efdeportes.com

Atividade física e depressão no idoso

Physical activities and the depression in elderly people

 

*Professor de Educação Física, ex-acadêmico da UNICRUZ ,

pesquisador do GIEEH – Grupo Interdisciplinar de Estudos do Envelhecimento Humano,

aluno especial do Mestrado em Educação Física da UDESC

**Professora do Curso de Educação Física da UNICRUZ

mestre em Ciências do Movimento Humano

doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS

pesquisadora e líder do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Envelhecimento Humano da UNICRUZ

***Professora do Curso de Educação Física da UNICRUZ

mestre em Ciências do Movimento Humano

pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Envelhecimento Humano da UNICRUZ

****Professor do Curso de Fisioterapia da UNICRUZ

doutor em Gerontologia Biomédica pela PUCRS

pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Envelhecimento Humano da UNICRUZ

Giovane Pereira Balbé*

gbalbe@yahoo.com.br

Solange Beatriz Billig Garces**

sbgarces@hotmail.com

Marília de Rosso Krug***

mrkrug@bol.com.br

Luís Henrique Telles da Rosa****

lhtrosa@comnet.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Acredita-se que a atividade física possa ser uma das formas alternativas na melhoria da qualidade de vida, assim como, uma forma de minimizar ou até mesmo prevenir a depressão em idosos. Dessa forma, buscou-se analisar a existência de associação entre indício de depressão e níveis de atividades físicas em idosos integrantes dos municípios que fazem parte do COREDE Alto da Serra do Botucaraí – RS. Na coleta de dados utilizou-se o IPAQ versão curta, e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15). O tratamento estatístico usado foi o teste Qui-Quadrado e teste “t” de Student, sendo os dados analisados através dos programas Microsoft Excel e SPSS. Evidenciou-se que o percentual de sedentarismo apresentado entre gênero foi de 12,8% para os homens e 18,8% para as mulheres. Com relação à depressão 81,4% dos homens e 68,2% das mulheres foram classificados sem indícios depressivos. Na associação dos níveis de atividade física com indícios de depressão constatou-se que não houve associação significativa entre as variáveis (p≤0,15). Por outro lado, 12,2% dos sem indícios de depressão eram sedentários, 21,7% insuficientemente ativo, 48,7% ativo e 17,4% muito ativo. Desta forma, 25,8% dos idosos apresentaram indícios depressivos. Assim, concluiu-se que não houve uma associação significativa entre os níveis de atividade física e depressão nos idosos estudados.

          Unitermos: Envelhecimento. Educação Física. Sedentarismo.

 

Abstract

          It believes the physical activities can be one of the alternative ways to improve the quality of the life, like, a way to minimize or even if to prevent the depression in elderly people. So this way, it sought to analyze the existence of the association between the depression signs and physical activity levels in elderly people that are members of the municipalities that take part of the COREDE Alto da Serra do Botucaraí –RS. In this collection of data was used the IPAQ short version , and the Geriatric Depression Scale (GDS-15). The statistic treatment used was the Chi-square and the Student t-test, the data was analyzed through the programs Microsoft Excel and SPSS. It was evidenced that the sedentary lifestyle percentage showed between the kind was 12,8% for men and 18,8% for women. In relation to the depression 81,4% of the men and 68,2% of the women were classified without depression signs. In the association of the physical activity levels with the depression signs it was noticed that there was not significant association between the variables (p≤0,15). On the other hand, 12,2% of them without depression signs had a sedentary lifestyle, 21,7% insufficient active,48,7% active and 17,4% very active .So this way,25,8% of the elderly people showed depression signs. So it was concluded that there was not a significant association between the physical activity levels and the depression in the studied elderly people.

          Keywords: Ageing. Physical Education. Sedentary lifestyle.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

1 / 1

Introdução

    Atualmente a sociedade mundial vive um crescente aumento da expectativa de vida, o que tem gerado como conseqüência um aumento no número de pessoas idosas em todos os países do mundo.

    No Brasil, o número de idosos configura em torno de 15 milhões, o que deverá ser elevado para cerca de 30 milhões de idosos até 2020, colocando o Brasil entre os dez paises com maior número de idosos acima de 60 anos na população mundial (IBGE, 2002).

