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Resposta aguda da pressão arterial em dois
diferentes métodos de exercícios resistidos

 

*Pós-granduanda/o em Fisiologia do Exercício pela UNIGRANRIO

**Mestre. Professor da pós-graduação em Fisiologia do Exercício da UNIGRANRIO

***Especialista. Professor da Universidade. Presidente Antonio Carlos/UNIPAC

(Brasil)

Adriano Almeida Santos* | Diogo Chaer Resende Correa*

Daniela Bürger de Aguiar* | Alexandre Gonçalves**

Leandro Teixeira Paranhos Lopes***

profalexandre09@gmail.com

 

 

 

Resumo

          A literatura que trate do comportamento cardiovascular em diferentes métodos de treinamento resistido sobre o sistema cardiovascular, principalmente no que tange os métodos de caráter mais intermitente, apresenta-se escassa. Assim, o objetivo do presente estudo foi analisar o comportamento da PA durante e logo após exercício resistido no aparelho leg press 45o utilizando método rest pause e método contínuo. Foram selecionados 8 voluntários do sexo masculino, sadios, praticantes de alguma modalidade de exercício com peso a pelo menos 12 semanas. Foram coletados dados a respeito de sua composição corporal, como estatura, peso, IMC. Feito isto os voluntários realizaram exercício no leg press 45, doze repetições máximas, no método contínuo e no método rest pause. Os resultados obtidos demonstraram que PAS foi maior no pós-teste para ambos os métodos. A PAD foi menor no pós-teste para ambos métodos. Já quando comparados os valores da PAS e PAD pós-teste observou-se que a primeira foi maior para o método contínuo e a segunda foi maior para o método rest pause. Também foi observado queda da PAS nos primeiros cinco minutos de recuperação após ambos os métodos. Concluiu-se que aparentemente, o método rest pause proporciona uma segurança cardiovascular maior que o método contínuo no que diz respeito às alterações agudas da PA.

          Unitermos: Pressão arterial. Exercícios resistidos. Métodos de treinamento.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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1.     Introdução

    Todo e qualquer tipo de programa de exercícios físicos impõem sobre os diversos sistemas orgânicos um determinado nível de estresse agudo, pois, durante a prática de exercícios físicos ocorre uma ruptura da homeostase do organismo. Tal desequilíbrio das funções orgânicas, em geral, ocorrido durante a prática de exercícios físicos se deve à necessidade do organismo se organizar a fim de suprir a nova demanda metabólica imposta sobre ele. (MCKARDLE, KATCH, KATCH, 2003)

    Dentre os diversos sistemas orgânicos um dos que mais sofre o impacto dos exercícios físicos é o sistema cardiovascular, uma vez que se apresenta como responsável pelo fornecimento de maior suprimento sangüíneo à musculatura ativa. (POWERS, S.K., HOWLEY, 2000)

    Assim sendo, vários estudos têm se preocupado em analisar e esclarecer as principais adaptações provocadas pelos exercícios resistidos sobre o sistema cardiovascular. (WIECEK ET AL, 1990; MCCARTNEY ET AL, 1991; FEATHERSTONE, 1993; KELLEY, 1997, GOTSHALL, 1999; BERMON ET AL, 2000; ROSTSCH, 2000; POLLOCK ET AL., 2000; POLITO ET AL, 2003; CARVALHO ET AL, 2003; LEITE, FARINATTI, 2003; LOPES, GONÇALVES, RESENDE, 2006)

    Dentre estas adaptações vemos ser de suma importância o melhor aprofundamento no que diz respeito às respostas das variáveis cardiovasculares que indicam diretamente o impacto da intensidade do esforço e da modalidade de exercício praticado sobre a taxa de trabalho do miocárdio.

    Tratando-se de exercícios com pesos a resposta da PA é proporcional a massa muscular envolvida, o tempo de tensão gerada no músculo e a proporção da carga máxima utilizada como intensidade de esforço (POLLOCK, et al. 2000).

