Composição e imagem corporal de meninas maturadas atletas e não-atletas da cidade de Chapecó, SC |
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*Graduada/o em Educação Física **Mestre em Ciências do Movimento Humano na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Professora do curso de Educação Física ***Graduada em Educação Física e Especialista em Esporte Escolar. Mestranda em Educação Física. UFSC. Bolsista CAPES Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ) |
Dayane Zambenedetti Tedesco* Juliana de Oliveira* Maria Elizete Pozzobon** Denison Sartori* Alexandra Folle*** |
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Resumo
O presente estudo objetivou comparar a composição e a imagem corporal
de meninas maturadas atletas e não-atletas. A amostra constituiu-se de
20 meninas atletas da cidade de Chapecó/SC e 20 não-atletas. A coleta
dos dados foi realizada através dos seguintes instrumentos:
questionário de idade de menarca e de imagem corporal; e, percentual de
gordura. Para análise da variável composição corporal utilizou-se a
estatística descritiva: média e desvio padrão. A imagem corporal foi
analisada através da pontuação obtida a partir de questionário que
avalia a possibilidade de transtorno da imagem corporal. Para comparar
idade de menarca e composição corporal foi utilizado o teste t de
Student, para amostras independentes (Excel 2000). E, para correlacionar
o percentual de gordura e a imagem corporal das meninas maturadas atletas
e não-atletas foi utilizada a correlação de Pearson. Verificou-se que
as meninas atletas têm estatura superior às não-atletas, no entanto,
não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos,
assim como, não houve diferença significativa em relação à massa
corporal. Quanto à imagem corporal identificou-se que não houve um
padrão distorcido da auto-imagem entre os grupos. Concluindo-se a partir
da correlação entre composição e imagem corporal que as meninas
atletas têm maior percepção em relação ao seu corpo do que as
não-atletas.
Unitermos: Idade de menarca.
Composição corporal. Imagem corporal. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 |
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Introdução
O processo de desenvolvimento das crianças está se tornando cada vez mais acelerado, antecipando a chegada da adolescência e posteriormente da vida adulta, ocorrendo, assim, inúmeras transformações (biológicas, psicológicas e sociais) na vida dos indivíduos. Mudanças no tamanho e na forma do corpo, nos músculos, nos ossos, no sistema nervoso, nas funções orgânicas e na velocidade com que o indivíduo atinge a maturidade biológica. Tomado por este turbilhão de transformações, o adolescente comumente passa a ter dificuldades de entender e lidar com seu novo universo físico e mental, adquirindo o universo físico (corporal) importância fundamental em meio às transformações hormonais, funcionais, afetivas e sociais.
As mudanças no universo físico dos adolescentes, em especial das meninas e o modelo de beleza imposto pela sociedade atual acabam por influenciar a imagem corporal e as relações que estas estabelecem com seu próprio corpo. Segundo Tritschler (2003) a imagem corporal é um construto psicológico que se desenvolve por meio de pensamentos, sentimentos e percepções, acerca da própria aparência geral, das partes do corpo e das estruturas e funções fisiológicas. Visualiza-se, desta forma, que a autopercepção do corpo é um aspecto importante a ser considerado e, provavelmente, reflete a satisfação e as preocupações sobre o peso corporal, podendo ser influenciada por normas e padrões sociais da cultura dominante.
Compreende-se que a adolescência é uma fase de se descobrir como mulher, em que a auto-imagem está em desenvolvimento e a busca por um corpo delineado e perfeito acaba-se tornando um grande objetivo a ser alcançado. Bee (2003) descreve que esta corresponde ao período de passagem da infância à idade adulta, aproximadamente dos 12 ou 13 anos até o início dos 20 anos e é compreendida como uma época de transição, uma época de mudanças significativas em quase todos os aspectos do funcionamento humano, em que passam a ocorrer intensas transformações físicas, psicológicas, afetivas e sociais.
A imagem corporal está associada a três componentes: perceptivo, que envolve a percepção da aparência física (em estimativa do tamanho corporal e peso); subjetivo que se relaciona com a aparência; e comportamental que são as situações evitadas pelo indivíduo causado em decorrência do desconforto associado à aparência corporal (SAIKALI et al., 2004), ou seja, apresenta-se como um construto psicológico que se desenvolve por meio de pensamentos, sentimentos e percepções, acerca da própria aparência geral, das partes do corpo, das estruturas e funções fisiológicas (TRITSCHLER, 2003).
Buscando contribuir com as investigações nesta área, o presente estudo objetivou comparar a composição e a imagem corporal de meninas maturadas atletas e não-atletas da cidade de Chapecó/SC.
