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Aspectos morfológicos observados em atletas
profissionais do futsal masculino brasileiro

Morphologic aspects observed in professional male futsal brazilian athletes

 

*Universidade de Caxias do Sul (UCS)

Instituto de Medicina do Esporte (IME)

Laboratório do Movimento Humano (LMH).

**Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

***Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Laboratório de Pesquisa do Exercício (LAPEX).

(Brasil)

Rafael Abeche Generosi* **

Bruno Manfredini Baroni*

Ernesto Cesar Pinto Leal Junior*

Pablo Juan Greco**

Marcelo Cardoso***

rafaelgenerosi@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem como objetivo descrever o perfil morfológico de atletas profissionais do futsal masculino brasileiro, comparando as variáveis analisadas entre os atletas divididos conforme as distintas funções táticas exercidas em jogo (goleiros, fixos, alas e pivôs). Para tal, avaliou-se 93 atletas masculinos profissionais de futsal com faixa etária média de 24,54 (± 4,38) anos. Utilizou-se 7 instrumentos para mensurar as variáveis de estatura, massa corporal, somatório de 9 dobras cutâneas (subescapular, supra-ilíaca, abdominal, tríceps, bíceps, axilar média, tórax, coxa e perna) e somatotipo (endomorfia, mesomorfia e ectomorfia). A análise estatística dos dados deu-se no software SPSS for Windows, versão 13.0, mantendo-se o nível de significância em 5% (p<0,05). Dentre os resultados, os goleiros e pivôs foram os jogadores que apresentam maiores valores de estatura e massa corporal sendo que nos goleiros, também se enfatizou o elevado valor de somatório de 9 dobras cutâneas. No somatotipo, tanto os atletas agrupados na sua totalidade quanto divididos conforme as posições táticas de jogo classificaram-se como mesomorfos-endomorfos. O estudo forneceu subsídios para o planejamento do treinamento físico destes atletas, bem como base de dados para a seleção de atletas de elite do futsal.

          Unitermos: Futsal. Morfologia. Somatotipo.

 

Abstract

          The present study has as objective to describe the morphologic profile of professional male futsal Brazilian athletes, comparing the variables analyzed between the divided athletes as the distinct functions tactical in game (goalkeepers, fullbacks, wingers, pivots). The sample had 93 professional futsal athletes with average band of 24.54 (± 4.38) years. We used 7 instruments to measure the variables of stature, corporal mass, plus of 9 cutaneous folds (subscapular, suprailiac, abdominal, triceps, biceps, axillar, thorax, leg and calf) and somatotype (endomorph, mesomorph, ectomorph). The statistical analysis was in software SPSS for Windows, version 13.0; with 5% of significance level (p<0.05). Among results, the goalkeepers and pivots were the players with bigger values of statute and corporal mass being that in the goalkeepers, also raised the elevated values of plus of 9 cutaneous folds. In somatotype, the athletes grouped in its totality and divided as the game positions were classified as mesomorph-endomorph. The study obtained subsidies to the planning of the physical training of these athletes, as well data basis for selection of elite athletes of futsal.

          Keywords: Futsal. Morphology. Somatotype.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    A modalidade desportiva coletiva futsal, originariamente conhecida como futebol de salão, obteve uma grande ascensão no final da década de 90, sendo atualmente o esporte mais evidenciado dentro do ambiente escolar no Brasil, além de praticado por mais de 12 milhões de brasileiros.5 No mundo inteiro também é um esporte proeminente e com número de praticantes em grande escala onde países como Espanha, Portugal, Rússia, Bélgica, Holanda, Itália e todo Leste Europeu, possuem Ligas Nacionais muito competitivas.

    O Brasil, representado pela sua seleção nacional, possui um repertório vasto de conquistas nas competições de futsal sendo consagrado como Pentacampeão Mundial de Futsal e Tricampeão Pan-Americano de Futsal (FIFA - Fédération Internationale de Football Association).7

    O futsal por fazer parte das modalidades desportivas coletivas abrange elementos em comum com outros esportes como a bola, espaço de jogo, adversários, colegas de equipe, um objetivo ou alvo a ser atacado e regras específicas. É ainda uma modalidade que exige inteligência, movimentação e rapidez por parte dos atletas, além de ser caracterizado pela sua extrema velocidade e intensidade de disputa de bola. Relata-se na literatura que o jogador de futsal contemporâneo necessita ser muito versátil, saber atuar em todos os setores da quadra, desempenhando diferentes funções táticas (defender e atacar com a mesma qualidade e magnitude).12 Desta forma, com exceção dos goleiros, os atletas de linha (fixos, alas e pivôs) passam a não desempenhar uma única função específica no decorrer de uma partida.

