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Os diferentes motivos da escolha da Licenciatura
em Educação Física pelos acadêmicos do CEFD/UFSM

 

*Licenciado em Educação Física (UNICRUZ)

Especializando em Ciência do Movimento Humano (UNICRUZ)

Especializando em Educação Física Escolar (CEFD/UFSM)

Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF/UFSM)

**Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM)

Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM)

Professor Adjunto do Departamento de Metodologia do Ensino (CE/UFSM)

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFSM)

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF/UFSM)

Rodrigo de Rosso Krug*

rodkrug@bol.com.br

Hugo Norberto Krug**

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Objetivamos analisar os motivos da escolha da Licenciatura em Educação Física pelos acadêmicos do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A metodologia caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi uma entrevista semi-estruturada. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram trinta e oito (38) acadêmicos da Licenciatura (Currículo de 1990) em Educação Física do CEFD/UFSM. O que mais chama à atenção nos resultados desta investigação, é o fato de que, no rol dos diversos motivos de escolha da Licenciatura em Educação Física, ficou evidenciado dois blocos de comportamentos pelos acadêmicos. São eles: 1) A escolha do curso de forma consciente e coerente com os interesses pessoais (a minoria); e, 2) A escolha do curso de forma inconsciente (a grande maioria). Outro fato que também chama à atenção nos resultados foi de que os motivos que levaram os acadêmicos a escolher a Educação Física como profissão são bastante diferenciados (9 motivos diferentes). Entretanto, verificamos que às experiências ligadas ao esporte ou mesmo à afinidade com as atividades físicas é muito considerada (20 acadêmicos) no momento da escolha do curso pelos acadêmicos.

          Unitermos: Educação Física. Formação de professores. Formação inicial. Escolha profissional.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008

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Introduzindo a investigação

    Segundo Hurtado (1983) todos nós, muitas vezes, sentimo-nos compelidos ou levados a nos comportar de determinado modo, ou a desejar intensamente alguma coisa a fim de conseguirmos atingir certos objetivos. Geralmente atribuímos esses impulsos à motivação, encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes.

    Destaca ainda que todo comportamento é motivado, ou seja, é impulsionado por motivos. Portanto, todo tipo de comportamento decorre de uma causa que o provoca. Os motivos podem encontrar-se: (a) na esfera consciente – nesse caso, o indivíduo sabe porque está agindo de determinada maneira; e, (b) na esfera inconsciente – nesse caso, o indivíduo não sabe porque se comporta de determinada maneira.

    Esclarece que o motivo abrange qualquer elemento da consciência que concorre para a determinação do ato volitivo. Assim, motivo já foi definido como sendo “qualquer consideração pela qual um ato é realizado. Motivo é o que leva uma pessoa a praticar uma ação” (p.210). É a razão pela qual o ato é realizado e inclui tudo que, de alguma maneira, influencia a vontade. Indica todos os fatores e condições que iniciam e sustêm a atividade ou comportamento.

    Desta forma, considerando que o momento da escolha da profissão pelos indivíduos está relacionado com uma motivação gerada por um motivo e que este pode ser consciente ou inconsciente elaboramos a seguinte questão problemática norteadora desta investigação: Quais são os motivos da escolha da Licenciatura em Educação Física pelos acadêmicos do CEFD/UFSM?

    Conseqüentemente, o objetivo geral foi analisar os motivos da escolha da Licenciatura em Educação Física pelos acadêmicos do CEFD/UFSM.

    Justificou-se a realização desta investigação pelo fato de que os seus resultados podem contribuir para a descoberta das influências sobre a escolha da Educação Física enquanto profissão.

A metodologia da investigação

    A investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. Os participantes foram trinta e oito (38) acadêmicos da Licenciatura (Currículo de 1990) em Educação Física do CEFD/UFSM. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi uma entrevista semi-estruturada. A interpretação das informações seguiu a metodologia da análise de conteúdo (BARDIN, 1977), que prevê três etapas: 1a) Pré análise – etapa que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, definição de procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2a) Exploração do material – etapa que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, leitura de documentos, categorização, entre outros; e, 3a) Tratamento dos resultados – etapa onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que esta etapa de interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por detrás do imediatamente aprendido.

Os resultados da investigação

    Identificamos e analisamos os seguintes “motivos caracterizadores” da escolha da Licenciatura em Educação Física pelos acadêmicos do CEFD/UFSM.

