Teste de Wingate: uma revisão na literatura | |||
Graduado em Educação Física pela ESEF-UPE Pós-Graduando em Fisiologia do exercício pela UGF Recife-PE |
Antônio Carlos Pereira Arruda (Brasil) |
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Resumo
A avaliação de capacidades físicas constitui um importante instrumento
no direcionamento do treinamento físico, a potência anaeróbica
representa uma importante variável dentro das diferentes modalidades
esportivas. O desenvolvimento de instrumentos de mensuração voltados
às capacidades fisiológicas do indivíduo representa uma importante
função dentro da ciência do esporte. Objetivando analisar de forma
prática a potência anaeróbica foi desenvolvido o Teste Anaeróbico de
Wingate. O objetivo desta revisão foi verificar os diferentes aspectos
fisiológicos e metodológicos que norteiam o Teste de Wingate. Através
de uma revisão de literatura onde foram utilizados os indexadores Bireme
e da Scielo. Após análise conclui-se a relevância do Teste de Wingate
na elaboração de pesquisas e em teste de vias metabólicas anaeróbicas
em atletas ou destreinados, com alto grau de correlação com testes
abalizados pela comunidade científica, reprodutibilidade e
fidedignidade.
Unitermos: Teste de Wingate. Vias
anaeróbicas. Avaliação física.
Abstract
The evaluation of physical capabilities has been an important instrument
in training guidance, where the anaerobic power output represents an
major variant on sports practice. The development of mensurations
instruments based on physiological capabilities of a subject represent an
important funtion on sports science. Seeking to analyze on practical
fashion the anaerobic power output the Anaerobic Wingate Test has been
created. The goals of this literature review was to verify the different
aspects physiological and methodological as well wich guides the Wingate
Test. Throughout an extense literature review where Bireme and Scielo
indexers had been utilized. After analysis had been conclued the
relevance of Wingate Test on research elaborations and tests wich
anaerobic metabolism in athetes or untrained subjects, with high level of
correlation in comparison to eminent tests by scientific community,
reproductivity and reliability.
Keywords: Wingate Test. Anaerobic
pathways. Physical evaluation. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 |
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1. Introdução
A ciência do esporte procura desenvolver instrumentos e métodos para mensurar as capacidades orgânicas do indivíduo sejam elas de caráter fisiológico, cognitivo ou mesmo técnico e tático. Apesar disso, sempre existiu uma ausência de testes de natureza anaeróbica, desta forma, o Teste de Wingate (TW) foi desenvolvido para suprir esta lacuna; já que o maior foco era direcionado nas pesquisas que contemplassem o desenvolvimento de testes para mensurar a potência aeróbica máxima, ignorando assim esta outra capacidade fisiológica (INBAR et al., 1996).
Estes autores afirmam ainda que, o TW é colocado como o teste mais estudado dentro da comunidade científica, e de acordo com Laurent Jr. et al. (2007) vem sendo o mais utilizado protocolo para avaliar a capacidade anaeróbica em artigos e investigações. Este teste permite mensurar a potência muscular, prover informações da potência de pico, resistência e fadiga muscular, além de ser de simples aplicação, de baixo custo, seguro (não-invasivo), mostrar-se de fácil realização tanto para membros inferiores como para membros superiores, possuir um caráter objetivo e um alto grau de validade e reprodutibilidade (INBAR et al., 1996). Em virtude destes fatos, o TW mostra uma grande aceitação pela comunidade científica.
Normalmente classificam-se os testes anaeróbicos quanto à duração em muito curtos, onde estes procedem de 1-10 segundos a exemplo do teste de subida rápida de escada (e.g. Margaria et al., 1966), e testes curtos onde a duração vai de 20-60 segundos (e.g. Katch et al., 1973). O TW consegue contemplar estes dois segmentos, pois nele avaliar-se-á em mais de um momento durante o transcorrer do teste.
Portanto, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de literatura acerca do Teste Anaeróbico de Wingate, assim como, caracterizar suas principais vias metabólicas e respostas fisiológicas no organismo, através de investigações sobre a performance do indivíduo em relação aos diferentes aspectos fisiológico, nutricional e biológico.
