Motivos da desistência precoce da prática do voleibol entre jovens alunos |
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*Alunos Graduação. **Professores. Orientadores. Mestres, Professores da UNIFOR - Universidade de Fortaleza. (Brasil) |
Carlos Alberto Marques Leite* | Débora Cristina Maciel de Freitas* Alex Soares Marreiros Ferraz** | Fernanda Goersch Fontenele** ferrazalex@hotmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008 |
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Introdução
Segundo Kaech (apud CRIPPA; SOUZA, 2003: 110) o esporte além de constituir a vacina mais natural contra as conseqüências da atrofia características de nossa época tecnocrata, assume uma importante função de higiene social. Infelizmente não podemos considerar o esporte atual apenas sob este ângulo, pois a prática moderna do esporte fornece ao observador algumas manifestações de degenerescência que ameaçam destruir o verdadeiro esporte.
Etimologicamente, a palavra Esporte vem de desport (dis e portare): afastar do trabalho. Assim, pela derivação da palavra subtende-se que o esporte é divertimento e não trabalho estafante. A atitude no esporte é a atitude da diversão, um prazer em experimentar, não apenas os resultados, embora resultados satisfatórios quase sempre acentuem o prazer da participação (LAWTHER, 1973: 2).
Dentre essas práticas esportivas atualmente o voleibol tem grande destaque e seu dinamismo incessante da modalidade nos dias atuais nem chega perto do objetivo pretendido por William Morgan, ao criar o voleibol em 1895, que nasceu como um esporte menos cansativo para indivíduos de meia idade. Cerca de um ano após sua invenção, ele já era praticado em todas as partes dos Estados Unidos, e logo se difundiu pelo mundo. De light o vôlei não tem quase nada nos dias de hoje, seus saques e suas cortadas atingem graus altíssimos de velocidade e potência, sendo uma atividade mista que combina tanto explosão muscular como trabalho aeróbio.
O voleibol é um esporte coletivo, dinâmico e atualmente o segundo mais importante do nosso país em números de praticantes, aumentando a cada dia seu número de adeptos. Mesmo assim, ainda há muita polêmica em torno de seus praticantes, quanto aos motivos relacionados a sua motivação para a pratica continuada e as pressões particulares sofridas por cada aluno, relata Silva; Tonello (2005).
No voleibol, assim como em qualquer outra modalidade esportiva, existem as subdivisões em categorias. Estas categorias surgiram como forma de assegurar os níveis de competição e evitar diferenças acentuadas com relação ao desempenho físico e técnico em função dessa diferença de idade entre os alunos, ou seja, ter sempre alunos de uma mesma faixa etária competindo entre si.
Treinar jovens jogadores é uma maneira excitante de se envolver com o esporte, mas não é tarefa fácil. Um técnico inexperiente, ao ajudar alunos em suas primeiras experiências esportivas, pode ser sobrepujado pelas responsabilidades que essa função exige. Preparar os jovens física e mentalmente em seus esportes e provê-los com o modelo positivo de treinamento estão entre as difíceis, mas compensadoras tarefas que um técnico esportivo assumirá (CRIPPA; SOUZA, 2003: 103).
Um treinador, trabalhando com crianças e jovens, ou até mesmo com adultos, não deverá se preocupar apenas com esquemas táticos, ações ofensivas e defensivas, volume de jogo. E a Psicologia do Esporte não tem condições de prescrever receitas e dar indicações para a solução de problemas que se apresentam na prática dos esportes. A solução destes problemas tem que ser encontrada frente às respectivas condições de cada ação relata Bengoechea citado por Crippa; Souza (2003). Para isso, podem ser úteis os conhecimentos de psicologia e a sensibilidade de um treinador perante os processos psicológicos e seus respectivos efeitos. Aspectos emocionais, como o mau ou bom relacionamento entre alunos, e desses com seus técnicos, falta ou excesso de confiança, por parte dos atletas, em seu potencial, falta de empenho e ansiedade não controlada, são motivos para que uma equipe vença ou perca, menciona Duda; De Minzi citado por Crippa; Souza (2003).