1.     O gosto pelas atividades físicas e/ou esportes

    Mais da metade dos acadêmicos (20) manifestaram que o “gosto pelas atividades físicas e/ou esportes” (Acadêmicos 1; 2; 3; 4; 5; 7; 9; 10; 12; 19; 27; 28; 29; 30; 31; 32; 34; 35; 36 e 37) foi o motivo que os levaram a escolher a Educação Física como profissão. Segundo Becker; Ferreira; Krug (1999) o gosto pelo esporte é o principal motivo pelo qual as pessoas escolhem a Educação Física como profissão.

    Citamos algumas falas os acadêmicos em que esse motivo pode ser identificado: “Basicamente, porque gosto muito de esportes e qualquer atividade física que envolva o movimento” (Acadêmico 1); “Pelas vivências esportivas que tenho” (Acadêmico 4); “Escolhi este curso por gostar de esportes” (Acadêmico 7); “Por ser um curso com bastante prática e pelo gosto por esportes” (Acadêmico 10); “Escolhi o curso de Educação Física porque sempre gostei de praticar todos os tipos de esportes (...)” (Acadêmico 27); “Gosto por práticas desportivas e atividades físicas” (Acadêmico 28); “Afinidade, identificação com atividades esportivas (...)” (Acadêmico 29); e, “Desde criança sempre gostei de esportes, de lidar com os movimentos (...)” (Acadêmico 30).

    De acordo com Verenguer (1995) este motivo para escolher à profissão é reforçado na formação inicial, pois, na maioria dos curso de Licenciatura em Educação Física, no Brasil, dão ênfase a uma formação profissional voltada, basicamente, para trabalhar com o desporto. Coloca ainda que os currículos formadores de professores de Educação Física não estão capacitando adequadamente o profissional para atuar como educador e sim, para ser técnico desportivo.

    Em contra-partida, Oliveira (1992) já destacava que o papel a ser desempenhado pelo profissional de Educação Física na escola, não é o de treinador à caça de talentos, e nem tão pouco, o de simples marionete à serviço da elite. O papel do profissional de Educação Física na escola é o de educador.

    Já para Santini; Molina Neto (2005) a grande maioria dos ingressantes na Educação Física não aspira ser professor de Educação Física. São ex-atletas ou pessoas que já tiveram contato com a área esportiva e que, quando confrontados com a decisão de escolher uma profissão, optaram por uma que já lhes era familiar, a Educação Física, reduzindo, assim, as incertezas.

    Segundo Santos; Hallal (2001) o fator motivacional que mais freqüentemente gera o ingresso em Faculdade de Educação Física é a relação anterior com os esportes, demonstradas em respostas como gostar de esportes e ter praticado esportes.

2.     A influência do professor de Educação Física

    Uma razoável parcela de acadêmicos (5) manifestaram que a “influência do professor de Educação Física” (Acadêmicos 11; 16; 17; 18 e 23) em seu tempo de aluno da Educação Básica foi o motivo que os levaram a escolher o curso de Licenciatura em Educação Física.

    Algumas falas dos acadêmicos foram as seguintes: “Escolhi esse curso, pois (...) adorava o trabalho que o professor desenvolvia (...)” (Acadêmico 16); “No ensino fundamental tive um ótimo professor de Educação Física e me interessou o trabalho dele (...)” (Acadêmico 18); e, “Sempre gostei dos professores que eu tive nessa disciplina. A partir daí, eu comecei a me ver como um deles, e até porque não consigo me ver trabalhando em outra área” (Acadêmico 23).

    Estas falas confirmam o que coloca Castello (apud HURTADO, 1983) de que o professor de Educação Física influencia o aluno, quer como pessoa, quer como profissional, tanto pelo que ensina como pelo que faz, pelo bom exemplo que lhes dá. Portanto, essa influência é, antes de mais nada, de pessoa para pessoa, num interrelacionamento amigo, de compreensão, aceitação e respeito mútuos, levando sempre em conta a liberdade interior e a personalidade do outro.

    Almeida; Fensterseifer (2007) destacam que um dos motivos que leva uma pessoa a escolher a Educação Física como profissão, podem ser as relações da pessoa com a disciplina na escola.

    Assim, mesmo que a influência do professor seja negativa, isto é, tenha uma prática pedagógica deficiente, segundo Almeida; Fensterseifer (2007), o desejo do acadêmico de significar novas ações para a Educação Física na escola reflete a possibilidade de contribuir para constituir um novo referencial para a disciplina a partir de uma prática diferente.