    Assim como em todos os outros esportes os fatores morfológicos devem ser inerentes, próprios, específicos para cada indivíduo; sendo também um fator determinante para o processo de seleção do atleta de categoria de base e essencial para a performance do atleta de elite.14

    Dentre os métodos utilizados para descrever e especificar estas características morfológicas, evidencia-se a antropometria.11,8 As características antropométricas específicas em um atleta representam pré-requisitos importantes para a participação bem sucedida em qualquer modalidade;6 além de fornecer informações imprescindíveis para uma comissão técnica elaborar a periodização de treinamento, podendo assim trabalhar de forma específica e individualizada cada atleta.

    Usufruindo das técnicas antropométricas, Heath e Carter (1967)10 propuseram a estimativa do somatotipo do indivíduo, a qual é conhecida por toda a comunidade científica não somente da área das ciências do movimento humano, mas também, de outras áreas das ciências da saúde; sendo muito utilizada em estudos de tipologia física de atletas de elite e nos estudos da área do crescimento e desenvolvimento humano. Possivelmente pela sua aplicabilidade.3

    A classificação do somatotipo do indivíduo é distinguida por três componentes: o endomorfo (caracterizado pelo tronco volumoso e acúmulo de gordura corporal), o mesomorfo (tipo físico forte, com grande relevo muscular aparente e delineado) e o ectomorfo (linearidade aparente predominante); sendo que ambos sofrem alterações a partir de estímulos intrínsecos e extrínsecos.10,13

    Logo, referindo a relevância de estudar-se a morfologia dos atletas de elite e partindo do pressuposto da não evidencia na literatura científica de estudos que buscaram explorar componentes morfológicos, dentre eles o somatotipo, em atletas profissionais da elite do futsal do sexo masculino; torna-se inédito os objetivos do presente estudo: 

  1. descrever o perfil morfológico (estatura, massa corporal, somatório de 9 dobras cutâneas e somatotipo) de atletas profissionais do futsal masculino brasileiro; 

  2. realizar uma comparação das variáveis analisadas, entre os atletas divididos conforme as distintas funções táticas exercidas em jogo (goleiros, fixos, alas e pivôs).

Material e métodos

Amostra

    Este estudo de caráter exploratório, descritivo e comparativo, segundo proposições de Thomas, Nelson e Silverman (2007)17 foi realizado com uma amostra voluntária de 93 atletas profissionais do sexo masculino praticantes de futsal, com faixa etária média de 24,54 (± 4,38) anos, sendo a idade mínima evidenciada de 19 anos e a máxima de 36 anos. Os atletas são integrantes das equipes UCS Futsal (UCS), Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF), Ulbra Futsal (ULBRA), Associação Farroupilha de Futsal (AFF) e Associação Nova Prata de Futsal (ANPF).

    Todas as equipes treinam de forma sistematizada e orientada de cinco a seis vezes por semana em dois turnos do dia; sendo que nos dias de jogo não é realizado o treinamento e no dia pré-jogo e pós-jogo só se treina em um dos turnos do dia. Todas elas são integrantes do quadro da Federação Gaúcha de Futsal e com exceção da AFF e ANPF, as três demais equipes participam da Liga Nacional de Futsal (Brasil).

    Seguindo a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (no 196/96), todos os atletas assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a utilização dos resultados para fins de pesquisa científica. O projeto do presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Brasil.

Instrumentos e procedimentos

    Todas as avaliações realizadas com os atletas decorreram ao longo do primeiro semestre do ano de 2007. Para mensurar as variáveis antropométricas de estatura e massa corporal utilizaram-se as técnicas e padronizações propostas por Petroski (2003).15 Os instrumentos utilizados nestas avaliações foram um estadiômetro portátil Sanny com precisão de um milímetro e uma balança de marca WELMY com precisão de 100 gramas.

    Para analisar a adiposidade corporal avaliou-se o somatório de dobras cutâneas. Nas mensurações destas nove dobras cutâneas (subescapular, supra-ilíaca, abdominal, tríceps, bíceps, axilar média, tórax, coxa e perna) recorreram-se as técnicas e padronizações propostas por Guedes (1994).9 Os instrumentos utilizados foram um compasso de dobras cutâneas científico da marca CESCORF, com precisão em milímetros, e um lápis dermográfico para marcar os pontos de pinçagem das dobras.