    Segundo Veloso; Monteiro; Farinatti (2003) exercícios intermitentes propiciam uma maior segurança cardiovascular uma vez que o tempo de tensão aplicada ao grupamento muscular trabalhado é menor que em exercícios de caráter contínuo.

    Contudo é escassa a literatura que trate do comportamento cardiovascular em diferentes métodos de treinamento resistido sobre o sistema cardiovascular, principalmente no que tange os métodos de caráter mais intermitente.

    Dentre estes métodos de treinamento destaca-se o denominado “ rest pause”. Este se caracteriza por execução de séries de repetições máximas divididas em sub-séries com pequeno tempo de recuperação entre elas. (BOMPA,2000)

    De acordo com Wiecek; Mccarteney; Mckelvie (1990) após dez segundos cessado a tensão muscular os níveis de pressão retorno ao repouso. Assim, método “rest pause” pode se apresentar como um recurso mais seguro para trabalho de força em população com riscos cardiovasculares. Portanto, o presente estudo teve como objetivo analisar a resposta aguda da pressão arterial durante e logo após exercício resistido no aparelho Leg Press 45o no método “rest pause” e método contínuo.

    Por fim, esperamos contribuir com maiores informações sobre a segurança cardiovascular em exercícios resistidos e com isso fornecer maiores subsídios para prescrição de exercícios por parte dos profissionais que atuam nesta área do conhecimento.

Casuística

População e amostra

    A população do presente estudo foi composta pelos atletas da equipe Omegah Handebol de Araxá. Foi selecionada uma amostra de 8 voluntários do sexo masculino sadios, praticantes de alguma modalidade de exercício com peso a pelo menos 12 semanas.

Procedimentos experimentais

    Após a seleção da amostra, todos os voluntários assinarão um termo de consentimento livre esclarecido através do qual aceitaram participar da pesquisa e permitiram a divulgação dos resultados obtidos. (Anexo1)

    Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário do Planalto de Araxá / CEP UNIARAXÁ , os voluntários foram submetidos inicialmente a uma avaliação física onde foram coletados dados a respeito de sua composição corporal, como estatura, peso, IMC. Em seguida, os voluntários realizaram um teste de 12 repetições máximas. Feito isto os mesmos foram submetidos ao protocolo experimental para coleta dos dados.

Teste de 1 repetição máxima

    Cada voluntário foi orientado a se posicionar no exercício específico. Ao comando do pesquisador o voluntário executava o exercício determinado e realizando a fase excêntrica do movimento em 2 segundos e a fase concêntrica em 2 segundos, perfazendo um total de doze repetições. A carga utilizada foi aquela que, segundo o voluntário, estaria próximo de sua carga de treino. Então, aumentava-se a carga e repetia-se o procedimento anterior. A carga máxima foi a última que o voluntário conseguiu executar as doze repetições máximas sem qualquer falha na mecânica de execução. Foram obedecidos 5 minutos de descanso entre as tentativas.

Aplicação do método “rest pause”

    Antes da execução do exercício foi realizado a aferição da FC e PA do voluntário. Para coleta dos dados relacionados à PA foi utilizado o método auscultatório padrão utilizando um esfigmomanômetro da marca CARDIOMED. Já FC foi monitorada através de um frequencímetro da marca Polar A3. Ambos equipamentos pertencentes ao Laboratório de Fisiologia do Exercício do UNIARAXA.

