Antropometria de atletas profissionais de futebol do sul do Brasil | |||
*Prof. Colaborador da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Paraná **Prof. Mestranda da Universidade Federal de Santa Catarina – Santa Catarina ***Prof. Especialista da Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul (Brasil) |
Prof. Mr. Paulo Henrique Santos da Fonseca* Prof. Mda. Danielle Biazzi Leal** Prof. Esp. Kenji Fuke*** |
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Resumo
O objetivo do estudo é descrever as características antropométricas de
atletas profissionais de futebol, analisando-as também por posições no
campo de jogo. Avaliou-se 24 atletas (3 goleiros, 7 zagueiros, 9 meio
campistas, 5 atacantes) com idade entre 18 e 34 anos, disputando o
campeonato do estado do Rio Grande do Sul – Brasil, nas seguintes
medidas antropométricas: massa corporal, estatura, perímetro, dobras
cutâneas, peso hidrostático, densidade corporal e percentual de
gordura. Utilizou-se para caracterizar a antropometria do grupo de
atletas os cálculos da média, desvio padrão e amplitude dos resultados
e para verificar se houveram diferenças antropométricas nos diferentes
grupos a ANOVA oneway com p < 0,05. Os resultados levaram a conclusão
de que o grupo de atletas apresenta valor similar aos grupos de atletas
nacionais e internacionais. Não foram detectadas diferenças (p >
0,05) antropométricas quando comparadas pelas diferentes posições de
jogo.
Unitermos: Antropometria. Atleta.
Futebol. Esporte. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008 |
1 / 1
1.
Introdução
A avaliação corporal tem sido uma área de grande interesse por cientistas do esporte e exercício como também clínicos especializados em lesões (17, 29).
Os trabalhos publicados em periódicos que descrevem as características morfológicas dos atletas de futebol em sua grande maioria utilizam o método que é denominado de antropometria. Este método é definido como uma série de técnicas sistematizadas de medidas que expressam quantitativamente as dimensões do corpo humano (15). Sendo que algumas dimensões do corpo humano como a massa gorda, muscular, óssea e residual, são possíveis de ser relativizadas em percentuais com o valor da massa corporal total, sendo este o resultado normalmente analisado pelos técnicos.
Então, de posse destes dados é possível planificar o programa de treinamento para a competição definindo dois aspectos: quais as características antropométricas do atleta praticante da modalidade e a direção dos parâmetros antropométricos mensuráveis durante a competição. Além de que, valores antropométricos são indicativos das características necessárias para alcançar um ótimo desempenho, desta forma auxiliando na seleção de atletas de futebol (2).
Assim, o objetivo do presente estudo é descrever as características antropométricas de atletas profissionais de futebol analisando-as por posições no campo de jogo.
Metodologia
O grupo investigado foi constituído de 24 atletas profissionais de futebol (3 goleiros, 7 zagueiros, 9 meio campistas, 5 atacantes) com idade entre 18 e 34 anos, com no mínimo de 2 meses e de 4 horas diárias de treinamento, os mesmos já se apresentavam em período de competição organizado pela Federação Gaúcha de Futebol - Brasil.
Figura 01. Distribuição dos atletas por posição no campo de jogo.
As medidas antropométricas (22) foram: massa corporal (MC) e estatura (ET) através da balança e estadiômetro (RIW 200, Welmy, Brasil); os perímetros do ombro (P.OB), tórax (P.TR), braço relaxado (P.BRr), braço contraído (P.BRc), antebraço (P.AT), cintura (P.CT), abdômen (P.AB), quadril (P.QD), coxa média (P.CXm), perna média (P.PM) através de uma fita métrica (Cescorf Científico, Cescorf, Brasil); as dobras cutâneas do tríceps (DC.TR), bíceps (DC.BI), subescapular (DC.SE), peitoral (DC.PR), axilar média (DC.AXm), supra-íliaca (DC.SI), abdominal horizontal (DC.ABh), abdominal vertical (DC.ABv), coxa média (DC.CXm), perna média (DC.PM) através do compasso de dobras cutâneas (Cescorf Científico, Cescorf, Brasil).
Dois avaliadores, um que auxiliou e explicou ao avaliado a metodologia de avaliação e um segundo que realizou a leitura da balança (Filizola L, Filizola, Brasil), foram responsáveis pelo procedimento de avaliação da pesagem hidrostática (PH). O avaliado foi mensurado de sunga, a posição grupada (20) foi utilizada como posição na submersão do indivíduo na água. O sujeito foi estimulado a eliminar através de uma expiração todo o ar mantido nos pulmões e vias aéreas.
A respiração foi mantida bloqueada por aproximadamente 5-10 segundos, para a estabilização da balança, quando a leitura da pesagem foi, então, registrada, tendo sido o mesmo procedimento repetido por 6 a 10 vezes. A média das três maiores últimas leituras foi usada como valor da PH. Quando os valores das três últimas pesagens divergiram em mais de 50 gramas, tentativas adicionais foram realizadas, ficaram registrados todos os valores obtidos das pesagens, e a temperatura da água e do ambiente foram padronizados para todas as avaliações.
