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Capacidade funcional e condições de saúde dos idosos
dos municípios integrantes dos COREDEs Alto Jacuí e
Alto da Serra do Botucaraí, RS

 

*Acadêmica do curso de Educação Física integrante do

Grupo de Estudos Interdisciplinar do Envelhecimento Humano da UNICRUZ - GIEHH

**Pesquisadores do GIEEH da UNICRUZ

(Brasil)

Jamile Centenaro Romitti*

Marilia de Roso Krug** | Solange Beatriz Billig Garces**

Luis Henrique Telles da Rosa** | Patrícia Viana da Rosa**

mkrug@unicruz.edu.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo analisar a associação entre os níveis de atividade física, capacidade funcional e condições de saúde de uma população de idosos dos municípios da região dos COREDEs Alto Jacuí e Alto da Serra do Botucaraí/RS. Participaram do mesmo 334 idosos de ambos os sexos usuários do Sistema de Informações de atenção básica (SIAB) e que faziam parte da Estratégia de Saúde da Família (ESF), de 50% dos municípios dos COREDEs. Os níveis de atividade física foram obtidos através do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e a capacidade funcional foi avaliada a partir do desempenho referido na realização das atividades básicas (ABVDs) e instrumentais (AIVDs) da vida diária, que foram obtidas, respectivamente, através do índice de Barthel e da Escala de Lawton. Os dados foram tratados através da estatística descritiva. A correlação linear de Pearson foi utilizada para determinação da existência de associação entre as variáveis. Os idosos dos municípios dos COREDEs são na maioria do sexo masculino e casados. Avaliaram sua saúde como regular, provavelmente em virtude do alto índice de sedentarismo apresentado pelos mesmos, o que também pode ter sido responsável pela alta dependência na realização das atividades instrumentais da vida diária. Encontrou-se associação positiva entre gênero, níveis de atividade física e capacidade funcional, sendo as mulheres mais autônomas em relação aos homens, assim como os idosos ativos em relação aos sedentários.Tanto os idosos ativos quanto os sedentários avaliaram sua situação geral de saúde como regular, não tendo associação significativa entre as referidas variáveis. Desta forma foi possível concluir que existe forte associação entre condições de saúde e capacidade funcional e esta com os níveis de atividade física.

          Unitermos: Idosos. Atividade física. Capacidade funcional.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    Estima-se que atualmente, o número de pessoas com mais de sessenta anos seja muito elevado, deixando o Brasil entre os países com maior número de idosos do mundo.

    A mudança no perfil da população brasileira pode ser explicada pela queda na taxa de fecundidade das mulheres e pelo aumento da expectativa de vida. Pode-se afirmar então, que no futuro teremos menos crianças e mais idosos em nosso país.

    O jornal O Globo, de Julho de 1982, apresenta comentários sobre a Assembléia Mundial das Nações Unidas, a respeito do envelhecimento. Foram feitas previsões sobre a composição da população mundial, e lançou-se um alerta: em 1950, havia duas crianças de menos de cinco anos para cada idoso de mais de 60 anos; em 2025, a proporção será exatamente ao contrário.

    As projeções realizadas por Berquó e Leite (1988) para o ano de 2025 indicam que os idosos acima de sessenta anos serão quase quarenta milhões, representando 15% de toda a população brasileira. Essa estimativa vai colocar o Brasil para o 6º lugar no ranking mundial de população idosa.

    Diante deste perfil pergunta-se: o que fazer com esta população de idosos? A ciência ajuda a prolongar a vida, porém faz-se necessário criar melhores condições para desfrutar a longevidade de modo saudável e prazeroso.

    A análise das principais causas determinantes do retardo dos conhecimentos da gerontologia, a discussão das repercussões biofisiológicas causadas pelo processo de envelhecimento sobre o indivíduo, o impacto demográfico determinado pelo crescimento acentuado da população idosa e suas repercussões sociais sobre o velho, sobre a sociedade e sobre o sistema de saúde são medidas básicas necessárias ao melhor entendimento do processo de envelhecimento.

    Como a temática do envelhecimento deve ser vista e tratada como política pública pelos municípios visando o desenvolvimento sustentável, através da busca de ações que beneficiem essa população surgiu à necessidade de se buscar as causas determinantes das atuais condições de saúde e de vida dos idosos das regiões dos COREDEs, para que o desafio seja enfrentado por meio de planejamento adequado.