2. Metodologia
Foi realizada uma busca nos Indexadores eletrônicos da Bireme e da Scielo baseada na palavra-chave Teste de Wingate, onde os trabalhos selecionados dataram inicialmente a partir do ano de 1996. O (s) seguinte critério de inclusão foram adotados: artigos que investigaram o TW ou alguma modificação em seu protocolo original. Foram escolhidos os trabalhos mais recentes, na tentativa de elucidar novos pontos desde a última grande revisão realizada por Inbar et al. (1996).
3. Revisão de literatura
O teste anaeróbico de Wingate foi desenvolvido em meados dos anos 70 por cientistas do Departamento de Pesquisa e Medicina do Esporte do Instituto Wingate com sede em Israel, sendo primeiramente escolhido para avaliar a performance anaeróbica do indivíduo (BENEKE et al. 2002). O Teste apresenta diferentes aspectos no que concerne a sua aplicação, dentre estes abordaremos: o aspecto fisiológico, e as diferentes variáveis intervenientes ao mesmo.
3.1. Aspectos fisiológicos
A escolha de duração 30 segundos, segundo Dotan (2006), foi em virtude de este intervalo ser longo o suficiente para não apenas descrever a potência glicolítica, mas também representar de forma fidedigna a resistência glicolítica/anaeróbica do organismo testado. MedbØ et al. (1998) demonstraram que seriam necessários de 2 a 3 minutos com cargas máximas para chegar ao déficit máximo de oxigênio (MAOD), com fadiga concomitante. Em contrapartida, Dotan (2006) afirma ainda que, esta duração do teste é considerada suficientemente curta para manter o sujeito motivado durante a sua aplicação.
Apesar de este teste objetivar a avaliação da potência glicolítica e resistência glicolítica/anaeróbica (DOTAN, 2006), pois estariam sendo utilizados os substratos e vias metabólicas de curtíssimo prazo conhecido como sistema alático, que segundo Mcardle et al. (2003) proveria energia para cerca de 6 a 10 segundos de atividade máxima através da quebra de ATP (através da enzima ATPase) e respectiva ressíntese através da creatina-fostato (CP), reação esta, realizada catalisada pela enzima Creatina Kinase (CK), onde Maughan et al. (2000) a classificam como um marcador de parâmetros bioquímicos (para, por exemplo, diagnosticar se o atleta encontra-se em estado de Overtraining). Outra via metabólica avaliada seria a glicolítica, que seria responsável pela geração de energia através da quebra de glicose de forma anaeróbica através do glicogênio, sobretudo, muscular onde este responderia por aproximadamente 3 a 5 minutos de atividade máxima (McARDLE et al. 2003). Em contrapartida Spriet (1995) afirma que 80% da energia numa atividade máxima provem da via anaeróbica e 20% da via aeróbica, onde o referido autor coloca que além da divisão aeróbica/anaeróbica, existiria uma divisão lática/alática para os segundos iniciais do teste. Estudos como o Balsom et al. (1994a e b) e Jansson et al. (1990) reforçam a idéia do autor anterior por demonstrar que a capacidade de ressíntese da creatina fosfato (CP) parece estar associada à disponibilidade de oxigênio.
Desta forma o estudo de Franchini et al. (1999), cujo objetivo é tentar traçar um relacionamento entre a aptidão aeróbica e o desempenho no TW, corrobora para esta hipótese constatando que os indivíduos com maior aptidão aeróbica detém um melhor desempenho no TW comparados a sujeitos com menor aptidão aeróbica e mesma potência e capacidade anaeróbica. Porém Ogura et al. (2006), em um TW de 40 segundos, demonstraram que uma hipoxia de 12,7% exige uma contribuição maior do metabolismo anaeróbico na última fase do teste (20-40 segundos) comparados a normoxia. E uma hipoxia de 16,4% não produz resultados significativos entres as diferentes vias metabólicas.
