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A inserção de pessoas com deficiencia física
nas academias da cidade de Santa Maria

 

*Professora de Educação Física e Mestranda da linha
Atividade Física e Saúde Universidade Federal de Santa Catarina

**Acadêmico do curso de Educação Física – Bacharelado

Universidade Federal de Santa Maria

Simone Teresinha Meurer*

Mauro Robson Torres de Castro**

simonemeurer@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Teve-se como objetivo analisar como vem acontecendo à inserção da pessoa com deficiência física nas academias de ginástica e musculação da cidade de Santa Maria/RS. A coleta de dados foi realizada através de entrevista com os proprietários e observação do espaço físico das academias que atendiam pessoas com deficiência física. Identificaram-se poucas pessoas com deficiência física inseridas nas academias, sugerindo a necessidade de ações que possam promover a diminuição das barreiras ainda existentes em relação às pessoas com deficiência no contexto das atividades físicas. Destacou-se a importância da formação de profissionais de educação física capazes de atender com qualidade pessoas com deficiência e de serem agentes de ações concretas para a efetivação do processo de inclusão em diferentes contextos.

          Unitermos: Pessoas com deficiencia física. Academias. Inclusão.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

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Introdução

    As discussões sobre a temática da inclusão de pessoas com deficiência já acontecem há algum tempo, tendo um enfoque maior em relação ao contexto escolar. Ainda assim, no que concerne a publicação da produção científica neste âmbito, foi identificado à falta de trabalhos publicados na área de educação física e registros de práticas de inclusão (Falkenbach, Drexsler & Lauxen, 2008).

    Assim, percebe-se a necessidade de investigação e divulgação dos achados em relação à temática, a fim de socializar os resultados e auxiliar para a efetivação desse processo, pois, na realidade, a inclusão, especialmente das pessoas com deficiência, ainda enfrenta resistências e dificuldades de acontecer de fato.

    Em relação ao campo da educação física, percebe-se que a grande maioria das pessoas com deficiência não freqüentam academias, clubes, aulas de educação física e espaços de lazer e, pode-se afirmar que não é por incapacidade destas.

    Um aspecto gerador de barreiras entre a pessoa com deficiência e sua participação efetiva na sociedade, é o preconceito decorrente da deficiência, especialmente, aquela que pode ser vista, no caso, a deficiência física, pois, cada deficiência acaba acarretando um tipo de comportamento e suscitando diferentes formas de reações, preconceitos e inquietações. As deficiências físicas, tais como paralisias, ausência de visão ou de membros, causam imediatamente apreensão mais intensa por terem maior visibilidade. (Maciel, 2000)

    A atividade física regular vem recebendo destaque na promoção da saúde e qualidade de vida, pois, evidências epidemiológicas sustentam o efeito positivo de um estilo de vida ativo. Porém, estudos como de Hallal et al (2005) indicam que grande parcela da população não atinge as recomendações quanto à prática de atividades físicas e, em relação às pessoas com deficiência, os índices não são diferentes, sendo que estas, na sua maioria, estão afastadas da prática da atividade física (Costa & Duarte, 2006).

    Desta maneira, o objetivo do presente estudo foi analisar como vem acontecendo a inserção da pessoa com deficiência física nas academias da cidade de Santa Maria/RS. Acredita-se na importância dessa investigação como uma ferramenta de reflexão dentro do contexto das academias, bem como, para a formação profissional em educação física, atentando para a necessidade de oferecer possibilidades às pessoas que apresentam condições diferenciadas para a prática de atividade física.

Método

    Este estudo se caracterizou como sendo do tipo descritivo. Foram identificadas as academias de ginástica e musculação da cidade de Santa Maria/RD que possuíam alvará de funcionamento junto à Prefeitura Municipal. Logo, entrou-se em contato com estas academias através do telefone, quando foi perguntado sobre a existência de alguma pessoa com deficiência física que praticasse atividade física naquela academia.

    Foi agendada e realizada uma entrevista com os proprietários daquelas academias que atendiam alunos com deficiência física bem como, realizada uma observação dos espaços físicos dessas academias em relação à sua acessibilidade.