    Os COREDEs são Conselhos Regionais de Desenvolvimento, que visam discutir e decidir a respeito de políticas e ações que promovam o desenvolvimento regional dos municípios do Estado do Rio Grande do Sul. Foram criados em 1991, de fato e de direito em 1994 e possuem como objetivos: a promoção do desenvolvimento regional harmônico e sustentável; a integração dos recursos e das ações do governo na região; a melhoria eqüitativa da riqueza produzida; o estímulo à permanência do homem em sua região; a prevenção e recuperação do meio ambiente.

    A Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, situada no município de Cruz Alta, que é integrante do COREDE Alto Jacuí é uma instituição pólo gerenciadora de desenvolvimento local e regional sendo assim a mesma tem preocupações com o desenvolvimento de seus municípios. Sendo assim cabe a mesma sugerir projetos com propostas e intervenções que possam modificar a realidade que temos hoje nesses municípios, com políticas públicas de saúde somente curativas e não preventivas, conforme diagnóstico realizado por Garces e Petry (2004) nestas regiões.

    Acredita-se na relevância dessa pesquisa, pois, segundo Xavier et al. (2000) através da avaliação da capacidade funcional e das condições de saúde pode-se definir estratégias de promoção de saúde com o objetivo de retardar ou prevenir as incapacidades. Desta forma é importante aprofundar o conhecimento sobre as condições de vida, de saúde, econômicas e de suporte social dos idosos, para que se possa estar preparado para atender às demandas sociais, sanitárias, econômicas e afetivas dessa parcela da população, que, atualmente, é a que mais cresce. Neste sentido, justifica-se este estudo que servirá de subsídio para sugestões de intervenções que poderão ser implementadas visando melhorar as ações oferecidas aos idosos na área da saúde, bem como evidenciar as ações relevantes e, indicar inibição de ações negativas.

    Considerando as premissas evidenciadas acima justifica-se este estudo que teve como objetivo analisar a associação entre a capacidade funcional e as condições de saúde de uma população de idosos dos municípios da região dos COREDES Alto Jacuí e Alto da Serra do Botucaraí/RS. Para tanto foi determinado os níveis de atividade física, a funcionalidade (realização das Atividades da vida diária) e o estado geral de saúde dos idosos.

Metodologia

    Participaram deste estudo, de caráter descritivo, 334 idosos de ambos os sexos usuários do Sistema de Informações de atenção básica (SIAB) e que faziam parte da Estratégia de Saúde da Família (ESF) De 50% dos municípios dos COREDEs Alto Jacuí (Ibirubá, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Selbach e Tapera) e Alto Botucaraí (Campos Boeges, Espumoso, Itapuca, Nicolau Vergueiro, Soledade, Tio Hugo e victor Graeef) com uma média de idade de 70,79 ± 7,96 anos.

    Para obtenção das informações referentes aos níveis de atividade física foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). O IPAQ foi proposto pelo Grupo Internacional para Consenso em Medidas da Atividade Física, constituído sob a chancela da Organização Mundial da Saúde, com representantes de 25 países, inclusive o Brasil. Trata-se de um instrumento desenvolvido com a finalidade de estimar o nível de prática habitual de atividade física de populações de diferentes países e contextos socioculturais (CRAIG, 2003).

    A funcionalidade dos idosos foi avaliada a partir do seu desempenho referido nas atividades cotidianas que foram subdivididas em dois grandes grupos: as Atividades Básicas de Vida Diária (ABVDs) que se relacionam com o auto cuidado, e o seu comprometimento implica, geralmente, na necessidade de auxílio de terceiros, o que as torna mais onerosas e mais complexas (MAHONEY; BARTHEL, 1965) e as Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs) que estão relacionadas com a participação efetiva do idoso na comunidade, onde a presença de dificuldades implica mais em uma redistribuição de tarefas entre os membros familiares (como alguém para ir fazer compras ou auxiliar nas tarefas domésticas) e menos em cuidado direto (LAWTON; BRODY, 1969).

    Para identificação das ABVD’s utilizou-se o índice de Barthel que é um instrumento validado baseando-se nos resultados que variam de 0 a 100% em grau de independência na realização de diferentes funções, sendo considerada normal uma pontuação acima de 80 e a Escala de Lawton para a verificação das AIVD’s.

    Para diagnosticar a situação geral de saúde foi utilizado os seguintes indicadores: incidência de doenças, uso de medicamentos, consultas médicas, necessidade de cuidados e internações.

    Os dados foram tratados através da estatística descritiva (média e desvio padrão) e a correlação linear de Pearson para determinação da existência de associação entre a capacidade funcional e o estado geral de saúde.

Resultados e discussões

    Dos 334 idosos, pesquisados, a maioria era do sexo masculino, casados e sedentários fisicamente. Avaliaram sua saúde como regular e eram independentes nas (ABVDs) atividades básicas da vida diária, porém com dependência em pelo menos uma das (AIVDs) atividades instrumentais da vida diária (tab. 1).

