efdeportes.com
Análise do perfil morfológico e índice de performance
em atletas adolescentes de handebol masculino

 

*Especializando em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho (UGF)
Graduado em Lic. Plena em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Pesquisador colaborador do Laboratório de Pesquisa do Exercício (LAPEX-UFRGS)
e Laboratório do Movimento Humano (LMH-UCS).

**Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

***Mestre em Teoria e Prática Pedagógica em Educação Física (UFSC)
Especialista em Ciências e Jogos Desportivos pela Universidad de Matanzas (CUBA)
Coordenador do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade de Caxias do Sul
Docente das disciplinas de Natação I, Natação II e Prática de Pesquisa da UCS.

****Mestre em Ciências e Jogos Desportivos pela Universidad de Matanzas (CUBA)
Especialista em Ciências Aplicadas ao Alto Rendimento e a Saúde (UCS)
Coordenador do Laboratório de Cineantropometria do Instituto de Medicina do Esporte (IME - UCS).

*****Doutorando em Ciências Cardiovasculares (UFRGS); Fisioterapeuta
Pesquisador do Laboratório do Movimento Humano da Universidade de Caxias do Sul (LMH - UCS), Caxias do Sul - RS.

Rafael Abeche Generosi*

Bruno Manfredini Baroni**

Daniel Marcon***

Everson Batassini Lima****

Ernesto Cesar Pinto Leal Junior*****

rafaelgenerosi@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O handebol é um esporte coletivo, mundialmente conhecido, que envolve uma grande quantidade e variedade de movimentações associada à manipulação de bola e interação com outros atletas, exigindo características morfológicas distintas entre as posições de jogo e com relação aos demais desportos. Sendo a cineantropometria um instrumento fundamental para quantificar valores morfológicos e analisá-los, podendo descrever um perfil morfológico para os atletas desta modalidade referida, torna-se por objetivo deste estudo traçar o perfil morfológico dos atletas de handebol masculino com idades entre 15 e 16 anos. Foram utilizados 7 instrumentos de avaliação e 2 softwares sendo mensuradas 14 variáveis entre perimetria, dobras cutâneas e larguras ósseas, descobrindo assim valores de composição corporal, somatotipo e índices de performance. Dentre os resultados obtidos na totalidade do grupo encontramos: para massa corporal 74,38 kg, percentual de gordura 13,15%, massa magra 64,0 kg, estatura 178,72 cm, envergadura 183,69 cm, índice de substância corporal ativa (AKS) 1,12 , endomorfia 3,22 , mesomorifa 5,48 e ectomorfia 2,53. Ainda, os atletas foram analisados divididos por posição de jogo. Conclui-se com os resultados obtidos que, com exceção dos extremas, todas as demais posições necessitam obrigatoriamente de jogadores com estatura e envergadura elevadas. Os goleiros apresentaram maior massa corporal, percentual de gordura, massa gorda e massa magra que as demais posições de jogo. Os goleiros e os extremas apresentaram maior índice de substância corporal ativa (AKS) que os pivôs e os armadores, porém, os valores encontrados para todas as respectivas posições de jogo podem ser consideradas satisfatórias para a faixa etária dos atletas do presente estudo. Caracterizamos ainda que todos os atletas apresentaram o componente de mesomorfia superior a endomorfia e ectomorfia. Os pivôs e armadores são mesomorfos equilibrados e os goleiros e extremas são mesomorfos endomórficos.

          Unitermos: Morfologia. Adolescência. Esporte.

 

Abstract

          Handball is a collective sport, globally known, that involves a wide quantity and variety of movements associated to the ball manipulation and interaction with other athletes and requires different morphologic characteristics regarding playing positions and also when compared to other sports. Cine-anthropometry is a fundamental instrument to quantify and analyze morphologic values and to outline athletes’ morphologic profiles, subject which became the objective of this study, i.e. to draw a morphologic profile of male handball athletes aged 15 to 16 years. 7 evaluation instruments and 2 computer programs were used to measure 14 variables such as perimetry, skin fat layer and bone widths and as a result, to discover values of body composition, somatotype and performance rates. Among the results obtained for the whole group are: body mass 74,38 kg, fat rate 13,15 %, lean body mass 64,0 kg, height 178,72 cm, wingspan 183,69 cm, active body substance rate (AKS) 1,12, endomorphy 3,22, mesomorphy 5,48 and ectomorphy 2,53. Furthermore, the athletes were analyzed by game position, and it was concluded that except for the wings, all the other positions require tall players with long wingspan. The goalkeepers presented larger body mass, fat rate, body fat and lean body mass than the athletes in other game positions. The goalkeepers and wings presented larger active body substance rate (AKS) than the pivots and backs, however, the values found for all respective playing positions can be considered satisfactory considering the age of the athletes in this study. The study also showed that all the athletes presented higher mesomorphy component compared to endomorphy and ectomorphy. The pivots and backs are balanced mesomorphs and the goalkeepers and wings are endomorphic mesomorphs.