    Este aumento da expectativa de vida para os idosos é conseqüência de vários fatores. Fatores esses que contribuem também para a melhoria na qualidade de vida. A medicina cada vez mais avançada, melhorias ambientais e materiais, sistemas educacionais e meios de comunicação mais efetivos, melhores recursos psicológicos, tais como leitura e escrita em computadores, aumento da prática da atividade física e muitos outros fatores, estão fazendo com que os idosos se aproximem do seu limite de máxima duração de vida em condições mais saudáveis (BALTES ; SMITH, 2006).

    Apesar do aumento do nível populacional de idosos, devido a vários fatores entre eles os mencionados anteriormente, ainda existem muitas doenças que afetam esta população, sendo uma delas a depressão. Pois, a depressão é uma doença caracterizada por algum distúrbio mental, isto é, um quadro de sofrimento psíquico. Estudos feitos estimam que em paises industrializados em cada dez idosos um é depressivo (MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2004).

    Entretanto, o caminho natural do processo de envelhecimento se configura em grandes perdas físicas, psicológicas ou sociais, o que é um agravante para o desenvolvimento da depressão. As depressões na velhice são quase sempre ligadas a perdas, doenças, carências e aspectos sociais (ZIMERMAN, 2000).

    Assim, um dos meios para se chegar, aos últimos ciclos da vida, com uma melhor qualidade de vida é aliando a rotina do dia-a-dia a prática regular da atividade física. Para Mazo et al. (2005) a atividade física é uma fonte preciosa que deve ser descoberta e praticada não só na fase adulta ou na velhice, mas sim o mais cedo possível, como forma de prevenção. Esta autora ainda ressalta que a atividade física é uma de muitas outras formas de ter uma vida mais saudável e duradoura.

    Acredita-se que a atividade física possa ser uma das formas alternativas na melhoria da qualidade de vida daqueles que envelhecem, assim como, uma forma de minimizar ou até mesmo prevenir a depressão em idosos.

    Para Lorda e Sanchez (2001) a prática de atividades físicas promove um desenvolvimento integral do idoso, pois, trabalha entre outros, a saúde física, a socialização (integrando o idoso ao seu meio social, ampliando as relações sociais e estimulando o convívio), e a sensibilidade, tornando-se um processo terapêutico de restauração e qualidade de vida, devolvendo no idoso o prazer de viver.

    O processo de envelhecimento por ser uma fase marcada por perdas afetivas, físicas e sociais não deve ser encarado como incapacidade. Mas sim, como uma nova fase da vida, a qual precisa de adaptação, incrementando na vida do idoso novos hábitos de vida (MAZO et al., 2005).

Objetivos

    O presente estudo que teve a finalidade de analisar a existência de associação entre indicio de depressão e níveis de atividades físicas em idosos integrantes dos municípios que fazem parte do COREDE Alto da Serra do Botucaraí – RS.

    Assim como, identificar os indícios de depressão e níveis de atividade física e associação destes com o gênero e idade, além de relacionar os indícios de depressão com os níveis de atividade física.

Material e métodos

    A pesquisa realizada sendo descritiva diagnóstica visou fazer um levantamento dos níveis de atividade física dos idosos integrantes do COREDE Alto da Serra do Botucaraí e os possíveis indícios de depressão.

    Foram sujeitos dessa pesquisa a população de idosos integrantes do COREDE Alto da Serra do Botucaraí num total de 1.540 idosos correspondente a 4 municípios.

    Participaram da mesma 155 idosos, sendo 10% da população total do ano de 2005 conforme dados do DATASUS (BRASIL, 2006), composta de 25% dos municípios do COREDE. Foi considerado idoso toda pessoa acima de 60 anos de idade que tinham condições de responder as perguntas feitas, assim como, usuários dos serviços públicos de saúde dos municípios selecionados. Os municípios foram escolhidos através de sorteio, sendo a escolha da amostra intencional.

    Para realizar a coleta de dados foram aplicados dois instrumentos de pesquisa sendo eles a Escala de Depressão Geriátrica Reduzida de Yesavage (1983 apud FREITAS et al., 2006), (GDS-15) e o Questionário Internacional de Atividade Física versão curta - IPAQ (MATSUDO et al., 2001).

    A Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage (1983 apud FREITAS et al., 2006), versão reduzida (GDS-15), foi o instrumento utilizado para o rastreamento de sintomas depressivos especificamente em indivíduos idosos, conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999).