Oriundo destes acontecimentos fisiológicos na busca da produção e manutenção de energia, o organismo modifica todo seu funcionamento, gerando assim, efeitos agudos imediatos e tardios. Os efeitos agudos imediatos são aqueles que acontecem no período pré, per e pós-imediato, até cerca de alguns minutos após a atividade. E os tardios são aqueles que persistem por algumas horas após a realização da mesma, cerca de até 24 ou 48 horas, podendo chegar em alguns casos até 72 horas (ARAÚJO, C. G. S., 2001).
Dentre os efeitos agudos imediatos decorrentes do TW podemos destacar o aumento das concentrações intramusculares e plasmáticas de lactato, da freqüência cardíaca e débito cardíaco, além de efeitos similares a outras atividades físicas de alta intensidade.
De acordo com o Mcardle et al. (2003) o TW é uma modificação subseqüente relativa ao teste de Katch (1973). Neste teste o atleta tentaria pedalar o mais rápido e explosivamente na intenção de realizar o maior número de revoluções possíveis dentro de 40 segundos, contra uma resistência imposta por uma frenagem mecânica, onde era designada uma carga fixa de 6 kg para homens e 5 kg para mulheres.
Na evolução do teste de Katch, o TW caracteriza-se por um teste mais curto, com uma contra resistência imposta, também, através de uma frenagem, porém com diferenças em relação aos valores antigos, sendo agora também corrigidos pela massa corporal do testado: 0,08 kg por quilogramas de massa corporal para homens, e 0,06 kg por quilogramas de massa corporal para mulheres. Atualmente os valores dessas cargas podem variar para mais no caso do indivíduo ser atleta, podendo chegar até 0,12 kg por quilograma de massa corporal (McArdle et al. 2003). Em adendo, Bar-Or (1987), estabeleceu uma conduta para adultos não atletas de 0,09 kg por quilograma de massa corporal e 0,10 kg por quilograma de massa corporal para atletas treinados. Esta determinação da carga é de crucial importância, haja vista que a carga selecionada será refletida nos resultados encontrados (MACINTOSH et al. 2003).
3.2. Protocolo
Este teste apresenta um protocolo onde se podem avaliar o pico de potência, a potência média e o índice de fadiga dos membros superiores ou inferiores através de um ciclo ergômetro manual ou pedal. Na maneira mais simples o teste pode ser realizado apenas com este ergômetro e um cronômetro, apesar da existência atual de programas desenvolvidos especificamente para este teste, onde as revoluções do pedal são contadas de forma eletrônica (INBAR et al. 1996). Estes ergômetros são compostos por uma bicicleta (ou manivela) munida de um freio mecânico (também podendo ser um freio eletro-magnético) onde este oferecerá uma resistência à roda do equipamento durante o transcorrer do teste.
3.2.1. Da realização do Teste
O TW terá início com um aquecimento, onde nos primórdios tinham duração de 5 a 10 minutos de trabalho intermitente com 30 segundos de velocidade e 30 segundos para a calma (INBAR et al., 1996), atualmente adota-se um período menor que possui duração de 5 minutos a 50 Watts com dois pequenos sprints de 3 segundos no final do terceiro e do quinto minuto (BENEKE et al., 2002). Segundo Inbar et al. (1996) este aquecimento feito no próprio ergômetro promove adaptações fisiológicas e motoras mais específicas. Em seguida, será iniciado o teste com o comando de Start, onde será solta a resistência após o terceiro segundo depois do anúncio do comando para desta forma evitar desacelerações indesejadas devido ao efeito negativo da inércia (REISER II et al. 2000). Apesar de MacIntosh et al. (2003) evidenciarem que partidas estacionárias seriam mais apropriadas para melhores resultados, continua-se adotando o modelo original e defendido pela maioria dos estudos, que seria a partida em velocidade (INBAR et al. 1996; REISER II et al. 2000; McARDLE et al. 2003; ROBERGS e ROBERTS, 2002). Neste momento o sujeito tentará manter o número de revoluções o mais rápido possível na tentativa de completar o maior número de revoluções dentro do tempo estipulado, Inbar et al. (1996) reforça a necessidade do encorajamento verbal por parte do avaliador, e afirma ainda que não deverá ser tentada de maneira alguma a conservação de energia no início do teste para que não descaracterize o mesmo. Ao término dos 30 segundos o avaliado deverá prosseguir pedalando cerca de dois a três minutos, numa volta à calma, com uma carga muito leve a fim de evitar tontura e síncope decorrentes da realização do teste.
