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A Internet como instrumento de incentivo às atividades
físicas e à melhoria da qualidade vida dos idosos

 

1. Doutor em Sociologia pela PUC-SP, 

professor do Programa de Pós-Graduação a Distância da Universidade Católica de Brasília - Virtual

2. Doutor em Ciências da Religião pela UMESP-SP, 

professor no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília (UCB)

3. Doutora em Fisiologia pela University of London/Inglaterra, 

professora no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Gerontologia da UCB

4. Doutora em Psicologia pela UnB, 

professora no Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Gerontologia da UCB

5. Doutora em Educação pela PUC-SP, 

professora do curso de Pedagogia da Universidade Municipal de São Caetano (IMES)

6. Aluna de Psicologia de Iniciação Científica na UCB

7. Aluna de Fisioterapia de Iniciação Científica na UCB.

(Brasil)

Carlos Lopes1

Vicente Paulo Alves2

Lucy Gomes Vianna3

Carmen Jansen Cardenas4

Vitória Kachar5

Lana dos Santos Wolff6

Glaciele Nascimento Xavier7

Cláudia Assuero Madureira Farias7

clopes@ucb.br

 

 

 

Resumo

          A partir de uma pesquisa realizada, partindo de elementos quantitativos e, principalmente, de um enfoque qualitativo, discute-se o papel que a internet, como fonte de informação, pode ter na vida das pessoas idosas, incentivando-as à prática dos exercícios físicos, à alimentação saudável e à comunicação com seus amigos e familiares. Acredita-se que os dados encontrados apontam para um potencial recurso de educação a distância para os idosos, à medida que vence os preconceitos de que o uso das tecnologias não deveria contemplar as pessoas idosas. Os idosos pesquisados sentem-se realizados com a sua qualidade de vida. Alé do mais, se sentem motivados em relação à utilização da internet como um instrumento a mais no processo de melhoria da qualidade de vida.

          Unitermos: Atividades físicas. Internet. Qualidade de vida. Pessoas idosas.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

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Introdução

    Este artigo é fruto do desenvolvimento de uma pesquisa que envolveu um levantamento de dados quantitativos e, principalmente, desenvolveu uma abordagem qualitativa de análise, tendo como referência o método fenomenológico (Husserl, 1929 e Merleau-Ponty, 1999) e que analisou o que as pessoas idosas estão procurando na internet e o que poderia servir para melhorar sua qualidade de vida. Sabe-se que o tema da qualidade de vida pode relacionar-se com a busca por informações na internet, auxiliando no incentivo à prática de exercícios físicos, conciliada com uma alimentação saudável, o convívio e a comunicação com as pessoas amigas, da qual a internet mostrou ser um grande apoio. Não se pode esquecer que é no período da velhice que acontece o declínio da saúde física, o afastamento do mercado de trabalho, a perda de papéis sociais, a perda de amigos e pessoas da família, a viuvez, dentre outros tantos eventos não controláveis e que se são, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, parte da vida do idoso. Esses temas podem encontrar na fenomenologia o aporte filosófico que possibilita uma postura metodológica que investigue o incentivo que os idosos recebem da internet para buscar uma qualidade de vida importante para suas vidas. Participaram da pesquisa 26 idosos (acima de 60 anos de idade), que utilizavam a internet por um período maior de três anos, sendo 12 do sexo masculino e 14 do feminino. A idade média foi de 64,50 anos (D. P. = 6,20) e 42,3%.

Metodologia

    Foi construído um questionário com 23 perguntas referentes à qualidade de vida e o uso da internet. Ao final foram acrescentadas nove questões relativas a dados sócio-econômicos dos sujeitos. Os dados parciais apresentam margem de erro de 20%, uma vez que o instrumento foi aplicado de forma aleatória, entre pessoas idosas que freqüentavam cursos de informática ou que utilizavam a internet no próprio domicílio. Os dados parciais foram tabulados no SPSS e analisados por meio de distribuição de freqüência.

    Dos 26 idosos respondendes, selecionou-se aleatoriamente 7 idosos para realizar uma entrevista semi-estruturada, onde se queria perceber esse fenômeno que está acorrendo com os idosos no uso do computador como ferramenta para a melhora da qualidade de vida. Aqui o método fenomenológico se revelou eficaz para compreender o que estava diante de nossos olhos, o que transparece nos resultados encontrados.

