Tai Chi Chuan no tratamento da dor em idosos Tai Chi Chuan reducing pain in elderly |
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*Universidade Católica de Brasília – UCB **Universidade de Brasília – UnB (Brasil) |
Márcio de Moura Pereira* | Lucy Gomes* Ana Patrícia de Paula** | Marisete Peralta Safons** |
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Resumo
Introdução: Já há consenso
entre especialistas que o Tai Chi Chuan (TCC) é uma atividade capaz de
prover melhorias no condicionamento físico, saúde e integração social
em indivíduos idosos. Objetivos: O propósito deste estudo foi
avaliar o efeito do TCC no tratamento da dor em idosos. Metodologia:
31 indivíduos idosos (5 homens, 26 mulhes; idade 67,90 ± 4,12 anos),
não praticantes de atividade física orientada, completaram este estudo.
Eles praticaram o TCC Estilo Yang de 24 Movimentos durante 12 semanas, 3
vezes por semana. Cada aula constou de 15 min. de aquecimento, 20 min. de
treinamento da coreografia do TCC e 15 min. de relaxamento. A intensidade
do exercício foi leve (PSE 2 na Escala CR10 de Borg). O número de
pontos dolorosos foi avaliado antes e depois da intervenção
(Questionário BPI-SF). Resultados: O grupo de praticantes de TCC
mostrou diminuição significante no número de pontos dolorosos (p =
0,001) entre o pré (3,29 ± 3,19) e o pós-teste (1,61 ± 2,03). Conclusão:
Estes resultados indicam que o TCC é eficaz no tratamento redução
da dor em idosos.
Unitermos: Idoso. Tai Chi Chuan.
Dor.
Abstract
Introduction: There is already a
consensus among specialists that the Tai Chi Chuan (TCC) is an activity
capable of providing improvements in the physical conditioning, health
and social integration to senior individuals. Objectives: The
purpose of this study was to assess the effect of TCC on treatment of the
pain in the elderly. Methodology: 31 elderly people (5 male, 26
female; age 67,90 ± 4,12 yr), who do not practice any form of oriented
physical activity, completed this study. They practiced the 24 Forms Yang
Style TCC during 12 weeks, 3 times/week. Each session included 15 min of
warm-up, 20 min of TCC form pratice and 15 min of cooldown. The exercice
intensity was weak (RPE 2 in CR10 Borg scale). Number of Pain points was
evaluated before and at the end of this intervention (BPI-SF). Results:
TCC group showed significant decrease in the number of pain points (p =
0,001) between pre (3,29 ± 3,19) and post (1,61 ± 2,03) analysis. Conclusion:
These results indicate that TCC program is effective in reducing pain in
elderly people.
Keywords: Elderly. Tai Chi Chuan.
Pain. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 |
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1. Introdução
O Brasil já contabiliza aproximadamente 10% de sua população entre indivíduos idosos. Isso gera demandas específicas para os Sistemas de Saúde e Previdenciário, bem como para toda a sociedade, devido às necessidades especiais desse segmento, mormente no que diz respeito à atividade física (OLIVEIRA, 2002).
Perdas nos níveis antropométricos, neuromotores e metabólicos, já estão bem descritas como capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida do indivíduo idoso (MATSUDO, 2004). Dentre estes comprometimentos, as perdas de saúde possuem relevância, pois 85% das pessoas idosas apresentam uma ou mais doenças que de alguma forma acabam por interferir na mobilidade dos indivíduos. Doenças que alteram diretamente a mobilidade, causando dor e diminuindo a autonomia nas atividades da vida diária são comuns em idosos. A osteoartrose é a mais relatada, estando presente em 48% das pessoas idosas. Outras doenças reumatológicas ou ortopédicas, que também podem afetar a mobilidade e desencadear dor, têm uma prevalência de 19% em idosos (JACOB FILHO et al., 1998; GAWRYSZEWSKI et al., 2004; NELSON, 2007).
Sabe-se que a dor crônica é prevalente em idosos, podendo atingir até 71,5% dos indivíduos em algumas populações. Vários estudos têm demonstrado que o fenômeno da dor não depende apenas do grau de lesão, podendo ocorrer inclusive na ausência de lesão orgânica no local afetado, caso em que se denomina dor referida e afeta prioritariamente ombros, cotovelos, punhos, mãos e coluna lombar de idosos que apresentam nestes locais áreas hipersensíveis denominadas de pontos-gatilho (STARKEY, 2001).
