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Qualidade de vida na gestação: a importância da prática
de atividade física aliada à nutrição saudável

 

* Acadêmicas do Centro Universitário São Camilo

** Nutricionista, mestre em Saúde Pública pela FSP/USP

Doutoranda em Medicina Preventiva pela FMUSP

Docente do curso de Nutrição do centro Universitário São Camilo

(Brasil)

Graziele Simões*

Lívia Peres*

Shirley Liberatti*

Renata Furlan Viebig**

grazieli_simoes@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Introdução: A gestação é um período em que ocorrem intensas modificações na mulher: psicológicas, fisiológicas e físicas. Somado a isso, transformações hormonais, músculo-esqueléticas, emocionais, circulatórias e respiratórias são fundamentais para que o feto possa crescer e se desenvolver adequadamente. Antigamente, as gestantes eram aconselhadas a interromperem a prática de qualquer atividade física. Atualmente, a influência da atividade física e da nutrição no período gestacional sob a devida orientação vem merecendo destaque na literatura, principalmente por sua importância na promoção e manutenção da qualidade de vida, controle e prevenção de doenças. Objetivo: Analisar os benefícios e os possíveis malefícios da atividade física durante a gestação. Metodologia: Revisão bibliográfica nas bases de dados SCIELO, MED LINE, LILACS com as palavras chaves: gestação, atividade física, nutrição e qualidade de vida. Resultados: A atividade física na gestação deve ser de intensidade leve à moderada, com duração de 30 minutos ou mais, com exercícios físicos de intensidade entre 60 e 70% da capacidade cardíaca máxima e de preferência, com freqüência diária. Destacam-se as atividades aquáticas como as mais benéficas. Entretanto, é importante que sejam consideradas as adaptações cardiovasculares, respiratórias e músculo-esqueléticas sofridas na gestação, visto que, atividades de alta intensidade e impacto podem causar danos ao feto e à gestante. Não obstante, as atividades físicas contribuem para melhor tolerância da dor no parto, melhora da circulação sangüínea, redução de edemas, fortalecimento da musculatura abdominal e aceleração da recuperação pós-parto. Conclusão: Praticar atividades físicas aliadas à adequada alimentação, com avaliações e prescrições de um profissional capacitado, é fundamental e auxilia o menor ganho ponderal, acelerando o retorno do peso pré-gestacional e melhorando a qualidade de vida tanto da mãe quanto do feto.

          Unitermos: Atividade física. Gestação. Qualidade de vida. Exercícios. Nutrição.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    A gravidez é um período em que ocorrem intensas modificações na mulher: psicológicas, fisiológicas e físicas. Somado a isso, transformações hormonais, músculo-esqueléticas, emocionais, circulatórias e respiratórias são fundamentais para que o feto possa crescer e se desenvolver adequadamente (LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004).

    Segundo Jeffreys (2005), o período da gravidez é único e é onde ocorrem diversas modificações, que, caso não administradas com as adequadas intervenções, o organismo pode não ser capaz de compensar o excesso de ganho de peso, a incontinência urinária ou as dores lombares resultantes.

    Antigamente, as gestantes eram aconselhadas a interroperem qualquer atividade física, até mesmo o trabalho ocupacional, pois acreditavam, que isso poderia acarretar partos prematuros por estimulação das contrações uterinas (BATISTA et al, 2003). Um preconceito provindo da Grécia antiga, em que as mulheres eram proibidas até mesmo de assistir aos Jogos Olímpicos e serem poupadas de sua exposição (LEITÃO et al, 2000). Atualmente é comprovado cientificamente que, a prática de atividades físicas propicia melhor qualidade de vida e saúde durante a gestação.

    Dessa forma, nota-se que, a influência da atividade física e da nutrição no período gestacional vem merecendo destaque na literatura, principalmente por sua importância na promoção e manutenção da qualidade de vida, controle e prevenção de doenças (TAKITO, 2005). Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo questionar quanto aos benefícios e os possíveis malefícios da atividade física durante o período de gestação, por meio da literatura atual.