Tabela 1. Características dos idosos usuários dos municípios integrantes dos COREDEs do Alto da Serra do Botucaraí e Alto da Serra do Jacuí RS.

Variáveis

Indicadores

N (334)

F%

Sexo

Femininos

Masculinos

146

188

43,6

56,3

Estado Civil

Casado

Viúvo

Solteiro

Separado

201

104

19

10

60,0

31,3

5,7

3,0

Saúde

Muito bom

Bom

Regular

Ruim

Muito ruim

21

121

151

29

12

6,3

36,2

45,2

8,7

3,6

ABVDs

Autônomos

Dependentes

260

74

77,8

22,2

AIVDs

Autônomos

Dependentes

8

326

2,4

97,6

Níveis de atividade física

Sedentários

Ativos

186

148

55,7

44,3

    A prevalência do sexo masculino entre os idosos, também foi observada por Pereira et al. (2008) na cidade de Lages/SC, entretanto contradiz o que afirma Peixoto (1997) que as mulheres constituem a maior parte da população mundial idosa. O mesmo salienta que quanto mais a idade aumenta, mais as mulheres são numerosas que o envelhecimento passa a ser um fenômeno que se conjuga, antes de tudo, no feminino.

    Concordando com os resultados do presente estudo Martins (2001) também encontrou um maior percentual de idosos casados e sedentários entre os idosos da cidade de Cruz Alta/RS.

    Apenas uma minoria de idosos avaliou sua saúde como muito boa estes dados vão ao encontro do que salienta Pescatello e Di Pietro (1993) que aproximadamente 80% das pessoas acima de 65 anos apresentam ao menos um problema crônico de saúde. Schoueri Júnior et al (1994) citam que na Inglaterra, 17% de pessoas com mais de 65 anos utilizam 60% do orçamento do Departamento Nacional de Saúde e Cuidados Sociais. Em 1980, o gasto “per capita” que esse departamento teve com indivíduos com mais de 75 anos foi cerca de oito vezes maior que com a população geral.

    Vários estudos evidenciam as dificuldades apresentadas pelos idosos até mesmo para a realização de atividades simples da vida diária como por exemplo os estudos de: Aniansson et al (1980) que evidenciou que idosos possuem velocidade de caminhada inferior àquela recomendada para que pedestres se utilizem de vias públicas e semáforos com segurança; Spirduso (1995) mostrou que a maioria dos idosos tem dificuldade para realizar tarefas manuais como abotoar uma camisa, manipular alfinetes e grampos, discar telefones e utilizar facas; Adrian (1986) salientou que 85% dos idosos com idade média de 69 anos apresentam algum tipo de problema para subir degraus de ônibus e Van Sant (1990) descreveu que os padrões de movimento utilizados no dia-a-dia pelos idosos, como o caminhar e o levantar-se do solo eram realizados com conseqüente dificuldade.

    As condições de saúde e de dependência, observadas neste estudo, podem estar associados ao sedentarismo, que também foi alto entre os idosos, pois segundo Jacob Filho (2006) o sedentarismo em muitas ocasiões acaba sendo o principal responsável pelo estado de limitação e da saúde do idoso.

    O sedentarismo pode ter sido um dos responsável pela dependência na realização das ABVDs como subir e descer escadas, tomar banho, usar o banheiro e vestir-se apresentadas pelos idosos deste estudo, assim como a dependência nas atividades mais complexas como capacidade para usar o telefone, fazer compras, preparar as refeições, fazer tarefas domésticas, lavar roupa, usar meio de transporte, responsabilidade com relação a sua medicação e gestão dos seus assuntos econômicos (AIVDs).

    De fato, o avanço da idade aumenta progressivamente a necessidade de assistência na realização de AVD. Hayflick (1996 apud ANDREOTTI; OKUMA, 1999), realizou um estudo nos Estados Unidos que resultou num percentual de 9,3% de idosos com idades entre 65 e 69 anos de idade que necessitam de algum tipo de assistência para a realização de tais atividades. Já em indivíduos com idades entre 75 e 79 anos de idade obteve-se um percentual de 18,9% e em indivíduos com mais de 85 anos de idade o percentual foi ainda maior, chegando a 45,4%.

    Estudo realizado por Matsudo, Matsudo e Barros Neto (2001), mostraram que as maiores dificuldades dos idosos com relação a realização das atividades da vida diária está na perda da flexibilidade e da força muscular que podem ser responsáveis pela diminuição da capacidade funcional.