    Já para a determinação dos níveis de atividade física adotou-se o instrumento International Physical Activity Questionaire (IPAQ), sendo um questionário que possui duas versões, longa e versão curta. A versão curta foi usada nesta pesquisa, por ser de fácil aplicação, não sendo tão extenso, reproduzindo-se em economia de tempo gasto na entrevista já que este questionário é mais utilizado em grandes populações como afirma Matsudo et al. (2001).

    A coleta de dados foi elaborada a partir de um cronograma, onde, estabeleceram as visitas aos municípios pesquisados. Assim, foi feito contato com as secretarias de saúde dos municípios para que as agentes de saúde pudessem nos auxiliar, informando os locais onde residem os idosos usuários dos serviços públicos de saúde destes municípios, onde se realizou a entrevista, aplicando os respectivos questionários.

    A classificação dos indícios de depressão se deu através da Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (GDS-15) proposta por (YESAVAGE, 1983 apud FREITAS et al., 2006), com 15 perguntas.

    Já para a classificação do nível de atividade física foi usado o critério de classificação conforme consenso do CELAFISCS e o Center For Disease Control (CDC) de Atlanta 2002 (MATSUDO et al., 2002), critérios estes relacionados à freqüência e duração.

    O tratamento estatístico para as variáveis categóricas nominais se deu através de associação, o teste Qui-Quadrado e na comparação entre médias utilizou-se o teste “t” de Student.

    Na análise estatística dos dados foram utilizados os programas Microsoft Excel/2000 e o Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 11.0. A maior parte das variáveis foi de natureza categórica e utilizou-se escala de medidas ordinais e nominais. Foram utilizadas as medidas percentuais, médias, teste Qui-Quadrado e teste “t” de Student. Para ambos os dados foram adotados nível de significância de p<0,05.

Resultados e discussões

    Os idosos pesquisados apresentaram uma média de idade de 71,89 anos, sendo a idade mínima de 60 e máxima de 90 anos.

    Com relação à descrição dos sujeitos segue abaixo a seguinte tabela.

Gênero

Níveis de Atividade Física

p

Sedentário

Insuficientemente Ativo

Ativo

Muito Ativo

%

%

%

%

Masculino

12,8

24,3

44,2

18,6

p=0,57

Feminino

18,8

18,8

48,3

14,1

Idades

 

 

 

 

p=0,47

60-69 anos

11,1

19

54

15,9

p=0,47

70-79 anos

16,2

23,5

44,1

16,2

Acima 80 anos

29,2

20,8

33,3

16,7

Tabela 1. Gênero, idade e nível de atividade física dos idosos pesquisados do COREDE Alto da Serra do Botucaraí.

    Quando considerada a freqüência de indivíduos nos níveis de atividade física, o gênero feminino apresentou uma tendência similar ao masculino. Evidenciou que o percentual de sedentarismo apresentado entre gênero foi de 12,8% para masculino e 18,8% para as mulheres. A classificação quanto os insuficientemente ativo, 24,3% para os homens e 18,8% para as mulheres. Quanto aos que conseguem atingir o nível de atividade física para uma melhor saúde, os ativos e muito ativos, sendo 62,8% dos homens e 62,4% para as mulheres. Portanto, na associação dos níveis de atividade física e gênero não apresentou associação significativa (p=0,57). Estudo feito em São Paulo (MATSUDO et al., 2002) com pessoas na faixa dos 15 aos 70 anos de idade, mostrou não haver associação significativa entre gênero e nível de atividade física.

    Para Pereira et al. (2004), o idoso devido o passar dos anos, a redução da taxa metabólica basal e do tecido muscular, somados à diminuição da atividade física, resultam em redução das necessidades energéticas e aumento do tecido adiposo. Portanto, a atividade física deve fazer parte da vida do idoso mesmo nas atividades mais corriqueiras como cuidar da casa, realizar compras, ir ao banco, enfim, o importante é movimentar.

    Na comparação entre as médias de idade e níveis de atividade física (variável a qual foi dicotomizada, em sedentários e ativos) através do teste t, onde não se constatou diferença significativa (p=0,47).

    Quando analisado a associação entre as faixas etárias e níveis de atividade física, sendo divididas em: 60-69 anos, 70-79 anos e acima de 80 anos de idade, não houve associação significativa (p=0,47) cabe salientar que os idosos mais velhos apresentaram níveis de sedentarismo maior do que os demais, 29,2%, contra 16,2% 70-79 anos e 11,1% dos 60-69 anos de idade. Conforme Matsudo et al. (2002), em um de seus estudos, onde não encontrou uma relação entre idade cronológica e nível de atividade física, porém, com exceção do nível muito ativo em que claramente os valores foram diminuindo à medida que aumentava a faixa etária.