Conforme Klein; Krebs; Zacaron (2004), fatores determinantes do rendimento esportivo como: constituição física (saúde, altura, estrutura óssea), condições neuromusculares e motoras (flexibilidade, habilidade motora, coordenação), condições externa (nível social, local da prática, material) e capacidades psíquicas do aluno influenciam muito no seu desempenho e aprendizado.
Paim, citado por Salve; Ramos; Galdi; Gonçalves (2005), relata que na relação ensino-aprendizagem, em qualquer ambiente, conteúdo ou momento, a motivação constitui-se como um dos elementos centrais para a sua execução bem-sucedida.
Para a maioria das crianças, o nível máximo de participação ocorre aos doze anos, etapa em que ingressarão na adolescência. Na etapa do ensino médio ou universitário, os adolescentes referem muitas queixas e desmotivação com o desporto. Dos treze anos em diante há uma redução na participação no esporte, sendo que aos dezoito ocorre uma redução crucial na mesma menciona Ewing & Seefeld, citados por Ferreira (2001). A criança pode ter uma mudança normal de hábito ao chegar à adolescência ou os professores fazem (ou deixam de fazer) coisas que afetam a motivação dos jovens para o esporte.
A diferença entre tamanho e a falta de habilidade poderão determinar estímulos negativos (rejeições) por parte de seus colegas, gerando redução de auto-estima e de motivação para persistir na atividade. Segundo Pierce & Stratton, citados por Ferreira (2001), 63% de crianças e adolescentes desportistas consideram jogar mal ou cometer erros, como as piores situações de estresse no esporte. Os pais podem levar várias crianças a atingir níveis extraordinários de rendimento, pelas suas qualidades psicofísicas, mas, ao atingir tais marcas, algumas delas podem mostrar desmotivação, tristeza e depressão que contribuem para o abandono precoce das atividades esportivas.
Cratty, citado por Ferreira (2001), acredita que o impacto da família na formação da personalidade do jovem é maior. O modo como os pais, irmãos e amigos reagem aos primeiros fracassos, nas etapas evolutivas do adolescente, parece produzir maior ou menor confiança e auto-estima e, mais tarde, pode refletir na sua conduta nas competições esportivas. O jovem aluno com auto-estima baixa é mais sensível às frustrações do que a que possui auto-estima alta.
Uma prática muito freqüente aos treinadores do esporte infantil é criticar de maneira dura o adolescente que comete um erro técnico ou tático durante o treinamento ou na competição. Outras ações do treinador podem determinar um estresse forte ao adolescente que pratica esporte como: não dar atenção quando ele necessita ajuda; não permitir que o adolescente integre a equipe no treino ou competição; não reconhecer o seu esforço; mostrar que não valoriza os alunos com menor habilidade, cita Ferreira (2001).
Diante desses aspectos o presente trabalho buscou investigar os motivos que fazem com que jovens alunos, do sexo masculino, na faixa etária de 14 a 17 anos de idade, desistam precocemente da prática do voleibol, analisar as influências psicológicas da prática do voleibol nas categorias escolares, e suas possíveis repercussões para a aderência ou desistência da prática do esporte. Além de propor formas menos exclusivas para o treinamento do voleibol nas categorias de base.
MetodologiaO presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa transversal, de abordagem quantitativa. A população desta pesquisa foi formada de 43 alunos do sexo masculino, de um colégio particular da cidade de Fortaleza, com idade variando entre 14 a 17 anos e que praticavam voleibol, com uma freqüência de pelo menos 2 vezes por semana a pelo menos seis meses, os quais aceitaram fazer parte da pesquisa com a assinatura, por parte de seu responsável, do termo de consentimento. A pesquisa se desenvolveu no período de março a maio de 2006.
Para a coleta de dados foi utilizado o questionário da Universidade Federal de Minas Gerais, composto por 25 questões fechadas, com as adaptações por nós realizadas. Para cada item do questionário, o entrevistado colocou um X de acordo com a importância que o fator teve em sua opção de abandonar o voleibol. Seguia o seguinte padrão: nada importante; pouco importante; importante; muito importante. Os dados foram tabulados para a obtenção da freqüência de respostas positivas (muito importante e importante) e negativas (pouco importante e nada importante).