Materiais e métodos
O presente estudo caracteriza-se como descritivo de abordagem transversal (MALINA e BOUCHARD, 2002). Sua população foi composta por meninas maturadas de 12 a 14 anos, tendo como amostra 20 atletas pertencentes às equipes de competição (voleibol, futsal, handebol e basquetebol) da cidade de Chapecó/SC e 20 não-atletas. Em relação às atletas, foram selecionadas aquelas que já eram atletas, em um período mínimo de um ano, quando apresentaram seu primeiro fluxo menstrual (menarca), as meninas maturadas não-atletas foram selecionadas nas mesmas escolas e turmas destas.
A coleta dos dados foi realizada através dos seguintes instrumentos: ficha de coleta de dados (nome, idade, massa corporal, estatura e dobras cutâneas); questionário da idade de menarca - método retrospectivo (PETROSKI, VELHO e DE BEM, 1999); percentual de gordura (software SAPAF 1.0); e questionário da imagem corporal (PIETRO, SILVEIRA e SILVEIRA, 2003).
Para análise dos resultados obtidos na variável composição corporal utilizou-se a estatística descritiva dos dados: média e desvio padrão através do programa Excel versão 2000. Para comparar idade de menarca e composição corporal das meninas maturadas atletas e não-atletas foi utilizado o teste t de Student, para amostras independentes, através do programa Excel versão 2000. A imagem corporal foi analisada através da pontuação obtida a partir de questionário que avalia a possibilidade de transtorno da imagem corporal (PIETRO; SILVEIRA; SILVEIRA, 2003). E, finalmente, para correlacionar o percentual de gordura e a imagem corporal das meninas maturadas atletas e não-atletas foi utilizado o programa Excel 2000. Classificando através da correlação de Pearson (TRITSCHLER, 2003).
Resultados e discussões
A partir da Tabela 1, é possível perceber que a grande maioria das meninas atletas teve seu primeiro fluxo menstrual (menarca) aos 12 anos e aos 13 anos, no entanto, a maioria das não-atletas teve o seu fluxo menstrual (menarca) aos 11 anos de idade. Estes dados coincidem com os resultados de outras pesquisas realizadas sobre o assunto, afirmando que praticantes de atividades esportivas, normalmente têm a idade de menarca mais tardia quando comparadas com não praticantes de atividades esportivas (MALINA e BOUCHARD, 2002).
Tabela 1. Identificação da idade de menarca das meninas atletas e não-atletas por faixa etária
Idade de Menarca |
Atletas |
Não-atletas |
|||
|
n |
% |
n |
% |
|
09 anos |
00 |
00 |
01 |
05 |
|
11 anos |
04 |
20 |
09 |
45 |
|
12 anos |
08 |
40 |
06 |
30 |
|
13 anos |
08 |
40 |
04 |
20 |
De acordo com a Tabela 2, o valor médio da idade de menarca encontrada nas meninas atletas é de 12,2 anos e a média encontrada nas meninas não-atletas é de 11,6 anos, não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p = 0,055). A partir desta constatação é possível descrever que as atletas estão agrupadas na categoria de maturação média (tardia) e as não-atletas estão agrupadas na categoria de maturação avançada (precoce) (MALINA e BOUCHARD, 2002).
Tabela 2. Valores das médias, desvios padrões e Teste t de Student para variável idade de menarca das meninas atletas e não-atletas residentes em Chapecó/SC
Atletas |
|
|
Não-atletas |
|
|
|
n |
|
sd |
n |
|
sd |
p |
20 |
12,2 |
0,77 |
20 |
11,6 |
1,0 |
0,055 |
Diferença estatisticamente significativa p < 0,05.
= média; n = número de sujeitos da amostra; sd = desvio padrão
Verifica-se na Tabela 3, que a média da estatura corporal das meninas atletas tem 4 cm a mais que as meninas não-atletas. Em relação à massa corporal, verifica-se que a média das atletas é superior a das não-atletas. E, a média do percentual de gordura das meninas atletas é inferior ao das meninas não-atletas. Vislumbra-se, ainda, que à estatura corporal das meninas maturadas atletas e não-atletas apresentou diferença estatisticamente significativa (p = 0,040) para as atletas. Em contrapartida, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, em relação à idade (p = 0,309), à massa corporal e o percentual de gordura (p = 0,084) das meninas maturadas atletas e não-atletas (p = 0,685).
Diferenciando desta última constatação, o estudo realizado por Filardo, Pires-Neto e Rodrigues-Añes (2001), com escolares atletas e não-atletas do sexo masculino, encontrou diferenças significativas entre os grupos. Os estudantes em treinamento apresentaram menores valores no percentual de gordura, além de maiores perímetros, devido ao maior volume muscular conseqüente do treinamento, desta forma, concluiu-se em tal pesquisa que os escolares em treinamento apresentam melhores indicadores antropométricos e de composição corporal do que os escolares envolvidos somente nas aulas de Educação Física.
Tabela 3. Valores médios e desvios padrões das variáveis: idade, estatura, massa corporal e percentual de gordura (%G) de meninas maturadas atletas e não-atletas
Variável |
Atletas (n = 20) |
Não-atletas (n = 20) |
|
|
sd |
sd |
P |
Idade |
13,35 ± 0,81 |
13,6 ± 0,68 |
0,309 |
Estatura Corporal |
165 ± 0,07 |
161 ± 0,07 |
0,040* |
Massa Corporal |
54,76 ± 9,42 |
53,51± 9,62 |
0,685 |
% Gordura |
23,56 ± 4,83 |
26,85 ± 4,78 |
0,084 |
Tabela 4. Auto-imagem corporal de meninas maturadas atletas e não-atletas
Atletas |
Não-atletas |
|||
n |
% |
n |
% |
|
Não Patológico |
17 |
85 |
15 |
75 |
Leve Transtorno |
02 |
10 |
03 |
15 |
Transtorno Moderado |
01 |
05 |
02 |
10 |
Grave Transtorno |
00 |
00 |
00 |
00 |
Constata-se na Tabela 4, que 85% das meninas maturadas atletas e 75% das meninas maturadas não-atletas, não apresentam preocupação distorcidas com seu corpo, classificando-se, desta forma, a maioria em um quadro não patológico. Além disso, nenhuma das meninas apresenta grave transtorno de imagem corporal. Percebe-se com este resultado que não há um padrão distorcido de auto-imagem entre os grupos
. O estudo realizado por Knijnik (2001), com atletas de alto-nível do handebol nacional, o qual apresentou resultados diferenciados do presente estudo, já que encontrou-se entre aquelas atletas diferenças significativas entre a imagem corporal real e a ideal em diversas dimensões da imagem corporal.
Figura 1. Correlação entre percentual de gordura e imagem corporal de meninas maturadas atletas, r = 0,81
É possível perceber, a partir da Figura 1, que existe uma correlação linear positiva, entre o percentual de gordura e a imagem corporal das meninas maturadas atletas, sendo esta de ± 0,81 e considerada forte (TRITSCHLER, 2003).
Figura 2. Correlação entre percentual de gordura e imagem corporal de meninas maturadas não atletas, r = 0,58
Na figura 2, também, visualiza-se a existência de correlação linear positiva, entre o percentual de gordura e a imagem corporal das meninas maturadas não-atletas, sendo esta de ± 0,58 e considerada moderada (TRITSCHLER, 2003).
Conclusões
As meninas atletas possuem maturação mais tardia quando comparadas as não-atletas. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em relação à idade, à massa corporal e o percentual de gordura de meninas maturadas atletas e não-atletas, porém, identificou-se que as meninas atletas têm a estatura superior às meninas não-atletas.
Ao se analisar o resultado da imagem corporal, não se identificou um padrão distorcido da auto-imagem entre os grupos. E, por fim, a partir da correlação entre composição corporal e imagem corporal verificou-se que as meninas atletas têm maior percepção em relação ao próprio corpo do que as não-atletas.
Referências bibliográficas
BEE H. A Criança em Desenvolvimento. 9ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.
FILARDO, R. D.; PIRES-NETO, C. S.; RODRIGUES-AÑEZ, C. R. Comparação de indicadores antropométricos e da composição corporal de escolares do sexo masculino participantes e não participantes de programas de treinamento. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 31-37, 2001.
KNIJNIK, J. D. Ser é ser percebido: uma radiografia de imagen corporal das atletas de handebol de alto nível no Brasil. 2001. 122f. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Escola de Educação Física e Esportes. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
MALINA, R. M; BOUCHARD, C. Atividade física do atleta jovem: do crescimento à maturação. São Paulo: Roca, 2002.
PETROSKI, E. L.; VELHO, N. M.; DE BEM, M. F. L. Idade de menarca e satisfação com o peso corporal. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v.1, n.1, p. 30-36, 1999.
PIETRO, M. C.; SILVEIRA, E. D. X.; SILVEIRA, D. X. Teste de imagem corporal: a imagem que você faz do próprio corpo corresponde à realidade. Revista Época. [revista on-line]. 2003; Disponível em http://www.epoca.globo.com. Acesso em: 13 mai. 2006.
SAIKALI, C. J. et al. Imagem corporal nos transtornos alimentares. Revista de Psiquiatria Clínica, Rio de Janeiro, v. 31, n. 4, p. 164-166, 2004.
SAPAF. Sistema de Avaliação e Prescrição de Atividade Física, versão 1.0 [CD-ROM]; 1999.
TRITSCHLER, K. Medidas e avaliação em Educação Física e esportes de Barrow & Mcgee. São Paulo: Manole, 2003.
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