    Para tanto o voluntário foi posicinado confortavelmente no aparelho Leg Press 45o e após cinco minutos foi aferida as variáveis em repouso. Feito isto, cada voluntário executava três séries de 12 RM sendo cada uma fracionada em sub-séries de quatro repetições. O tempo de repouso entre cada sub-séries foi de 20 segundos. Entre cada série foi dado um tempo de recuperação de 2 minutos. A fim de se observar o comportamento da PA durante a execução do exercício, sua aferição foi realizada seguindo o seguinte procedimento: o manguito instalado no braço direito do voluntário foi inflado a partir da terceira repetição de cada sub-série e desinflado imediatamente terminado a quarta repetição, para realização da leitura. Para se verificar o comportamento do PA após o exercício, a mesma foi aferida a cada 5 minutos durante 20 minutos, com o voluntário sentado em uma cadeira confortavelmente e em total repouso.

Aplicação do método contínuo

    Para aferição da PA e FC de repouso foi seguido rigorosamente os mesmos procedimentos adotados na aplicação do método “rest pause”. Feito isto, o voluntário foi orientado a executar três séries de 12 RM. Para observação do comportamento da PA durante o exercício foi realizado o seguinte procedimento: a partir da décima repetição o esfigmomanômetro foi inflado, sendo a leitura realizada imediatamente terminada a décima segunda repetição. Para se verificar o comportamento da PA após exercício, o voluntário foi posicionado em uma cadeira, sentado confortavelmente e foi aferida sua PA a cada cinco minutos durante 20 minutos.

Resultados

    Os resultados da coleta de dados do presente trabalho serão apresentados em forma de tabelas e gráficos abaixo.

Tabela 1. Perfil antropométrico e idade dos voluntários

Peso (kg)

Estatura (m)

IMC (kg/m2)

Idade (anos)

65,24 +/-14,12

1,66 +/-0,07

23,37 +/-3,65

17,13 +/-1,36

    Na tabela 1 estão apresentadas as médias com os respectivos desvios padrões das medidas antropométricas e idade dos voluntários

Tabela 2. Valores médios da PAS e PAD pré e pós realização dos métodos contínuo e rest pause

 

PAS Pré-teste

PAS Pós-teste

PAD Pré-teste

PAD Pós-teste

Contínuo

126,25 +/-10,61

153,75* +/-19,23

77,5 +/-7,07

60,83* +/-5,27

Rest Pause

125 +/-7,56

139,58* +/-5,75

78,75 +/- 8,35

66,39* +/-2,5

*p<0,05 (teste de Wilcoxon)

    De acordo com a tabela 2 observou-se que houve diferença significativa da PAS e PAD quando comparado os valores obtidos no pré e pós teste, em ambos os métodos. PAS apresentou com valores mais elevados no pós-teste. Já a PAD apresentou-se com valores mais baixos no pós-teste, para um nível de significância de 0,05.

Tabela 3. Comparação dos valores da PAS e PAD pós realização dos métodos contínuo e rest pause

Método

PAS

PAD

Contínuo

153,75* +/-19,23

60,83 +/-5,27

Rest Pause

139,58 +/-5,75

66,39* +/-2,5

*p<0,05 (teste de Wilcoxon)

    De acordo com a figura 2 a PAS foi significativamente menor após método rest pause quando comparada ao método contínuo. Já a PAD foi significativamente maior após método rest pause quando comparada ao método contínuo. Foi adotado nível de significância de 0,05.

    De acordo com a Figura 3 pode-se observar que a PAS, em ambos métodos, diminuiu acentuadamente nos primeiros 5 minutos de recuperação se estabilizando nos minutos seguintes. Já a PAD sofre pequena elevação durante os primeiros 5 minutos e se estabiliza nos minutos seguintes.

Discussão

    Em nosso estudo, a PAS apresentou valores mais elevados no pós-teste. Tal fato já está bem esclarecido e descrito na literatura clássica de fisiologia do exercício. (POWERS, HOWLEY, 2000; McARDLE, KATCH, KATCH, 2003)

    Entretanto, em se tratando da PAD seu comportamento foi contrário ao esperado já que está no pós teste apresentou-se com valores inferiores aos obtidos no pré-teste. Porém, tal fato ocorreu provavelmente devido as limitações do método de aferição adotado em nosso estudo. Segundo Polito e Farinnati (2003) para cargas máximas a PA cai após dez segundos terminado o esforço e para cargas submáximas isto ocorre dentro de dois segundos. Assim, como a PAD é a última a ser aferida, tal fato pode ter influenciado no resultado.