3.     Queria outra profissão que não conseguiu e a Educação Física foi a segunda opção

    Uma pequena parcela de acadêmicos (3) declararam que “queriam outra profissão que não conseguiram e a Educação Física era a segunda opção” (Acadêmicos 6; 22 e 38) e este foi o motivo que os levaram a ingressar no curso de Licenciatura em Educação Física.

    Esse motivo pode ser identificado nas falas dos acadêmicos: “A Educação Física foi escolhida em 2a opção. Não penso em ser professor” (Acadêmico 6); “Foi como 2a opção. Passei pelo PEIS e não tinha certeza sobre qual curso escolher (...)” (Acadêmico 22); e, “Primeiro, por ter relação com a área da saúde, segundo que tem ligação com Nutrição que é o curso que realmente quero fazer, mas que a UFSM não oferece” (Acadêmico 38).

    Nestas falas podemos perceber o que destacam Santini; Molina Neto (2005) de que caso a escolha profissional não tenha sido consciente e coerente com os interesses pessoais, a profissão poderá ser exercida com pouca motivação e, ao longo do percurso profissional, poderão surgir situações de desconforto e frustrações que poderão paralisar e deprimir o professor, trazendo-lhe inúmeras implicações pessoais e sociais.

    Já Bordieu (1998) afirma que a escolha da profissão é determinada pelas chances de sucesso que a pessoa deslumbra. Se ela sabe que não será aprovada em um determinado curso, mas que poderá ser aprovada em outro, ela direciona seu interesse para este outro que lhe garanta mais possibilidade de sucesso. As pessoas tendem a tirar do horizonte aquilo que lhes parece inacessível, em uma forma de se livrar de possíveis frustrações.

4.     O interesse pelo funcionamento do corpo humano

    Poucos acadêmicos (2) declararam que o “interesse pelo funcionamento do corpo humano” (Acadêmicos 13 e 20) foi o motivo que os levaram a escolher a Educação Física como profissão.

    As falas dos acadêmicos que identificaram este motivo foram as seguintes: “Meu interesse pelo funcionamento do corpo humano” (Acadêmico 13); e, “Adquirir um maior conhecimento sobre essa máquina que é o nosso corpo” (Acadêmico 20).

    Neste tipo de motivo parece-nos evidenciado o que destaca Lima (apud BECKER; FERREIRA; KRUG, 1999) de que claramente pode-se destacar a existência de duas grandes vertentes no mercado de trabalho em Educação Física: o segmento escolar e o segmento não escolar.

    Assim, também podemos inferir que este tipo de motivo impulsiona os acadêmicos para a área da saúde o que projeta uma preparação para o segmento não escolar. Segundo Mariz de Oliveira (apud BECKER; FERREIRA; KRUG, 1999) evidências mostram a existência de alunos matriculados em cursos de Licenciatura em Educação Física que buscam a preparação profissional não tendo o objetivo principal à atuação como professores de escolas. Desta maneira, formam-se professores que não assumem um compromisso com a causa escolar, conseqüentemente gerando-se um baixo nível de qualidade no ensino da Educação Física Escolar.

5.     O gosto pela profissão

    Poucos acadêmicos (2) manifestaram que escolheram o curso de Licenciatura em Educação Física porque “gostam da profissão” (Acadêmicos 15 e 33).

    As falas dos acadêmicos foram: “Sempre gostei da idéia de ser professor (...)” (Acadêmico 15); e, “Me formar professor de escola” (Acadêmico 33).

    Nos parece que este tipo de manifestação encerra a idéia de vocação. Kreutz (apud PEREIRA, 2000) procura desmistificar essa concepção de magistério como sacerdócio, como “vocação nobre e santa” apresentando as suas raízes histórico-culturais e ressaltando as implicações conservadoras e autoritárias da mesma. De acordo com esse autor, essa concepção de magistério como vocação dificulta a participação efetiva dos professores na organização da categoria profissional e na luta pelas reivindicações salariais. Além de dificultar a ação mais efetiva entre os professores, cria a resistência da própria sociedade em relação ao movimento dos mesmos, pois lhe cobra uma postura vocacional, de doação.

