Metodologia científica: apontando caminhos a serem percorridos na construção da pesquisa em Educação Física |
|||
*Licenciada em Educação Física pela UFSM. Especialista em Ciência do Movimento Humano, Especializanda em Gestão Educacional pela UFSM; Mestre em Educação pela UFSM, Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS. Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física) **Licenciada em Educação Física pela UFSM, Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM, Mestranda em Educação pela UFPEL. Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física) ***Licenciada em Educação Física pela UFSM, Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM, Mestranda em Educação pela UFSM. Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física) ****Especialista em Ciência do Movimento Humano na UNICRUZ e em Esporte Escolar na UNB – UFSM, Professora da rede pública de Santa Maria (RS). Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física) *****Doutor em Educação e Ciência do Movimento Humano pela UFSM, Coordenador do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física) |
Ana Paula da Rosa Cristino* Andressa Aita Ivo** Franciele Roos da Silva Ilha*** Marta Nascimento Marques**** Hugo Norberto Krug***** hnkrug@bol.com.br(Brasil) |
|
|
Resumo
Este estudo objetivou refletir à cerca da metodologia científicos a
partir do que a literatura da área vem discutindo nos últimos tempos,
principalmente no contexto da Educação Física. O foco dado a essa
área justifica-se pela nossa formação em Educação Física, sendo que
nossos olhares estão constantemente voltados a questões que permeiam
esse campo de estudo, com ênfase na formação, saberes e
desenvolvimento profissional desses educadores. Assim, pode-se perceber
que a construção e os caminhos da pesquisa científica primam pela
necessidade de se reavaliar criticamente as relações entre sujeito e
objeto do conhecimento, tendo em vista uma recusa do autoritarismo da
verdade, ou seja, a relativização da figura soberana do sujeito do
conhecimento, que determinados métodos evidenciam.
Unitermos: Metodologia
científica. Pesquisa. Educação Física. |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 |
1 / 1
Contextualização do tema
Em decorrência das discussões realizadas no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física emergiram várias dúvidas no que se referem à importância de se construir conhecimentos em relação à pesquisa científica, além de entendê-la através de uma nova perspectiva. Anteriormente entendia-se que a metodologia limitava-se a um mero caminho a ser seguido para desenvolver determinado estudo. Nesta direção, Oliveira (1998) relata que existe uma desatenção nas ciências humanas em estudar essas questões metodológicas, no entanto seus resultados tendem a serem mais completos e satisfatórios quando são trabalhados interdisciplinarmente com o meio que estiver inserido.
Assim, percebe-se hoje a importância de desvendar esse amplo contexto que reside os caminhos metodológicos. Além de descobrir o verdadeiro sentido de se realizar e desenvolver um problema de pesquisa, este que deve privilegiar o desvelamento de nossas angústias e inquietações, dando ao mesmo um significado pessoal e consequentemente profissional.
Dessa forma, este estudo objetivou refletir a cerca da metodologia científica a partir do que a literatura da área vem discutindo nos últimos tempos, principalmente no contexto da Educação Física. O foco dado a essa área justifica-se pela nossa formação em Educação Física, sendo que nossos olhares estão constantemente voltados a questões que permeiam esse campo de estudo, com ênfase na formação, saberes e desenvolvimento profissional desses educadores.
Caminhos metodológicos
O desenvolvimento deste estudo pautou-se numa pesquisa qualitativa do tipo pesquisa bibliográfica. Os estudos qualitativos surgem em contrapartida ao domínio da concepção quantitativa nas ciências humanas, como alternativa metodológica para estudos voltados a Educação. Segundo Triviños (1987), ela não estabelece separações rígidas entre a coleta de informações e as interpretações das mesmas, o estudo desenvolve-se como um todo, pois todas as partes estão relacionadas.
Em relação à pesquisa bibliográfica, Carvalho (1987, p.110) a entende como: “atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletar dados gerais e específicos a respeito de determinado tema”.