          Keywords: Morphology. Adolescence. Sport.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

1 / 1


Introdução

    O handebol é um esporte mundialmente difundido e tem na Europa as principais seleções mundiais. No Brasil, está em grande desenvolvimento e através das seleções masculina e feminina adulto obtiveram duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo em 2003.1 As seleções de base também estão obtendo resultados expressivos, tanto que em agosto de 2005, após o Campeonato Mundial de Handebol Júnior Feminino - República Tcheca, uma atleta brasileira foi eleita a melhor armadora esquerda da competição, integrando a seleção do mundo da categoria.2

    Por ser uma modalidade esportiva coletiva, o handebol envolve uma grande quantidade e variedade de movimentações associada à manipulação de bola e interação com outros atletas.3 Como todo esporte, a seleção de talentos torna-se imprescindível na modalidade e os fatores morfológicos são uma das variáveis que determinam o desempenho esportivo.4 Esta variável, ou seja, morfologia, é o ramo da biologia que trata da estrutura e da forma corporal 5 e tem sido contemplada em diversos estudos voltados para diferentes desportos.6, 7, 8 Num atleta podemos identificar morfologicamente a muscularidade, a linearidade e a gordura, sendo que esses três componentes em conjunto formam uma combinação única do atleta.9

    A comissão técnica de uma equipe de handebol deve conhecer as variáveis físicas interferentes de maior importância da sua modalidade específica para que seus atletas possam alcançar um maior rendimento.8 Por ser um esporte que exige que o atleta possua qualidades morfológicas e atléticas a serviço de uma máxima mobilidade em todos os sentidos para responder às exigências de situações de jogo sempre variadas,6, 7, 8 alguns atletas podem apresentar melhor performance esportiva em função de possuírem características morfológicas apropriadas para determinado esporte.10

    Uma das maneiras de conhecer e especificar as características morfológicas dos atletas, inclusive os de handebol, é através de estudos que investiguem as características antropométricas, gordura e massa corporal magra.11 As características antropométricas de um atleta podem representar pré-requisitos importantes para a participação bem sucedida em todo e qualquer esporte.12 A antropometria é um importante recurso de assessoramento para uma análise completa de um atleta, pois oferece informações ligadas ao crescimento e desenvolvimento, sendo crucial na avaliação do estado físico e no controle de diversas variáveis de treinamento.13 A gordura e massa corporal magra estão associados aos estudos da composição corporal,14, 15 e uma das maneiras de descobrir seus valores em um indivíduo é através da mensuração das dobras cutâneas do mesmo.16

    Outros componentes de destaque nos estudos de perfis morfológicos são o somatotipo17, 18 e a substância corporal ativa (AKS).19 O somatotipo começou a ser estudado por Sheldon através de fotografias feitas do indivíduo (apenas homens) em três planos, para uma posterior análise e classificação de acordo com tabelas pré-elaboradas pelo pesquisador.18, 19 Heath e Carter (1967) 20 acabaram desenvolvendo um novo modelo para a avaliação somatotípica através de medidas antropométricas, dobras cutâneas e larguras ósseas, tanto para mulheres quanto para homens e prevê a utilização de um formulário específico (somatocarta). Este método permite um estudo apurado sobre o tipo físico ideal para cada modalidade desportiva e é um excelente instrumento para ser empregado na descoberta de talentos, além de permitir uma contínua monitoração da composição corporal durante o decorrer da temporada.19,21

    O AKS, índice de substância corporal ativa, foi criado na antiga República Democrática da Alemanha com o objetivo de ser um indicador importante para determinadas disciplinas desportivas e tem como principal mérito estimar o desenvolvimento músculo-esquelético. Obtém-se o índice AKS dividindo o peso magro pela estatura do indivíduo em metro ao cubo multiplicada por dez. 19, 21

    No handebol já se observou, através de um estudo onde foram analisadas as seleções de handebol masculino participantes de um campeonato Pan-Americano, que as seleções que obtiveram as primeiras colocações no campeonato diferiram significativamente das que obtiveram as últimas colocações, nas variáveis morfológicas: estatura, comprimento de membros inferiores, envergadura, diâmetro palmar e rádio-ulnar, perímetro de antebraço, percentual de gordura (PG) e massa corporal magra. Sendo que os maiores valores médios (com exceção do PG) foram os das seleções melhores classificadas.6

    Em outro estudo, fez-se um diagnóstico da competição de handebol masculino nas Olimpíadas de Atenas 2004, onde se analisou algumas variáveis morfológicas como estatura e massa corporal de todos os atletas das 12 equipes nacionais masculinas de handebol participantes da referida competição.22 Estas variáveis também foram analisadas em atletas do sexo masculino participantes do campeonato Sul-Americano de Handebol Júnior23 , entretanto, não foram encontrados estudos envolvendo atletas de categorias inferiores.

