2002).

    Segundo o mesmo autor Eysenck para melhor estudar o indivíduo, utilizou-se da análise fatorial e também se baseou nos “traços e tipos de personalidade”. A partir da qual acredita ser capaz de predizer o comportamento em uma vasta gama de variáveis individuais e sociais. Dessa forma, Eysenck (1970) considerou esses achados como uma dimensão da personalidade, e identificou o que segundo ele, seriam as duas dimensões primárias da personalidade: extroversão e neuroticismo . O autor considera que estas dimensões são representativas da atividade nervosa. Estabelece que extroversão seja um contínuo entre extroversão e introversão e o neuroticismo é um contínuo entre neuroticismo (instabilidade emocional) e estabilidade emocional (psicotismo). Estas dimensões permitem essencialmente uma descrição do comportamento das pessoas. Estudos realizados por Ucha (2002) confirmam a teoria de Eysenck, no que diz respeito à dimensão neuroticismo. O autor concluiu que existe uma relação entre neuroticismo e estabilidade emocional. Sendo a mesma inversamente proporcional, de maneira que a um aumento do neuroticismo a uma diminuição do controle emocional.

    Segundo Evans (1977); Eysenck (1970), as bases biológicas para as tipologia “extroversão - Introversão” é descrita da seguinte forma: os introvertidos se caracterizam por alta estimulação cortical, o que faz com que estes formem melhores respostas condicionadas e, segundo o autor, as respostas condicionadas são em parte responsáveis pela produção de desordens neuróticas, pois estas são respostas emocionais condicionadas; conseqüentemente os introvertidos podem ser encontrados entre os neuróticos. Já com os extrovertidos, o processo é inverso, ou seja, estes condicionam muito pouco, porém, o comportamento socializado, segundo o autor, se deve largamente a respostas condicionadas que adquirimos, sob o pretexto da consciência, quando crianças; por conseguinte, os extrovertidos, podem ser encontrados com padrões de comportamento talvez não muito aceitos pela sociedade.

    As dimensões primárias da personalidade, identificadas por Hans Eysenck, segundo Bischof (1977), pode ser observada a seguir:

  • Introversão 

  • Extroversão

  • Instabilidade 

  • Estabilidade Emocional

    Pela curva de Gauss, os sujeitos normais se distribuem no centro, e os neuróticos e psicóticos em lados opostos. No âmbito social é possível caracterizar os extrovertidos como ativos, otimistas, impulsivos e capazes de estabelecer facilmente os contatos sociais. Em contraste, os introvertidos estão caracterizados como reservados, ansiosos, precavidos e com dificuldades para o estabelecimento de contatos sociais (Bakker; Whiting & Grug, 1993).

    Estudos realizados por Paim et al (2008 b), com estudantes do ensino médio praticantes de diferentes atividades físicas no contexto escolar, foi encontrado índices elevados para a extroversão-introversão e uma tendência a instabilidade emocional para alunos que se envolvem com esportes coletivos como o handebol. Esses achados reforçam a que dizem Eysenck (1970); Evans (1977); Samulski, (2002) no que se refere à modalidade individual ou coletiva de atividades físicas e esportivas, pois de acordo com os autores os praticantes de modalidades individuais tendem mais a introversão é menos motivada para contatos sociais, tem um nível de agressividade menor e parecem mais criativos do que atletas de modalidades coletivas, os quais tendem mais a Extroversão e são mais motivados para estabelecer contatos sociais.

    Segundo Telles (1982), a personalidade e todos os seus traços resultantes entendido aqui, como uma característica duradoura do indivíduo e que se manifesta na maneira consciente de comportar-se numa ampla variedade de situações, unem-se numa construção física única- a pessoa. Cada indivíduo tem uma constituição física característica; desta resulta seu temperamento. Destes dois, em contato com o meio físico e social, surgem o caráter e grande parte dos restantes traços de personalidade. Tudo isso se harmoniza numa crescente integração em torno da parte subjetiva do “eu”. Do nascimento à vida adulta, o indivíduo vai estruturando progressivamente as situações do meio e reage às mesmas, de maneira padronizada, ajustando-se cada vez melhor ao seu meio. Assim, a personalidade segundo Allport (1966), vem a ser a organização dinâmica dos vários sistemas físicos, fisiológicos, psíquicos e morais que se integram, determinando a maneira pela qual o indivíduo se ajusta ao ambiente.

    Com base nos estudos abordados nessa revisão percebe-se que a atividade física ou esportiva é muito importante para o desenvolvimento da personalidade. Através do esporte pode se promover positivamente à disposição para o comportamento social, o equilíbrio emocional, a motivação para o rendimento, a autodisciplina entre outros. Para o rendimento esportivo tornam-se necessárias também características de personalidade como capacidade de liderança, dominância, extroversão e comunicação social (SAMULSKI, 2002). De posse desse conhecimento os professores de Educação Física têm a oportunidade de entenderem psicologicamente seus alunos e a partir desse conhecimento organizar suas aulas de acordo com as suas necessidades e preferências individuais de cada um, conseguindo assim maior envolvimento e motivação dos alunos para a prática da Educação Física escolar e os esportes.

Referências bibliográficas

  • ALLPORT, G.W. Personalidade padrões e desenvolvimento. Herder. Editora da Universidade de São Paulo: São Paulo, 1966.

  • ANASTASI, A. Psicologia Diferencial. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, da Universidade de São Paulo, 1972.

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revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
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