Atividade Física: benefícos para a gestação

    A atividade física é definida como qualquer movimento que a pessoa realiza, do qual possa dispender energia de uma forma maior que o estado de repouso, permitindo um incremento de força física, flexibilidade e resistência, e, conseqüente modificações, sejam na composição corporal ou na performance esportiva (BATISTA et al, 2003). Ir andando ao banco, à escola, ao mercado, ao trabalho, subir escadas ou dançar são alguns exemplos de atividades físicas e que resultam num estilo de vida mais ativo (MATSUDO, MATSUDO, 2000).

    Estudos têm demonstrado que, durante a gravidez, ocorre um incremento de ganho de peso, e, caso este peso em excesso não seja controlado e termine não sendo eliminado ao final da gravidez, conseqüências prejudiciais à saúde podem ocorrer (JEFFREYS, 2005). A atividade física durante a gestação mantém ou melhora o condicionamento físico, diminui os possíveis sintomas indesejáveis, controla o peso corporal, (ALMEIDA, TUMELERO, 2003; BATISTA et al, 2003; DERTKIGIL et al, 2005; LEITÃO et al, 2000; LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004) especialmente quando este controle estiver aliado à adequada alimentação (BATISTA et al, 2003), auxilia no retorno venoso com prevenção de varicosidades (ALMEIDA, TUMELERO, 2003; BATISTA et al, 2003; DERTKIGIL et al, 2005; LEITÃO et al, 2000; LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004), melhora as condições de irrigação da placenta, facilita o trabalho de parto, devido à tonificação dos músculos mais afetados durante a gravidez (músculos da pelve, abdominais e lombodorsais) (ALMEIDA, TUMELERO, 2003; LEITÃO et al, 2000; LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004) e melhora a recuperação pós-parto (BATISTA et al, 2003).

    Além disso, os exercícios também influenciam na resistência e flexibilidade, evitando as lesões e complicações para o feto, auxilia na postura corporal evitando lombalgias (ALMEIDA, TUMELERO, 2003; BATISTA et al, 2003; DERTKIGIL et al, 2005), comumente oriundas na gestação devido às alterações físicas e fisiológias sofridas neste ciclo (ALMEIDA, TUMELERO, 2003; BATISTA et al, 2003), reduz a tendência para diabetes gestacional mantendo os níveis glicêmicos estáveis, (BATISTA et al, 2003; DERTKIGIL et al, 2005; LIMA, OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, MATSUDO, 2000) e, previne o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003).

    A prática de atividade física ainda mantém a saúde mental e emocional da gestante, controlando a consciência corporal (ALMEIDA, TUMELERO, 2003; LIMA, OLIVEIRA, 2005), melhorando o sono e o cansaço, resultando assim, em bem-estar (DERTKIGIL et al, 2005).

    Gouveia et al (2007) afirmam que, com o tempo, a prática regular de exercícos físicos, promove aumento da extração de oxigênio, melhor absorção de nutriente e conseqüente crescimento do feto.

    Matsudo e Matsudo (2000) também destacaram como benefícios biológicos para a gestante que realiza atividades físicas: menor adiposidade materna, ausência de diferenças significativas em idade gestacional, duração do parto, peso ao nascimento, tipo de parto, valores de APGAR e complicações maternas e fetais, menor risco de parto prematuro, menor tempo de hospitalização, além de benefícios psicológicos e sociais como: melhora da auto-imagem e auto-estima, bem-estar, diminuição da sensação de isolamento social, diminuição da ansiedade, do estresse e do risco de depressão.

    Sendo assim, os objetivos da atividade física em gestantes se concentram na manutenção da aptidão física e da saúde, diminuição dos sintomas característicos da gestação, melhor controle ponderal, diminuição da tensão no parto e otimização da recuperação no pós-parto.

    O quadro abaixo relata os benefícios da atividade física em gestantes.

Quadro 1. Benefícios da atividade física na gestação.