    A PAS foi mais elevada após o método contínuo quando comparado ao rest pause. De acordo com Pollock, (2002) o tempo de tensão é uma variável importante na resposta da pressão arterial pós-esforço, sendo que quanto maior o tempo de tensão maior a resposta a PA. Assim, devido o tempo de tensão no exercício contínuo ser maior que no rest pause este fato provavelmente explique o comportamento da PAS neste estudo.

    Já a PAD apresentou-se ligeiramente maior pós rest pause. Tal fato pode ser explicado considerando que quanto maior o tempo de tensão maior será também a resposta hipotensiva pós-esforço. Acreditamos que o fato do método rest pause por ser fracionado isto fez com que a resposta hipotensiva no que diz respeito a PAD fosse menor. Apesar da metodologia adotada ter sido limitada quanto a observação da PA durante o esforço, podemos inferir que a PAD está relacionada com a resistência periférica. Durante o método contínuo resistência periférica seja mais acentuada por um tempo mais prolongado o que fez com que durante o esforço a PAD elevasse mais quando comparado ao repouso o que teve como conseqüência uma maior resposta hipotensiva desta variável.

    Observamos também que a maior resposta hipotensiva sistólica ocorreu durante os primeiros cinco minutos de recuperação conforme demonstrado na figura 3. O que nos chama atenção é o comportamento da PAD neste mesmo período, tendo uma pequena elevação em ambos os métodos. Tal fato provavelmente ocorreu devido a mecanismo reflexo periférico o qual ao detectar diminuição no fluxo sangüíneo periférico aumentou-se o estímulo simpático local levando a pequena vasoconstricção, aumentando a resistência periférica e elevação concomitante da PAD.

    Entretanto, temos que esclarecer que esta elevação da PAD não ultrapassou o limite ótimo da PA.

    De acordo com nossos achados podemos inferir que o método rest pause se apresenta como um método que proporciona uma maior segurança cardiovascular para trabalho resistido. Tal inferência encontra respaldo nos estudos de Veloso; Monteiro; Farinatti (2003) exercícios intermitentes propiciam uma maior segurança cardiovascular uma vez que o tempo de tensão aplicada ao grupamento muscular trabalhado é menor que em exercícios de caráter continuo.

    Entretanto, mais estudos são necessários, com metodologia mais aprimorada, principalmente, tendo como amostra população hipertensa, já que a sensibilidade às respostas cardiovasculares nesta população especial é diferente quando comparado a sujeitos hígidos.

Conclusão

    De acordo com os procedimentos adotados e resultados encontrados podemos concluir que, aparentemente, o método “rest pause” proporciona uma segurança cardiovascular maior que o método contínuo no que diz respeito às alterações agudas da PA. Tal fato se deve, provavelmente, devido ao menor tempo de tensão imposto sobre a musculatura trabalhada através deste método.

Referencias bibliográficas

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  • POLLOCK, M.L. et .al. Resistence exercise in individuals with and without cardiovascular disease. Am College Sports Med. 101: 828-833, 2000

  • POWERS, S.K. HOWLEY, E.T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3 ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • VELOSO, U., MONTEIRO, W., FARINATTI, P. Do continuous and intermittent exercises sets induce similar cardiovascular responses in the elderly women? Rev. Bras. Med. Esporte. 2003; 9(2)

  • WIECEK, Elizabeth M.; MCCARTENEY Neil; MCKELVIE Robert S. Usefulness of weightlifting training in improving strength and maximal power output in coronary artery disease. From the Departments of Physical Education and Medicine, McMaster University, Hamilton, Ontario, Canada, 1990.

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