    A prevalência de sedentarismo principalmente nesta faixa etária pode chegar em valores acima dos 90% desta população, onde o sedentarismo em muitas ocasiões acaba sendo um agravante e responsável por grave estado de limitação da saúde do idoso (JACOB FILHO, 2006).

    Com relação à comparação entre a média de idade e gênero (p=0,97), não houve diferença significativa. Pode-se observar um equilíbrio entre idade tanto dos idosos como das idosas. Destaca-se a maior longevidade por parte das mulheres, pois estas são mais ativas, devido à capacidade funcional e sociabilidade ser maior do que a dos homens (PEREIRA et al., 2004).

    Na tabela 2 encontram-se os dados sobre gênero, idade e indícios de depressão. Desta forma, foi realizada associação dos indícios de depressão com gênero e faixas etárias já mencionadas, assim como, uma comparação de médias entre idade, gênero e depressão.

Gênero

Depressão

p

Sem Indicio

Com Indicio

%

%

Masculino

81,4

18,6

p=0,06

Feminino

68,2

31,8

Idades

 

 

p=0,03

60-69 anos

77,8

22,2

p=0,34

70-79 anos

75

25

Acima 80 anos

62,5

37,5

Tabela 2. Gênero, idade e indícios de depressão dos idosos pesquisados.

    Na associação dos indícios de depressão com gênero, não houve associação significativa (p=0,06), pois 81,4% dos homens, para 68,2% das mulheres foram classificadas sem indícios depressivos, apesar de apresentarem em ambos escores de 0 a 5 pontos. Em contrapartida 18,6% dos homens e 31,8% das mulheres apresentaram indícios depressivos. Sendo que o escore de pontos variaram entre 6 e 13 pontos.

    Pode-se observar o alto percentual de mulheres com indícios depressivos, o que é justificado segundo a literatura. Este estudo teve 54,8% de mulheres idosas, o qual não compromete os resultados com relação à predominância de indícios depressivos neste sexo. Pesquisas feitas com idosos onde o número de mulheres foi maior do que de homens (OLIVEIRA; GOMES; OLIVEIRA, 2006) sendo 79,4% até 90% mulheres (SILVEIRA; DUARTE, 2004), tornando uma disparidade entre os gêneros. Segundo estudo realizado pelos autores mencionados anteriormente no qual constatou prevalência de depressão no gênero feminino independente do percentual estudado.

    Pesquisa realizada em Brasília no ano de 2001 (OLIVEIRA; GOMES; OLIVEIRA, 2006), com idosos provenientes de centros de convivência, se constatou alto índice de depressão no sexo feminino. Fato este levado em consideração a difícil inserção da mulher no mercado de trabalho e devido à menor participação desta na atividade econômica do passado. Além, de não terem casado ou da dependência no cuidado dos filhos, da casa, dos netos ou até mesmo ajudando pais idosos, recai sobre a mulher o cuidado com filhos e pais.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde a depressão afeta em torno de 20% das mulheres contra 15% dos homens no decorrer de sua vida (GREVET; KNIJNIK, 2001).

    Pesquisa feita por Breton (2000) aponta para um relato da literatura que mostra prevalência de depressão no gênero feminino duas a cinco vezes maior do que o masculino. Isso se justifica pelas limitações físicas que são acrescidas daquelas colocadas pela sociedade, fruto de preconceitos e estereótipos sociais.

    Quando analisado a média de idade e indícios de depressão pode-se observar diferenças significativas (p=0,03). Os idosos acima de 80 anos (37,5%), apresentaram maior índice de depressão. Os de 70-79 anos (25%) e os 60-69 anos (22,2%) menor percentual. Portanto, os idosos mais velhos apresentaram maior prevalência de indícios depressivos do que os mais novos.

    Estudo realizado por Loures et al. (2002), demonstrou que quanto mais elevada for à idade do idoso mais facilmente este poderá sofrer de depressão. Segundo ele os aspectos comportamentais e físicos tais como: percepção da idade (problemas de audição e visão, queda de cabelo, etc) e perda da autonomia funcional (mobilidade, cuidar da casa, limitações para atividades básicas, entre outras) as quais passam a fazer parte da vida do idoso, principalmente quando este se encontra em idades mais avançadas, colaboram para o aumento da depressão.