O volume residual foi obtido pela seguinte equação (11):
Homens: 0.017 (Idade, em anos) + 0,027 (estatura, cm) – 3,477
Após a medida da PH e do volume residual, os valores foram substituídos na equação que determina a densidade corporal:
Onde:
Dm = Densidade Corporal, em g/cm3;
MC = Massa Corporal em kg no ar;
Pa = Peso na água em kg
Da = Densidade da água (corrigida pela temperatura);
VR = volume residual, litros;
0,1 = constante de gás gastrointestinal (100 ml).
Após a determinação da densidade corporal, esta foi utilizada na equação proposta por Brozek et al. (1963)(5) para o calculo do percentual de gordura (%G):
%G = (457/Dm) – 412,4
Os procedimentos de avaliação seguiram a seguinte ordem: primeiramente, foram apresentados aos atletas o objetivo do estudo e os procedimentos metodológicos a serem desenvolvidos. Posteriormente, os atletas leram o termo de consentimento livre e esclarecido e, após terem concordado com todos os itens, assinaram a conformidade para participar como sujeito na pesquisa. As avaliações foram realizadas no Laboratório de Cineantropometria e Medidas e Avaliação, localizado na Universidade Federal de Santa Maria, no Estado do Rio Grande do Sul.
Para a coleta de dados, foram mensuradas, em primeiro lugar, as medidas antropométricas. Em seguida, o indivíduo foi conduzido ao tanque onde se realizou a PH.
Foi utilizada uma análise descritiva, que consta dos resultados da média, desvio padrão e da variação das medidas antropométricas, e para analisar as diferenças entre as posições de jogo foi utilizada a ANOVA one-way com p<0,05.
Resultados
Os resultados mostrados inicialmente, tabela 01, são do grupo total de atletas e posteriormente, na tabela 02, são mostrados seus valores por posição no campo de jogo.
Tabela 01. Característica antropométrica do grupo de atletas.
Média |
DP |
Variação |
|
Idade (anos) |
22,7 |
4,4 |
18 – 34 |
Tempo de prática profissional de futebol (anos) |
6,0 |
4,2 |
1 –14 |
Massa Corporal (MC) (kg) |
73,9 |
6,6 |
57,0 – 86,4 |
Estatura (ET) (cm) |
177,8 |
5,5 |
165,0 – 186,0 |
Pesagem Hidrostática (PH) (kg) |
4,3 |
0,6 |
2,7 – 5,3 |
Densidade Corporal (Dm) (g/cm³) |
1,0833396 |
0,005922 |
1,0684 – 1,0931 |
Percentual de Gordura (%G) (%) |
9,5 |
2,31 |
5,6 – 15,3 |
Dobras Cutâneas |
|||
Tricipital (DC.TR) |
8,0 |
1,8 |
5,3 – 10,8 |
Bicipital (DC. BI) |
3,7 |
0,5 |
3,1 – 4,8 |
Subescapular (DC. SE) |
11,7 |
2,6 |
8,0 – 18,3 |
Supra-Iliaca (DC.SI) |
13,5 |
4,6 |
7,5 – 28,4 |
Axilar Média (DC. AXm) |
9,4 |
2,7 |
6,3 – 17,4 |
Peitoral (DC. PR) |
5,9 |
1,6 |
3,7 – 10,2 |
Abdominal Horizontal (DC. ABh) |
13,6 |
6,0 |
6,5 – 31,4 |
Abdominal Vertical (DC. ABv) |
12,4 |
6,3 |
5,5 – 32,2 |
Coxa Média (DC. CXm) |
10,1 |
3,4 |
6,0 – 18,5 |
Perna Média (DC. PM) |
6,1 |
1,4 |
3,7 – 9,6 |
Perímetros |
|||
Ombro (P. OB) |
112,3 |
5,0 |
99,0 – 120,0 |
Tórax (P.TR) |
95,9 |
4,3 |
84,0 – 102,0 |
Braço Relaxado (P.BRr) |
30,0 |
1,5 |
27,0 – 33,0 |
Braço Contraído (P. BRc) |
32,4 |
1,9 |
28,0 – 36,0 |
Antebraço (P. AT) |
27,0 |
1,2 |
24,0 – 29,5 |
Cintura (P. CT) |
77,1 |
3,4 |
71,0 – 86,0 |
Abdômen (P. AB) |
80,0 |
3,5 |
73,0 – 88,0 |
Quadril (P. QD) |
96,3 |
3,7 |
89,0 – 106,0 |
Coxa Média (P. CXm) |
56,1 |
2,8 |
51,0 – 63,0 |
Perna Média (P. PM) |
37,8 |
2,2 |
33,0 – 42,0 |
Os atletas possuem como média de idade 22,7±4,4 anos, tendo como tempo de prática profissional do futebol 6,0±4,2 anos, a PH teve como média 4,300±0,600 kg e a densidade corporal obteve média de 1,0833396±0,005922 g/cm³. Os resultados encontrados para massa corporal e estatura foram de 73,9±6,6 kg e 177,8±5,5 cm respectivamente.