3.2.2. Metodologia para o cálculo da Potência Máxima
De acordo com Inbar et al. (1996), os diferentes valores encontrados durante a realização revelam respectivamente: a potência máxima, que será a maior potência mecânica produzida nos primeiros 5 segundos de teste; a potência média que é definida como a média da potência produzida ao longo dos 6 segmentos de 5 segundos, e o índice de fadiga, que se dará através da quantidade de declínio de potência ao longo do teste, expresso em valores percentuais em relação ao pico de potência (potência máxima).
De acordo com Mcardle et al. (2003), a potência máxima (pico de potência) reflete a capacidade do sistema ATP-CP (via alática), sendo expressa em Watts (W), onde 1 W equivale a 6,12 kg-m/min e é calculada através da Força X Distância (número de revoluções X distância por revolução) ÷ Tempo em minutos. O índice de fadiga é, de acordo com Dotan (2006), a queda percentual em potência produzida no pico de potência até a potência mínima, produzida nos últimos 5 segundos. Mcardle et al. (2003) denominam este parâmetro como fadiga anaeróbica, e o definem como o declínio percentual no rendimento da potência máxima durante o teste. Para estes autores este parâmetro representa a capacidade total de sintetizar ATP, pelos sistemas fosfagênico e lático, sendo calculado através da potência máxima (PM) – potência mínima (potência mínima em 5 segundos) ÷ PM mais alta X 100. Beneke et al. (2002) descrevem a potência média como a média sustentada no decorrer dos 30 segundos do teste. Para Mcardle et al. (2003), este parâmetro é chamado de capacidade anaeróbica (CA), onde este reflete o trabalho total realizado dentro do tempo de duração do protocolo. Este dado é calculado via Força X Distância total em 30 segundos.
Estes autores ainda colocam outro ponto decorrente do teste, o qual seria o rendimento de potência máxima relativa (PM), estando este relacionado com a massa corporal do sujeito, isto é, PM ÷ massa corporal.
4. Aspectos intervenientes no Teste
4.1. Sono
Normalmente os testes metabólicos obedecem a instruções previamente estabelecidas para o indivíduo testado, a fim de evitar erros metodológicos, no tocante à alimentação, descanso prévio e orientação sobre o teste em si. Souissi et al. (2003), investigaram a interferência da privação de uma noite sono sobre o desempenho do TW no dia subseqüente, e verificaram que a privação de 24 horas de sono não interferiu no desempenho do indivíduo, seja na questão potência máxima, média, ou mesmo nas concentrações sanguíneas de lactato, contudo, a privação de 36 horas de sono afetaram negativamente a potência máxima e média, mas permaneceu inalterado as concentrações de lactato, talvez, de acordo com Bedu et al. (1991) devido ao período muito curto de duração do teste, não induzindo a utilização de glicogenólise anaeróbica. Em experimentos semelhantes Hill e Smith (1991) e Melhim (1993) obtiveram valores mais altos à tarde do que pela manhã, provavelmente devido ao ritmo circadiano. Já Reilly e Down (1986) não encontraram diferenças significativas para o teste realizado em diferentes horários.
4.2. Alimentação
No que se refere à alimentação prévia, Langfort et al. (1997) conduziram um estudo que verificou que uma ingestão de pouco carboidrato diminui a capacidade de trabalho anaeróbico, provavelmente em virtude da baixa disponibilidade de glicogênio muscular, aumentando a atividade simpática no descanso e no pós-exercício. Outra investigação com metodologia restritiva a questão da hidratação mostrou que uma baixa ingesta líquida, acompanhada ou não de uma exposição ao calor prejudica o desempenho no TW (CHEUVRONT et al., 2006). Bell et al. (2001) mostraram que uma suplementação prévia de efedrina e de efedrina mais cafeína surtiram efeitos ergogênicos na potência durante os 15 primeiros segundos do teste, sendo explicado pelos autores através da atuação destas substâncias no sistema nervoso central. Outras suplementações também vêm sendo exploradas, como a suplementação da creatina monoidratada, onde Altimari et al. (2006), evidenciaram através de metodologia duplo cego e um controle de variáveis intervenientes, tais como, treinamento do sujeito e hábitos alimentares, que a suplementação oral de creatina monoidratada por um período de 8 semanas melhorou significativamente o resultado no teste. Jordan et al. (2004) investigaram a suplementação de ATP oral e seu potencial ergogênico no desempenho do TW. Nesta investigação, assim como no estudo anterior, foram controladas as variáveis treinamento e alimentação, e os autores puderam relatar que o uso de ATP oral não induziu efeitos benéficos no desempenho do teste para qualquer parâmetro do mesmo, ou nas concentrações plasmáticas de lactato pós-teste.