Resultados

    Os sujeitos que participaram da pesquisa possuíam em sua maioria o ensino superior completo (42,3%) ou pós-graduação (23,1%). No quesito renda mensal familiar, 52,4% dos participantes relataram estar acima de quatro mil reais, e o restante (47,6%) estão abaixo desse valor. No que se refere ao estado civil, 69,5% eram casados, 28% (viúvos) e 2,5 (solteiros). Quanto aos locais de acesso ao computador com internet, 88,2% dos idosos disseram que em sua residência havia esse acesso e o restante (11,8%) acessam de lugares públicos (lan-house ou telecentros gratuitos).

    Dentre as atividades apreciadas pelos idosos internautas (90%) destaca-se o uso da internet para comunicação com seus amigos e parentes, utilizando seja trocas de e-mails, mensagens instantâneas (chat), comunidades de relacionamentos, listas de discussão ou comunicação on line por voz. Os demais 10% preferem mais as visitas às páginas de notícias na internet.

    O propósito com que os idosos procuram a internet é fundamentalmente “pessoal ou privado” (66,33%), vindo em seguida por motivos de “trabalho remunerado ou negócios” (31,26%), “educação ou estudos” (21,99%) e “trabalho voluntário ou comunitário” (7,9%).

    Os idosos buscam por informações sobre bens e serviços (47,34%), sobretudo relacionadas com a saúde (25,6%). Interessam-se e muito também por informações sobre viagens e acomodações (16,6%).

    Na lista dos assuntos mais interessam para os idosos, embora bastante diversificados, pode-se dizer que predomina a Educação (11%), a Saúde (10%), o Meio Ambiente (9%) e a Economia (9%).

    Segundo a imaginação dos idosos, antes de terem contato com a internet, ela seria uma ferramenta prática e rápida para se obter informações (40%), razão pela qual revolucionou o nosso mundo (32%). Essa percepção fez com que, a partir da sua utilização, foi possível melhorar sua memória e sua qualidade de vida (28%).

    Quando aconteceram as sete entrevistas individuais, cinco mulheres e dois homens mostraram que receberam um grande estímulo com a internet para repensarem suas vidas, sobretudo, com a importância das atividades físicas e da alimentação saudável para a qualidade de vida. Foi possível perceber que alguns idosos têm clareza da definição de “qualidade de vida”. Para a “Entrevistada 1” é em “[...] primeiro lugar, a alimentação, e depois, eu acho que a gente tem que fazer uma atividade física, ter cuidado com o meio ambiente, procurando não poluir, por que eu acho que isso tá influindo e vai influir muito mais nas outras gerações [...]”.

    Para a “Entrevistada 2”, quando perguntada sobre o uso da internet e a qualidade de vida ela não se esquivou em afirmar que não gosta de ficar parada: “[...] Eu acho que melhorou porque eu não fiquei parada depois que eu ma aposentei”.

    Os demais entrevistados não pouparam elogios aos seus instrutores e professores que lhes ensinaram pesquisar na internet, sobretudo sobre informações relativas à saúde das pessoas idosas. Na resposta de um deles (Entrevistada 5) a internet lhe trouxe “[...] Saúde, uma boa alimentação, divertimento, exercício físico, qualquer uma coisa que deixe a gente bem [...]”.

Discussão

    As pessoas idosas buscam sites que tratam de aspectos relacionados à qualidade de vida, às últimas notícias, alimentação saudável, receitas de culinária, lazer, cultura, direitos da pessoa idosa, produções poéticas e literárias, memórias e reflexões sobre o mundo e a experiência vivida de outras pessoas idosas, orientações de saúde para prevenir doenças, medidas e cuidados com o próprio corpo e nutrição. Essas ações são apontadas por Kachar (2005, p.2) como importantes para manter as atividades intelectuais e físicas da pessoa idosa para se manterem em constante exercício. Isto é: “Na navegação na rede, por meio da leitura e seleção das informações, na escrita de e-mails entre outras atividades, o indivíduo tem a oportunidade de estimular a memória, recomendável na prevenção de perdas cognitivas e na manutenção de uma mente saudável”.

    Lopes e Alves (2006) destacam que está havendo um grande incentivo por parte das universidades públicas e privadas de agregarem como seus alunos pessoas idosas, incentivando-as ao conhecimento de todas as áreas. Particularmente, há uma forte procura pela aprendizagem do uso do computador e da internet, abrindo-se para uma oportunidade de uso da educação a distância voltada para as pessoas idosas. Assim, os autores acreditam que é possível criar condições de realizar sociabilidades e de produzir conhecimento em ambiente virtual, incentivando a busca por melhores condições de saúde que incluam as atividades físicas, a alimentação saudável e a comunicação com familiares e amigos. No caso da utilização da Internet e acesso a ambientes virtuais, Lopes e Alves (2006, p.61) considera que “a educação como um instrumento de emancipação e, nesse âmbito, encontra-se a possibilidade da flexibilização da educação aberta e a distância para as pessoas idosas, propiciando espaço de (re)valorização do sentido da vida”.