Pesquisa científica
O método científico
O método foi constituído no contexto de um movimento com origem nos séculos XVI e XVII, o qual valorizava a capacidade do pensamento racional. Ele foi criado para ajudar a construir uma representação adequada das questões a serem estudadas (OLIVEIRA, 1998). A partir do ideal de pensamento racional, acreditava-se que pelo uso da razão, seria possível ao homem além de conhecer o mundo, também transformá-lo.
Sendo assim, tratou-se de se criar meios confiáveis para observar, promover experimentos, além de elaborar hipóteses e princípios. Para operacionalizar o método, coloca-se em evidência a figura do sujeito do conhecimento, este seria, portanto, alguém com existência corpórea, desejoso de fazer valer sua formação científica para elaborar um saber que não só fosse capaz de dar explicações convincentes sobre determinadas questões sociais, mas que, sobretudo pudesse ser aplicado para interferir no rumo das coisas. O desenvolvimento metodológico se torna fundamental, e sendo assim, a produção do saber se consagra como fonte de poder, surgindo uma união entre conhecimento e política.
Neste período ao mesmo tempo se cultuava a disciplina do corpo e do pensamento, a mecanização do corpo pela técnica e o adestramento da mente pelo método, desta forma a classe burguesa teve ascensão política e econômica. A política e a ciência recebem enfim o reconhecimento generalizado como instrumentos capazes de promover o domínio da natureza e de disciplinar os homens a lógica da produtividade e da acumulação. Os homens da ciência passam a ser considerados como figuras poderosas e dominadoras. No caso das ciências humanas surge uma questão, visto que, é do homem que se trata, ele se torna ao mesmo tempo, sujeito e objeto na investigação científica.
A partir de tal fato, o sujeito do conhecimento é conduzido a olhar a sociedade como quem a vê de fora, de longe, ostentando olímpica exterioridade. É, portanto, a mortificação do objeto. Os homens transformam-se em objetos inertes, e aí se inicia a ilusão de que de um lado há os fatos e de outro a teoria.
O método e a pesquisa científica
Para Lombardi (2000) a pesquisa é um meio de construir conhecimento; uma investigação para solucionar um problema, sendo que existe uma ordem de prioridade em que se faz ciência (fim), pela pesquisa (processo) e com metodologia (caminhos).
Para o autor, em função do método pode-se chegar a resultados diferentes, daí a importância da coerência entre metodologia e teoria de determinado paradigma. Oliveira (1998) relata que a noção de método como objeto de estudo da metodologia, abrange inúmeros conceitos que contemplam ao mesmo tempo múltiplas acepções. Neste caso, vamos destacar alguns, tais como: um esforço ou caminho para atingir um fim, uma investigação que segue um modo planejado para se obter determinado conhecimento, sendo o método um percurso escolhido dentre outros possíveis.
O autor destaca que ao escolhermos determinado método é importante e necessário termos um amplo conhecimento de todos os aspectos que envolvem este seu caminhar, tendo em vista que ele representa um caminho seguro. Caso contrário, o pesquisador corre certos riscos de não proceder coerentemente com as premissas teóricas que norteiam seu pensamento. Chauí (2002) relata de forma simples e clara que o bom método é aquele que permite conhecer verdadeiramente o maior número de coisas com o menor número de regras.
O artesão intelectual
O sociólogo americano Wright Mills, escreveu em sua obra “A imaginação sociológica” (1959), sobre alguns aspectos da pesquisa enquanto ato artesanal. Neste sentido, Oliveira (1998) destaca alguns pontos bem relevantes expostos pelo autor.
Primeiramente ele expõe acerca da importância da relação entre o tema da pesquisa e a biografia do pesquisador, pois isso atribui vida ao estudo, retirando o possível caráter artificial que este pode adquirir em função dos métodos científicos. No entanto, ele alerta que a experiência pode levar ao conformismo, a reprodução da mesmice. Por isso, é importante buscar o equilíbrio do pesquisador confiante e ao mesmo tempo cético, características maduras.
Outro aspecto se trata da importância de coligir anotações em arquivos, pois pode ajudar-nos a desvendar nexos hoje não percebidos. E também acerca dos cuidados com o levantamento de dados e a produção de novas fontes. Devemos manter atitudes éticas em relação às pessoas pesquisadas.
Acerca da atenção com a linguagem, é evidenciada a necessidade de sempre que possível empregar linguagem clara e simples. Isso não tem nada há ver com superficialidade, mas ao objetivo de prendermos a atenção dos leitores ao escrevermos. A reabilitação da pesquisa como prática artesanalmente construída nos mostra a importância e necessidade de um pesquisador que se assuma como artesão pertinaz, paciente, atento, sensível, e ao mesmo tempo, despretensioso, zelador da união da teoria e prática, reservando exemplos probantes a cada reflexão.
Além de o método representar um conjunto de técnicas, ele se refere a fundamentos e processos, que exigem uma reflexão. Todo o processo que envolve a escolha e a aplicação do método proporciona ao pesquisador um aprendizado, desde que ele se comprometa com o contexto que estará inserido. Sendo que, muitas vezes situações inesperadas surgem e requer do pesquisador uma atitude coerente com seu método. Desta forma, o estudo de metodologia em ciências humanas, deve ser cuidadoso e zelar para que os homens concretos, sujeitos e objetos de suas indagações, não sejam mutilados.
Pesquisa científica na universidade
O graduando ao ingressar na universidade depara-se com duas situações: ser acadêmico e ter que fazer ciência (LOMBARDI, 2000). Sendo que, o conhecimento nesta instituição não pode ficar restrito ao senso comum, pois para tudo que fazemos é necessário determinado método, e em se tratando de ciência esse método deve ser científico (BONIN, 2006).
Lombardi (2000) diz que se não exercitarmos a pesquisa científica na universidade, corremos o risco de não termos contato com esta ao longo de nossa vida. Uma questão complicada é o resultado de três aspectos relevantes que abordam esse contexto: a concepção de que uma “certa ciência” é a dona da verdade; de que a pesquisa é tida como algo a par do contexto do currículo e das disciplinas e; a concepção equivocada de que metodologia é um mero caminho técnico para ser seguido em uma investigação.
Dessa forma, segue o autor, entende-se a ciência como o resultado do processo de elaboração do conhecimento científico exercido pelo ser humano, podendo estar marcada de riquezas e precariedades inerentes ao seu pesquisador. Ela constitui um mundo a construir, parte de uma realidade e de um questionamento.
No seu artigo do livro Metodologias de pesquisa em comunicação: olhares, trilhas e processos, a autora BONIN (2006) relata algumas questões relacionadas com projetos de pesquisa. Pois, ela tem observado a partir dos escritos de seus orientandos, algumas falhas e dificuldades mais comuns encontradas nos trabalhos, tais como: ausência de uma articulação e seguimento na construção dos projetos; o problema de pesquisa apresenta-se mal resolvido e de difícil compreensão; um quadro teórico limitado a resenhas de obras de autores; técnicas de pesquisa pouco pensadas e incoerentes com o problema de pesquisa e; uma bibliografia restrita.
Dessa forma, percebe-se a necessidade de desconstruir a noção de um projeto acabado e abandonar as certezas, configurando um trabalho coeso. A partir desses pressupostos, a autora propõe, observa e explica algumas linhas do desenho metodológico.
A construção do problema de pesquisa surge de diversas maneiras, de modo a dar sustentação a determinados questionamentos, sendo que estes se fundamentam em uma problematização teórica, constituindo-se de um diálogo com outros autores conhecedores da temática escolhida. Por isso, para adentrarmos no texto com nosso problema é necessário realizar uma contextualização do assunto a ser tratado, de modo a situar o leitor sobre o que ele vai encontrar a seguir. Nesse sentido, é importante que nosso problema represente uma dúvida que ultrapasse o senso comum, justificando-se assim pela necessidade de uma pesquisa científica. Ainda neste início de construção do projeto de pesquisa tem-se outra etapa de fundamental importância, a formulação dos objetivos (geral e específico) articulados e interligados com o problema de pesquisa, com a metodologia, enfim com todo projeto.
A justificativa representa o nosso compromisso, enquanto pesquisadores do campo científico em que estamos inseridos, no avanço do conhecimento neste âmbito. Sobre a problematização teórica, deve-se compreender que ela representa segundo BONIN (2006, p. 27) “um trabalho alentado de localização de conceitos e de proposições pertinentes para a compreensão do problema/objeto”. De forma, a embasar o estudo com obras de autores que abordam o tema, desenvolvendo um olhar crítico sobre estas.
Nos caminhos metodológicos a serem percorridos é importante realizar uma pesquisa exploratória, caracterizada pela aproximação empírica ao fenômeno estudado. Também devemos ser criteriosos no que se refere à amostra do estudo e as técnicas da coleta de dados, utilizando critérios pertinentes ao problema/objeto de pesquisa.
Pesquisa científica na Educação Física
Gamboa (1994) em seu artigo “Pesquisa em Educação Física: as inter-relações necessárias” realiza algumas considerações no que se refere aos novos campos de conhecimentos epistemológicos.
O autor relata que a Educação Física, juntamente com outras áreas do conhecimento, estão se desenvolvendo no mesmo patamar que definem seus campos epistemológicos no âmbito científico. Sendo que, todas elas são reconhecidas pela Academia e tiveram seu desenvolvimento próprio de acordo com seu contexto, adquirindo assim, sua independência. O reconhecimento destas ciências efetivou-se através das necessidades e prioridades que o desenvolvimento das sociedades solicita, tendo como pressuposto para serem reconhecidas, a pesquisa científica, a reflexão crítica e a vigilância epistemológica sobre seus procedimentos e resultados.
Atualmente há uma preocupação com a definição dos pressupostos epistemológicos da Educação Física (BRACHT, 1992 apud GAMBOA, 1994). Neste momento o autor destaca três questões básicas a serem analisadas:
A flutuação do predomínio do enfoque da Educação Física, ora nas ciências naturais, ora nas ciências humanas: a preocupação de se realizar um diagnóstico sobre as perspectivas da Educação Física demonstra o avanço da área na passagem de questões instrumentais, técnicas e metodológicas para as teóricas e epistemológicas. Pois, pesquisar sobre Educação Física é ir além da utilização de instrumentos, e da realização de procedimentos, mas sim, elaborar referenciais teóricos específicos à área estudada, na busca de desvelar a sua identidade epistemológica;
A classificação das ciências nos campos epistemológicos: os novos campos epistemológicos abrangem a ação e a prática como ponto de partida e de chegada para a produção do conhecimento, dessa forma, seus estatutos científicos pode ser mais bem entendido como ciências práticas ou da ação. No caso, a Educação Física, ao possuir seu objeto próprio como sendo a motricidade humana, tem relativa especificidade, apesar disso é possível à superação da visão tradicional das ciências aplicadas através da criação de uma nova categoria para as ciências; e,
A natureza da Educação Física: sua natureza se fundamenta num tipo específico de Educação, pois se situa mais próxima da articulação existente entre as atividades e processos que desenvolvem a natureza bio-física e humana.
Tendo como base às discussões anteriores, pode-se pensar em alguns desdobramentos da pesquisa na área da Educação Física. Partindo da premissa básica de que a pesquisa e a produção do conhecimento atrelam-se a algumas categorias, uma delas refere-se às abordagens, que se diferem umas das outras de acordo com suas concepções de homem.
Silva (1990 apud GAMBOA, 1994) analisa a produção científica em cursos de Pós-Graduação em Educação Física, e percebe uma predominância em estudos vinculados aos paradigmas empírico-analíticos. Nessa perspectiva, o homem é tomado como um indivíduo isolado, sendo assim a Educação Física é reduzida a efeitos anátomo-fisiológicos.
No entanto, esta é entendida ainda como um meio de Educação, pois integra o sistema Educativo brasileiro, na medida em que assume a responsabilidade do desenvolvimento harmônico do indivíduo. Concepções de esportes associadas à técnica, rendimento, e à saúde e sua melhora e/ou manutenção também se inserem no âmbito da Educação Física.
Santin (1987 apud GAMBOA, 1994) propõe uma abordagem filosófica de corporeidade ao relatar que o homem é corporeidade, é movimento, é expressividade, neste espaço está a Educação Física. Percebendo que o corpo está vinculado a muitas áreas do saber humano.
Outra tendência é a abordagem crítico-dialética que possui sua matriz no materialismo histórico e a filosofia da práxis. Sua compreensão de homem é entendida como este sendo um sujeito social transformador da natureza e da sua própria natureza, construtor de seu destino, movido por interesses emancipatórios da luta por melhores níveis de vida e de liberdade, é práxico.
Com a criação de cursos de Pós-Graduação em Educação Física no Brasil (Mestrado e Doutorado) na década de 80, a produção científica da área avançou. Neste período, predominavam estudos de ordem empírico-analíticas, tendo em vista que, na década de 90 houve a inserção de diferentes discursos pedagógicos, filosóficos e sociais, onde o momento era propício para ocorrerem mudanças no âmbito científico ao encontro de estudos com abordagem qualitativa (LÜDORF, 2001).
A predominância de pesquisas no paradigma citado anteriormente se justifica, de certa forma, pelas bases epistemológicas da Educação Física. Esta que evidenciava aspectos relacionados com a saúde, militarismo e esporte de rendimento. No entanto, sabe-se que a área abarca bem mais, como por exemplo, questões pedagógicas, culturais, antropológicas, filosóficas e sociais.
A autora se fundamenta em diversos teóricos para embasar a importância da pesquisa para o desenvolvimento profissional dos professores, considerando esta como essencial para o enriquecimento do trabalho docente. Lüdorf (2001) em seu estudo sobre panorama de pesquisas em Educação Física na década de 1990 utiliza a classificação idealizada por Faria Jr. (1992) que se baseia em Gamboa (1989), definindo os seguintes tipos de pesquisa: abordagens empírico-analíticas, fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialéticas. Para a análise dos resultados foi realizada a classificação dos resumos de dissertações e teses em função das principais características relacionadas aos tipos de pesquisa.
A partir desta constatou-se que, as abordagens empírico-analíticas ainda prevalecem nas produções científicas da Educação Física, contudo, de forma menos absoluta em comparação aos resultados de estudos anteriores. Sendo verificado um significativo crescimento das abordagens fenomenológico-hermenêuticas, representando uma nova tendência de desenvolvimento das pesquisas de caráter qualitativo. No entanto, a linha crítico-dialética ainda não está sendo incorporada de forma equivalente com as outras duas abordagens.
Dessa forma, pode-se concluir que apesar da mudança não representar uma transformação nos enfoques de pesquisa, já remetem para um avanço ao encontro de novas propostas metodológicas de pesquisa qualitativa. Nesta direção, Tauchen; Furtado; Lucatelli (2006, p.1) destacam a importância da pesquisa no contexto acadêmico, quando falam que “o ambiente de aprendizagem, articulado por meio da pesquisa, reclama dos participantes atitudes de colaboração, argumentação, iniciativa, interpretações do ponto de vista dos colegas e o confronto com teorias com vistas a interpretar, argumentar e redigir a própria formação”.
Tani (1999) contribui ao dizer que: "a iniciação científica é um processo indispensável para a integração da graduação com a pós-graduação, com enorme potencial para contribuir na formação do pesquisador que ensina de que tanto a Educação Física precisa" (p.55). No entanto, é importante destacar que o objetivo da pesquisa não deve ater somente no almejo a pós-graduação, já que essa prática contribui e muito com a reflexão da própria atuação docente do profissional - pesquisador. Nessa linha de pensamento, Both; Malavasi (2006) relatam o desafio que representa utilizar a pesquisa como embasamento teórico-prático para o ensino na graduação em Educação Física.
Considerações finais
Através dessa breve reflexão sobre a construção e os caminhos da pesquisa científica, percebe-se a necessidade de se reavaliar criticamente as relações entre sujeito e objeto do conhecimento, tendo em vista uma recusa do autoritarismo da verdade, ou seja, a relativização da figura soberana do sujeito do conhecimento, que determinados métodos evidenciam.
É fundamental o trabalho de reconstruir com nossa imaginação o caminho de construção do pensamento do outro, sem desconfigurá-lo, para, assim, poder respeitar a integridade do todo e evitar procedimentos de fugir e prejular a verdade inerente ao texto. A capacidade de conhecer distintamente aparece quando existe clareza das diferenciações, quando se mostra capacidade de praticar uma leitura que respeite a interioridade do texto. E, com isso, ser leitor ativo e aplicado. Além disso, é importante acompanhar, de forma atenta, as construções teórico-metodológicas dos textos, mergulhando em sua dinâmica interior, para não vir a elaborar comentários que distorçam ou traiam o significado original do texto. Textos sempre trazem “tesouros”, que devem ser desvendados no exercício de um trabalho atento, perseverante, engenhoso.
O pesquisador ao escolher um método para utilizar em seu estudo, deve procurar entendê-lo para além do senso comum deste procedimento, precisando adquirir uma atitude científica para melhor desenvolvê-lo ao longo do processo científico. Imbricados num constante desenvolvimento profissional, entende-se a importância de exercitar a imaginação criadora e iniciar o processo de escrever sem objetivos pré-definidos. Esses são pontos enfocados por autores como Marques (2001) e Oliveira (1998). Para o último, isso é que separa o técnico do pesquisador, ou seja, precisamos aprimorar a percepção, refinar a sensibilidade e ampliar os horizontes de compreensão.
Com a ênfase dada ao contexto da pesquisa em Educação Física, percebe-se que esta ainda abarca muitos desafios, os quais implicam a abrangência de perspectivas e metodologias na área. Já que, mais especificamente a Educação Física Escolar fundamenta e assenta seus estudos no campo qualitativo e necessita de pesquisas imbricadas em questões humanas, educativas, políticas e sociais, que realmente façam avançar o conhecimento que se tem de Educação Física e seu desenvolvimento no meio escolar.
Referências
BONIN, J.A. Nos bastidores da pesquisa: a instância metodológica experenciada nos fazeres e nas processualidades de construção de um projeto. In: Metodologias de pesquisa em comunicação: olhares, trilhas e processos. Porto Alegre: Editora Sulina, 2006.
BOTH, J.; MALAVASI, L.M. Pesquisa e formação inicial na Educação Física: algumas considerações. Revista Digital Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires – A.11, n.102, Noviembre, 2006. Disponível em: http://www.efdeportes.com/. Acesso: 04/04/08.
CARVALHO, A. de S. Metodologia da entrevista: uma abordagem fenomenológica. Rio de Janeiro: Agir, 1987.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
GAMBOA, S.S. Pesquisa em Educação Física: as inter-relações necessárias. PUCCAMP; UNICAMP, 2004.
GAMBOA, A.S. Ciência, Pesquisa e Metodologia na Universidade. In: LOMBARDI, J.C. (Org.). Pesquisa em educação: história, filosofia e temas transversais. 2. ed. Campinas: Autores Associados/ Caçador: HISTERDBR-UnC, p.95-104, 2000.
GONÇALVES, J.A.M. A carreira das professoras do ensino primário. In: NÓVOA, A. (Org.). Vida de professores. Porto (Portugal): Editora Porto, p.141-168, 1992.
LUDORF, S.M.A. Panorama da pesquisa em Educação Física da década de 90: análise dos resumos de dissertações e teses. In: CONBRACE, XII, 2001. Anais, Caxambu, 2001.
MARQUES, M.O. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. 4. ed. Ijuí: Ed Unijuí, 2001.
OLIVEIRA, P.S. Caminhos de construção da pesquisa em ciência humanas. In: OLIVEIRA, P.S. (Org.). Metodologia das ciências humanas. São Paulo: Hucitec/UNESP, 1998.
TANI, G. Pós-Graduação e iniciação científica. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 7, 1999. Florianópolis. Anais. UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina; UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina, 1999. p.46-56.
TAUCHEN, G.; FURTADO, A.S.; LUCATELLI, L.C. Pesquisa e formação inicial de professores. In: ENCONTRO SOBRE INVESTIGAÇÃO NA ESCOLA, VI, 2006. Anais, 2006.
Outros artigos em Portugués
revista
digital · Año 13 · N° 123 | Buenos Aires,
Agosto de 2008 |