    Já Haguette (apud PEREIRA, 2000) afirma que a ideologia da “vocação” não passa de um artifício de auto-defesa para agregar forças e levar em frente o serviço. Nas palavras do autor trata-se de uma revanche, isto é, um consolo, um doce, uma colher-de-chá autoprotetora e autovalorativa diante do descrédito e do abandono infringido ao trabalho pelas autoridades. Tudo se passa como se o professor dissesse a si mesmo: “É verdade, sou mal pago, minha escola está abandonada, não tenho nem cartilhas para ensinar, mas pelo menos exerço um trabalho sagrado”.

    Segundo Assumpção (1996) a vocação encontra-se associada a algo pertencente à ordem do místico, relacionada a “dom”, a qualidades especiais para a “missão” de ensinar, a doação, enfim, o magistério como sacerdócio. Existe, sem dúvida, no discurso da “vocação”, a marca provocada pelos mais diversos entrelaçamentos, entre eles, a estreita relação, historicamente construída entre religião e educação. Relação que contribuiu não só para a representação do magistério como um sacerdócio, mas também para o perfeito casamento entre mulher e magistério.

6.     A identificação com a área e/ou curso de Educação Física

    “Escolhi o curso de Educação Física, porque me identifiquei com áreas que eu quero me dedicar, trabalhar e ensinar (...)” (Acadêmico 21); e, “É o curso que mais me identifiquei (...)” (Acadêmico 25) foram as falas que identificaram que o motivo de alguns acadêmicos (2) que os levaram a escolher a Educação Física como profissão foi a “identificação com a área e/ou curso de Educação Física” (Acadêmicos 21 e 25).

    Segundo Silveira et al. (2008) o motivo que leva um sujeito a escolher um determinado curso está interligado ao querer trabalhar com determinada área.

7.     O gosto de trabalhar com pessoas e movimento

    Poucos acadêmicos (2) disseram que o “gosto de trabalhar com pessoas e movimento” (Acadêmicos 24 e 26) foi o motivo que os levaram a escolher a Educação Física como profissão.

    As falas dos acadêmicos que identificaram este motivo foram as seguintes: “Sempre quis fazer Educação Física, gosto de trabalhar com pessoas e movimento (...)” (Acadêmico 24); e, “(...). Além disso, eu gosto muito de lidar com crianças” (Acadêmico 26).

    Nos parece que este tipo de motivo nos projeta a idéia de interesse e de motivação com o que se faz, e a idéia de gostar do que se faz é destacada por Feil (1995) que diz que gostar do que se faz é um fator determinante para a existência de eficiência no trabalho.

8.     O gosto de ensinar

    Um raro acadêmico declarou que o “gosto de ensinar” foi o motivo que o levou a escolher a Educação Física como profissão. A fala foi a seguinte: “(...) ter uma facilidade para ensinar e gostar de ensinar” (Acadêmico 8).

    Cristino; Krug (2007) chamam à atenção de que “ser professor” não pode se restringir ao ensinar, pois sua atuação vai além do espaço da aula, sua capacitação deve permitir uma atuação consciente em todos os espaços educacionais. Tem-se a necessidade de se romper com a concepção da escola apenas como um espaço para se ensinar. Temos que passar a enxergar esse espaço como local de produção de conhecimentos e saberes; um local onde identidades individuais e sociais são forjadas, onde se aprende a ser sujeito, cidadão crítico, participativo e responsável.

9.     Por eliminação

    “Minha escolha foi por eliminação. Na época era a área na qual eu me encaixava” (Acadêmico 14) foi um raro depoimento que identificou que o motivo de escolha da Educação Física foi “por eliminação”.

    Santini; Molina Neto (2005) destacam que a grande maioria dos professores de Educação Física não tiveram uma orientação profissional adequada durante o período escolar o que prejudicou a tomada de decisão sobre a profissão a ser escolhida.

Conclusão: possíveis sínteses sobre a investigação

    Pela análise das informações obtidas nas entrevistas com os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo de 1990) do CEFD/UFSM confirmou-se o que destacam Santini; Molina Neto (2005) de que escolher uma profissão não é fácil, pois a tomada de decisão é sempre cercada de dúvidas, emoções e influências de diversos aspectos.

    Entretanto, o que mais chama à atenção nos resultados desta investigação, é o fato de que, no rol dos diversos motivos de escolha da Licenciatura em Educação Física, ficou evidenciado dois blocos de comportamentos pelos acadêmicos. São eles: 1) A escolha do curso de forma consciente e coerente com os interesses pessoais (a minoria); e, 2) A escolha do curso de forma inconsciente (a grande maioria). Santini; Molina Neto (2005) destacam que, caso a escolha profissional não tenha sido consciente e coerente com os interesses pessoais, a profissão poderá ser exercida com pouca motivação e, ao longo do percurso profissional, poderão surgir situações de desconforto e frustrações que poderão paralisar e deprimir o professor, trazendo-lhe inúmeras implicações pessoais e sociais.