    A entrevista foi constituída de perguntas abertas referentes à preparação do espaço físico da academia e dos profissionais para o atendimento de pessoas com deficiência física e também sobre a importância que estes atribuem à academia na vida de uma pessoa com deficiência física.

    A análise das fichas de observação e das entrevistas foi feita separadamente por academia, pontuando aspectos positivos e negativos, a fim de permitir inferências a partir da investigação proposta.

Resultados

    Identificou-se que, no período das coletas de dados, havia três pessoas com deficiência física freqüentando academias de ginástica e musculação na cidade de Santa Maria, sendo que estas estavam distribuídas em duas academias que, para a descrição dos resultados, serão identificadas como academia I e II.

Academia I

    Nesta foram identificadas duas pessoas com deficiência física que realizavam atividades de musculação três vezes por semana.

    Em relação ao ambiente físico da academia, identificou-se uma barreira de acesso na porta principal, uma vez que era estreita a ponto de impossibilitar o acesso com uma cadeira de rodas. Já na sala de musculação e banheiros, o espaço era adequado para deslocamento com cadeira de rodas e/ou outro acessório necessário a uma pessoa com deficiência física.

    Na entrevista realizada com o proprietário, identificaram-se iniciativas de atender as necessidades das pessoas que freqüentavam a academia, sendo que, adaptou alguns aparelhos de musculação e algumas atividades para os alunos que apresentavam deficiência física.

    De acordo com a percepção do proprietário, a academia estava preparada para atender as pessoas que apresentam deficiência, uma vez que seus profissionais estariam preparados, bem como, considerou o ambiente físico adequado. Ainda, destacou que acredita na importância deste espaço para a manutenção da qualidade de vida e saúde das pessoas com deficiência física.

Academia II

    Foi identificada uma pessoa com deficiência física que realizava atividade de musculação três vezes por semana.

    Ao analisar o ambiente da academia, identificou-se uma sala de recepção muito pequena, que impossibilitaria o deslocamento com cadeira de rodas. No interior da academia, o espaço disponível era amplo, não dispondo de degraus ou algum outro tipo de obstáculo que comprometesse o deslocamento de seus freqüentadores com deficiência física.

    Também o proprietário da academia II destacou que esta está preparada para atender pessoas que apresentam deficiência, tanto condições de qualificação profissional como de espaço físico, proporcionando melhorias na sua saúde e qualidade de vida.

Discussão

    Com os resultados encontrados, é possível inferir que a inserção das pessoas com deficiência física em academias na cidade de Santa Maria, ainda é muito reduzida, confirmando que as pessoas com deficiência de qualquer natureza tendem a ser menos ativas fisicamente (Nahas, 2006).

    Diante desse achado, pode-se inferir diversos e diferentes fatores que podem ser vinculados a esta realidade, como a trajetória história da pessoa com deficiência que, desde os primórdios dos tempos, foi rejeitada e inferiorizada na sociedade (Gaio, 2006), aspecto que ainda se faz presente hoje e no próprio auto-conceito da pessoa com deficiência, especialmente daquelas, que apresentam um corpo com características que as diferem de um padrão considerado “normal”.

    Ainda, podem ser as barreiras arquitetônicas, tanto nos espaços públicos da cidade como nas academias investigadas, pois, outras pessoas com deficiência, poderiam sentir-se motivadas a inserir-se nestas academias, mas, devido à necessidade da cadeira de rodas, tiveram seu acesso dificultado, provocando a desistência, pois, conforme destaca Maciel (2000), a acessibilidade aos espaços de lazer, esportes, cultura e transportes, ainda não tem projetos abrangentes que atendam a todos os tipos de deficiência.

    Assim, outro fator dificultador para a inserção de maior número de pessoas nas academias pode estar relacionado ao transporte, pois, a cidade onde foi realizado o estudo há poucos ônibus adaptados, o que pode dificultar o deslocamento das pessoas com deficiência até o espaço da academia e, conseqüentemente, dificultar sua inserção neste na atividade física.

    Em estudo realizado por Palma et al (2007), também na cidade de Santa Maria, foram identificadas 5 academias que atendiam pessoas com deficiência e, em suas conclusões, os autores destacam que as academias ainda não estão preparadas para receber pessoas com deficiência, pois, o número de pessoas que freqüentam esse espaço, ainda é pequeno.