Benefícios

A atividade física proporciona melhor qualidade de vida tanto para o feto e para a gestante;

Melhora o condicionamento físico e diminui os possíveis sintomas indesejáveis;

Controla o peso corporal; Melhora a auto-estima e imagem;

Melhoram as condições de irrigação da placenta, facilita o trabalho de parto;

Reduz a tendência para diabetes gestacional;

Previne o desenvolvimento de doenças cardiovasculares;

Mantém a saúde mental e emocional, controlando a consciência corporal, melhorando assim o sono e a fadiga;

Diminui a ansiedade, o estresse e o risco de depressão.

Fonte: ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003; MATSUDO, MATSUDO, 2000.

A prescrição de atividades físicas para gestante

    A atividade física, especificamente na gestação, começou a ser prescrita no início do século XX (LEITÃO et al, 2000). O American College of Obstetricians and Gynecologists estabeleceu, na década de 90, a atividade física para gestantes, desde que estas estivessem em condições adequadas de saúde para a execução (BATISTA et al, 2003). O American College of Sports Medicine (ACSM, 2008) recomenda 30 minutos ou mais de exercícios físicos de intensidade entre 60 e 70% da capacidade cardíaca máxima, ou de 50 a 60% do volume de oxigênio máximo (VO2 máx.) ou taxa de reserva cardíaca, de preferência todos os dias. O Sports Medicine Australia (2002) indica que a realização de exercícios aeróbicos deve ser de intensidade até moderada, sendo importante que a gestante se exercite de 3 à 4 vezes por semana e de 20 à 30 minutos, evitando que a freqüência cardíaca se eleve acima de 140 batimentos por minuto. Além disso, orienta quanto a não praticar atividades em ambientes quentes. O aumento de 1,5ºC pode trazer mal-formações do feto, porém este fato foi somente comprovado em animais (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    A prescrição da atividade física deve sempre levar em consideração as adaptações cardiovasculares, devido ao aumento de volume sangüíneo e débito cardíaco, a diminuição da resistência do sistema cardiovascular, a diminuição da pressão arterial (devido aos aumentos vascular uterino e circulação útero-placentária), e, à diminuição da resistência vascular, principalmente dos rins e pele (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004). Por outro lado, o incremento no débito cardíaco durante a gravidez significa que o aumento do fluxo sangüíneo ao músculo em exercício pode ocorrer sem diminuição do fluxo ao feto (MATSUDO, MATSUDO, 2000), além do sangue ser eficientemente transportado para a placenta, no qual fornece oxigênio e nutrição para o feto (LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004).

    Há um aumento nos batimentos cardíacos fetais de 10-30 batimentos por minuto com o exercício materno. Caso o exercício seja de intensidade leve à moderada, a freqüência cardíaca do feto retorna aos níveis basais em aproximadamente 5 minutos, porém em exercícios de alta intensidade esta freqüência permanece elevada por aproximadamente 30 minutos (MATSUDO, MATSUDO, 2000). Além das adaptações cardiovasculares, é importante que se atente as adaptações respiratórias devido a existência de um aumento da captação e consumo de oxigênio em gestantes (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003), sendo de 10 a 20% (LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004). O músculo diafragma está sendo pressionado pelo útero aumentado, promovendo deficiência de oxigênio em exercícios aeróbios (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003). Caso não adequadamente compensada, a reserva de oxigênio reduz ainda mais durante o exercício intenso, podendo levar a hipóxia (LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004).

    Exercícios na posição supina, após a décima terceira semana, devem ser abolidos (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; GOUVEIA et al, 2007), uma vez que, resulta em relativa obstrução do retorno venoso e diminuição do débito cardíaco. Além disso, a posição ereta e estática prolongada também acarreta significante diminuição do débito cardíaco (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    Nesse sentido, realização de exercícios físicos, sendo de menor impacto, durante a gravidez é recomendada desde que não hajam anormalidades associadas ou sintomas de risco, devendo ser prescrita de acordo com pré-avaliação médica especializada (LEITÃO et al, 2000). É necessário que seja elaborado um programa adaptado ao período gestacional em que se encontra a mulher, com prescrição profissional e, que os exercícios sejam de intensidade regular à moderada e centradas nas condições de saúde, experiências anteriores, capacidade cardiorrespiratória, além do próprio interesse da gestante em praticá-los (BATISTA et al, 2003). Artal, O’toole e White (2003) indicam que se avalie a intensidade, duração, freqüência e tipo de atividade de forma individualizada, analisando os possíveis riscos e benefícios para a gestante.