Resultados e discussãoNas tabelas 1 e 2 são mostradas a freqüências de respostas positivas e negativas, respectivamente.
A análise global dos resultados mostrou que as causas principais que levaram ao abandono do voleibol foram a vontade ou necessidade fazer outras atividades, não ser tão bom como gostaria, dificuldade de melhorar os resultados técnicos e prejuízo nos estudos, com 51,2% para as duas primeiras e 48,8% para as duas ultimas respostas positivas.
O gráfico 1 mostra que além desses, os fatores de dificuldade de relacionamento com os companheiros de equipe, problemas de ordem física (lesões, doenças) e intensidade nos treinamentos (cansaço) apresentaram uma grande freqüência de respostas positivas, e foram dessa forma considerados pelos autores como os fatores determinantes para a desistência precoce de jovens alunos de voleibol.
No gráfico 2, estão citados os motivos caracterizados como irrelevantes referido-se ao percentual de respostas negativas, ou seja, os fatores mais citados como pouco importantes para a desistência precoce. Temos então: não gostar de competir com outras pessoas com 90,7%, pressão dos pais para obter bons resultados esportivos com 88,4%, falta de patrocínio e apoio financeiro com 86%, biótipo inadequado (altura e estrutura física) com 83,7%, poucas competições e outros motivos com 81,4%, influências de colegas que não faziam o esporte, local de treinamento inadequado e medo da derrota com 79,1%, como os motivos mais citados como não motivadores da desistência.
No gráfico 3 apresentamos os fatores que agrupamos como relevantes, pois consideramos que não foram de grande valor para a construção do percentual de repostas positivas, não contribuindo assim de forma decisiva para a desistência precoce, tais como: falta de apoio dos pais, o estresse da competição (medo, desgaste, pressão) e horário de treinamento inadequado com 34,9%, pressão e cobrança excessiva por parte do técnico com 32,6% e dificuldade de relacionamento com o técnico, monotonia nos treinamentos (falta de criatividade, repetição dos exercícios), a preferência do treinador por outros colegas e a preferência por outros esportes com 27, 9% de respostas positivas.
Cientistas esportivos, estudando as razões para conflitos geradores da desistência precoce nos esportes infantis, chegaram a diferentes conclusões. Alguns autores como Orlick; Orlick & Botterill; Pooley; Feigley (apud SCALON, 1998) têm concluído que eles podem resultar de: a) uma ênfase excessiva na competição; b) desgaste por demasiado treinamento; c) organização e instrução inadequadas.
Outros, ainda, como Guppy & Mckay; Gould & Horn ( apud SCALON, 1998) têm concluído que a maioria das crianças não interrompem o seu envolvimento nos esportes, completamente, mas que o fazem por um curto espaço de tempo ou abandonam um esporte para entrar em outro.
Autores como Heyward e Gill (apud SCALON, 1998) defendem a idéia de que para reverter essa situação de desistência, é necessário que o profissional crie nas pessoas uma atitude positiva em relação à atividade desportiva.
Gould (apud SCALON, 1998), aponta como principais causas para a desistência da prática esportiva, a excessiva ênfase pela vitória, a falta de sucesso, o envolvimento em outras atividades e outros interesses - desconforto, derrota, situações constrangedoras, falta de motivação, lesões e a forma de seleção para a formação das principais equipes, também aparecem citadas de forma bastante intensa. Alguns desses aspectos são corroborados pelos nossos resultados, onde a vontade ou necessidade de fazer outras atividades; não ser tão bom como gostaria; problemas de ordem física (lesões) e prejuízo nos estudos aparecem como resultados principais para a desistência precoce do esporte.
Estudos de Baker et al, 2000 e Cohn, 1990 (apud Hallal, 2004) mostram resultados que confirmam o papel decisivo que os treinadores têm na trajetória esportiva dos atletas. Estes achados indicam a necessidade de reflexões profundas sobre quem são os profissionais que estão lidando com a prática esportiva de crianças e adolescentes e qual o grau de qualificação destes indivíduos, pois estas pessoas podem precipitar o abandono esportivo. Hallal (2004) citando Kentta (2001) mostrou que 29% dos entrevistados classificaram sua relação com o treinador entre muito ruim e apenas moderadamente boa. Em nosso trabalho as questões ligadas ao relacionamento com o técnico ficaram entre as que apresentaram baixo índice de importância para a desistência, como mencionado anteriormente.
ConclusãoA partir dos dados e discussões precedentes, percebeu-se que além do fato de o jovem aluno ir em busca do divertimento, da alegria e do prazer, ele também quer aprender e aprimorar novas técnicas e habilidades esportivas. Mas pode encontrar diversas barreiras e como ainda não possui uma formação centrada em grandes decisões acaba desistindo de ir além de suas vontades e desejos.
Identificamos que os fatores mais importantes para a desistência precoce da prática do voleibol estão relacionados com situações próprias e pessoais do aluno, como no caso do prejuízo nos estudos, por ser ainda garoto e não conseguir conciliar o estudo com a atividade esportiva. Não ser tão bem como gostaria o que traz uma realidade da prática do voleibol de ser uma atividade que requer bastante desempenho técnico e uma grande habilidade com a bola.
Observou-se também que dentre os fatores mais importantes para desistência precoce de jovens alunos da prática do voleibol, não estão incluídos os fatores relacionados e diretamente ligados ao técnico. Talvez seja esse um ponto fundamental de análise para muitos técnicos pois nós enquanto educadores, temos o papel primordial de criar pessoas acima de qualquer prática esportiva, acima de qualquer competição, acima de qualquer resultado.
Com base nesse estudo, sugere-se que a família auxilie esses jovens a conciliar esporte e escola de forma mais harmoniosa. Da mesma forma, o papel dos técnicos / professores deve ser repensado, pois eles vêm sendo responsáveis por uma parcela significativa do abandono dos esportes em geral por parte dos jovens alunos, como mencionado em estudos aqui apresentados.
O esporte de rendimento deve ser estimulado para aqueles que têm esse interesse. Para as demais, deve-se propiciar formas de atividades que possam atender os seus interesses.
Referências
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CRIPPA, L.R.; SOUZA, P. H. Atribuição de motivos para vitórias e derrotas: um estudo com a equipe masculina adulta de voleibol da UNISUL. Cinergis. v. 4, n. 2, p. 103-113, jul/dez, 2003.
FERREIRA, Henrique Barcelos. Iniciação Esportiva: uma abordagem pedagógica sobre o processo de ensino-aprendizagem no basquetebol, Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Educação Física na modalidade Treinamento em Esportes oferecido pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.
GUEDES, Onacir Carneiro. Atividade Física: uma abordagem multidimensional. João Pessoa: Idéia, 1997.
KLEIN, Marcelo Zenni; KREBS, Ruy; ZACARON, Daniel. Atribuição pra motivos de vitória e derrota: um estudo com a equipe de voleibol mirim masculino da UNISUL. Cinergis. v.4, n.2, jul/dez. 2004.
LAWTHER, John D. Psicologia Desportiva. EUA: Lince, 1973.
SALVE, M.G.C.; RAMOS,M.G; GALDI, E.H.G.; GONÇALVES, A. Motivação para a prática de atividade física dos usuários da Escola de Esportes FEF - Unicamp segundo diferentes faixas etárias. Integração: ensino, pesquisa, extensão. v.11, n.40, p.43-50, jan/mar, 2005.
SILVA, Wilson Luiz da; TONELLO, Maria Georgina Marques. Análise dos fatores determinantes para a prática esportiva do voleibol. A caminho...apelo à pesquisa. n. 3, p. 97-110, 2005.
SCALON, R. M. Fatores motivacionais que influem na aderência e no abandono dos programas de iniciação desportiva pela criança. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, 1998.
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