    Na determinação do cálculo do somatotipo utilizaram-se os procedimentos descritos por Heath & Carter (1967),10 os quais classificam os componentes em endomorfia, mesomorfia e ectomorfia. Dentre os instrumentos utilizados para coletar as variáveis inerentes ao cálculo do somatotipo estão: fita métrica Cardiomed para medidas de circunferência de perna e braço e o paquímetro ósseo Sanny para medidas de diâmetros biepicondiliano do úmero e bicondiliano do fêmur. Algumas das dobras cutâneas mensuradas para o cálculo do somatório de nove dobras cutâneas também foram utilizadas para determinar o cálculo do somatotipo, sendo que seus procedimentos e instrumentos de mensuração são os mesmos descritos acima. Estas dobras cutâneas inerentes ao somatotipo são tríceps, subescapular, supra-ilíaca e perna.

    Para anotar estas mensurações elaborou-se uma ficha de anotações contendo itens como: nome, idade, posição tática exercida - goleiro, fixô, ala ou pivô - e as variáveis mensuradas.

Tratamento estatístico

    Na analise e exploração dos dados utilizou-se a técnica de Box Plot, na qual se excluí os escores outliers severos. Para a descrição dos dados, tanto com os atletas agrupados na sua totalidade quanto divididos conforme as distintas funções táticas de jogo (goleiros, fixos, alas e pivôs), recorreu-se a estatística descritiva usual (média e desvio padrão); além da evidência dos valores mínimos e máximos (apenas para a totalidade da amostra).

    Para a comparação dos atletas entre as posições de jogo foi utilizado a Análise de Variância Univariada (ANOVA), seguida do teste post hoc de Tukey, para localizar as possíveis diferenças estatísticas. Foi mantido o nível de significância em 5% (p<0,05) para todas as variáveis analisadas. Todos os dados foram tratados no pacote estatístico SPSS for Windows, versão 13.0.

Resultados

    Diante dos objetivos propostos para o presente estudo os resultados são apresentados e estruturados em dois momentos distintos. Na tabela 1, retratam-se as variáveis de morfologia (estatura, massa corporal, somatório de 9 dobras cutâneas e os componentes do somatotipo - endomorfia, mesomorfia e ectomorfia) para os atletas profissionais de futsal masculino agrupados na totalidade da amostra (93 atletas). Ressalva-se que nas variáveis retratadas na tabela 1 não houve comparação estatística dos dados; existindo apenas a exploração e descrição dos mesmos conforme já referenciado na metodologia. Ainda, destaca-se que não houveram escores outliers extraídos da totalidade da amostra.

Tabela 1. Morfologia dos atletas profissionais de futsal masculino agrupados na sua totalidade (93 atletas).

Variáveis

Média (Desvio Padrão)

Mínimo

Máximo

Estatura (EST)

176,04 cm (± 5,75)

162,6 cm

193,2 cm

Massa Corporal (MC)

74,74 Kg (± 4,96)

57,05 Kg

91,00 Kg

9 Dobras Cutâneas (S9Dobras)

71,84 mm (± 13,05)

34,82 mm

132,37mm

Endomorfia (ENDO)

2,92 (± 0,97)

1,76

5,69

Mesomorfia (MESO)

5,72 (± 1,10)

2,64

7,32

Ectomorfia (ECTO)

1,93 (± 0,84)

1,02

3,12

    Na tabela 2, retratam-se as mesmas variáveis morfológicas apresentadas na tabela 1, no entanto, com os atletas divididos conforme as suas respectivas funções táticas exercidas em jogo, ou seja, goleiros, fixos, alas e pivôs. Nesta tabela 2 as variáveis retratadas foram comparadas, sendo que as diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) evidenciadas estão enfatizadas por meio de símbolos (*e/ou**).

Tabela 2. Morfologia dos atletas profissionais de futsal masculino segregados pelas posições de jogo (goleiros, fixos, alas e pivôs).