Programas de exercício melhoram equilíbrio, força e agilidade em pessoas idosas e têm sido citados como capazes de melhorar a mobilidade e diminuir dor nestes indivíduos (MAZZEO et al., 1998). Nos protocolos de tratamento da dor crônica, o condicionamento físico geral é sugerido, com ênfase nos aspectos que levem em conta as especificidades da causa e evolução de cada doença de base. Exercícios feitos em grupo e com modelagem cognitivo-comportamental para enfrentamento de situações problema e controle do estresse são preferíveis aos trabalhos individuais em domicílio.
Estudos a respeito dos efeitos do Tai Chi Chuan (TCC) sobre a fisiologia humana apontam esta modalidade de Ginástica Chinesa como capaz de incrementar ganhos de condicionamento físico, força e equilíbrio entre os praticantes idosos, ajudando na prevenção de quedas (FEDER et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2001). Especificamente com relação à artrite, estudos exploratórios verificaram diminuição na severidade da dor e da disfunção articular, melhora na qualidade de vida e na mobilidade com a utilização do TCC. E dentre os benefícios psicológicos decorrentes da prática do TCC foram relatados aumento da sensação de bem-estar, redução do estresse, além da diminuição da ansiedade e da percepção da dor (GOMES, L.; PEREIRA, M.M.; ASSUMPÇÃO, L.O.T., 2004a; GOMES, L.; PEREIRA, M.M.; ASSUMPÇÃO, L.O.T., 2004b).
Entretanto, há carência na literatura científica de estudos mais específicos e controlados, avaliando os efeitos do TCC sobre a dor crônica em idosos. No caso particular do Brasil, há carência tecnológica quanto ao desenvolvimento de metodologia de ensino do TCC para idosos e de programas de exercícios desta modalidade que possam ser utilizados no tratamento de pacientes idosos com dor crônica inseridos em programas de saúde pública.
2. Objetivos
Verificar os efeitos do TCC no tratamento da dor crônica em idosos.
3. Metodologia
Este foi um estudo de intervenção em que um grupo não-aleatório de idosos portadores de dor crônica (amostra de conveniência), foi submetido à prática de TCC com pré e pós-teste para dor.
A amostra foi composta de 31 idosos (5 do sexo masculino e 26 do sexo feminino) que foram avaliados antes a após 12 semanas da prática do Tai Chi Chuan, Estilo Simplificado de 24 Movimentos adaptado para idosos proposto por PEREIRA e SAFONS (2003). A evolução da dor foi obtida através do quesito “Onde está sua dor” do Inventário Abreviado de Dor (BPI: Brief Pain Inventory) proposto em português por MOREIRA JÚNIOR e SOUZA (2003). Na estatística descritiva foram utilizados a Média (M) e o Desvio Padrão (DP). O teste “t” para amostras dependentes foi utilizado para comparar as médias do número de pontos referidos no pré-teste com o do pós-teste, adotando-se o nível de significância p≤0,05.
3. 1. Programa de Tai Chi Chuan
O Programa de TCC foi desenvolvido ao longo de 12 semanas, na forma de aulas de 50 minutos de duração, com uma freqüência de 3 práticas semanais. As aulas foram ministradas dentro do padrão convencional da aula de Educação Física, com exercícios simples, coreografias curtas e poucas mudanças de direção.
: Esta fase foi composta por exercícios educativos selecionados dentre os 24 movimentos do repertório da série de treinamento do TCC e executados com ênfase no alongamento muscular e nos exercícios respiratórios. Para cada aula foram escolhidos 10 exercícios e para cada exercício foi realizada uma série de 5 repetições, executadas de forma lenta, contínua e com concentração mental, procurando-se reproduzir corporalmente os movimentos de animais ou de outros objetos da natureza e da cultura humana, conforme sugestões verbais do professor.3.1.1. Protocolo
Aquecimento (15 min.)