Os valores das dobras cutâneas variaram entre 3,7±0,5 mm e 13.6±6.0 mm, para as DC.BI e DC.ABh, quando analisado os perímetros a variação ocorreu entre P.AT 27,0±1,2 cm e o P.OB 112,3±5,0 cm.
Tabela 02. Característica antropométrica dos atletas por posição no campo de jogo.
Goleiros |
Zagueiros |
Meio campistas |
Atacantes |
|
Dm (g/cm³) |
1,0847±0,00456 |
1,0845±0,00731 |
1,0805±0,00619 |
1,0857±0,00228 |
PH (kg) |
4,458±0,823 |
4,477±0,659 |
3,853±0,500 |
4,630±0,351 |
%G (%) |
8,8±1,7 |
8,9±2,8 |
10,5±2,4 |
8,4±0,8 |
MC (kg) |
76,3±7,4 |
75,7±7,5 |
70,0±5,8 |
76,6±5,4 |
ET (cm) |
182,0±5,2 |
177,8±6,8 |
175,2±4,6 |
178,4±3,2 |
p>0,05
Não houve diferença significativa para as variáveis analisadas na tabela 02 entre as posições. Percebe-se uma similaridade nos valores da Dm, PH e %G entre as posições de goleiro, zagueiro e atacante. Para a variável ET o grupo de goleiros apresenta vantagem em relação às demais posições. Os atletas da posição do meio campo apresentaram as menores medidas para a MC e ET, como também para a Dm e PH o que refletiu nos valor mais elevado para o %G em relação as outras posições.
Discussão
Os resultados encontrados para massa corporal e estatura, 73,9 ± 6,6 kg e 177,8 ± 5,5cm respectivamente, são normais quando comparados com outros atletas nacionais(1,4,10,14,24,25,26,27) e internacionais (7,8,9,6,12,16,21,23,28), sendo inferior a estudo com atletas da Yugoslavia (19), da Islândia (3) e da Alemanha (16).
O futebol, entre as modalidades esportivas, apresenta as menores médias para estatura e massa corporal, mas com grande desvio padrão, demonstrando que é um esporte que não discrimina o seu praticante por estas variáveis, como exemplo faz o basquete e vôlei, tal variação nestas medidas se dá ao fato do futebol impor funções táticas distintas ao seu atleta onde as dimensões corporais poderão auxiliar ou prejudicar no desempenho, caso típico do goleiro que necessita de uma grande estatura para uma boa performance.
Os resultados da PH e da Dm são similares a achados de outros estudos que analisaram atletas de futebol da categoria sub-20 (18). É importante esclarecer que, quanto maior o valor da Dm menor apresenta-se o valor de percentual de gordura do sujeito ou da amostra estudada. O valor de %G é similar aos detectados em outras amostras de atletas de futebol nacional (4,14,25,27) e internacionais (3,16,9).
Comparando os valores de DC com estudos envolvendo atletas nacionais, estes possuem pequena diferença quando comparado com atletas da Paraíba (26) e de Florianópolis e são similar aos atletas do Rio Grande do Sul (24), tal similaridade pode ser devido ao grupo estudado ser da mesma região. As medidas para a DC.CXm e DC.PM foram inferiores aos do estudo com atletas profissionais da Turquia, neste estudo os valores encontrados foram de 11.6 mm e 8.1 mm respectivamente (13), porém quando comparado com atletas profissionais da primeira divisão espanhola os valores de DC são inferiores (28).
Quando analisadas as medidas antropométricas por posição de jogo, não houve diferença estatística significativa, porém ressaltamos como limitação do estudo o número pequeno de atletas em cada posição. Estudos anteriores corroboram com os achados do presente artigo. Estudo (1) detectou que atletas do meio campo apresentam valores superiores para %G das demais posições, salientamos que no trabalho dos autores citados anteriormente, os mesmos agruparam os atletas por posições diferentes das que utilizamos neste estudo (grupo 1 = zagueiro e centroavante, grupo 2 = meio campo, grupo 3 = laterais e pontas).
Existe certa relação entre a especificidade funcional de um atleta e o seu perfil antropométrico. Sendo que, zagueiros e atacantes são em média mais altos e pesados do que meio campistas, o que se relaciona com o perfil típico de deslocamento específico e pressupõe um processo seletivo dos sujeitos para a função (23).
Chamamos a atenção para as dificuldades existentes para comparar medidas antropométricas entre atletas de futebol. Tais dificuldades surgem pelas metodologias diferentes de avaliação antropométrica utilizadas em pesquisas, características étnicas do atleta e cultura alimentar, clima de cada região e formas de treinamento aos quais os atletas são submetidos. Porém, o estudo permite concluirmos que em relação às medidas antropométricas analisadas neste artigo, os atletas estudados apresentam valores coerentes com a literatura nacional e internacional. E que não foi possível detectar diferença entre as posições no campo de jogo do futebol.
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