    Assim os exercícios devem considerar o sistema cardiovascular, respiratório e músculo esquelético e, além disso, devem promover resistência e flexibilidade, onde este último deve ser avaliado individualmente, uma vez que durante a gravidez os ligamentos estão afrouxados (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003). Por outro lado, os exercícios que promovem a flexibilidade auxiliam na gestação o equilíbrio da musculatura dorsolombar, abdominal e de assoalho pélvico, que estão em geral contraídos pela postura gravídica (LEITÃO, et al, 2000). A yoga e o tai-chi-chuan são boas alternativas para a melhora da flexibilidade (MATSUDO, MATSUDO, 2000). Caminhada, bicicleta, (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003; LIMA, OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, MATSUDO, 2000), e particularmente exercícios aquáticos (BATISTA et al, 2003; LIMA, OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, MATSUDO, 2000) são exemplos de atividades aeróbicas extremamente benéficas ao ciclo gestacional se realizados ao menos três vezes por semana com duração de no máximo 90 minutos (LIMA, OLIVEIRA, 2005).

    Atividades realizadas na água reduzem a formação de edemas (BATISTA et al, 2003; ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; PREVEDEL et al, 2003) muito comuns na gestação, além da imersão facilitar redistribuição de fluido extravascular até o espaço vascular, resultando em aumento do volume sangüíneo e pressão arterial sistêmica (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003), diminuição do estresse articular (MATSUDO, MATSUDO, 2000) e desconfortos músculo-esqueléticos (PREVEDEL et al, 2003), melhoria da termorregulação, do efeito natriurético (MATSUDO, MATSUDO, 2000) e diurético (MATSUDO, MATSUDO, 2000; PREVEDEL et al, 2003), diminuição da resistência vascular renal e incremento da filtração renal causada pela pressão hidrostática (MATSUDO, MATSUDO, 2000), além de conseqüências como relaxamento corporal e controle do estresse (BATISTA et al, 2003; PREVEDEL et al, 2003). Intensidade de imersão de até 60% do VO2 máx., traz efeitos benéficos como: regulação térmica e minimização de problemas nas articulações (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    Dertkigil et al (2005), averiguaram que a imersão em água aumenta o volume de líquido amniótico, onde obteve-se alguns estudos que comprovaram que este aumento não resulta em complicações maternas ou fetais. A água fria, entre 28 e 30ºC, funciona para gestantes como termorregulador possibilitando ao feto maior estabilidade frente às elevações bruscas de temperaturas (BATISTA et al, 2003; MATSUDO, MATSUDO, 2000). A elevação excessiva da temperatura materna e fetal relaciona-se às possíveis mal-formações de defeitos no tubo neural (LEITÃO et al, 2000).

    Matsudo e Matsudo (2000) indicam que precauções nas atividades físicas para gestantes devem ser administradas: o terreno, a temperatura, o ambiente, o calçado, o aquecimento e esfriamento, a hidratação e especialmente o cuidado com as fases anaeróbicas, a exaustão e a fadiga.

    Uma gestante sedentária deve receber uma atenção especial no acompanhamento fisioterapêutico e praticar exercícios leves que não sobrecarreguem o sistema cardiovascular (LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004), progredindo o exercício até atingir os 30 minutos diários (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    A gestante atleta recreacional ou competitiva, sem anormalidades ou complicações associadas, podem se manter ativas durante a gestação, porém sempre com supervisões médicas, (JEFFREYS, 2005) já que as atletas tendem a manter exercícios mais extenuantes durante a gravidez, e então resumir em alta intensidade em um período após o parto. O aumento de peso, a frouxidão de ligamentos e a mudança do centro de gravidade trazem limitações para determinados movimentos e esportes (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; MATSUDO, MATSUDO, 2000). Exercícios de endurance podem trazer anemia junto com o aumento do volume sangüíneo, altas intensidades, freqüência e longa duração trazem danos de termorregulação, sendo de extrema importância a adequada hidratação. É sugerido que a competição seja suspensa a partir da 16-20 semana (MATSUDO, MATSUDO, 2000). Os bebês destes atletas normalmente apresentam baixa massa gorda ao nascer (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; GOUVEIA et al, 2007).