    Segundo Rosa et al. (2003), a atenção de alguns autores é despertada em relação ao fato de que as mediações genéricas nas incapacidades são menos úteis que as ações de prevenção, na qual são postas em evidências especificamente as doenças incapacitantes. Os fatores que levam a incapacidade necessitam de um enfoque com maior abrangência.

    Para a realização das associações as variáveis capacidade funcional, situação geral de saúde e níveis de atividade física foram dicotomizadas, respectivamente em: autônomos (idosos que não apresentaram nenhuma dependência na realização tanto das ABVDs quanto das AIVDs) e dependentes (os que apresentaram pelo menos uma dependência); saúde boa (classificações muito boa e boa) e saúde ruim (classificações regular, ruim e muito ruim do AGA); sedentários (idos sedentários e insuficientemente ativos da classificação do IPQ) e ativos (classificações ativo e muito ativo)

    Dos 334 idosos a maioria (63,5%) foi considerada dependente, sendo as mulheres mais autônomas (associação significativa) em relação aos homens (tab 2).

Tabela 2. Capacidade funcional e gênero

Gênero

Autônomo

Dependente

n (122)

         %

n (212)

%

Masculino

Feminino

35

87

28,68

71,32

111

101

52,36

47,64

    A maior autonomia das mulheres em relação aos homens, observada neste estudo, pode estar relacionada ao que se refere Veras (1994), pois o mesmo salienta que com o aumento da expectativa de vida, sobretudo para as mulheres, a área de promoção da saúde é mais eficaz, se tratada dentro de uma perspectiva de atendimento global, desempenhando papel importante tanto na prevenção da incapacidade quanto na recuperação da autonomia.

    Tanto os idosos autônomos quanto os dependentes avaliaram sua condição de saúde como ruim. Entretanto houve um maior percentual de idosos dependentes que avaliaram a sua saúde como ruim em relação aos autônomos. Não houve associação significativa (p ≤ 0,05) entre capacidade funcional e condições de saúde (tab 3).

Tabela 3. Capacidade funcional e condições de saúde

Condições de Saúde

Autônomo

Dependente

n (122)

%

n (212)

%

Boa

Ruim

59

63

48,36

51,64

83

129

38,72

61,28

    A aptidão física tem grande importância para a manutenção da capacidade funcional e esta quando reduzida resulta na diminuição funcional. Algumas pessoas esquecem disto e acabam culpando o processo de envelhecimento quanto às alterações advindas do mau uso da capacidade funcional ao longo de sua vida. O sedentarismo é uma das conseqüências desta diminuição, cujo impacto poderia ser diminuído se as pessoas fizessem o uso adequado do seu corpo, trabalhando a minimização das alterações e melhorando com isso ainda mais a sua condição de saúde.

    A variável nível de atividade física foi correlacionada com o gênero, a capacidade funcional e as condições de saúde.

    Tanto os homens quanto as mulheres são, na maioria, sedentários, sendo que os homens são mais sedentários em relação as mulheres (tab 4), entretanto não foi significativa a associação entre nível de atividade física e gênero.

Tabela 4. Níveis de atividade física e gênero

Gênero

Sedentários

Ativos

n (186)

%

n (148)

%

Masculinos

Femininos

84

102

57,53

54,25

62

86

42,47

45,75

    Os idosos ativos são mais autônomos em relação aos sedentários, entretanto tanto os ativos quanto os sedentários são, na maioria, dependentes, sendo esta associação significativa ao nível de p ≤,0,05 (tab 5), ou seja, quanto mais ativos mais autônomos.

Tabela 5. Níveis de atividade física e capacidade funcional

Capacidade Funciona

Sedentários

Ativos

n (186)

%

n (148)

%

Autônomos

Dependentes

50

136

26,88

73,12

72

76

48,64

51,36

    Tradicionalmente, a involução motora decorrente do processo de envelhecimento, bem como as doenças e disfunções sempre foram vistas como causa da dificuldade ou incapacidade para realização de atividades da vida diária (AVD) em idosos. Os modelos médicos tradicionais sugerem que são as patologias que levam, progressivamente, o indivíduo a um prejuízo das funções básicas, à limitações funcionais e finalmente à incapacidade. Entretanto, evidências indicam que, nos últimos anos de vida, um estilo de vida fisicamente inativo também pode ser causa primária da incapacidade para realizar AVD (GRIMBY, 1995).

    Uma grande variedade de autores, entre eles, Spirduso (1989), Pescatello e Di Pietro (1993) e Hombergh et al (1995) incluem os programas de atividades físicas como meios efetivos na compressão da morbidade, na diminuição e prevenção de doenças e na melhora da capacidade funcional.