    Esse posicionamento desses autores encontra uma ponderação no pensamento de Kachar (2006) quando afirma que “[...] é preciso ter muito claro qual o objetivo da Internet na vida dos indivíduos da terceira idade e prepará-las para utilizar de modo proveitoso e sem risco à saúde e prejuízo a seu bem-estar”. (KACHAR, 2006, p. 302)

Conclusão

    Ao analisar todos os dados encontrados, por meio da aplicação do questionário e das entrevistas realizadas, percebeu-se que a qualidade de vida associou-se muito bem ao uso da internet para um grande número de sujeitos. Para alguns (8%), sua qualidade de vida dependeria extremamente do acesso às informações disponibilizadas na internet. Ou seja, parece que os idosos começam valorizá-la à medida que melhoram suas vidas, incentivam aos exercícios físicos, a comer de forma balanceada e manter uma relacionamento afetivo com amigos e familiares.

    Os dados do estudo são significativos para o atual crescimento do uso da internet e reforçam a necessidade de democratizar esse acesso para todos os níveis e idades, apesar dos elevados custos dos equipamentos e a escolaridade que é requerida para o uso dessa ferramenta. A expectativa é de que esses dados não constituam uma barreira para o aprofundamento das questões que envolvem o idoso e o uso da internet, mas que os seus interesses possam ainda permanecer latentes e que se tragam um maior nível de qualidade de vida para um grupo significativo de usuários, como o dos idosos.

    Um desafio que surge desse estudo é o de envolver os idosos em atividades que realmente faça sentido para eles, que os motivem para uma aprendizagem significativa, aproximando-os das pessoas que amam ou querem bem, como seus familiares e amigos, por meio de ferramentas de comunicação e de diálogo, pois os idosos não se conformam de serem tratados como “pessoas alheias” ao processo evolutivo da tecnologia. Eles querem participar, envolver nesse sistema fantástico que é o da busca pelo conhecimento.

Referências bibliográficas

  • HUSSERL, Edmund. Investigaciones lógicas. Madrid: Alianza Editorial S.A, 1929. 382 p.

  • KACHAR, Vitória. Terceira Idade e Informática. São Paulo: Cortez, 2003. 206 p.

  • KACHAR, Vitória. Longevidade: um novo desafio para a Educação. São Paulo: Cortez, 2001. 149 p.

  • LOPES, Carlos; ALVES, Vicente Paulo. “As novas possibilidades de educação nas universidades aberta do Brasil (UAB) e da terceira idade (UNATI)”. In: Encruzilhadas da universidade particular: caminhos e possibilidades. SASTRE, E. A. (org.). Brasília: Universa, 2006.

  • MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 662 p.

  • SILVESTRE, J. A. et al. O envelhecimento populacional brasileiro e o setor saúde. In Arquivos de Geriatria e Gerontologia. São Paulo, v. 0, n.1, p. 81-89, 1996. cap. 5, p.141-159.

Referências Eletrônicas

  • CODEPLAN. Pesquisa de Informações Sócio-Econômicas das Famílias (PISEF) do Distrito Federal. http://www.codeplan.df.gov.br/. Acessado em 20 Maio 2005 às 15h00.

  • FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na 3ª idade. São Paulo, maio de 2006. Pesquisa disponível em www.fpa.org.br/pesquisaidosos. Acesso em: 27 jul. 2007.

  • IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE. http://www.ibge.gov.br/. Acessado em 20 Maio 2005 às 14h30.

  • INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). in http://www.inep.gov.br. Acessado em 13 Maio 2005 às 20h40.

  • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) / World Health Organization (WHO) (2005) in http://www.who.int. Acesso em 13 Maio 2005 às 21h00.

  • PAULO, Ceris Ângela e GRINGS, Eliane Schlemmer. (2005). “Internet e a terceira idade” no VI Congresso Internacional de Educação à Distância in http://www.abed.org.br/antiga/htdocs/paper_visem/ceris/ceris_angela_paulo.htm acesso em 16 Abril 2005 às 20h12.

  • REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Estatuto do Idoso. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.741.htm. Acesso em 06 Maio 2005 às 20h20.

  • KACHAR, Vitória. “Internet, um território sem fronteiras para a terceira idade” in http://www.portaldoenvelhecimento.net/pforum/evve3.htm. Acesso em 06 Maio 2005 às 19h00.

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revista digital · Año 13 · N° 122 | Buenos Aires, Julio 2008  
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