    Entretanto, para atenuar esta preocupante situação de escolha profissional inconsciente, ainda Santini; Molina Neto (2005) salientam que mesmo não havendo convicção na hora da escolha profissional, é possível, após o ingresso da pessoa no curso de Educação Física, desenvolver competências específicas para o desempenho que o trabalho exige, caracterizando, assim, com o passar do tempo, o desenvolvimento do processo de identidade com o curso escolhido.

    Outro fato que também chama à atenção nos resultados desta investigação foi de que os motivos que levaram os acadêmicos a escolher a Educação Física como profissão são bastante diferenciados (9 motivos diferentes). Entre estes motivos verificamos que em oito (8) ocasiões (motivos 1; 2; 4; 5; 6; 7; 8; 9) os mesmos representam a Educação Física como primeira opção de profissão do acadêmico, mas em uma ocasião (motivo 3) é uma segunda opção de profissão. E, isto, é confirmado por Figueiredo (2008) quando diz que as situações que levam o aluno à escolha da Educação Física como profissão são bastante diferenciadas. Destaca ainda que há situações em que a escolha representa uma primeira opção; outras em que representa uma segunda opção, e outras situações em que a escolha representa terceira e quarta opções.

    Ainda nos chama à atenção nos resultados desta investigação de que o gosto pelas atividades físicas e/ou esportes (20 acadêmicos) apesar de predominante, não foi o motivo exclusivo para os 38 acadêmicos que escolheram cursar Educação Física.

    Entretanto, Figueiredo (2008) destaca que a experiência ligada ao esporte ou mesmo à afinidade com atividades corporais é muito considerada no momento da escolha do curso, apenas se as influências sociais e culturais do acadêmico permitiram.

    A autora salienta que de todas as influências possíveis, a família ainda parece ser a grande referência para que as pessoas escolham carreiras mais promissoras quanto ao retorno financeiro e social.

    Ainda Figueiredo (2008) diz que não se deve cair no reducionismo de considerar que as experiências sócio-corporais influenciam de forma direta, exclusiva e mecânica a escolha pelo curso de Educação Física. Entretanto, destaca que é impossível deixar de lado as evidências de que há uma estreita relação entre as experiências anteriores das pessoas e suas escolhas, de maneira que há mudanças substanciais no perfil de formação objetivado pelo currículo prescrito de formação profissional.

    Salienta que alguns estudantes do curso de Educação Física não se vêem em processo de formação profissional. A representação que parecem fazer do curso está fortemente identificada com suas trajetórias individuais e com o prolongamento dessas trajetórias durante os anos de formação.

    Já Almeida; Fensterseifer (2007) reforçam que a escolha profissional não é uma tarefa fácil, é uma opção que se faz retomando os vários dias vividos durante a nossa constituição, enquanto sujeitos históricos e culturais, a partir dos encontros e desencontros com nossos interesses e intenções e, também, com os interesses e intenções de outros, o que medeia uma tomada de decisão. Isso fortalece uma tese já esboçada de que a escolha dos professores não é fruto apenas de uma opção individual, mas de um conjunto de fatores externos que, aliados às condições subjetivas do sujeito, constituem as circunstâncias de vida, nas quais se desenrolam os momentos de escolha.

    Por fim, destacamos que todos os motivos constatados por este estudo vêm a confirmar Santos; Hallal (2001) de que os acadêmicos que entram nos cursos de Licenciatura em Educação Física conhecem muito pouco sobre a realidade da profissão.

Referências

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  • SANTOS, R.M. dos; HALLAL, P.R.C. Fatores que levam ao ingresso em Faculdade de educação Física. In: MARQUES, A.C.; ROMBALDI, A.J. (Orgd.). XX Simpósio Nacional de Educação Física. Coletânea de Textos e Resumos. Pelotas: Editora Universitária/UFPEL-ESEF, p.334, 2001.

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  • VERENGUER, R. de C.G. Preparação profissional em Educação Física. In: SIMPÓSIO PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, V, 1995, Rio Claro. Anais. Rio Claro: Universidade do Estado de São Paulo, 1995. p.74.

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