    Já para George (1999) com o avançar da idade os idosos sofrem com a proximidade da morte, a perda de um ente querido, de um amigo e a sensação do fim da vida passa a ser maior. A falta de objetivos, de planos, de atividades de lazer e desesperança, beneficia cada vez mais para que este desenvolva um estado depressivo.

    A depressão é uma das mais freqüentes desordens de saúde mental registradas com o avanço da idade (MAZZEO et al., 1998).

    Na tabela 3, se encontram os dados referentes aos níveis de atividade física e depressão. Os dados em questão foram associados de maneira, a saber, a correlação entre os dois grupos.

Depressão

Níveis de Atividade Física

p

Sedentário

Insuficientemente Ativo

Ativo

Muito Ativo

%

%

%

%

Sem Indícios

12,2

21,7

48,7

17,4

p=0,15

Com Indícios

27,5

20

40

12,5

Tabela 3. Níveis de atividade física e depressão.

    Quando associado os níveis de atividade física com indícios de depressão constatou não haver associação significativa entre as variáveis (p=0,15). Da apresentação de indícios depressivos 27,5% eram sedentários, 20% insuficientemente ativo, 40% ativo e 12,5% muito ativo. Por outro lado, 12,2% dos sem indícios de depressão eram sedentários, 21,7% insuficientemente ativo, 48,7% ativo e 17,4% muito ativo. Porém, 25,8% dos idosos apresentaram indícios depressivos. Conforme Mazo et al. (2005) estudo realizado em Florianópolis com idosos participantes dos programas de atividade física do Grupo de Estudos da Terceira Idade-GETI do CEFID/UDESC, constatou que apenas 9% da população pesquisada apresentava tendência a estado depressivo.

    Resultados de estudos feitos por Gobbi et al. (2003) com idosos praticantes de atividade física regular mostraram efeitos positivos do exercício físico com relação à depressão. Para Stoppe Junior e Louzã Neto (1999), os índices de depressão são menores em idosos que praticam atividade física regular, o que possibilita melhoria no aspecto emocional, aumento da auto-estima, humor, bem-estar, diminuição do estresse, da ansiedade e da tensão.

    Pesquisa realizada no Japão com indivíduos acima de 65 anos de idade praticantes de exercícios físicos diários demonstrou redução dos índices de depressão (NOVAIS, 2004). Vieira (2005), em um de seus estudos realizados com idosos acima de 60 anos, institucionalizados em uma clinica de psiquiatria, os quais participavam de um programa de atividade física, concluiu que o exercício físico, ajuda no tratamento de distúrbios depressivo independente do sexo e faixa etária.

    A depressão segundo Marchand (2003), é caracterizada por tristeza, pessimismo, desesperança e desespero. A pessoa depressiva segundo ele apresenta sintomas de fadiga, irritabilidade, retraimento e pensamentos de suicídio. As perdas afetivas, aposentadoria afastamento de atividades profissionais, sociais, familiares e dificuldades financeiras podem levar ao desencadeamento de um estado depressivo. Portanto, a probabilidade do idoso apresentar um quadro depressivo pode ser maior do que em um jovem.

    Assim, segundo o autor já mencionado a necessidade de uma vida ativa, a qual influencia no tratamento e prevenção não só da depressão, mas também de demais doenças, proporciona melhoria do bem estar geral de quem envelhece.

    Contudo, o percentual de idosos ativo apresentado no estudo foi de 62,6% o que se torna baixo.

    O tratamento do idoso que sofre de sedentarismo está exclusivamente baseado na prática de atividade física, a qual tem a capacidade de restituir a estes individuo o seu estado funcional prévio. O sedentarismo é uma doença que acomete o idoso, mas que pode ser prevenida ou tratada pela atividade física devidamente orientada (JACOB FILHO, 2006).

    A atividade física é uma das ferramentas que pode promover uma melhora da diminuição de dores articulares, da composição corporal, aumento de força, flexibilidade e densidade óssea, além do alivio da depressão e aumento da auto-estima (FRANCHI; MONTENEGRO JUNIOR, 2005).

    Desta forma nota-se a forte ligação entre depressão e atividade física, pois, são inegáveis os benefícios que a mesma propicia ao individuo depressivo, principalmente quando se trata do idoso. Portanto, a depressão é associada em muitos estudos à prática da atividade física perante o idoso.

    Ficou evidenciado neste estudo que não houve associação significativa entre as duas variáveis mencionadas, o que leva-nos a levantar a hipótese quanto a validade do questionário internacional de atividade física (IPAQ) e/ou os fatores influenciadores da depressão em população idosa.

    O Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), é um questionário criado na Suíça em 1998, pela Organização Mundial de Saúde, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e o Instituto Karolinska da Suécia para identificação do nível de atividade física em grupos etários a nível internacional (MARSHALL, 2001 apud RABACOW et al. 2006), o qual foi traduzido para o português por Matsudo et al. (2001).

    O IPAQ foi o questionário considerado mais adequado entre os demais pesquisados por Rabacow et al. (2006) para determinação dos níveis de atividade física. Pesquisa esta bibliográfica nos bancos de dados eletrônicos: Ovid Medline e no acervo bibliográfico pessoal nas publicações entre 1986 e 2006.

    Com relação à depressão, o instrumento utilizado a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) é próprio para população idosa. A qual segundo estudos (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999) de confiabilidade e validade do GDS-15 repercutindo em bons índices.

    Cabe salientar ainda, que a depressão não tem como único fator de influência a atividade física, mas, demais fatores como a idade, gênero, estado civil, classe social, condições sociais e grau de escolaridade (OLIVEIRA; GOMES; OLIVEIRA, 2006; FREITAS et al., 2006), sendo estes não estudados nesta pesquisa com exceção da idade e gênero.

Conclusão

    O idoso necessita cada vez mais de uma melhor atenção, e de políticas públicas que possam auxiliar na prevenção e tratamento de doenças que tanto afetam esta população, tais como depressão e sedentarismo.

    Desta forma, conclui-se que não houve uma associação significativa entre os níveis de atividade física e depressão nos idosos estudados.

    E também, não mostrou associação significativa entre depressão e gênero, assim como, gênero e níveis de atividade física.

    Entretanto, pode-se notar um grande número de idosos sedentários (31,6%) e com indícios de depressão (25,8%), principalmente naqueles com idades mais avançadas. Isso mostrou que a idade é um fator influenciador na vida do idoso tanto para indícios depressivos como nível de atividade física.

    A identificação do nível de atividade física em grupos etários em especifico na população idosa, tem servido como parâmetro importantíssimo na formulação de políticas públicas que favoreçam a mudança de um estilo de vida mais ativo, a fim de construir intervenções que minimizem e controlem os problemas relacionados com declínio funcional e orientação de práticas adequadas e coerentes para a população idosa.

    Portanto, destaca-se através deste estudo a necessidade de novas pesquisas que visem identificar instrumentos adequados e próprios que avaliem o nível de atividade física do idoso, retratando as devidas limitações e dificuldades dos mesmos, apresentando-se como um campo de pesquisa o qual ainda se tem muito a descobrir e melhorar.

    Sugere-se como campo para novas pesquisas a busca por instrumentos de avaliação da população idosa e, especificamente quanto à atividade física.

Referências bibliográficas

  • ALMEIDA, Osvaldo P; ALMEIDA,Shirley A. Confiabilidade da versão brasileira da escala de depressão em geriátrica (GDS) versão reduzida. Revista de Neuropsiquiatria, São Paulo, v.57, n.2B, jun. 1999.

  • BALTES, Paul B; SMITH, Jacqui. Novas fronteiras para o futuro do envelhecimento: da velhice bem sucedida do idoso jovem aos dilemas da quarta idade. A Terceira Idade, São Paulo, v.17, n.36, p.7-31, jun. 2006.

  • BRETON, S. Depressão: Esclarecendo suas Dúvidas. São Paulo: Agora, 2000.

  • FRANCHI, Kristiane Mesquita Barros; MONTENEGRO JUNIOR, Renan Magalhães. Atividade física: uma necessidade para a boa saúde na terceira idade. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, Fortaleza, v.18, n.3, p.152-156, jul/dez. 2005.

  • FREITAS, Elizabete Viana et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

  • GEORGE, L. K. Fatores sociais e econômicos relacionados aos transtornos psiquiátricos do idoso. In: BUSSE, E.W.; BLAZER, D.G.(Org.). Psiquiatria Geriátrica. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. p.141-165.

  • GREVET, Eugenio Horácio; KNIJNIK, Lais. Diagnóstico de depressão maior e distimia. Revista AMRIGS, Porto Alegre, v. 45, n.3, p.108-110, jul-dez. 2001.

  • GOBBI, Sebastião et al. Atividade física e saúde mental no idoso. In: Encontro paulista de Neuropsiquiatria & Saúde Mental do Idoso, 1, 2003, São Paulo. Resumos... São Paulo: Sociedade Paulista de Psiquiatria Clínica, 2003.

  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Perfil dos Idosos Responsáveis pelos Domicílios no Brasil 2000. Rio de janeiro, p.1-97, 2002.

  • JACOB FILHO, Wilson. Mesa Redonda: Atividade Física na Terceira Idade e Relações Integracionais. Revista Brasileira de Educação Física e Esportes. XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física dos Paises de Língua Portuguesa. São Paulo, v.20, n.5, p.73-77, set.2006.

  • LORDA, C. Raul; SANCHEZ, Carmem Delia. Recreação na 3ª Idade. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

  • LOURES, D. L. et al. Estresse Mental e Sistema Cardiovascular. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.78, n.5, p.525-530, maio 2002.

  • MARCHAND, Edison Alfredo de Araújo. A Influência da Atividade Física sobre a Saúde Mental de Idosos. Revista Virtual EF Artigos, Natal/RN, v.1, n.4, jun. 2003.

  • MATSUDO, S. et al. Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) : Estudo de Validade e Reprodutividade no Brasil. Revista Brasileira Atividade Física & Saúde, Londrina, v.6, n.2, p.5-18, 2001.

  • MATSUDO, S.M. et al. Nível de Atividade Física da População do Estado de São Paulo: Análise de acordo com o Gênero, idade, nível socioeconômico, distribuição geográfica e de conhecimento. Revista Brasileira Ciência e Movimento, Brasília, v.10, n.4, p.41-50, jun. 2002.

  • MAZZEO, Robert S. et al. Exercício e Atividade Física para Pessoas Idosas. Revista Brasileira Atividade Física & Saúde, Londrina, v. 3, n. 1, p. 48-78, 1998.

  • MAZO, Giovana Zarpellon; LOPES, Marize Amorim; BENEDETTI, Tânia Bertoldo. 2.ed. Atividade Física e o Idoso: Concepção Gerontológica. Porto Alegre: Sulina, 2004.

  • MAZO, Giovana Zarpellon et al. Tendência a Estados Depressivos em Idosos Praticantes de Atividade Física. Revista Brasileira Cineantropometria & Desempenho Humano, Florianópolis. n.7, v.1, p.45-49, 2005.

  • NOVAIS, R. G. A Importância da Hidroginástica na Promoção da Qualidade de Vida em Idosos. Notas de aulas [notas on line]. 2004. Disponível em: http://www.cdof.com.br/idosos4.htm, Acesso em: 15 set. 2007.

  • OLIVEIRA, Deise A.A.P.; GOMES, Lucy; OLIVEIRA, Rodrigo F. Prevalência de Depressão em Idosos que Freqüentam Centros de Convivência. Revista de Saúde Pública, São Paulo, n. 4, v.40, p. 734-736, agos.2006.

  • PEREIRA, Renata Junqueira et al. Perfil de Saúde de Idosas, Praticantes de Atividade Física, Cadastradas no Programa Municipal da Terceira Idade do Município de Viçosa – MG. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v.14, n.4. p.239-243, out/dez.2004

  • RABACOW, Fabiana Maluf et al. Questionários de Medidas de Atividade Física em Idosos. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, Florianópolis, v.8, n.4, p. 99-106, 2006.

  • SILVEIRA, Lucinéia Daleth da; DUARTE, Maria de Fátima da Silveira. Níveis de Depressão, Hábitos e Aderência a Programas de Atividades Físicas de Pessoas Diagnosticadas com Transtorno Depressivo. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, Florianópolis, v.6, n.2, p.36-44, 2004.

  • STOPPE JUNIOR, Alberto; LOUZÃ NETO, Mario Rodrigues. Depressão na Terceira Idade. São Paulo: Lemos, 1999.

  • VIEIRA, Zélia Maria. Avaliação de Estresse e Depressão em Idosos Participantes de um Programa de Exercício Físico. Revista Digital, Buenos Aires, v.10, n.90, dez.2005. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd91/estres.htm, Acesso em: 24 maio 2007.

  • ZIMERMAN, Guite I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados