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Mudanças no estilo de vida de um idoso após
a ocorrência de um acidente vascular cerebral

 

*Mestranda em Cineantropometria, UFSC, Florianópolis, SC.

**Mestrando em Atividade Física e Saúde, UFPR, Curitiba, PR.

***Mestranda em Atividade Física e Saúde, UFSC, Florianópolis, SC.

(Brasil)

Teresa Maria Bianchini de Quadros*

Alex Pinheiro Gordia**

Danielle Biazzi Leal***

alexgordia@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Objetivo: a) analisar mudanças no estilo de vida de um idoso após a ocorrência de um AVC; b) identificar alterações biológicas ocorridas devido a mudanças no comportamento do indivíduo estudado após o diagnóstico da patologia; c) propor recomendações visando a aderência a um estilo de vida ativo.

           Métodos: Caso - Indivíduo do sexo masculino, 69 anos; nos últimos dez anos apresentava períodos de isquemia transitória, com sensação de amortecimento em hemicorpo esquerdo; permaneceu internado em conseqüência do AVC num período de cinco dias apresentando quadro clínico de hemiplegia esquerda total imediata e aumento da pressão arterial no momento do AVC; tabagista durante 60 anos e ex-fumante há dois anos e seis meses; dorme cerca de 8 horas diárias com uso de indutor de sono. Para analisar o perfil do estilo de vida do indivíduo foi utilizado o questionário Pentáculo do Bem-estar. Verificaram-se fatores de risco biológicos através de exames periódicos realizados pelo paciente. 

          Resultados: Pode-se observar que os comportamentos que mais sofreram alteração após a ocorrência do AVC e consequentemente após o abandono do hábito de fumar foram os componentes nutrição e atividade física. Em relação aos fatores de risco biológicos, o resultado mais relevante foi a diminuição da obstrução das duas artérias carótidas e intracranianas de 90% (na data da ocorrência do AVC) para 65% (após 2 anos da cessação do fumo). 

          Recomendações: Diante dos resultados obtidos recomenda-se que o indivíduo tente incluir no seu dia-a-dia: Afazeres domésticos (limpeza do jardim); Caminhadas até a Lotérica (uma vez por semana e aumentar progressivamente); Realizar passeios (caminhada) com os cachorros; Fazer compras pequenas através da caminhada.

          Unitermos: Estilo de vida. Idoso. AVC.

 

Abstract

          Objective: a) to analyze changes in the style of life after the occurrence of a AVC; b) to identify to occured biological alterations due the changes in the behavior of the individual studied after the diagnosis of the pathology; c) to consider recommendations aiming at the tack to an active style of life. 

          Methods: Case - Individual of the masculine sex, 69 years; in last the ten years it presented periods of transitory ischemia, with sensation of left damping in hemiparesis; he remained interned in consequence of the AVC in a period of five days presenting clinical picture of immediate total left hemiplegia and increase of the arterial pressure at the moment of the AVC; smoking during 60 years and ex-smoker has two years and six months; it sleeps about 8 daily hours with use of sleep inductor. To analyze the profile of the style of life of the individual the Pentáculo of Well-being questionnaire was used. The biological factors of risk were verified through periodic examinations carried through by the patient. 

          Results: It can be observed that the components that had more suffered to alteration after the occurrence from the AVC and consequently after the abandonment from the habit to smoke had been the components nutrition and physical activity. In relation to the biological factors of risk, the result most interesting was the reduction of the blockage of the two carotid and intracranial arteries of 90% (in the date of the occurrence of the AVC) for 65% (after 2 years of the ceasing of the tobacco). 

          Recommendations: Ahead of the gotten results is recommended that the individual tries to include in yours diaries activities: Domestic tasks (cleanness of the garden); Walked until the Lottery (a time per week and to increase gradually); To carry through strolls (walked) with the dogs; To make small purchases through of walked.

          Keywords: Style of life. Elderly. AVC.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

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Introdução

    A doença cerebrovascular (DCV) é causa importante de morbidade e mortalidade em nosso meio. Segundo registros dos Indicadores e Dados Básicos de 1997 do Ministério da Saúde, a mortalidade proporcional devida a doenças do aparelho circulatório é de 32,3%, liderando as causas de óbito no Brasil. Dentro deste grupo, a DCV ocupa o primeiro lugar, sendo responsável por cerca de 1/3 das mortes, ultrapassando a doença isquêmica coronariana. A taxa específica de mortalidade por DCV no Brasil, em 1996, foi de 56,1/100000 habitantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Dados epidemiológicos americanos estimam que a DCV seja responsável por pelo menos 50% dos casos neurológicos atendidos num hospital geral (ADAMS; VICTOR; ROPPER, 1997).

    O termo acidente vascular cerebral (AVC) é usado para designar o déficit neurológico (transitório ou definitivo) em uma área cerebral secundário a lesão vascular, e representa um grupo de doenças com manifestações clínicas semelhantes, mas que possuem etiologias diversas: AVC hemorrágico (AVCh) compreende a hemorragia subaracnóide (HSA), em geral decorrente da ruptura de aneurismas saculares congênitos localizados nas artérias do polígono de Willis e a hemorragia intraparenquimatosa (HIP), cujo mecanismo causal básico é a degeneração hialina de artérias intraparenquimatosas cerebrais, tendo como principal doença associada a hipertensão arterial sistêmica (HAS); AVC isquêmico (AVCi) descreve o déficit neurológico resultante da insuficiência de suprimento sanguíneo cerebral, podendo ser temporário (episódio isquêmico transitório, EIT) ou permanente, e tendo como principais fatores de risco a HAS, as cardiopatias e o diabetes mellitus (DM) (GOMES, 1992).

    Outras etiologias podem estar associadas ao AVC, tais como coagulopatias, tumores, arterites inflamatórias e infecciosas. Este conjunto de doenças representa grande ônus em termos socioeconômicos, pela alta incidência e prevalência de quadros sequelares. A importância da DCV para o Sistema de Saúde no Brasil pode ser estimada pelo fato de representar 8,2% das internações e 19% dos custos hospitalares do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) (GOMES, 1992).

    Pesquisas em diversos países, inclusive no Brasil, têm mostrado que o estilo de vida, mais do nunca, passou a ser um dos mais importantes determinantes da saúde de indivíduos, grupos e comunidades, apresentado papel fundamental na prevenção e tratamento de diversas doenças crônico-degenerativas (NAHAS, 2003).

    Desta forma, este estudo teve como objetivo: a) analisar mudanças no estilo de vida de um idoso após a ocorrência de um AVC; b) identificar alterações biológicas ocorridas devido a mudanças no comportamento do indivíduo estudado após o diagnóstico da patologia; c) propor recomendações visando a aderência a um estilo de vida ativo.

Métodos

Design do estudo

    O trabalho foi estruturado na abordagem estudo de caso, correspondendo a uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de pesquisas que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente, objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação transformadora (CHIZZOTTI, 1991).

Caracterização do caso

  • Indivíduo do sexo masculino, 69 anos.

  • Nos últimos dez anos apresentava períodos de isquemia transitória, com sensação de amortecimento em hemicorpo esquerdo.

  • Permaneceu internado em conseqüência do AVC num período de cinco dias (12/10/2004 à 17/10/2004) apresentando quadro clínico de hemiplegia esquerda total imediata e aumento da pressão arterial (200/130 mmHg) no momento do AVC.

  • Faz uso de plaketar, trental, somalgin, bamifix, zetron, pantozol, fez uso de Naprix- A por dois anos por hipertensão arterial, o qual foi suspenso há três meses devido a normalização da pressão arterial.

  • Tabagista durante 60 anos e ex-fumante há dois anos e seis meses.

  • Dorme cerca de 8 horas diárias com uso de indutor de sono.

Instrumento e procedimento

    Para analisar o perfil do estilo de vida do indivíduo foi utilizado o questionário desenvolvido por Nahas; Barros e Francalacci (2001) denominado Pentáculo do Bem-estar. Este questionário apresenta cinco dimensões com respectivos indicadores que avaliam componentes de nutrição (N), atividade física (AF), comportamento preventivo (CP), relacionamentos (R) e controle de stress (CS). Cada item contém três afirmações, numeradas de 1 a 3, nas quais o indivíduo manifestará sobre cada afirmação considerando a escala de 0 a 3 pontos, em que 0 significa “não fazer parte” do cotidiano, 1 significa “às vezes faz parte”, 2 significa “quase sempre” e 3 significa “sempre faz parte” do cotidiano do indivíduo.

Coleta de dados

    A coleta de dados foi realizada em maio de 2007. Anteriormente à coleta de dados o indivíduo foi informado e esclarecido sobre os objetivos, procedimentos e confidencialidade da pesquisa e em seqüência foi solicitada sua participação na mesma. Ao aceitar participar do estudo, o sujeito foi instruído a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    O questionário foi aplicado em duas ocasiões, primeiramente de forma retrospectiva, visando analisar o estilo de vida do caso anteriormente à ocorrência do AVC, e em seguida com o estilo de vida atual. Para obtenção das informações referentes aos questionários foi necessária a ajuda dos familiares (esposa e filhas).

    Os resultados dos exames médicos dos fatores de risco cardiovasculares, realizados anteriormente à ocorrência do AVC e referentes à última bateria de exames feita pelo paciente, foram cedidos pelos familiares, com o consentimento do sujeito investigado.

Resultados

Informações relevantes sobre o caso

    Indivíduo do sexo masculino, 69 anos de idade, casado, pai de quatro filhas, aposentado há 19 anos. Atualmente mora com a esposa e duas filhas. Diariamente costuma ir à Lotérica para fazer suas apostas, sendo que o meio de locomoção é um carro dirigido por uma das suas filhas. O caso foi fumante por 60 anos, há 2 anos e meio, devido a ocorrência de um AVC, abandonou o hábito de fumar. Os familiares e o ex-fumante relataram ter sofrido muito neste período. O paciente teve que tomar remédio de apoio para parar de fumar com orientação de um psiquiatra.

    O paciente foi alcoólatra durante aproximadamente 20 anos, sendo que, há 24 anos abandonou o vício. De acordo com auto-relato, o paciente afirmava que como já havia parado de ingerir bebidas alcoólicas, o único prazer de sua vida era o fumo. Por este motivo, não abandonava o vício, mesmo estando ciente das complicações que a nicotina lhe causava.

    De acordo com relatos do indivíduo estudado, o que lhe proporcionava mais prazer era o hábito de fumar, sendo que, uma observação muito interessante é o fato de que ele já havia perdido a sensibilidade do paladar, desta forma, comprometendo uma boa alimentação. O paciente relatou que há pouco tempo começou a sentir o gosto dos alimentos ingeridos, e assim, voltou a sentir prazer em se alimentar. Outro fator muito relevante diz respeito à sua audição, que se encontra comprometida em 65% no ouvido direito e 80% no ouvido esquerdo, devido a formação de placas de nicotina nas artérias intracranianas.

    O paciente afirma que sua disposição para realização de tarefas cotidianas melhorou significativamente após o abandono do hábito de fumar, entretanto, devido ao AVC, o caso sente-se receoso em realizar certas atividades, principalmente que exijam esforço físico vigoroso em relação à sua idade.

Estilo de vida anterior e posterior ao AVC

    Os resultados obtidos através do Pentáculo do Bem-estar subdividido em 5 componentes (nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamentos e controle de stress) podem ser verificados na Figura 1.

    Pode-se observar que os comportamentos que mais sofreram alteração após a ocorrência do AVC e consequentemente após o abandono do hábito de fumar foram os componentes nutrição e atividade física.

    Quando levado em consideração a soma total dos escores em cada componente do pentáculo pode-se observar que o paciente melhor muito seu estilo de vida. Anteriormente ao AVC sua pontuação total foi de 19 pontos, e posteriormente ao AVC, 36 pontos.

Fatores de risco biológicos antes e após o AVC

Com base na análise dos hemogramas do indivíduo investigado observou-se que tanto antes quanto depois da ocorrência do AVC os lipídios (triglicerídeos e colesterol HDL, LDL e total) e os níveis de glicose apresentaram resultados normais. Entretanto, os exames do ecocardiograma Doppler e da arteriografia cerebral demonstraram que na época da ocorrência do AVC 90% das duas artérias carótidas e intracranianas estavam obstruídas devido às placas de nicotina.

Após 2 anos da ocorrência do AVC, e cessação do fumo, o resultado do ecocardiograma surpreendentemente apresentou apenas 65% de obstrução das artérias carótidas e intracranianas.

Figura 1. Perfil do estilo de vida do paciente de acordo com os cinco componentes do Pentáculo do Bem-estar.

Nota: N = Nutrição; AF = Atividade Física; CP = Comportamento Preventivo; R = Relacionamentos; CE = Controle do Estresse.

DIscussão

    De uma forma geral, as doenças crônicas são caracterizadas pelo longo tempo de tratamento e pela limitação no estilo de vida, não só do portador, mas também de outros membros da família (ARAÚJO et al., 1998).

    Para haver um controle adequado das condições de saúde de indivíduos que apresentam fatores de risco para AVC, não bastam apenas medidas de orientação; é preciso, também, desenvolver estratégias que auxiliem o indivíduo na mudança de atitudes contributivas para o controle da doença. As medidas de educação devem ser contínuas, visto que várias são as causas da não adesão ao tratamento, sendo uma delas a falta de motivação, podendo estar associada, principalmente, a fatores externos, como carência de sistema de apoio, dificuldades financeiras e de acesso ao sistema de saúde (PESSUTO, 1998).

    Dentro desse contexto, merece especial enfoque as mudanças no estilo de vida, tais como: redução do peso corporal e da ingestão de sal, diminuição do consumo de álcool, além de prática regular de exercícios físicos e a não-utilização de drogas; essas medidas nem sempre são bem aceitas, causando constrangimentos e até mesmo resistência para a adesão. Torna-se imprescindível, então, o desenvolvimento de estratégias para o controle do problema, capazes de contribuir para uma melhor qualidade de vida e longevidade.

    De acordo com os resultados obtidos neste estudo, pode-se verificar que as alterações no estilo de vida do paciente refletiram mudanças em indicadores biológicos, principalmente em relação à desobstrução das artérias carótidas e intracranianas. Possivelmente o fator determinante das melhoras biológicas até o presente momento foi a cessação do fumo. Em adição, levando-se em consideração os relatos do paciente, vários outros aspectos de sua vida melhoraram após o abandono do vício. Entre eles, aspectos verificados através do Pentáculo do Bem-estar, tais como, os componentes nutrição e atividade física.

    Entretanto, apesar das mudanças serem notórias, pode-se perceber que o caso ainda apresenta receio em realizar algumas atividades, possivelmente em conseqüência da ocorrência do AVC. Desta forma, faz-se necessário intervenções que contribuam para que essas barreiras sejam vencidas tornando a qualidade de vida do indivíduo cada vez melhor.

    Os inúmeros problemas que afetam a qualidade de vida dos idosos, em um país em desenvolvimento, demandam, por sua vez, respostas urgentes em diversas áreas (ASSIS, 1998). Sendo assim, consideramos de extrema importância, para essa clientela, ações de caráter mais preventivo, principalmente no controle de doenças crônicas.

Recomendações

    Diante dos resultados obtidos recomenda-se que o indivíduo tente incluir no seu di-a-dia:

  • Continuidade dos afazeres domésticos (limpeza do jardim);

  • Caminhadas até a Lotérica (uma vez por semana e aumentar progressivamente);

  • Realizar passeios (caminhada) com os cachorros;

  • Fazer compras pequenas através da caminhada.

Referências bibliográficas

  • ADAMS, R. D.; VICTOR, M.; ROPPER, A. H. Cerebrovascular diseases. In: ADAMS, R. D.; VICTOR, M.; ROPPER, A. H. (ed.) Principles of neurology. 6 ed. New York: McGraw-Hill, 777-873, 1997.

  • ARAÚJO, T. L.; MACIEL, I. C. F.; MACIEL, G. G. F.; SILVA, Z. M. S. A. Reflexo da hipertensão arterial no sistema familiar. Revista da Sociedade de Cardiologia, 2(Supl A): 1-6, 1998.

  • ASSIS, M. O envelhecimento e suas conseqüências. In: CALDAS, C. P. A saúde do idoso: a arte de cuidar. Rio de Janeiro (RJ): UERJ, 39-48, 1998.

  • CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. In: CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa. São Paulo (SP): Cortez, 77-104, 1991.

  • GOMES, M. M. Doenças do cérebro: prioridade de política de saúde pública no Brasil? Revista Brasileira de Neurologia, 28: 11-16, 1992.

  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema de Informações sobre Mortalidade. DATASUS – TABNET. Indicadores e Dados Básicos – Brasil 97.

  • NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3 ed. Londrina: Midiograf, 2003.

  • NAHAS, M. V.; BARROS, M. V. G.; FRANCALACCI, V. O pentáculo do bem estar: base conceitual para avaliação do estilo de vida de indivíduos ou grupos. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, 5(2): 48-59, 2000.

  • PESSUTO, J.; CARVALHO, E. C. Fatores de risco em indivíduos com hipertensão arterial. Revista Latino-americana de Enfermagem, 6(1): 33-9, 1998.

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