4.3. Motivação, maturação sexual e sexo
Outro fator que pode influenciar no resultado do teste é a motivação. Como já mencionado, a duração do teste é curta o suficiente para manter o indivíduo devidamente motivado no seu decorrer, contudo, Geron e Inbar (apud Inbar et al. 1996), analisaram o efeito da motivação sobre o desempenho no TW de indivíduos adultos não atletas, nas seguintes situações: presença de audiência; competição individual; competição em grupo; punição; recompensa; associação em grupo; responsabilidade social. Observou-se que estímulos motivacionais baseados em informações cognitivas tiveram pouco ou nenhum efeito sobre o desempenho, ao contrário da motivação baseada em fatores emocionais (punição e recompensa), onde estes estímulos influenciaram, sobretudo a potência de pico.
Pode-se destacar um outro ponto influente na performance do teste, que seria a maturação sexual. Armstrong et al. (1997) afirmam que o desenvolvimento da potência anaeróbica é durante a fase da adolescência e, portanto, os jovens detêm uma menor potência de pico e média (ARMSTRONG et al. 1997; INBAR e BAR-OR, 1986; KELLER et al. 2000). Keller et al. (2000) explicam este déficit como uma possível diminuição das concentrações de fosfocreatina, menor massa muscular, menor concentração de fibras tipo II ou mesmo, um controle motor reduzido em relação aos adultos.
As diferenças entre gêneros também são fatores limitantes na performance, onde Inbar et al. (1996) delimita três fatores para um pior rendimento no teste na relação entre homens e mulheres, os quais nas mulheres seriam a sua relativa ineficiência esquelética para certas demandas físicas, seu maior percentual de gordura e menor quantidade de massa muscular, além de sua menor capacidade de suportar os níveis de lactato. Porém, de acordo com Weber et al. (2006), as diferenças entre gêneros são qualitativamente similares para a porção inferior do corpo, contudo, na porção superior do tronco existe larga vantagem para o gênero masculino.
4.4. Aspectos mecânicos
Outro aspecto de fundamental relevância é a utilização de presilha nos pedais na utilização do teste para os membros inferiores, uma vez que estas possibilitarão a aplicação de força por parte do sujeito durante todo o ciclo de movimento, através não só do movimento de empurrar o pedal, mas também, puxá-lo. No teste para membros superiores, mostra-se adequado à utilização de uma manivela cilíndrica, onde as mesmas permitem uma melhor preensão manual tornando desnecessário que se prenda a mão a ela (INBAR et al., 1996).
Um ponto de discussão atual é quanto à utilização da frenagem eletromagnética em lugar da mecânica. Dotan (2006) coloca que não é possível comparar os resultados de ergômetros de frenagem mecânica com os de frenagem eletromagnética uma vez que algumas evidências sugerem a baixa correlação entre os diferentes tipos de imposição de carga. Por outro lado Micklewright et al. (2006) evidenciaram em sua investigação que a frenagem eletromagnética pode ser designada como um indicador válido de performance em exercícios anaeróbicos e nas suas respostas metabólicas assim como o teste com frenagem mecânica. Desta forma fica evidente a necessidade de mais estudos quanto à utilização destas frenagens e seus resultados específicos.
