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Dança sobre Rodas: desafios e possibilidades

 

ANDEF/FAETEC

FME - Fundação Municipal de Educação

Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ

Profa Ms. Soyane Vargas

soya@oi.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A dança sob a perspectiva educativa, apesar de ainda pouco explorada, apresenta desafios e possibilidades - tanto para arte quanto para prática de atividade física. Incluir pessoas com deficiências na dança contribui amplamente para o desenvolvimento biopsicossocial do praticante. A dança sobre rodas para pessoas com deficiência física, vem ampliar o quadro de possibilidades de acesso à arte e a construção de cidadania dessas pessoas. Algumas questões são importantes para a realização desse trabalho, mas ainda maiores são as conquistas para as pessoas envolvidas nesse tipo de projeto.

          Unitermos: Dança educação. Pessoas com deficiências. Dança sobre rodas.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

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Dança educação e as pessoas com deficiências

    Os objetivos educacionais da dança envolvem a compreensão da estrutura e do funcionamento corporal, bem como a investigação do movimento humano. Articulando-se à percepção de espaço, peso e tempo, de acordo com sua intensidade.

    Os aspectos de abordagem da dança giram em torno da experimentação, criação, performance e apreciação. Como utilização na educação formal (escolas regulares) devemos evitar a concentração do desenvolvimento da performance, porque poucos estudantes teriam condições de se desenvolverem por esse caminho, já que o tempo de prática semanal - tanto das aulas de arte como das de educação física - são muito reduzidos, além de não corresponder essencialmente aos objetivos educacionais como um todo (RIBEIRO, FARIA JUNIOR E VILELA, 1999).

    Em um bosquejo sobre a história da dança, não encontramos referências da inclusão de pessoas com deficiências nessa prática.

    Documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais ? PCNs (MEC, PCNs - Arte, 1997), não abordam a possibilidade de trabalho com dança para as pessoas com deficiências. Apesar do reconhecimento da dança, enquanto arte, na formação de bem cultural e que está inerente à natureza humana por envolver ritmo, expressão e atividade corporal (id.).

    Nos PCNs para educação física, as danças e brincadeiras cantadas são englobadas nas atividades rítmicas e expressivas como complemento dos conteúdos de arte. Nesse há referência ao trabalho com pessoas com deficiências nas aulas de educação física, o que já foi um avanço, mas os exemplos giram em torno do trabalho com esportes, não incluindo às possibilidades de trabalho com as atividades rítmicas e expressivas.

    Por outro lado, no capítulo Dança e atividade física (RIBEIRO, FARIA JUNIOR E VILELA, 1999) do livro Uma Introdução à Educação Física (FARIA JUNIOR, 1999), encontramos referências da possibilidade da inclusão de pessoas com deficiência física à prática da dança, em função da temática dança sênior, dança desenvolvida para ser praticada por pessoas idosas especialmente.

    Outro avanço importante: trabalhos acadêmicos já vêm sendo desenvolvidos sob a perspectiva da dança para pessoas com deficiências, só no Brasil foi possível identificar pelo menos 56 (cinqüenta e seis) trabalhos nessa perspectiva, apesar de não realizarmos uma revisão exaustiva para este texto.

    Para pessoas com deficiências físicas destacam-se os trabalhos de Rosângela Barnabé (1997); Suzana Martins (2000); María Fux (2005); Elizabeth Mattos (2001); Maria do Carmo Rossler Freitas e Rute Estanislava Tolocka (2005); Eliana Lucia Ferreira e Maria Beatriz Rocha Ferreira (2005); Nadja Ramos de Ávila (2005); Edeilson Matias da Silva (2006), entre outros.

Dança sobre rodas

    Entendemos como dança sobre rodas aquela em que o praticante realiza os movimentos com auxílio da cadeira de rodas, estando em interação com outros dançarinos ou não, cadeirantes ou não.

    De fato quanto mais leve e adaptada ao biótipo da pessoa estiver a cadeira de rodas, melhores serão as possibilidades de execução de movimentos.No entanto, esse fator não deve ser impeditivo para que todos os cadeirantes que desejarem possam praticar essa modalidade.

    Outra questão importante diz respeito à acessibilidade do local, que precisa estar adaptado com rampas de acesso, portas adequadas para a entrada dos cadeirantes, vestiários adaptados e piso liso para possibilitar o desenvolvimento do trabalho.

    Aqui não coadunamos com a definição de dança como terapia. Pois, a definição de terapia que encontramos remete a:

    [...] tratamento de doentes, toda intervenção que visa tratar problemas (grifo nosso) somáticos, psíquicos e psicossomáticos, suas causas e seus sintomas, com o fim de obter um restabelecimento da saúde ou do bem estar [...]. (HOUAISS, 2001: 2699).

    Os benefícios da prática da dança são indiscutíveis, mas comuns a todas as pessoas, independente de portarem deficiências ou não. Acreditamos sim, que a dança também possa ser um meio terapêutico, mas que cabe aos profissionais competentes (médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros) trabalhar com este tipo de abordagem.

    Preferimos tratar a dança para pessoas com deficiência como um direito de acesso à arte, como prática de atividade física e exercício de cidadania.

    No entanto, os cuidados no trabalho com dança para pessoas com deficiências exigem profunda avaliação dos limites e possibilidades corporais de acordo com o tipo de deficiência e as particularidades que cada uma delas pode apresentar. Em nosso caso, as deficiências físicas precisam ser bem definidas de modo que a dança propriamente dita não traga prejuízos à integridade física do praticante.

    Por exemplo, existem particulares importantes entre as pessoas com encefalopatia crônica da infância (ECI), traumatismo ráquio-medular (TRM) e mielomeningocele que não devem ser desprezadas na prática da dança e outras atividades físicas.

    Nesse aspecto alguns profissionais podem contribuir muito. A avaliação médica e fisioterápica ajudam a compor o quadro do praticante, para que o professor possa realizar um trabalho seguro e eficaz.

    Após a avaliação adequada é importante a definição dos objetivos da dança para a pessoa ou grupo de pessoas. Portanto, cabe ao professor avaliar tais características físicas e definir quais os melhores caminhos para se atingir os objetivos propostos.

Dança sobre Rodas na Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos - ANDEF

    Em nossa instituição temos um projeto ampliado, chamado de projeto Dançarte, que possibilita o acesso da comunidade local e de pessoas com outros tipos de deficiência nas danças clássicas, modernas e folclóricas. Além de um específico trabalho com dança sobre rodas.

    Nessa última desenvolvemos os níveis iniciante, intermediário e adiantado. Como são diferenciados os níveis, também são os objetivos de cada um. A característica comum a todos é a inclusão de andantes nas aulas, visando a ratificar a perspectiva de inclusão social dos praticantes.

    Em todos os níveis também não deixamos de focalizar a dança como 

[...]forma de comunicação que expressa compreensões individuais e sociais do mundo[...] (BRASIL, MEC/SEE, 2002)

    Para o grupo de iniciantes temos como objetivo principal o aperfeiçoamento da conscientização corporal, do ritmo e da expressão dos praticantes. Não temos muito compromisso com abordagens mais técnicas da dança, mas um enfoque mais lúdico. Nesse grupo incluímos praticantes que possuem dificuldades de tocar a cadeira de rodas, portanto os deslocamentos independentes no espaço são mais comprometidos.

    Para o grupo intermediário não excluímos os objetivos anteriores, mas acrescentamos movimentos que exigem maior coordenação motora, sincronia e deslocamento no espaço de forma mais freqüente.

    Para o nível avançado, além dos objetivos anteriores, incluímos o desenvolvimento da performance dos praticantes, com aperfeiçoamento de técnicas de dança, da força, resistência e flexibilidade. As elaborações coreográficas exigem um nível de coordenação motora e sincronia mais avançado.

Desafios e possibilidades

    Os desafios e possibilidade sofrem influência global e local, desta forma de acordo com cada cultura e cada lugar os desafios e possibilidades oscilam e se modificam. Além disso a subjetividade dos sujeitos influencia diretamente nesse rol. Portanto, aqui levamos em consideração apenas alguns aspectos. De modo que não é nossa pretensão esgotar o assunto.

Desafios

  • Maior adesão por parte do público masculino.

  • Dificuldade de acesso aos locais em função do transporte público.

  • Ser reconhecidos como produtores de arte e não como pessoas com deficiências que dançam.

  • Ampliação de locais que ofereçam esse tipo de trabalho.

  • Ampliação de profissionais preparados para esse tipo de trabalho.

  • Políticas públicas capazes de reconhecer o valor da arte para o desenvolvimento das pessoas em geral e das pessoas com deficiências em particular.

Possibilidades

  • Atividade que permite a inclusão das crianças com deficiências nas aulas de arte e educação física nas escolas.

  • Aperfeiçoamento do senso estético e da capacidade de apreciação pela diferença.

  • Mudança de paradigma na educação e na arte.

  • Prática de atividade física de forma mais prazerosa.

  • Quebra de estereótipos na relação entre dança e corpos esculturais.

Referências bibliográficas

  • ÁVILA, N. R. de. O sentido subjetivo da dança sobre rodas. Brasília: [s.n.], 2005. ix, 120 f. il. Dissertação (mestrado). Faculdade de Educação, Universidade de Brasília

  • BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Estratégia e orientações sobre artes. Respondendo com arte às necessidades especiais? Brasília: MEC/SEE, 2002.

  • BERNABÉ, R.. Dança e deficiência: proposta de ensino. Campinas, SP: [s.n.], 2001. 97 p. il. Dissertação (mestrado). Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas.

  • BRASIL,. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais educação física. Brasília: MEC/SEF, 1997.

  • FERREIRA, E. L.; FERREIRA, M. B. R. A possibilidade do movimento corporal na dança em cadeira de rodas. Revista Brasileira de Ciência & Movimento, São Caetano do Sul, v.12, n. 4, p. 13-17, out./dez. 2004.

  • FREITAS, M. do C. Rossler; TOLOCKA, Rute Estanislava . Desvendando as emoções da dança esportiva em cadeiras de rodas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, São Caetano do Sul, SP, v.13, n. 4, p. 41-46, out./dez. 2005.

  • FUX, M. Depois da queda... dançaterapia!. Tradução: Ruth Rejtman, Fotos: Andrés Barragán. São Paulo: Summus, 2005. 99 p. il. Tradução de: Después de la caída... continúo con la danzaterapia!

  • HOUAISS, A. , VILLAS, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

  • MARTINS, S. Sobre rodas...?: exemplo de singularidade. In: Bião, Armindo; Pereira, Antonia; Cajaíba, Luiz Cláudio; Pitombo, Renata (org.). Temas em contemporaneidade, imaginário e teatralidade. São Paulo : Annablume, 2000. p. 266-268. Outra imprenta: Salvador: GIPE-CIT.

  • MATTOS, E. de. Perspectivas das pesquisas em dança em cadeira de rodas. Conexões: Educação Física, Esporte, Lazer, Campinas, SP, n. 6, p. 75-77, 2001.

  • SILVA, E. M. da. Para além da dança: o caso Roda Viva. Natal: [s.n.], 2006. 130 f. il. + anexos. Dissertação (mestrado). Centro de Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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