Atividades físicas de risco para a gestante

    Na gestação ocorre um aumento normal da freqüência cardíaca, dentre outras modificações físicas e fisiológicas: abdômen protuso, expansão da caixa toráxica, ascensão do diafragma, modificações posturais, com tendência de projeção dos ombros para frente, desvio do centro de gravidade e perda do equilíbrio, menor estabilidade das articulações de joelhos e tornozelos e tensão na coluna vertebral e quadril (CHISTÓFALO, MARTINS, TUMELERO, 2003; LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004). Fatores como estes determinam a limitação da gestante na realização de alguns exercícios, surgindo a proibição da mesma na realização de levantamento de pesos, nos saltos, nas artes marciais, na flexão ou extensão e surgindo dificuldades para exercícios de equilíbrio e precisão e nos exercícios em que a posição estável e ereta é de longa duração (BATISTA et al, 2003; DERTKIGIL et al, 2005). Além disso, neste período, lesões ortopédicas são freqüentes devido ao maior relaxamento das articulações (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; CHISTÓFALO, MARTINS, TUMELERO, 2003).

    Existem as contra-indicações consideradas absolutas para a prática de atividade física na gravidez, em caso de presença de: doença miocárdica descompensada, insuficiência cardíaca congestiva, tromboflebite, embolia pulmonar recente, doença infecciosa aguda, risco de parto prematuro, sangramento uterino, suspeita de estresse fetal (MATSUDO, MATSUDO, 2000; LEITÃO et al, 2000; LIMA, OLIVEIRA, 2005), isoimunização grave, doença hipertensiva descompensada, paciente sem acompanhamento pré-natal (LIMA, OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, MATSUDO, 2000), placentação baixa, sinais de insuficiência placentária, rotura prematura de membranas, incompetência istmocervical (LEITÃO, et al, 2000), doença pulmonar restritiva, multípara com risco de prematuridade, placenta prévia depois de 26 semanas de gestação, ruptura de membranas, cérvix incompetente e pré-eclâmpsia (BATISTA et al, 2003).

    Devem ser suspensas as atividades físicas quando houver perda de líquido amniótico, dor no peito, enxaqueca, contrações uterinas, fraquezas musculares e tonturas e redução dos movimentos do feto (BATISTA et al, 2003). As contra-indicações relativas de atividades físicas são necessárias para àqueles que apresentarem: anemia, (BATISTA et al, 2003; LIMA, OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, MATSUDO, 2000) hipertensão arterial essencial, doenças tireoidianas, diabetes mellitus descompensado, obesidade mórbida, histórico de sedentarismo extremo (BATISTA et al, 2003; LIMA, OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, MATSUDO, 2000), baixo peso, arritmia cardíaca materna, retardo no crescimento intra-uterino, limitações ortopédicas, tabagismo e hipertireoidismo não-controlado (BATISTA et al, 2003). Além disso exercícios aeróbicos especificamente, são contra-indicados quando existem problemas cardiovasculares, pulmonares, múltipla gestação com risco de prematuridade, sangramento persistente, hipertensão, além de anemia severa, bronquite crônica, diabetes mellitus tipo I não controlada, obesidade mórbida, desnutrição, sedentarismo extremo, limitações ortopédicas, fumantes excessivos, entre outros (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    Os sinais para interrupção do exercício durante a gravidez são: sangramento vaginal, tontura, dor de cabeça, dor no tórax, fraqueza muscular, diminuição do movimento fetal (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003), entre outros como: dor abdominal, náusea ou vômito, palpitações e distúrbios visuais (SMA, 2002).

    Não existem estudos que comprovem significativas modificações na redistribuição sangüínea durante o exercício prolongado em gestantes dos quais possam influenciar no transporte de oxigênio, dióxido de carbono e nutrientes para o feto através da placenta (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    Matsudo e Matsudo (2000) não recomendam atividades contínuas que durem mais de 1 hora. A World Health Organization (1995) alerta que, gestantes que praticam atividades intensas, podem aumentar de 20 a 30% o risco de obter parto prematuro.

    Exercícios intensos e traumas abdominais criam estado de hipóxia para o feto, diminuição de seu crescimento, baixo peso e prematuridade (LIMA, OLIVEIRA, 2005).

    Segundo Artal, O’Toole e White (2003) e Batista et al, (2003), os exercícios que não devem ser praticados são: mergulho e qualquer exercício que utilize a posição supina, além daqueles que possam trazer riscos de quedas ou traumas abdominais como: esquiar, futebol, hóquei no gelo, basquete, ginástica, ou esportes em lugares altos (acima de 2500m), principalmente para gestantes fumantes (BATISTA et al, 2003), além daqueles que possam causar rompimento de ligamentos, como o trote, a corrida, o tênis (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003). Matsudo e Matsudo (2000) consideram as atividades: ginástica aeróbica, musculação, os esportes de raquete (tênis, squash) e esquiar ou patinar, como médio risco para a gestante, já o voleibol, o basquetebol, o esqui aquático e as atividades como a ginástica de alto impacto, o hipismo e o mergulho como atividades à evitar pelas gestantes desportistas. Sendo que o mergulho traz riscos de descompressão, hiperóxia, hipóxia, hipercapnia (aumento do CO2) e asfixia.

    No quadro abaixo encontram-se atividades físicas de alto e médio risco e as recomendadas para gestantes.

Quadro 2. Atividades físicas e sua classificação para as gestantes.

Recomendadas

Risco moderado

Risco Alto

Caminhadas leves

Musculação

Atividades de competição

Bicicleta ergométrica

Ginástica aeróbica

Levantamento de peso

Hidroginástica

Tênis

Basquetebol

Natação

 

Lutas em geral

Alongamento

 

Hipismo

Yoga

 

Mergulho

Tai-chi-chuan

   

Fonte: ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003; MATSUDO, MATSUDO, 2000.

Nutrição e atividade física: simbiose para a gestação saudável

    Exercícios físicos intensos e repetitivos, posições eretas estáveis prolongadas e deficiência de nutrientes podem desenvolver crescimento insuficiente do feto (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003).

    Durante o período gestacional é necessário um acompanhamento nutricional individualizado, que garanta o aporte energético compatível às necessidades da mãe e do feto, a fim de evitar uma possível competição biológica que comprometa o bem-estar de ambos (ANDRETO, 2006). Nesse aspecto, valida-se a necessidade de uma triagem nutricional em todos os períodos da gestação (pré-natal e pós parto).

    As recomendações nutricionais devem ser direcionadas principalmente ao consumo de energia e ao ganho ponderal, uma vez que, estes refletirão tanto no crescimento fetal quanto na expansão dos tecidos maternos como: placenta, tecido adiposo, útero e mamas (CASTRO et al, 2006). Batista et al (2003) ainda citam sobre a importância da não restrição da dieta neste período, mesmo quando a mulher se encontra com excesso de peso.

    Estudos mostram que, embora seja difícil estabelecer precisamente a ingestão energética devido à presença de fatores como: peso pré-gestacional, estágio da gravidez e nível de atividade física, é necessário que mulheres gestantes eutróficas recebam um acréscimo na oferta energética que conduza a um ganho de peso gestacional satisfatório (CASTRO et al, 2006).

    De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists, na gestação o estado anabólico permanece dinâmico devido às alterações fisiológicas e aumento da demanda nutricional. Por esse motivo, o ganho de peso no início da gestação deve ser adquirido com cautela, já que o excesso pode acarretar no desenvolvimento de diversas enfermidades (hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade pós-parto, macrossomia fetal e complicações no parto). Por outro lado, a deficiência de ganho de peso pode provocar prejuízos para a gestante, no trabalho de parto e para o feto, especialmente se não há prática de atividade física regular (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003).

    Nesse sentido, a importância do acompanhamento nutricional de gestantes é cientificamente comprovado, e muitas são as controvérsias relacionadas à magnitude do ganho de peso durante esse período (NASCIMENTO, SOUZA, 2002).

    Se no início da década de 90 pesquisadores propuseram um adicional de 4 à 6 Kg sobre o peso final da gestação de forma generalizada (ANDRETO et al, 2006), hoje esses valores foram reavaliados e a recomendação nutricional deve ser realizada de forma personalizada, fazendo com que o ganho de peso varie de acordo com as característica de cada mulher (IOM, 1990).

    Sendo assim, durante a gestação, as exigências calóricas devem considerar o peso atual da gestante e o tipo de atividade física exercida. Para mulheres eutróficas, recomenda-se um adicional de 300 kcal diárias a partir do segundo trimestre de gestação (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; CASTRO et al, 2006), principalmente de carboidratos (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003), refletindo num ganho ponderal total em torno de 12,5 quilos (CASTRO et al, 2006), ao passo que, para mulheres desnutridas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000), esse adicional deve ser seguido desde o início da gestação. Em contrapartida, para mulheres com sobrepeso ou obesidade, esse adicional não deve ser recomendado em qualquer momento da gestação.

    As mulheres que apresentam Índice de Massa Corporal (IMC) > 26,0 e < 29kg/m², no período pós-parto, podem perder uma média de dois quilos de peso por mês para evitar uma possível obesidade pós-parto (OMS, 2000). Nascimento e Souza (2002) comprovam mudanças extremas no padrão alimentar da população brasileira, sobretudo em mulheres, o que contradiz com Castro et al (2006), que afirmam que houve um aumento na ingestão de gorduras, açúcares e alimentos refinados e redução de carboidratos complexos e fibras, o que reflete em um ganho ponderal excessivo, tornando necessários acompanhamentos nutricionais mais eficientes concomitante ao incentivo da prática de atividade física.

    Não obstante, com o desenvolvimento do feto, há um aumento do apetite, sendo necessário maior controle do ganho de peso e nesse momento, a atividade física entra como um fator preponderante pois quando combinados, nutrição e exercícios, estes contribuem para uma melhor tolerância da dor no parto, melhora da circulação sanguínea, redução do edema, fortalecimento da musculatura abdominal, e maior facilidade na recuperação pós-parto. Por fim, o monitoramento nutricional auxilia para que as mulheres não ganhem muito peso, possibilitando um retorno mais rápido ao peso de antes do período de gestação, melhorando a qualidade de vida tanto da mãe quanto do feto, que é diretamente atingido pela atitude da mãe (CHISTÓFALO, TUMELERO, 2003).

Considerações finais

    O presente estudo mostrou que a atividade física em gestantes é responsável pela manutenção da aptidão física e da saúde, diminuição dos sintomas característicos da gestação, melhor controle ponderal, diminuição da tensão no parto e otimização da recuperação no pós-parto e busca do bem estar, que aliada ao monitoramento nutricional auxilia para que as mulheres não ganhem muito peso, possibilitando um retorno mais rápido ao peso apresentado no período pré-gestacional. Assim, a gestante fisicamente ativa propicia melhoras tanto para a saúde da mãe quanto do feto.

    A única contra-indicação encontrada durante as pesquisas referiu-se à intensidade do exercício e caso haja alguma enfermidade pré-existente na gestante ou que esta esteja em gestação de risco. Dessa forma, considera-se que a atividade física para gestantes é fundamental, mas deve ser realizada sempre com o acompanhamento de um profissional capacitado.

Referências

  • ALMEIDA, J. D. N.; TUMELERO, S. Prática da yoga durante o período de gestação. EFDeportes.com, Revista Digital; Buenos Aires, v. 9, n. 63, ago., 2003.

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revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
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