5. Análise comparativa entre o teste de Wingate e os demais Teste de Potência Anaeróbica
Um outro aspecto de argumentação é a validade de testes com menor ou maior duração em relação ao protocolo original. Em uma investigação conduzida por Calbet et al. (1997) relacionaram o teste com 45 segundos de duração com o protocolo normal, onde se evidenciou que nos primeiros 30 segundo do teste os valores são bastante similares, correspondendo a 80-90% de correlação entre os testes. Já Laurent Jr. et al. (2007), tentaram estabelecer uma correlação entre o TW e seu genérico com versão reduzida de 20 segundos, onde através de uma pesquisa com 50 sujeitos propuseram esta nova duração aliada a uma equação de regressão onde esta associação parece ser, aos valores encontrados pelos mesmos, correspondente aos valores do TW original, mostrando a possibilidade de uma alternativa válida e menos desconfortável para o testado.
Outra mudança inferida no protocolo é a tentativa de pedalar em pé durante o transcorrer do teste, na expectativa de gerar uma maior potência e acumular um menor desgaste. Partindo desta hipótese foi que Reiser II et al. (2002) submeteram 12 ciclistas competitivos universitários ao teste nas duas posições distintas, separados por no mínimo um dia de intervalo entre os testes. Os autores puderam verificar que nas duas posturas os escores seguiram um padrão de declínio, porém os valores encontrados na posição em pé foram sempre maiores que na posição sentada durante todo o teste. Demonstrando assim porque, por exemplo, ciclistas de rua adotam esta posição nos momentos de sprints durante o transcorrer de uma corrida.
Na tentativa de relacionar corridas de 50 metros e 200 metros Denadai et al. (1997) submeteram 12 indivíduos ao TW e a corridas de 50 e 200 metros, a fim de estabelecer um padrão de comportamento fisiológico para eventos decorrentes em modalidades esportivas e os parâmetros do teste. Os autores relataram que o pico de potência foi altamente correlacionado com a corrida de 50 metros e a potência média foi, também altamente relacionada com a corrida de 200 metros, mostrando assim que este teste pode ser utilizado de forma fidedigna para avaliar atletas de diversas modalidades, mesmo que não possua o gesto motor específico da mesma.
6. Conclusão
A partir do exposto na revisão de literatura verifica-se que o Teste anaeróbico de Wingate, apesar de não ser um teste Gold Standart, até mesmo por não existir um neste tipo de teste, mostra-se como o teste mais válido para acessar as capacidades por ele testadas, sendo o mais utilizado em toda literatura científica e o mais reproduzido.
Mesmo assim existem algumas falhas metodológicas no seu protocolo e mesmo algumas limitações, caso de uma discrepância na determinação das cargas e ineficiência em avaliar um músculo em si ou grupamento muscular, respectivamente. Porém, ainda assim, este teste é o mais confiável e deve continuar sendo o mais utilizado para pesquisas e testes laboratoriais em atletas até que surja um que seja capaz de determinar com mais precisão os parâmetros que o TW se propõe.
Este teste apesar de bastante documentado e utilizado ainda não se mostra tão amplamente investigado como objeto de estudo em si, entretanto, na literatura estrangeira ainda existe uma razoável fonte de pesquisa, o que já não acontece com as fontes nacionais, mostrando assim uma fragilidade neste campo de pesquisa específica, necessitando uma maior dedicação para o aperfeiçoamento deste teste destinado à população Brasileira, e uma possível discrepância entre outras populações.
Portanto, embora o TW seja de simples aplicação e apresente validade e reprodutibilidade adequadas necessita de mais estudos para uma maior padronização e menor possibilidades de erros em escores e resultados em populações específicas e quando relacionadas a influência de variáveis como clima, aquecimento, ritmo circadiano, desidratação e redução da massa corporal.. Outros aspectos tais como carga, motivação, estágio maturacional e ciclo menstrual devem ser levados em consideração na aplicação do teste. Desta forma, enquanto estudos adequadamente delineados sobre esses aspectos não forem conduzidos, sugere-se a padronização da execução do teste para minimizar o efeito de variáveis intervenientes e possíveis erros metodológicos.
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digital · Año 13 · N° 123 | Buenos Aires,
Agosto de 2008 |