    Desse modo, evidenciando os benefícios que os índices morfológicos, antropométricos e de composição corporal trazem para o esporte de elite e partindo da premissa que existem poucos estudos referentes ao assunto destinados ao handebol, sobretudo em adolescentes, estabeleceu-se como objetivo deste estudo caracterizar o perfil de variáveis morfológicas de atletas adolescentes de handebol do sexo masculino.

Metodologia

    Participaram do estudo 13 atletas de handebol masculino integrantes da equipe cadete do Recreio da Juventude (RJ), Caxias do Sul (CX), Rio Grande do Sul (RS), Brasil (BR) com faixa etária entre 15 e 16 anos. Os critérios de inclusão adotados foram: treinar com a equipe a mais de dois anos, com freqüência mínima de três vezes por semana e já ter participado de competições estaduais, nacionais e internacionais.

    Os instrumentos utilizados para as mensurações nas avaliações físicas foram: compasso de dobras cutâneas científico da marca CESCORF, balança digital Plenna, fita métrica Cardiomed, estadiômetro portátil Sanny, banco com altura de 40 centímetros, paquímetros ósseos Sanny, além do lápis dermográfico para marcar os pontos de pinçagem das dobras cutâneas e ficha para anotar os dados coletados. Os dados foram computados no software de avaliação física Galileu – Versão 3.0.9.64 (1999) e analisados quanto à sua significância estatística, quando pertinente, através do teste t-student com nível de significância de p<0,05. A avaliação e a anotação dos dados foram sempre realizadas respectivamente pelos mesmos pesquisadores ao longo das avaliações.

    Além dos dados de identificação dos atletas como nome, idade, dominância e posição de jogo, foram mensurados: massa corporal (MC); estatura (EST); envergadura (ENV); altura tronco-cefálica (ATC); comprimento de membros inferiores (CMI); dobras cutâneas (DC) de tríceps (TRI), abdômen (ABD), subescapular (SE), supra-ilíaca (SI) e panturrilha (PANT); perímetros de braço e panturrilha; diâmetros biepicondiliano do úmero e bicondiliano do fêmur.

    Através destas mensurações calculou-se o percentual de gordura (PG); massa gorda (MG); massa magra (MM); somatotipo classificado em endomorfia (ENDO), mesomorfia (MESO) e ectomorfia (ECTO) e o índice de substância corporal ativa (AKS). No PG foi utilizada a equação de Faulkner apud Guedes (2003) 24, onde PG = 5,783 + 0,153 (DC TRI + DC SE + DC ABD + DC SI). Apesar desta fórmula ter sido originariamente desenvolvida para uma população de nadadores canadenses e norte-americanos, houve uma grande difusão da mesma pelo Brasil para analisar o PG de atletas de elite nos mais variados desportos por ser uma fórmula bastante fidedigna quanto aos valores coletados.13

    Para determinar o somatotipo utilizou-se o protocolo de Heath e Carter (1967) 20, classificando o indivíduo em endomorfo, mesomorfo ou ectomorfo. No cálculo do valor do AKS, LIMA (2004)19 sugere a fórmula na qual se divide a massa magra pela estatura em metro ao cubo multiplicado por dez.

    Antes da realização da pesquisa, os atletas e seus pais ou responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a participação dos mesmos no estudo. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), conforme determina a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Resultados

    Entre os 13 atletas avaliados a média de idade foi de 15,69 anos (± 0,48). Destes, apenas dois (15,38%) possuem a dominância de membro superior esquerdo e os outros 11 (84,62%) são destros. Na divisão por posições de jogo encontramos dois goleiros, dois extremas, seis armadores e três pivôs.

    Nos valores mensurados para massa corporal, estatura e envergadura (agrupando todos os dados de todos os atletas avaliados) encontramos respectivamente os seguintes valores: 74,38 Kg (± 7,17); 178,72 cm (± 5,89) e 183,69 cm (± 6,14). Os valores encontrados para as mesmas variáveis mensuradas dividindo os atletas por posição de jogo são apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Massa Corporal, Estatura e Envergadura dos atletas divididos por posição de jogo

Posição (n)

MC (Kg)

EST (cm)

ENV (cm)

Goleiros (2)

84,60 (± 1,98)

179,00 (± 1,41)

187,50 (± 3,53)

Extremas (2)

71,45 (± 10,67)

173,30 (± 5,79)

177,00 (± 1,41)

Armadores (6)

70,10 (± 3,54)

177,27 (± 5,45)

184,17 (± 6,79)

Pivôs (3)

78,07 (± 5,45)

185,03 (± 4,57)

184,67 (± 6,50)

    O percentual de gordura, massa gorda e massa magra apresentaram os respectivos valores médios para os 13 atletas avaliados: 13,15 % (± 2,72); 9,93 Kg (± 2,94) e 64,07 Kg (± 4,59). Quando divididos por posições de jogo, as variáveis se apresentam da seguinte maneira:

Tabela 2. Percentual de Gordura, Massa Gorda e Massa Magra dos atletas divididos por posições de jogo

Posição (n)

PG (%)

MG (Kg)

MM (Kg)

Goleiros (2)

17,25 (± 1,08)

14,61 (± 1,25)

69,99 (± 0,72)

Extremas (2)

12,00 (± 0,98)

8,62 (± 1,98)

62,83 (± 4,26)

Armadores (6)

11,47 (± 1,07)

8,06 (± 1,08)

62,04 (± 2,58)

Pivôs (3)

14,53 (± 3,31)

11,41 (± 3,00)

66,65 (± 3,80)

    Os valores encontrados para o índice de substância corporal ativa (AKS) quando analisados os 13 atletas são: 1,12 (± 0,09). Esta mesma variável analisada apresenta os seguintes valores quando divididos os atletas por posição de jogo:

Tabela 3. Índice AKS dos atletas divididos por posição de jogo

Posição (n)

AKS

Goleiros (2)

1,22 (± 0,04)

Extremas (2)

1,20 (± 0,04)

Armadores (6)

1,10 (± 0,09)

Pivôs (3)

1,05 (± 0,07)

    Para os valores de endomorfia (ENDO), mesomorfia (MESO) e ectomorfia (ECTO) do grupo estudado encontrou-se respectivamente 3,22 (± 1,07), 5,48 (± 1,38) e 2,53 (± 1,12). Nas mesmas variáveis, dividindo os atletas novamente por posição de jogo, apresentamos os respectivos valores na tabela 4.

Tabela 4. Endomorfia, Mesomorfia e Ectomorfia dos atletas divididos por posição de jogo

Posição (n)

ENDO

MESO

ECTO

Goleiros (2)

4,50 (± 0,43)

7,49 (± 0,07)

1,32 (± 0,39)

Extremas (2)

3,07 (± 0,39)

6,61 (± 0,49)

2,04 (± 0,50)

Armadores (6)

2,53 (± 0,50)

4,96 (± 1,13)

2,80 (± 1,16)

Pivôs (3)

3,64 (± 1,38)

4,43 (± 0,60)

3,14 (± 1,23)

Discussão

    A dominância de membro superior direita por parte dos atletas apresentou valores, em percentuais, superiores estatisticamente (p<0,01) com relação a membro superior esquerdo. Explica-se, pois o gene do ser humano, que é o fragmento de DNA responsável pela síntese de uma proteína que, por sua vez, responde por um caráter hereditário, para a lateralidade apresenta características dominantes para membro direito e recessivo para esquerdo. Então, a dominância em seres humanos para lateralidade deve ser maioria em membro direito, comparado ao esquerdo.25

    A estatura (EST) elevada para um atleta de handebol pode auxiliar no desempenho em quadra, tanto na movimentação ofensiva quanto no bloqueio defensivo.3 Evidenciamos na literatura que as cinco primeiras seleções de handebol masculino adulto nos Jogos Olímpicos de Atenas foram Croácia, Alemanha, Rússia, Hungria e França e obtiveram como média de EST (cm) os respectivos valores: 193; 196; 193; 194; 190.22 Já foi referido também para atletas masculinos de seleções nacionais de handebol júnior (18 a 20 anos), participantes do campeonato Sul-Americano de 2004, os seguintes valores: Paraguai (179 ± 12,43), Chile (181,27 ± 0,05), Brasil (188 ± 0,06), Argentina (185 ± 0,07) e Uruguai (177 ± 0,06).23

    Não é coerente estabelecer um comparativo estatístico entre os valores encontrados para a EST dos atletas do RJ com os citados na literatura, pois os sujeitos possuem níveis competitivos, idade, maturação biológica, exigência física e fisiológica diferentes. Porém, sugerimos que para a determinada faixa etária (15,69 ± 0,48) os atletas dispõem de uma EST (178,72 ± 5,89) elevada e protuberante, o que condiz com os relatos da literatura, que relatam a estatura média em adolescentes na faixa etária de 15 a 16 anos em torno de 171,5 cm a 174,2 cm.26

    Por sua vez, a envergadura (ENV) é outra característica importante para o desempenho e é diretamente proporcional à EST do atleta. Ela pode determinar a potência do arremesso, pois, quanto maior a ENV, maior o raio de ação do braço e, consequentemente, maior a aceleração da bola no momento do arremesso.3 Num estudo realizado com 96 atletas adultos masculinos de handebol participantes do X Campeonato Pan-Americano encontrou-se os respectivos valores em centímetros para a variável analisada: amostragem total dos atletas (188, 61 ± 8,01) e seleção do Pan composta por 7 atletas (197,44 ± 6,25).7

    Nos atletas do RJ os valores encontrados foram 183,69 ± 6,143 , ou seja, muito próximos aos relatados nas literatura mesmo sendo uma faixa etária bastante inferior. Sugerimos, desta maneira, que os valores apresentados para a ENV dos atletas do RJ sejam considerados um parâmetro importante para a seleção de atletas de handebol partindo do pressuposto de que devam possuir uma ENV próxima aos 183 cm na faixa etária entre 15 e 16 anos.

    Na massa corporal (MC) não podemos instituir muitas comparações com os estudos que retratam populações adultas, pelo fato da maturação biológica do adulto ser muito superior ao do adolescente. No entanto, quando comparamos esta variável com sujeitos de faixas etárias próximas, mesmo que de outros desportos, os valores se aproximam. Evidenciamos num estudo realizado com 61 atletas de basquetebol, com média de idade de 16,21 anos, que os valores médios para MC foram de 74,95 ± 12,02 ,15 aproximando-se muito dos valores médios em quilograma (KG) dos atletas do RJ, 74,38 ± 7,170. Ratificando assim a sugestão de que estes valores podem ser usufruídos para basear-se na seleção dos atletas de handebol da faixa etária referida.

    Ao dividirmos os atletas em goleiros, extremas, armadores e pivôs, encontramos valores diferentes para as mesmas variáveis quanto as médias e desvios padrões, com relação a totalidade dos sujeitos. Observou-se na literatura esta exigência de distinção das características morfológicas entre as posições de jogo.6 Ainda, que os armadores e extremas sejam as posições que mais diferem entre si; os pivôs e armadores tendem a ser os atletas de maior EST, e os extremas, de menor.6, 7 Para os goleiros, é difícil afirmar qual é o tipo ideal, entretanto, salientam que uma elevada EST, associada à uma grande ENV, é responsável pela eficácia do goleiro. Assim, ele pode cobrir um maior espaço na trave, e menor será o deslocamento necessário para reagir perante um arremesso ao gol.7

    No presente estudo foram verificados os distintos valores mensurados entre as posições e destacou-se que os extremas realmente possuem uma menor EST e ENV que as demais posições. Os pivôs possuem a maior EST e os goleiros a ENV, corroborando com os perfis descritos pela literatura consultada. Dentro das insígnias apresentadas sugerimos também que os goleiros possuem uma elevada MC, com relação às demais posições, pois é uma posição na qual o metabolismo aeróbio é pouco usufruído. O goleiro necessita de uma grande capacidade anaeróbia para mover o seu corpo o mais rápido possível, no menor espaço de tempo, para realizar uma defesa.

    O desempenho atlético também está associado a gordura corporal excessiva. Nas atividades em que a massa muscular deve ser movida no espaço, a velocidade, a endurance, o equilíbrio, a agilidade e a capacidade de salto são afetados negativamente pelo nível elevado de gordura.9 Variáveis como o percentual de gordura (PG) e massa magra (MM) foram estudadas em atletas masculinos e femininos de basquetebol de um programa de treinamentos da University of Wisconsin Hospital Sports Medicine Center15, em atletas masculinos juniores de voleibol de elite12, em atletas femininas de basquetebol e voleibol do Japão14. Os valores estabelecidos para os atletas masculinos dos estudos mencionados variaram entre 11% e 13% para PG e 62 kg e 68 kg para MM.

    Nos atletas masculinos dos estudos referidos acima, os resultados obtidos para as variáveis mencionadas aproximaram-se bastante dos valores obtidos para a totalidade dos atletas de handebol do RJ. Sugere-se que a eqüidade destes valores deu-se mediante a elitização dos atletas, aos elevados níveis competitivos, maturação biológica avançada e técnica e tática apurada, mesmo os sujeitos não possuindo a mesma faixa etária correspondente. Ainda, os esportes correlacionados envolvem características físicas e fisiológicas parecidas. Portanto, a exigência ao atleta corrobora os baixos índices de percentual de gordura para ambos os esportes.

    Discute-se também na literatura que o PG ideal para atletas de handebol deve variar entre 7 – 14%. Esta variante altera, pois conforme a etapa de preparação do atleta (geral, específica ou competitiva) os valores podem aproximar-se do máximo ou mínimo recomendado.21 Por conseguinte, destacamos que os resultados encontrados para o PG na totalidade dos atletas do RJ encontram-se dentro do recomendado para a modalidade.

    Ao dividirmos os atletas por posição de jogo e analisarmos as variáveis relativas à composição corporal percebemos que os goleiros ultrapassam os índices de PG recomendado pela literatura. Ainda, superam estatisticamente (p<0,05) os valores encontrados para os extremas e armadores. Evidenciamos também que os goleiros e pivôs possuem índices superiores às demais posições de jogo, quando consideramos o conjunto das três variáveis. Esta proeminência já foi relatada na literatura afirmando que ambas as posições em destaque apresentam características morfológicas demasiadamente avantajadas em relação aos valores médios dos demais atletas das respectivas posições de jogo.7, 11

    Estas disparidades de PG e MM entre diferentes posições de jogo, independente do esporte praticado, são relatados na literatura como normais e necessárias. Visto que pelo próprio fato das posições de jogo serem diferentes umas das outras e exigirem técnica, tática e perfil morfológico distintos por parte do atleta, as suas exigências físicas e fisiológicas acabam por ser desiguais.9, 27

    Entre os poucos estudos que contemplam valores de índice de substância corporal ativa (AKS), enfatizamos um no qual se avaliou 26 sujeitos masculinos adultos praticantes de musculação sendo 13 usuários de esteróides anabolizantes (EAA) e 13 utilizados como grupo controle (GC). Verificou-se então os respectivos valores: EAA - 1,48 (± 0,09); GC - 1,20 (± 0,12). Ainda, um atleta usuário de EAA atingiu o valor de 1,69 , sendo o maior índice do estudo referido. Afirmou-se na pesquisa que os usuários de EAA possuíram AKS maior que o grupo controle, pois a Substância Corporal Ativa esta em maior presença nos usuários, resultado do uso de EAA.19

    Não é coeso realizar uma comparação dos atletas do RJ com os sujeitos do estudo aludido acima pelas diferenças incomensuráveis que encontramos nos perfis morfológicos referidos aos desportos. No entanto ao relacionarmos o AKS dos atletas do RJ (1,12 ± 0,09) com os citados num estudo da Real Federação Espanhola de Natação, voltado para a seleção de talentos de atletas masculinos (mesma faixa etária, 15-16 anos) de natação (1,16 a 1,19) 21 percebemos que os atletas do RJ estão aquém dos valores estabelecidos para a referida faixa etária. No entanto, é sugerido para o handebol que estes valores são apropriados para a faixa etária dos sujeitos do presente estudo visto que pelo fato da população possuir um elevado desempenho atlético os valores referidos acabam por ser coerentes e fidedignos ao desporto. Pelas próprias diferenças em níveis de exigência física e fisiológica que existem entre a natação e o handebol estes valores de base de referência não poderiam ser iguais.

    Ao relacionarmos o mesmo índice entre as posições de jogo percebemos que os goleiros apresentaram maiores valores de AKS visto que possuem uma MM mais avantajada que as demais posições e uma EST nem tão alta assim. Os extremas, apesar de possuírem MM inferior as demais posições, obtiveram índice AKS maior que os armadores e pivôs, pois no seu cálculo levamos em consideração a EST do indivíduo. Portanto, pelo fato dos extremas possuírem também uma EST baixa este índice tende a ser mais elevado que as demais posições (pivôs e armadores). Logo, os pivôs e armadores acabam apresentando valores de AKS mais baixo que as demais posições, pois mesmo tendo uma MC avantajada, também possuem uma EST elevada, diminuindo assim os valores do índice.

    O somatotipo de Heath e Carter (1967) 20, por sua vez, também estabelece valores distintos em endomorfia (arredondamento das curvas corporais), mesomorfia (grande relevo muscular aparente, bem como uma estrutura óssea mais maciça principalmente na região do punho e antebraço) e ectomorfia (linearidade corporal, com discreto volume muscular e pequena presença de tecido gorduroso) para os atletas de diferentes modalidades desportivas. Já se evidenciou na literatura os seguintes valores para ENDO, MESO e ECTO: seleção brasileira de canoagem masculina (2,0 - 5,9 - 2,5) e feminina (4,4 - 4,6 - 2,9) 28; atletas de elite da Grécia de basquetebol feminino (3,7 - 3,2 - 2,4), voleibol feminino (3,4 - 2,7 - 2,9) e handebol feminino (4,2 - 4,7 - 1,8) 18; culturistas masculinos participantes do Campeonato Brasileiro de Culturismo e Fitness (1,8 - 8,1 - 0,7) 29;

    Pelo fato de não terem sido encontrados na literatura estudos que norteiem o somatotipo dos atletas masculinos de handebol entre 15 e 16 anos e os atletas da presente pesquisa possuírem índices morfológicos promissores e nível competitivo elevado, sugerimos que os valores de somatotipia evidenciados na totalidade dos atletas neste presente estudo (3,22 - 5,48 - 2,53) sejam os mais adequados para a referida faixa etária e modalidade desportiva.

    Quando analisamos as mesmas variáveis nos atletas divididos por posição, percebemos que em todas elas, os atletas possuem o componente mesomórfico superior aos demais e apenas o valor dos goleiros difere estatisticamente (p<0,05) com relação aos demais valores. Os armadores são os únicos que apresentaram a ectomorfia superior a endomorfia, no entanto, o estudo de Heath e Carter (1976) 20 afirma que quando os valores do primeiro e do terceiro componente não diferem mais de 0,5 , existe um equilíbrio entre as variáveis, ou seja, acabamos por classificar os armadores em mesomorfos equilibrados. Mesmo os pivôs possuindo valores de endomorfia superiores a ectomorfia, classificamos os referidos também como mesomorfos equilibrados, pelo mesmo motivo citado com os armadores acima.

    Por conseguinte, os extremas e goleiros são classificados como mesomorfos endomórficos, visto que os valores respectivos para mesomorfia, endomorfia e ectomorfia apresentam dominância uns sobre os outros.

    Levando em consideração os objetivos deste estudo e conforme os resultados obtidos inicialmente, conclui-se que a presente pesquisa pôde identificar melhor as características morfológicas dos atletas adolescentes de handebol masculino. Com exceção dos extremas, todas as demais posições necessitam obrigatoriamente de jogadores com estatura e envergadura altas. Os goleiros apresentaram maior massa corporal, percentual de gordura, massa gorda e massa magra que as demais posições de jogo. Entretanto, quanto maior for a massa corporal magra dos atletas, melhor para a sua performance, desde que a EST e a ENV acompanhem este desenvolvimento.

    Os goleiros e os extremas apresentaram maior índice de substância corporal ativa (AKS) que os pivôs e os armadores, porém, os valores encontrados para todas as respectivas posições de jogo podem ser consideradas satisfatórias para a faixa etária dos atletas do presente estudo. Caracterizamos ainda que todos os atletas apresentaram o componente de mesomorfia superior a endomorfia e ectomorfia. Os pivôs e armadores são mesomorfos equilibrados e os goleiros e extremas são mesomorfos endomórficos.

    Mesmo os atletas deste estudo tendo apresentado resultados promissores para todas as variáveis analisadas, nota-se a carência de estudos que objetivam caracterizar o perfil morfológico de atletas adolescentes praticantes de qualquer modalidade desportiva. Ainda, consideramos que o handebol realmente exige características morfológicas distintas para cada posição de jogo. Além disso, reforça-se a idéia de que os atletas devem possuir um elevado nível de performance e desenvolvimento músculo-esquelético para chegar a elite mundial do desporto.

Referências

  1. REIS CR , NASCIMENTO DA , AGUIAR JAB, REGUEIRO FILHO WH. Perfil Fisiológico de Atletas Adulto Masculino de Handebol de Brasilia. Revista Digital Vida e Saúde. 2003; 2 (4).

  2. Revista Handebol Brasil. Volume 7. Número 36. Fevereiro de 2006.

  3. ELENO TG, BARELA JA, KOKUBUN E. Tipos de Esforço e Qualidades Físicas do Handebol. Rev Bras Cienc Esporte. 2002; 24 (1): 83-98.

  4. KISS MAP, BÖHEME MTS, MANSOLDO AC, DEGAKI E, REGAZZINI M. Desempenho e Talentos Esportivos. Rev Paul Educ Fís. 2004; 18 (especial): 89-100.

  5. HOERR NL, OSOL A. Dicionário Médico. São Paulo: Ed. S/A, 1970.

  6. GLANER MF. Morfologia de Atletas Pan-Americanos de Handebol Adulto Masculino. Dissertação de Mestrado, UFSM, Santa Maria, RS, 1996.

  7. GLANER MF. Perfil Morfológico dos Melhores Atletas Pan-Americanos de Handebol Por Posição de Jogo. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. 1999; 1 (1): 69-81.

  8. VASQUES DG, ANTUNES PC de, DUARTE MFS, LOPES AS. Morfologia dos Atletas de Handebol Masculino de Santa Catarina. R Bras Ci e Mov. 2005; 13 (2): 49-57.

  9. WILMORE JH, COSTILL DL. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2001.

  10. SILVA LAR, BOHME MTS, UEZER R, MASSA M. A utilização de variáveis Cineantropométricas no Processo de Detecção, Seleção e Promoção de Talentos no Voleibol. R Bras Ci e Mov. 2003; 11 (1): 69-76.

  11. PIRES NETO CS. Comparações Antropométricas Entre Sexos e Intraesporte na Posição de Jogo de Jovens Handebolistas Brasileiros. Rev Kinesis. 1986; 2 (2): 195-205.

  12. DUNCAN MJ, WOODFIELD I, AL-NAKEEB Y. Anthropometric and physiological characteristics of junior elite volleyball players. Br J Sports Med. 2006; 40 (7): 649-51.

  13. MARINS JCB, GIANNICHI RS. Avaliação & Prescrição e Atividade Física: Guia Prático. 2ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 1998;

  14. TSUNAWAKE N, TAHARA Y, MOJI K, MURAKI S, MINOWA K, YUKAWA K. Body Composition and Physical Fitness of Female Volleyball and Basketball Players of the Japan Inter-high School Championship Teams. J Physical Anthropol Appl Human Sci. 2003; 22 (4): 195-201.

  15. GREENE JJ, McGUINE TA, LEVERSON G, BEST TM. Anthropometric and Performance Measures for High School Basketball Players. Journal of Athletic Training. 1998; 33(3): 229-32.

  16. PETROSKI, Edio Luiz. Antropometria: Técnicas e Padronizações. 2ª ed. Porto Alegre: Ed. Pallotti, 2003.

  17. JELICIC M, SEKULIC D, MARINOVIC M. Anthropometric characteristics of high level European junior basketball players. Coll Antropol. 2002; 26 (suppl): 69-76.

  18. BAYIOS IA, BERGELES NK, APOSTOLIDIS NG, NOUTSOS KS, KOSKOLOU MD. Anthropometric, body composition and somatotype differences of Greek elite female basketball, volleyball and handball players. J Sports Med Phys Fitness. 2006; 46 (2): 271-80.

  19. LIMA EB. Estudo de Caso Controle de Diferentes Métodos de Composição Corporal, Somatotipo e Força, Praticantes de Culturismo e Usuários de Esteróides Anabólicos. Monografia de Especialização em Medicina do Esporte e Ciências Aplicadas ao Alto Rendimento e a Saúde. Universidade de Caxias do Sul, 2004.

  20. HEATH BH, CARTER JE. A Modified Somatotype Method. Am J Phys Anthropol. 1967; 27 (1): 57-74.

  21. PANCORBO SANDOVAL AH. Medicina Del Deporte y Ciencias Aplicadas al Alto Rendimiento y La Salud. Caxias do Sul: Ed. EDUCS, 2002.

  22. CORONADO JO. Juegos de la XXVIII Olimpíada. Atenas 2004: Análisis de la Competición Masculina de Balonmano. Disponível em: www.brasilhandebol.com.br. Acesso em: 16/08/2006.

  23. CRISBACH MC, PELEGRINI A, ULANEWICK SILVA J, LEVIEN JUNIOR MAA, SOUZA SILVA KE. Composição Corporal de Atletas do Sexo Masculino Participantes do Campeonato Sulamericano de Handebol Junior. Anais do XXVII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte. 2004; resumo 31.

  24. GUEDES DP. Composição Corporal: Princípios, Técnicas e Aplicações. 2ª ed. Londrina: Ed. APEF, 1994.

  25. MIAH A. Genetically Modifield Athletes: Biomedical Ethics, Gene Doping and Sports. British Isles: Ed. Routledge, 2006.

  26. GALLAHUE DL, OZMUN JC. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3ª ed. São Paulo: Phorte, 2005.

  27. FOSS ML, KETEYIAN SJ. Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2000.

  28. GOBBO LA, PAPST RR, CARVALHO FO, SOUZA CF de, CUATTRIN AS, CYRIN ES. Perfil Antropométrico da Seleção Brasileira de Canoagem. R Bras Ci e Mov. 2002; 10 (1): 07-12.

  29. SILVA PRP, TRINDADE RS, DE ROSE EH. Composição Corporal, somatotipo e proporcionalidade de culturistas de elite do Brasil. Rev Bras Med Esporte. 2003; 9 (6): 403-7.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 122 | Buenos Aires, Julio 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados