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Perda hídrica em atletas de uma equipe feminina de vôlei

 

*Graduandas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

**Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo HC – FMUSP

Mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP), doutora em Saúde Pública (USP)

Professora do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista.

(Brasil)

Adriana Passanha*

Fernanda Santos Thomaz*

Lídia Regina Pereira Barbosa*

Márcia Nacif**

adriana.passanha@gmail.com

 

 

 

Resumo

          A perda hídrica pela sudorese durante a atividade física pode levar o organismo à desidratação, ocasionando elevação da temperatura corporal, diminuição do débito cardíaco, perda de eletrólitos e prejuízos no rendimento esportivo. O objetivo desse estudo foi analisar a taxa de sudorese e o consumo hídrico de atletas de uma equipe de vôlei feminino de um clube de São Paulo. A amostra foi constituída de 13 atletas adolescentes, pertencentes a uma equipe mirim de vôlei. Foram aferidos peso inicial (antes do treino), peso final (após o treino), estatura e consumo de água. A partir desses dados, foram calculadas a porcentagem de perda de peso e a taxa de sudorese. A média da porcentagem de perda de peso foi de 2,55% (+ 0,75); a da taxa de sudorese, de 12,21mL/min (+ 3,02); e do consumo de água, de 742,31mL (+ 277,24). Os valores de taxa de sudorese e de porcentagem de perda de peso demonstram que a desidratação das jogadoras, de forma geral, foi significativa. Conclui-se que as atletas devem ingerir líquidos antes, durante e após o exercício, para equilibrar as perdas hídricas ocasionadas pela sudorese excessiva, e deve-se atentar à necessidade de reposição com soluções hidroeletrolíticas, para suprir as demandas fisiológicas do organismo.

          Unitermos: Hidratação. Desidratação. Atletas. Vôlei.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

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Introdução

    Durante a atividade física a produção de calor pelo corpo humano fica elevada. A quantidade de suor necessária para dissipar esse calor pode ocasionar perda de água e de eletrólitos, levando o indivíduo à desidratação (MARQUEZI e LANCHA JÚNIOR, 1998; ALMEIDA et al, 2005). A perda hídrica pela sudorese durante o exercício pode levar o organismo à desidratação. Quanto maior a desidratação, menor a redistribuição do fluxo sangüíneo para a periferia, menor a sensibilidade do hipotálamo para a sudorese, menor a capacidade aeróbica para um dado débito cardíaco, e maior a elevação da temperatura corporal (GUERRA, SOARES e BURINI, 2001; BRITO et al, 2006; MACHADO-MOREIRA et al, 2006; SALUM e FIAMONCINI, 2006).

    Além das perdas de água e eletrólitos, o organismo, com a evolução da atividade física, depleta glicogênio hepático e muscular, fazendo com que seus estoques fiquem reduzidos, levando o indivíduo à hipoglicemia (ARIAS, DÍAZ e JARAMILLO, 2000; ANDRADE, LAITANO e MEYER, 2005).

    Mesmo a desidratação leve aumenta o esforço cardiovascular e a freqüência cardíaca, com diminuição no débito, prejudicando a dissipação de calor e fazendo com que a temperatura corporal fique elevada (MARQUEZI e LANCHA JÚNIOR, 1998; RODRIGUES e MAGALHÃES, 2004; PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005; MACHADO-MOREIRA et al, 2006; PANZA et al, 2007).

    As conseqüências da desidratação dependem do tipo e da intensidade do exercício físico. O volume plasmático diminui progressivamente com a evolução do exercício, o que pode ser compensado com ingestão de líquidos durante a atividade. Se essa ingestão for equivalente à perda de líquidos, a redução do volume plasmático será prevenida (RODRIGUES e MAGALHÃES, 2004; PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005; MACHADO-MOREIRA et al, 2006).

    Baixos níveis de estresse térmico podem causar desconforto e fadiga, enquanto níveis maiores podem diminuir consideravelmente o desempenho esportivo (GUERRA, SOARES e BURINI, 2001; MARINS, DANTAS e NAVARRO, 2003; PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005; BRITO et al, 2006; SALUM e FIAMONCINI, 2006). No entanto, assim como a desidratação, a ingestão excessiva de líquidos também prejudica o rendimento competitivo (MACHADO-MOREIRA et al, 2006).