Ao final desta fase, a freqüência cardíaca dos alunos foi elevada em relação ao repouso para valores que, diante da “Escala de Percepção Subjetiva do Esforço” de BORG (2000), foram apontados como entre 1 (MUITO LEVE) e 2 (LEVE), onde “muito leve” equivaleu a andar lentamente em seu próprio ritmo por alguns minutos, e “leve” a caminhar no ritmo em que a respiração não se alterou e ainda se podia manter uma conversação fluente. Os alunos foram estimulados a manter seu nível de esforço percebido nestes valores até o final da fase de trabalho específico.
Trabalho Específico (20 min.): Nesta fase da aula, os alunos trabalharam com as coreografias específicas do TCC, mantendo as características de lentidão, fluidez e concentração mental. Em cada aula, as coreografias foram constituídas de 8 movimentos escolhidos dentro do repertório da série do TCC Estilo Yang de 24 movimentos. Coreografias em dupla (Tai Chi Tuishou) também foram trabalhadas, com base nos exercícios da série de 24 movimentos. Os recursos tradicionais da aula de Educação Física, tais como jogos, desafios, trabalhos de grupo, foram utilizados para estimular e facilitar a aprendizagem.
O repertório de exercícios foi composto por 24 movimentos denominados:
Preparação
Risca da Crina do Cavalo Selvagem
Grou Branco Bate as Asas
Coçar os Joelhos
Dedilhar o Alaúde
Garça Branca Estende as Asas Atrás
Agarrar a Cauda do Pássaro à Esquerda
Agarrar a Cauda do Pássaro à Direita
Chicote à Esquerda
Acenar Mãos nas Nuvens
Chicote à Esquerda
Afagar o Cavalo
Chutar com o Calcanhar Direito
Bater nas Orelhas com os Dois Punhos
Chutar com o Calcanhar Esquerdo
Serpente Descendo à Esquerda
Serpente Descendo à Direita
Passar a Lança para a Direita e para a Esquerda
Agulha no Fundo do Mar
Defesa com os Dois Braços
Virar-se para Golpear
Recuar e Empurrar
Braços Cruzados ao Peito
Conclusão
Relaxamento (15 min.): Nesta fase da aula, buscou-se a descontração psíquica e muscular, através dos exercícios de meditação Tao Yin – parar, respirar e acalmar a mente. Buscou-se, ao final desta fase, que na “Escala de Percepção Subjetiva do Esforço” de BORG (2000) fossem apontados valores próximos aos do repouso, tais como Zero - 0 (ABSOLUTAMENTE NADA) ou 0,5 (EXTREMAMENTE LEVE).
4. Resultados
Foram encontradas diferenças significativas (p=0,001) entre as avaliações da dor sendo que o número de pontos de DOR antes (M = 3,29; DP = 3,19) e depois (M = 1,61; DP = 2,03) da prática do TCC mostra que houve diminuição no quadro doloroso da amostra estudada (Tabela 1), com a remissão total dos sintomas para cabeça, braços, abdômen, quadril, coxas e pés. As queixas de dor para tornozelos e cotovelos permaneceram inalteradas, nos demais sítios houve remissão parcial de sintomas. Apenas na região cervical foi constatada piora no número de queixas.
Tabela 1. Testes (M±DP)
DOR (nº pontos) |
|
Pré-teste |
3,29±3,19 |
Pós-teste |
1,61±2,03 * |
*p ≤ 0,05
5. Conclusão
Verificou-se que a prática do TCC é benéfica nos quadros dolorosos relatados por idosos. A explicação para este fato pode se encontrar tanto nos ganhos de condicionamento físico, que melhoram a mobilidade, quanto dentro dos benefícios psicológicos e educativos, que podem alterar a percepção e melhorar o manejo da dor por indivíduos desta população.
Estudos avaliando a evolução do quadro doloroso em relação às alterações físicas e psicológicas específicas da prática do TCC, com uma amostra maior e grupo controle são necessários para esclarecer os mecanismos pelos quais esta modalidade contribui para o tratamento da dor em idosos.
Bibliografia
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FEDER, G.; CRYER, C.; DONOVAN, S. & CARTER, Y. Guidelines for the prevention of falls in people over 65. British Medical Journal, v. 321, p. 1007 – 1011, 2000.
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