    Desta forma, não há dúvidas da necessidade do desenvolvimento de ações que favoreçam a disseminação da importância da atividade física para a vida das pessoas com deficiência, bem como, possibilitar que isso se torne uma realidade, tanto na cidade onde foi desenvolvido o estudo, bem como em outras cidades.

    Conviver numa sociedade que é marcada pela diversidade não significa assumir a posição de espectador passivo e tolerante. O pressuposto essencial está em admitir que cada indivíduo tem direito de combinar experiências pessoais de vida com a coletividade, imprimindo, todavia, uma identidade particular que constitui sua individualidade (Silva, 2006).

    Diante desse contexto, aponta-se, como uma das possibilidades imediatas, a formação profissional em educação física, que deve englobar a qualificação necessária de trabalhar com a diversidade que se manifesta nos seres humanos, bem como, desenvolver a criticidade necessária para compreender os diversos aspectos que envolvem o processo inclusivo das pessoas com deficiência no contexto da prática de atividade física e, a partir disso, ser capaz de promover ações que diminuem essas barreiras.

    Assim, concorda-se com Reid (2000), que sugere que essa preparação deva acontecer no âmbito do próprio curso de graduação em educação física, tendo especificadamente uma disciplina que aborde conteúdos relacionados a como trabalhar com as pessoas que apresentam deficiência e, ainda, acrescenta-se a necessidade da discussão de conceitos e a caracterização de várias deficiências no âmbito de todo um curso de graduação e de forma diluída entre as várias disciplinas.

    Apesar de evidenciados pontos negativos, como a pouca participação de pessoas com deficiência física no contexto das academias, destaca-se alguns elementos positivos, que podem permitir perspectivas de mudanças positivas, especialmente a partir das entrevistas com os proprietários, pois, foi possível identificar que existe preocupação em oferecer atendimento de qualidade, incentivando a manutenção daqueles alunos com deficiência física na prática da atividade física, uma vez que, ambos atribuem importância desta atividade para a saúde e qualidade de vida dos alunos com deficiência.

Conclusão

    O estudo identificou poucas pessoas com deficiência inseridas no contexto das academias de ginástica e musculação. Desta forma, destaca-se que, enquanto profissionais de educação física, preocupados em auxiliar a disseminar em estilo de vida mais ativo entre as diferentes populações, cabe-nos a necessidade de buscar a formação necessária e, a capacidade de auxiliar na diminuição dos preconceitos e barreiras que ainda estão erguidas em relação a muitas pessoas, especialmente aquelas com deficiência.

Referências bibliográficas

  • Costa AM; Duarte E. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida das Pessoas com Deficiência. In: Rodrigues, D. organizador. Atividade Motora Adaptada: a alegria do Corpo. São Paulo: Artes Médicas; 2006. p.119–129.

  • Falkenbach, AP.; Drexsler, G; Lauxen, P. Experimentos práticos de inclusão em Educação Física escolar: um estudo a partir das publicações da área. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires. Año 13, n 121, 2008.

  • Gaio, R. Para além do corpo deficiente: histórias de vida. Jundiaí, SP: Editora Fontoura; 2006.

  • Hallal PC, Matsudo SM, Matsudo VK, Araujo TL, Andrade DR, Bertoldi AD. Physical activity in adults from two Brazilian areas: similarities and differences. Cadernos de Saúde Pública, v. 21, n. 2, 2005.

  • Maciel, MRC. Portadores de deficiência: a questão da inclusão social. São Paulo Perspec. vol.14, n.2. São Paulo, 2000.

  • Nahas, M. V. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4ª ed., Londrina: Midiograf; 2006.

  • Palma, LE; Berguemmayer, LBC; Matthes, SER. Academia de Ginástica como opção de prática de atividade física para pessoas com deficiência. Anais da sessão científica do VII Mercomovimento. Santa Maria, nov. de 2007.

  • Reid, G. Preparação profissional em atividade física adaptada: perspectivas norte-americanas. Revista da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. v.5, n.1, 2000.

  • Silva, LM. O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência. Revista Brasileira de Educação. v.11, n.33. Rio de Janeiro, 2006.

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