Variáveis

Goleiros (13)

Fixos (21)

Alas (35)

Pivôs (24)

Estatura (EST)

177,93 cm

(± 4,68)

177,11 cm

(± 4,46)

173,98 cm

(± 3,98)

179,08 cm

(± 4,84)

Massa Corporal (MC)

79,93 Kg

(± 4,13)*

75,14 Kg

(± 5,23)

70,88 Kg

(± 3,10)*/**

80,98 Kg

(± 4,02)**

S9Dobras

85,85 mm

(± 11,12)*

72,69 mm

(± 12,38)

65,73 mm

(± 9,68)*

74,55 mm

(± 13,65)

Endomorfia (ENDO)

3,42 ± 1,02*

2,98 ± 0,65

2,54 ± 0,75*

2,78 ± 0,53

Mesomorfia (MESO)

5,77 ± 1,36

5,41 ± 0,99

5,49 ± 0,98

5,87 ± 0,84

Ectomorfia (ECTO)

1,64 ± 0,64

2,11 ± 0,52

2,01 ± 0,77

1,79 ± 0,91

* Diferença estatística significante entre goleiros e alas (p<0,05).

** Diferença estatística significante entre pivôs e alas (p<0,05).

Discussão

    Diante a apresentação dos resultados pode-se perceber que os objetivos propostos no presente estudo foram atingidos. Através das avaliações realizadas se obtém de forma original os valores retratados nas variáveis de estatura, massa corporal, somatório de 9 dobras cutâneas e somatotipo, para a população de atletas profissionais de futsal masculino. Mesmo com a não evidencia na literatura específica, de estudos que tivessem objetivos similares ao nosso, permitindo comparações mais conclusivas com os dados aqui descritos, ressalva-se a implicação de que os resultados são satisfatórios, para os atletas analisados em destaque, corroborado pelo fato do alto nível de performance de todas as equipes avaliadas.

    Em relação a variável estatura, se percebe ao analisarem-se ambas as tabelas 1 e 2 que os pivôs possuem o maior valor médio com 179,08 cm (± 4,84), seguido pelos goleiros (177,93 cm ± 4,68), fixos (177,11 cm ± 4,46) e alas (173,98 cm ± 3,98), sendo que não houve nenhuma diferença estatisticamente significante (p>0,05) entre as posições. Destaca-se também que os pivôs, goleiros e fixos obtiveram valores médios maiores que o valor médio da estatura da totalidade do grupo (176,04 cm ± 5,75), e os alas obtiveram valores médios menores.

    Na massa corporal novamente foram os pivôs que apresentaram o maior valor médio entre as 4 posições de jogo com 80,98 Kg (± 4,84), seguidos igualmente pelos goleiros com 79,93 Kg (± 4,13), fixos (75,14 Kg ± 5,23) e alas (70,88 Kg ± 3,13 cm). Nesta variável o valor médio apresentado pelos pivôs é estatisticamente significante (p<0,05) em relação ao valor médio apresentado pelos alas, bem como o valor médio dos goleiros para com o dos alas. Para a massa corporal, assim como na estatura, os pivôs, goleiros e fixos obtiveram valores médios maiores que o valor médio da massa corporal da totalidade dos atletas (74,74 Kg ± 4,96) e os alas obtiveram valores médios menores, como pode-se analisar nas tabelas 1 e 2.

    Inicialmente com estes resultados, já se percebe que há uma tendência de os pivôs, goleiros e fixos apresentarem uma similaridade entre si em relação aos valores de estatura, já os alas são aparentemente mais baixos em estatura. Ao analisarmos a variável de massa corporal, os pivôs e goleiros permanecem com valores médios similares, e agora superiores aos valores médios dos fixos e alas, que não possuem similaridade entre si. Contudo, observando os valores da variável somatório de 9 dobras cutâneas, torna-se já sugestivo a proveniência de uma maior adiposidade corporal por parte dos goleiros em relação aos pivôs, bem como em relação aos fixos e alas.

    Portanto, ao retratar-se a variável somatório de 9 dobras, percebe-se que os goleiros apresentaram como já referido, o maior valor médio com 85,85 mm (± 11,12), seguidos pelos pivôs com 75,55 mm (± 13,65), fixos (72,69 mm ± 12,38) e alas (65,73 mm ± 9,68); sendo que o valor médio dos goleiros apresentou significância estatística (p<0,05) em relação ao valor médios dos alas. Ainda, goleiros, pivôs e fixos obtiveram valores médios maiores que o valor médio da soma das 9 dobras cutâneas da totalidade da amostra (71,84 mm ± 13,03), e os alas obtiveram valores médios inferiores.