    Um método simples de avaliar o estado de desidratação do indivíduo é aferindo o peso corporal antes e após a atividade física; a partir de então, calcula-se a diferença entre ambos e o percentual de perda de peso, para posterior classificação do estado de desidratação (MACHADO-MOREIRA et al, 2006).

    Conhecer o estado de hidratação do indivíduo antes, durante e após o exercício é de extrema importância para a sua prática constante e para evitar os problemas de saúde decorrentes à desidratação. Com isso, o objetivo desse estudo foi analisar a taxa de sudorese e o consumo hídrico de atletas de uma equipe de vôlei feminino de um clube de São Paulo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo transversal, realizado com 13 atletas adolescentes do gênero feminino, da equipe mirim de um time de vôlei de um clube da cidade de São Paulo.

    Para a pesagem das atletas utilizou-se uma balança de chão, digital, marca ACCUMED®, devidamente calibrada. As avaliadas ficaram descalças, em posição reta e com o corpo relaxado para aferição da medida. O peso foi aferido antes e após o treino de vôlei, o qual teve duração de 3 horas.

    A partir da diferença dos pesos inicial e final, foram calculadas a porcentagem de perda de peso e a taxa de sudorese (esta, dividindo o valor da diferença de peso em mililitros – valor equivalente a gramas – pelo valor da duração do treinamento em minutos).

    A estatura foi mensurada com duas fitas métricas inelásticas e inextensíveis, inversas e afixadas verticalmente na parede lisa sem rodapé, piso não carpetado e um esquadro de 30cm na posição adjacente com a participante. Foi solicitado que a avaliada ficasse descalça, com os braços estendidos ao longo do corpo e com os calcanhares juntos e costas retas. A cabeça foi posicionada eretamente com os olhos fixos para frente ou no plano horizontal de Frankfurt. Foi retirado qualquer adorno utilizado nos cabelos e a avaliada inspirou profundamente enquanto o esquadro foi abaixado até o ponto alto de sua cabeça.

    O IMC foi calculado a partir das medidas de peso e estatura, e classificado de acordo com as curvas de IMC/idade do Ministério da Saúde (2007).

    A quantidade de água ingerida pelas avaliadas durante o treino foi controlada pelas avaliadoras. As atletas foram orientadas a beberem copos de 200mL cheios, ou pela metade, para facilitar a quantificação.

    Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo, pelo documento Coep 097/06.

Resultados

    Foram avaliadas 13 atletas, com idade média de 13,89 anos (+ 0,53). A figura 1 mostra os valores de IMC de acordo com a classificação do Ministério da Saúde (2007). Apenas 15,38% (n=2) das atletas foram classificadas como risco de excesso de peso; as 84,62% (n=11) restantes mostraram-se eutróficas.

Figura 1. Classificação do IMC de atletas adolescentes do gênero feminino de um time de vôlei. São Paulo, 2008.

    Em relação à porcentagem de perda de peso, a média apresentada foi de 2,55% (+ 0,75). A taxa de sudorese média foi de 12,21mL/min (+ 3,02). Referindo-se ao consumo de água, o valor médio foi de 742,31mL (+ 277,24). Esses valores podem ser visualizados detalhadamente na tabela 1.

Tabela 1. Valores de peso inicial, peso final, porcentagem (%) de perda de peso, taxa de sudorese e consumo de água de atletas adolescentes do gênero feminino de um time de vôlei. São Paulo, 2008.

Atletas

Peso inicial (kg)

Peso final (kg)

% de perda de peso

Taxa de sudorese (mL/min)

Consumo de água (mL)

1

55,5

53,4

3,8

15,0

600

2

50,4

49,8

1,2

6,7

600

3

63,3

62,2

1,7

12,2

1100

4

49,2

48,5

1,4

9,4

1000

5

71,8

69,8

2,8

15,6

800

6

59,4

58,1

2,2

12,8

1000

7

64,0

61,9

3,3

17,2

1000

8

50,4

49,1

2,6

12,8

1000

9

44,5

43,5

2,2

10,0

800

10

50,4

49,0

2,8

8,9

200

11

65,9

63,8

3,2

15,0

600

12

54,0

52,6

2,6

9,2

250

13

52,9

51,1

3,4

13,9

700

Média

56,28

54,83

2,55

12,21

742,31

Desvio-padrão

7,66

26,47

0,75

3,02

277,24

Valores mínimos

44,5

43,5

1,19

17,2

200

Valores máximos

71,8

69,8

3,78

6,7

1100

Discussão

    Neste estudo, a taxa de sudorese das jogadoras variou de 6,7 a 17,2mL/min, e a porcentagem de perda de peso de 1,19 a 3,78%, o que evidencia, de forma geral, uma significante perda hídrica. Considerando que o suor é um dos principais mecanismos fisiológicos da termorregulação (PANZA et al, 2007), pode-se afirmar que, neste estudo, durante o treino de vôlei, houve aumento da temperatura corporal das atletas, e que essa desidratação intensa, em conjunto com o baixo consumo de água, poderia desencadear outras respostas fisiológicas, como a perda de eletrólitos.

    Água e eletrólitos são importantes para a manutenção da atividade física, e um desequilíbrio entre esses elementos pode influenciar negativamente a capacidade física (BRITO e MARINS, 2005). Além disso, os adolescentes merecem atenção especial, pois suam menos, produzem mais calor, são menos eficientes na transferência do calor dos músculos para a superfície corporal e se adaptam ao calor mais vagarosamente do que os adultos. Todos estes fatores contribuem para aumentar os riscos da desidratação (ALMEIDA et al, 2005).

    Há grande variedade individual de perda hídrica devido a diferenças na composição corporal, taxa metabólica, aclimatação do atleta, temperatura e umidade ambiente, variedade e intensidade de exercícios realizados durante o jogo e diferenças no consumo máximo de oxigênio (GUERRA, SOARES e BURINI, 2001; PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005; SALUM e FIAMONCINI, 2006).

    Como a atividade física também pode levar o organismo à hipoglicemia (ARIAS, DÍAZ e JARAMILLO, 2000; ANDRADE, LAITANO e MEYER, 2005), para evitá-la é necessária uma oferta adequada de carboidratos (ANDRADE, LAITANO e MEYER, 2005). A reposição com solução hidroeletrolítica atua tanto na perda de eletrólitos quanto na queda da glicemia, além de promover hidratação. Essa reposição é recomendada quando o exercício físico é intenso e tem duração de uma a três horas ou mais de três horas (PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005), o que seria o caso do presente estudo.

    Uma das principais manifestações da desidratação é a sede. O mecanismo da sede é sensível às variações plasmáticas de sódio, ao volume sangüíneo e à osmolalidade. Com o aumento da concentração de sódio no plasma e/ou diminuição do volume sangüíneo, ocorre maior percepção da sede (PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005). No entanto, a sede pode ser saciada antes da reposição total de líquidos perdidos através da sudorese (MACHADO-MOREIRA et al, 2006; PERRELLA, NORIYUKI e ROSSI, 2005).

    Durante a atividade física os praticantes devem consumir líquidos constantemente, em pequenas quantidades e em intervalos regulares, para não interferir no esvaziamento gástrico, e também para repor toda a água perdida através do suor (GUERRA, SOARES e BURINI, 2001). Se a hidratação é feita de forma adequada, não ocorrerão alterações fisiológicas negativas (MELCHIORRI et al, 2000), e a performance e a regulação da temperatura corporal não serão prejudicadas (ANDRADE, LAITANO e MEYER, 2005). Neste estudo observou-se o consumo médio de água de 742,31mL (+ 277,24).

Conclusão

    De acordo com os dados coletados, notou-se que as jogadoras apresentaram uma significante perda hídrica, mesmo com o elevado consumo de água. Como o treino de vôlei destas atletas é intenso e de longa duração, deve-se buscar uma nutricionista para verificar a necessidade de reposição com soluções hidroeletrolíticas.

    Em suma, o atleta deve ingerir líquidos antes, durante e após o exercício físico, a fim de equilibrar as perdas hídricas ocasionadas pela sudorese excessiva. Deve-se atentar também à necessidade de reposição hidroeletrolítica, para suprir as demandas fisiológicas do organismo.

Referências

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