    A maioria dos idosos sedentários avaliaram sua saúde como ruim enquanto que os idosos ativos avaliaram como boa (Tab 6). Houve uma associação, positiva, significativa (p ≤ 0,05) entre as referidas variáveis, ou seja quanto mais ativos melhor é a avaliação de saúde.

Tabela 6. Níveis de atividade física e condições de saúde

Condições de Saúde

Sedentários

Ativos

n (186)

%

n (148)

%

Boa

Ruim

66

120

35,49

64,51

76

72

51,34

48,66

    A atividade física tem sido considerada um meio de preservar e melhorar a saúde. Sedentarismo e estilos de vida que incorporam pouca atividade física têm sido observados, gerando preocupação por parte dos órgãos de saúde pública no Brasil. A prática de atividade física tem se mostrado benéfica na redução de diversos fatores de risco, propiciando, por exemplo, melhora no metabolismo das gorduras e carboidratos, controle de peso corporal e, muitas vezes, controle da hipertensão estando, ainda, associada à prevenção de enfermidades como diabetes mellitus e doenças cardiovasculares (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Ainda, segundo Montenegro Júnior (2005) a atividade física é uma das ferramentas que pode promover uma melhora da diminuição de dores articulares, aumento de força, flexibilidade e densidade óssea, além do alivio da depressão e aumento da auto-estima Goldstein, Whitlock e DePue (2004) mostraram que em idosos que praticam atividade física, ocasionalmente, o risco de alguma doença ou complicação é 28% menor que em idosos inativos e para aqueles que se exercitam pelo menos uma vez por semana, estes riscos são 40% inferiores. Esta menor incidência de doenças é, provavelmente o fato mais relevante para uma boa avaliação de saúde.

    Desta forma a prática habitual de atividades física torna-se imprescindível, pois há um grande número de idosos que sofrem de comprometimentos físicos ou mentais que limitam sua capacidade de realizar alguma atividade funcional cotidiana o que, entretanto, não leva as pessoas a se tornarem, necessariamente, dependentes de outros. Embora aproximadamente 25% dos idosos cheguem ao estado de dependência para realizar tarefas cotidianas se configurando, segundo Spirduso (1995), numa parcela considerável da população para trazer problemas para a sociedade.

Conclusão

    Após a analise dos dados foi possível chegar as seguintes conclusões:

    Os idosos dos municípios dos COREDEs Alto Jacui e Alto da Serra do Botucarí/RS são na maioria do sexo masculino e casados. Avaliaram sua saúde como regular provavelmente em virtude do alto índice de sedentarismo apresentado pelos mesmos, o que também pode ter sido responsável pela alta dependência na realização das atividades instrumentais da vida diária.

    Encontrou-se associação positiva entre gênero, níveis de atividade física e capacidade funcional, sendo as mulheres mais autônomas em relação aos homens, assim como os idosos ativos em relação aos sedentários.

    Tanto os idosos ativos quanto os sedentários avaliaram sua situação geral de saúde como ruim ocorrendo associação significativa entre as referidas variáveis.

    Sabe-se que os índices de idosos no Brasil são grandes e que daqui a alguns anos este número será duplicado. Sendo assim cabe a nós profissionais da área da saúde criar ações de intervenção que favoreçam o processo de envelhecimento, fazendo com que essa fase da vida seja um momento prazeroso com saúde e qualidade de vida.

    A qualidade de vida não é ausência de doenças, mas sim um envelhecer saudável, permitindo ao idoso autonomia na realização de suas atividades. Mas isso só será possível se as pessoas tiverem consciência da importância da atividade física regular, desde jovens, sendo que com isto eles estarão preparados para enfrentar as limitações vindas com a idade.

    Identificar as condições que permitem envelhecer bem torna-se tarefa de várias disciplinas no âmbito das ciências biológicas, psicológicas e sociais. Desta forma cabe aos profissionais da área da Educação Física a responsabilidade de conscientizar estes indivíduos da necessidade da prática regular de atividades física como forma alternativa de minimizar as alterações de sua capacidade funcional e mental que são naturais com o processo de envelhecimento.

    A atividade física regular para idosos tem papel fundamental, na medida em que prolonga e aumenta a capacidade de trabalho do indivíduo, otimiza a realização de AVD e previne a incapacidade e a dependência nos últimos anos de vida.

    Desta forma deve-se trabalhar a atividade física com os idosos tentando maximizar sua independência funcional, pois, deve-se tornar o individuo capaz de viver sem precisar de assistência dos outros.

Referências

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