    A massa de gordura corporal dos atletas do presente estudo não foi evidenciada em forma de valores percentuais porque seria coeso utilizar uma fórmula a qual pudesse ser calculado tal valor de forma específica para atletas de futsal. Como na literatura não é proposto nenhuma fórmula específica para a população caracterizada, acabou sendo opção da autoria do presente estudo em aplicar o cálculo do somatório de 9 dobras cutâneas do sujeito. Desta forma, permiti-se também analisar e sugerir que os goleiros, ao apresentarem elevado valor de massa corporal total e elevado valor de somatório de 9 dobras cutâneas, tendem a possuir também um maior percentual de adiposidade corporal. Diferentemente dos pivôs, que mesmo tendo apresentando elevado valor de massa corporal total, apresentaram um valor do somatório de dobras cutâneas inferior e muito próximo ao valor estabelecido para os fixos e alas, portanto, tendem a apresentar uma menor quantidade de percentual de adiposidade corporal.

    Uma possível explicação para um maior valor de somatório de dobras cutâneas encontrado nos goleiros pode estar no fato de que embora as alterações nas regras de jogo da modalidade aqui retratada, futsal, permitam que os mesmos possam auxiliar os outros atletas fora dos domínios da área do gol, a intensidade e o número de ações motoras são visivelmente menores comparados às outras funções táticas. Dessa forma, a menor demanda metabólica durante as partidas, e, possivelmente na maior parte dos treinamentos, pode ter contribuído para que os goleiros demonstrassem valores superiores em relação à adiposidade,16 representada no presente estudo pelo somatório de 9 dobras cutâneas. Pode-se referir ainda que em atividades onde a massa corporal deva ser movida no espaço, a velocidade, o endurance, o equilíbrio e a capacidade de salto são afetados negativamente pelo excesso de adiposidade corporal em um atleta.11

    As análises dos componentes corporais e antropométricos dos atletas são de fundamental importância. Logo, o conhecimento dos somatotipos ideais, incorporado com outras variáveis morfológicas passíveis de serem estudadas, além de contribuir para a seleção esportiva dos atletas, permite uma análise minuciosa individual possibilitando a prescrição específica do treinamento, o qual leva em consideração o perfil morfológico do atleta e as necessidades da modalidade.6,2

    Desta forma, ao analisar-se o somatotipo dos atletas profissionais de futsal masculino agrupados na sua totalidade (tabela 1), evidencia-se com predominância o componente de mesomorfia (5,71 ± 1,10) sobre o de endomorfia (2,92 ± 0,97) e de ectomorfia (1,93 ± 0,84), classificando os atletas em mesomorfos-endomorfos, conforme as classificações descritas por Heath e Carter (1967).10 Analisando-se os atletas divididos pelas distintas funções táticas de jogo (tabela 2) percebe-se que para todas as posições de jogo (goleiros, fixos, alas e pivôs), houve as mesmas sobreposições retratadas na tabela 1 quanto aos valores médios dos 3 componentes do somatotipo, ou seja, a mesomorfia sobrepôs a endomorfia que sobrepôs a ectomorfia; classificando-se todas quatro distintas posições de jogo da mesma maneira que a totalidade dos atletas (mesomorfos-endomorfos), sendo que apenas entre goleiros e alas, para os valores médios do componente de endomorfia, houve diferença estatisticamente significante (p<0,05).

    Mesmo com o elevado valor de somatório de 9 dobras cutâneas apresentado para os goleiros em relação às outras três posições de jogo não era esperado pelos autores do presente estudo que o componente de endomorfia fosse superar o componente de mesomorfia, visto que apesar do possível percentual de adiposidade corporal apresentar-se mais elevado que nas demais posições, o relevo muscular também é aparente e altivo, condicionando a superioridade do componente de mesomorfia sobre os demais.

    Retratando especificamente o futsal, os esforços solicitados são predominantemente das capacidades de velocidade, agilidade e potência muscular, presentes nas ações de deslocamentos laterais, frontais e para trás, arranques e paradas bruscas, saltos e chutes. Desta forma, o futsal se caracteriza pela realização de esforços intensos de curta duração. Neste sentido, evidencia-se na literatura que a dominância do componente de mesomorfia auxilia em ganhos no desempenho físico desde o atleta que está iniciando uma prática sistematizada e orientada de exercício físico ou esporte até o atleta de alto rendimento.1 O próprio autor Carter (1988),4 refere estudos de somatotipos realizados em atletas de alto nível mostrando a predominância da mesomorfia relativamente à endomorfia.

    De um modo geral, o perfil morfológico do atleta profissional masculino de futsal, além de não ter sido ainda descrito na literatura, pode não ser caracterizado como exclusivo através do presente estudo tendo em vista que limitações podem ser inferidas perante os leitores do mesmo. O que nos permite abrir esta ressalva é que apesar de ter sido identificado alguns componentes morfológicos até então através dos valores médios nas variáveis, os valores mínimos e máximos (tabela 1) nos condicionam a afirmar que a modalidade permite a participação de atletas de diferentes perfis morfológicos. Percebe-se (tabela 1), em todas as variáveis retratadas, que os valores mínimos e máximos apresentaram elevada discrepância condicionando nossa sugestão de que o futsal é uma modalidade desportiva que permite atletas de diversos biótipos físicos atingirem a elite.

    Analisando a prática desportiva da modalidade, corrobora-se a sugestão mencionada acima visto que com as constantes mudanças de regras de jogo, houve grandes modificações táticas também. Os treinadores das equipes passaram a criar distintos padrões táticos de jogo permitindo que atletas com diferenças características morfológicas possam praticar o futsal, ou seja, atletas com estatura e peso mais elevados bem como mais baixos e até mesmo com valores de somatório de 9 dobras cutâneas relativamente elevados.

    Os técnicos têm utilizado tanto jogadores com perfil morfológico mais leve (estatura mediana ou baixa com baixo valor de massa corporal) os quais possibilitam as equipes constantes trocas de passes e movimentações de jogo, quanto de jogadores mais pesados (estatura mediana ou mais elevada e com massa corporal mais elevada), como por exemplo, os pivôs que foram avaliados no presente estudo; modificando a característica da equipe e executando as jogadas onde tal jogador “gire” em cima de seus adversários realizando a conclusão a gol de forma individual ou até mesmo sirva de “parede” (escore a bola), como se fala na gíria do futsal, para que outros companheiros da equipe definam o lance.

    Ainda, o número ilimitado de substituições por equipe permite que um jogador com condicionamento cardiorrespiratório considerado insuficiente para a prática de excelência participe do jogo, muitas vezes entrando em quadra apenas para cobrar um pênalti ou um tiro livre direto ao gol. Após o término da jogada, ele pode ser substituído por um companheiro de equipe o qual irá manter a dinâmica de jogo.

    É válido ressalvar que investigações mais profundas a cerca do perfil morfológico devem ser realizadas, agregando se possível os fatores técnicos, táticos, sociais e culturais, em diferentes contextos; além de um maior número de atletas componentes da amostra, incluindo novos componentes morfológicos e variáveis a serem analisadas. Atletas de outras regiões do país e do mundo também devem ser avaliados permitindo conclusões mais precisas, visto que muitas vezes o próprio processo de seleção de um treinador ou a preferência da diretoria do clube por determinado biótipo de atleta é que condiciona o mesmo à contratação.

    As características morfológicas dos atletas profissionais de futsal masculino não podem ser determinadas de forma minuciosa e imperativa, bem como os perfis de cada posição de jogo, tendo em vista que foi um estudo incipiente, mas com objetivos bem definidos. No entanto, os resultados e discussões puderam contribuir para elevar o conhecimento da caracterização do perfil morfológico dos atletas profissionais de futsal masculino (totalidade dos atletas), bem como divididos pelas posições de jogo (goleiros, fixos, alas e pivôs); fornecendo subsídios para o planejamento do treinamento físico destes atletas e para a seleção de atletas de elite da modalidade em questão; tendo em vista que os goleiros e pivôs foram os jogadores com maiores valores de estatura e massa corporal, sendo que nos goleiros, este elevado valor de massa corporal está atrelado também ao elevado valor de somatório de 9 dobras cutâneas evidenciado, ao passo que os pivôs não procederam da mesma forma. Para os fixos, apesar de também terem apresentado valores elevados de estatura e muito similares aos valores dos goleiros e pivôs, possuem uma massa corporal relativamente menor, no entanto, comparados aos alas, superior. Estes (alas) possuem os menores valores de estatura e massa corporal. Em relação ao somatotipo, tanto os atletas agrupados na sua totalidade quanto divididos conforme as posições de jogo foram classificados em mesomorfos-endomorfos, visto que o componente de mesomorfia superou o componente de endomorfia, que superou o de ectomorfia.

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