efdeportes.com
Minha mãe mandou eu escolher esse daqui! Um estudo sobre as preferências e o significado do esporte e do lazer em Novo Hamburgo (1960/2000)

 

*Doutora em História das sociedades Ibéricas e Americanas pela PUCRS e Mestre em História
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professora do Curso de História,
pesquisadora e líder do Grupo de Pesquisa Cultura e Memória da Comunidade
e presidente do Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Senso do Centro Universitário Feevale.
Atualmente desenvolve os projetos: “O doce nada fazer”: Um estudo sobre lazer e identidade(s)
em Novo Hamburgo e Memória coletiva: história institucional e das comunidades.

**Doutora e Mestre em Comunicação
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, professora, pesquisadora
e líder do grupo de pesquisa em “Comunicação e Cultura” da FEEVALE/RS.
Professora das disciplinas de Telejornalismo I e II e orientadora dos projetos
em Mídia Eletrônica do Curso de Comunicação – hab. Jornalismo.
Atualmente desenvolve os projetos: “O doce nada fazer”: Um estudo sobre lazer e identidade(s)
em Novo Hamburgo e O processo de construção de identidades: um estudo sobre a influência do cinema em Novo Hamburgo

Prof.a Dr.a Cristina Ennes da Silva*

crisennes@feevale.br

Prof.a Dr.a Paula Regina Puhl**

paulapuhl@feevale.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Nosso estudo tem por objetivo identificar e analisar as práticas esportivas realizadas na cidade de Novo Hamburgo no período entre os anos de 1960 e 2000. Interessa-nos, neste momento, compreender quais eram as atividades esportivas realizadas em clubes, associações ou agremiações que representavam a preferência da sociedade local e, analisar o significado que elas tinham para os atores sociais e a conotação de lazer/competição intrínseca as atividades. Para a realização deste estudo, optamos pela análise, entre outras fontes, das reportagens, notícias, anúncios, etc, relacionadas às atividades esportivas, presentes no jornal local, entendendo que as fontes impressas, produzidas pelo veículo de comunicação de massa de maior circulação na região, permitem a apreensão das expectativas dos grupos presentes na região. Nossa investigação seguiu os preceitos da metodologia da análise de conteúdo que, possibilita a análise e interpretação de dados quantitativos e/ou qualitativos acerca da temática.

          Unitermos: Atividade esportiva. Lazer. Competição.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

1 / 1

    Este artigo tem como objeto de estudo as atividades esportivas individuais ou coletivas realizadas, preferencialmente, em clubes, agremiações e associações, na cidade de Novo Hamburgo, no período que se situa entre as décadas de 1960 a 2000. Buscamos compreender que atividades eram preferencialmente realizadas e que significados tinham para a sociedade em questão.

    A cidade de Novo Hamburgo1, espaço escolhido para a análise, teve sua origem associada à imigração alemã do princípio do século XIX. Na segunda metade do século XX, caracterizava-se por ser uma próspera cidade de origem alemã, com uma população que girava em torno de 70 mil habitantes e um crescente desenvolvimento econômico proveniente principalmente na indústria do calçado e de outras, ligadas ao ramo conhecido como "setor coureiro-calçadista", composto por curtumes, indústrias químicas, componentes para calçados, indústria metalúrgica e componentes eletrônicos. Essa economia crescente fez desenvolver, na cidade, uma elite econômica atuante.

    Nesta sociedade, que em sua origem concebeu o trabalho como um valor em si mesmo, as atividades alheias a este forma percebidas, de forma geral, como “perda de tempo”. Neste sentido, a delimitação espaço/temporal deste estudo vincula-se a preocupação em compreender que mecanismos foram elaborados pelos grupos sociais para justificar a práticas de atividades esportivas e de lazer que, por sua natureza, eram realizadas durante o tempo livre.

    Para a compreensão de nosso objeto de estudo optamos pelo uso de fontes impressas, ou seja, pela análise do jornal local. O Jornal NH constitui-se como fonte de pesquisa privilegiada, nesse estudo, pois, no período abordado, era um dos principais meios de comunicação e informação, não só da cidade de Novo Hamburgo, como também da região. O Grupo Editorial Sinos, do qual o Jornal NH faz parte, foi fundado em dezembro de 1957 pela família Gusmão, membros proeminentes da sociedade local. O Grupo destaca como preceitos norteadores do jornal o pioneirismo e o direcionamento para uma cobertura regional e, como missão manifesta o compromisso de informar com independência, exatidão e respeito ao cidadão, bem como, estimular o desenvolvimento das comunidades e dos setores onde atua.

    O Jornal NH, no final da década de 1960 e início da 70, possuía uma freqüência de circulação média de 3 edições semanais, atingindo não só Novo Hamburgo, como também as cidades vizinhas. Ele apresentava uma estrutura variável, sendo que os temas eram colocados em diferentes páginas conforme a edição, assim, o tema esporte poderia tanto aparecer na terceira página ou na décima quinta, por exemplo. O conjunto interno do jornal encontrava-se dividido em várias seções, nominadas como: variedades, noticiário, cartas ao editor; propaganda; só para Jovens; no eixo Paris-Londres-Moscou; esporte; reportagens e polícia. Nesta estrutura destaca-se a vocação regional, sendo que, os assuntos externos a região eram abordados na medida em que possuíam alguma ligação com a localidade, ou seja, no caso do esporte, por exemplo, o jornal apresentava essencialmente o esporte local, principalmente na década de 1960, havendo referências externas quando elas relacionavam-se de alguma forma com o âmbito regional.

    Ao buscarmos o jornal como fonte de pesquisa, optamos pela realização de uma estudo que, metodologicamente, se utilizasse da análise de conteúdo que, segundo Moraes (1999:09), constitui-se:

    [...] numa metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda a classe de documentos e textos. Essa análise, conduzida a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum.

    Para o autor, mais do que uma técnica, a análise de dados a partir de seus conteúdos representa “[...] uma abordagem metodológica com características e possibilidades próprias.“ (p.09), sendo, portanto, uma interpretação de caráter pessoal realizada pelo pesquisador, conforme as percepções que tem de um determinado tema inserido num contexto. Laurence Bardin (1977), quando indica os caminhos percorridos para a utilização da metodologia de análise de conteúdo refere-se ao tema como “[...] uma unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado [...]. O texto pode ser recortado em idéias constituintes, em enunciados e em proposições portadores de significações isoláveis.” (p. 105) Neste sentido o tema é definido como uma “unidade de registro” que permite o estudo das “motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc” (p.106)

    Em função dos elementos expostos o conhecimento do contexto de inserção do tema em análise torna-se fundamental para a investigação, pois a percepção acerca dele permite uma análise do significado das atividades para a sociedade. Bardin (1977:107) indica, igualmente, que a realização do estudo pressupõe a criação de “unidade de contextos”, que: “[...] serve de unidade de compreensão para codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem, cujas dimensões (superior às da unidade de registro) são óptimas para que se possa compreender a significação exacta da unidade de registro. [...].(p. 107). (sic).

    Nesse contexto, Moraes (1999:11) indica a transformação das propostas iniciais de análise de conteúdo, destacando que:

    Ainda que em sua proposta original a análise de conteúdo se preocupasse mais diretamente com o significado das mensagens para os receptores, na sua evolução, assumiram uma importância cada vez maiores investigações com ênfase tanto no processo como no produto, considerando tanto o emissor quanto o receptor.

    A partir destas premissas entende-se que todos os atores sociais envolvidos no processo em estudo são considerados e compreendidos como elementos fundamentais para a apreensão da temática investigada.

    Partindo do contexto apresentado, na estruturação desse eixo balizador observamos a perspectiva metodológica de Moraes (1999:13) de proposição de cinco etapas para o processo de análise do conteúdo: 

  • a) preparação das fontes; 

  • b) unitarização ou transformação do conteúdo em unidades; 

  • c) categorização ou classificação das unidades em categorias; 

  • d) descrição; 

  • e) interpretação.2

    Destacamos o processo de categorização que, de acordo com Moraes (1999:18), é: “[...] um procedimento de agrupar dados, considerando a parte comum existente entre eles. Classifica-se por semelhança ou analogia, segundo critérios previamente estabelecidos ou definidos no processo. [...]”. Seguindo as orientações do autor, buscamos a construção de categorias que, por suas características de amplitude e significância, pudessem abrigar os conteúdos efetivamente significativos, e observamos ainda critérios como a exclusividade, pelo qual cada elemento foi classificado em apenas uma categoria, e de objetividade, para que não surgissem dúvidas a que unidade cada elemento deveria pertencer.

    Neste contexto, e de acordo com a metodologia da análise de conteúdo, realizamos o levantamento de dados do Jornal NH, desde a sua fundação até o ano 2000. Na década de 60 foram analisados os anos de 1960, 1961, 1963, 1964, 1967 e 1969, a fim de conhecer o contexto e a forma como os eventos relacionados à pesquisa foram considerados no jornal. A partir da década de 1970, decidiu-se pela alternância de anos, analisando as edições a cada três anos, pois, neste período o jornal passou a ter cinco edições semanais, ou seja, de segunda a sexta-feira.

    Assim, para este estudo e, nesta etapa da investigação, analisamos, no período que compreende as décadas de 1960 a 2000, um total de 1469 edições. Nelas observamos que, a predominância das atividades relacionava-se aquilo que, por nós, foi denominado de atividade de lazer formal, ou seja, atividades que, mesmo sendo de lazer e que tinha por pressuposto a ocupação do tempo vago, eram realizadas em espaços apropriados de clubes, agremiações ou associações e que, em sua essência possuíam uma série de elementos normativos para a sua realização, independentemente de serem individuais ou em grupos. Sendo assim, a atividade de lazer formal constituiu-se em nossa primeira categoria temática. Dentro desta macro categoria temática, criamos três categorias intermediárias relacionadas a sua natureza ou ao número de pessoas envolvidas diretamente na realização da atividade, sendo: individual/duplas; times e outros. Nestas categorias foram distribuídas as dezesseis unidades temáticas identificadas em eventos no Jornal NH conforme tabela das atividades esportivas 1960/2000.

    

    Na tabela podemos observar que na categoria individual/duplas estão incluídos atividades que, por sua natureza podem ser realizadas por mais de duas pessoas, porém, elas foram enquadradas nessa classificação devido a compreensão de que a realização não só é possível como, também, não são inviabilizadas se praticadas individualmente.

    Entre as atividades presentes na categoria individual/duplas, a prática do tênis destaca-se quantitativamente em relação as demais presentes no mesmo conjunto, sendo mencionada numa proporção de três para um da atividade de natação, que ocupava o segundo lugar no ranking deste grupo. Na medida em que este estudo direciona-se para a compreensão de que atividades eram preferencialmente realizadas em Novo Hamburgo e, que significado possuíam para a sociedade, desatcamos através do gráfico 1 a predominância de eventos, no jornal local, relacionados a prática esportiva do tênis. A análise numérica dos dados do gráfico permite apontar um perfil de eventos publicados no periódico que indica que os informes sobre o tênis eram publicados pelo Jornal NH desde os primeiros anos de sua circulação, havendo um aumento gradual no número de reportagens, caracterizados por oscilações pouco significativas, na maior parte do período analisado, episódios isolados de aumento quantitativo e estabilização de índices especialmente elevados durante a década de 1990.

Gráfico 1. Tênis e Natação

    Durante o período estudado, na cidade de Novo Hamburgo, dois clubes destacavam-se como espaços de prática de tênis, a Sociedade Aliança e a Sociedade Ginástica, sendo que a predominância da trajetória histórica que envolve este esporte estava diretamente relacionada a estes clubes. Ao longo dos primeiros anos da década de 1960, as notícias veiculadas no jornal davam informes acerca da participação e conquistas de jovens tenistas em campeonatos de âmbito regional e estadual. A ênfase das reportagens eram os atletas e não o esporte em si, que no período era denominado de esporte branco e, praticado por um grupo social que podia arcar com as despesas necessárias de materiais e viagens e que, além disso, eram sócios dos clubes da cidade. No final da década de 1960, houve uma intensificação nas notícias sobre o esporte devido ao redirecionamento das reportagens que passaram a informar a população acerca de campeonatos interclubes nos âmbitos regional e estadual. Neste momento, o jornal estabelecia uma trajetória de notícias que possuíam periodicidade expressa através de um conjunto de informações que se iniciava com a abertura da temporada, apresentava os tenistas e clubes, explicava metodologias e técnicas, indicava ranking e perspectivas de vitórias, informava sobre as etapas dos campeonatos, cobria os jogos e encerrava a temporada indicando as projeções para a temporada seguinte.

    Estes direcionamentos mantiveram-se até o início da década de 1980 quando a Sociedade Ginástica, devido a questões internas, reduziu suas ações no sentido de estimular e manter a prática do tênis competição, redimensionando as atividades do departamento de tênis para a prática do esporte, nas dependências do clube, apenas como opção de lazer. Estas ações provocaram manifestações de críticas nos jornais devido a saída de atletas profissionais dos quadros esportivos da sociedade, visto que estes buscaram se enquadrar em outros espaços existentes na região que mantinham uma prática voltada à competição. Este direcionamento pode ter sido um dos fatores que levaram a diminuição no número de reportagens sobre o esporte, visto que, neste período, o jornal noticiava os acontecimento referentes a Sociedade Aliança que, mantendo seu direcionamento para a participação de campeonatos sediava eventos e patrocinava tenistas.

    Porém, em 1988, uma mudança no quadro diretivo da Sociedade Ginástica, oportunizou a alteração nos direcionamentos do clube que resolve reativar a equipe de atletas de competição para retornar a participação em campeonatos. Como uma das primeiras ações, a Ginástica contratou um grupo de professores para treinar tenistas e descobrir novos talentos, e, noticiou no jornal local sua intenção em retornar a prática do tênis competição.

    Assim, reativou-se na cidade a competição entre estes clubes em busca de resultados. A Sociedade Aliança, por sua vez, associou-se a empresas patrocinadoras, tais como a All Star, na promoção de eventos esportivos de tênis em suas dependência. Além disso, no início da década de 1990, com a justificativa da necessidade de qualificação dos atletas locais promoveu a contratação de uma academia originária da capital do estado objetivando a implantação de novos métodos de treinamento, com professores pós-graduados no exterior, bem como, profissionais específicos para atuarem como preparadores físicos e psicólogos para atuarem como preparadores emocionais nos momentos anteriores as competições. De acordo com o Jornal NH, o objetivo de clube era torna a cidade de Novo Hamburgo uma Meca do Tênis Gaúcho.

    Neste mesmo período, o jornal passou a informar a criação de Centros de Esportes de iniciativa privada que se dedicavam, entre outras atividades, à prática do tênis. Estes empreendimentos desencadearam uma série de promoções, como, por exemplo, aulas gratuitas em espaços públicos, à título de análise de satisfação e conhecimento da atividade, com vistas a cooptar clientes. Nas reportagens que anunciavam a existência destes espaços de prestação de serviços, a ênfase era de que se dedicavam a popularizar a prática esportiva do tênis e que, ao mesmo tempo garantiam um serviço de qualidade para atletas que buscavam obter treinamento individual, personalizado e profissional.

    No conjunto das atividades esportivas presentes nas notícias do Jornal NH, outra que merece destaque é o futebol que, na modalidade campo era a atividade esportiva de maior destaque, superando significativamente todas as outras em termos de evidência. A modalidade Futebol de Salão apesar de não ter a mesma expressividade, ainda assim, ocupava o segundo lugar entre todas as atividades esportivas noticiadas no jornal, conforme podemos observar no gráfico 2.

Gráfico 2. Futebol

    A análise do gráfico e a expressividade dos números provocam a imediata interpretação do futebol como uma mania nacional, difundida pelo senso comum e comprovada pelo número de eventos contabilizados nos jornais das décadas de 1960 a 2000. Neste sentido, o aspecto que mais chama a atenção é o fato de que o jornal, por sua vocação e direcionamento regional que gerava notícias predominantemente locais, abria uma exceção para o futebol e, desde a década de 1960 manteve seus leitores informados sobre as atividades do esporte em todos os níveis de alcance, ou seja, local, estadual, nacional e internacional.

    No início do período estudado a maior parte das notícias relacionava-se aos times e campeonatos regionais, com especial destaque a um time de futebol local, denominado de Floriano3. As reportagens sobre o esporte abordavam diferentes aspectos relacionados, não só a forma da prática – táticas, estratégias, resultados, etc -, como, também, dos agentes ligados a ela, ou seja, jogadores, dirigentes, técnicos, torcedores, etc.

    Nos períodos que antecediam a realização das copas mundiais de futebol, a tônica das reportagens alterava-se e passava a explorar o evento, destacando inúmeros aspectos que iam desde informes sobre os jogos até curiosidades. Contudo, mesmo nestes momentos, o esporte em nível regional e local não era esquecido pelo jornal, assim, podemos observar o aumento das notícias futebolísticas, pois, as notícias sobre as copas não substituam as locais, mas, somavam-se a elas.

    No que se refere ao futebol de salão observamos uma aumento das reportagens em meados da década de 1970, quando inúmeros clubes, sociedades e agremiações, contando com a construção de espaços adequados em suas dependências passaram a estimular a prática através da promoção de campeonatos entre os times locais. Uma questão interessante, presentes no jornal do período, acerca da prática desta atividade era o destaque dado às iniciativas das empresas locais na formação de times. Invariavelmente as reportagens associavam a criação destes times ao compromisso social dos empresários e das empresas em elevar a qualidade de vida das populações trabalhadoras.

Considerações finais

    O estudo sobre as atividades esportivas, de um modo geral, apresenta inúmeras possibilidades de abordagem, como, por exemplo, as questões dos métodos e práticas, benefícios à saúde física e mental, instrumento de sociabilidade, entre outros, havendo necessidade de uma opção criteriosa quanto aos caminhos que uma investigação deve percorrer para que se obtenha resultados satisfatórios. Neste sentido, nosso estudo, privilegiou a abordagem que focalizasse a prática esportiva, através da sua presença no jornal local, como forma de identificar que esportes eram, preferencialmente realizados na cidade de Novo Hamburgo na segunda metade do século XX. Nosso interesse, num primeiro momento, foi de identificar estas predileções e, posteriormente, compreender o que significado estas atividades tinha para a sociedade local.

    Partindo das premissas expostas pudemos destaca, após uma ampla pesquisa em documentação empírica, duas atividades como os esportes de maior interesse da sociedade local: o tênis compreendido como prática realizada de forma individual ou em duplas e, o futebol no grupo das atividades realizadas por times. Estas preferências foram, segundo nossas análises, decorrentes de fatores e influências locais, no caso do tênis e, em âmbitos mais amplos, chegando à esfera internacional, no caso do futebol.

    No tocante a prática do tênis, devido as suas características básicas, ou seja, das suas necessidades de espaço, materiais e métodos específicos, houve uma restrição em sua realização, visto que, apenas os indivíduos com condições financeiras capazes de absorverem os gastos necessários, podiam dedicar-se a prática do esporte, visto que este se constituía numa atividade dispendiosa que compreendia desde a associação a um clube, passando pela compra do material próprio – roupas, raquetes, tênis -, contratação de profissionais para o treinamento, até o custeio de viagens,. Neste contexto, parece, num primeiro momento, que estas condições gerariam restrições, no tocante a sua presença nas reportagens jornalísticas, todavia, isso não ocorreu devido ao fato de que o Jornal NH era um veículo de comunicação de massa importante na sociedade de Novo Hamburgo, por se tratar do principal meio de comunicação impresso da região, mas, também, e além disso, era de propriedade de uma família que se destacava por sua atuação constante na sociedade, que freqüentava os clubes locais e dedicava-se a prática da atividade esportista de tênis, conforme foi possível identificar nas reportagens do jornal. Num outro sentido, é relevante destacar que o público alvo do jornal era composto, essencialmente, por atores sociais potenciais praticantes da atividade.

    Outro aspecto, relacionado às notícias veiculadas sobre a prática do tênis, que merece destaque é a crítica explicita e velada sobre o direcionamento da Sociedade Ginástica, no período em que desestimulou a prática do tênis competição, direcionando o esporte para sua realização enquanto lazer. Neste sentido, entendemos que o esporte compreendido em sua conotação de lazer sofreu crítica exatamente pela anulação de sua importância enquanto instrumento de competição capaz de promover os indivíduos que se destacavam pela eficiência nos resultados. Numa sociedade onde o trabalho é concebido como um bem maior, a ocupação do tempo livre - associado as definições de Dumazedier (1979) que conceitua o lazer a partir de um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de plena vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, seja para desenvolver sua informação ou sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, depois de ter-se desembaraçado de suas obrigações profissionais, familiares e sociais – com atividades que não apresentam o caráter competitivo foram compreendidos como perda de tempo.

    No que se refere ao futebol, torna-se dispensável analisar sua presença no jornal a partir da ótica de esporte “preferência nacional”, pois, a compreensão de sua importância enquanto evento esportivo nas esferas estaduais, nacional e internacional, está presente no senso comum e em diversos estudos acadêmicos. Assim, restringimos nossas observações e destaque de análise em elementos que se relacionam as especificidades locais, tais como, a presença de um número significativo de reportagens que claramente estimulam a prática do esporte desde a mais tenra idade, enfatizando, por exemplo, as vantagens que um bom jogador pode obter na construção de uma carreira ligada ao futebol ou mesmo os benefícios para a saúde e ocupação saudável do tempo livre das crianças e adolescentes.

    Num outro sentido, cabe-nos destacar um elemento presente na tabela de atividades esportivas, por nós denominado de Colunismo Social esportivo que, segundo se pode observar, apresenta a predominância nas reportagens esportivas do jornal. Neste grupo de atividades foram aglutinados todos os eventos jornalísticos que se referiam as atividades sociais realizadas pelos atletas, ou seja, notícias que mostravam suas vidas na esfera privada, participações em festas, férias, etc. Não se relacionavam diretamente a prática esportiva, mas, demonstram, pelo número de menções presentes no jornal, a importância que o esporte possuía para a cidade de Novo Hamburgo.

    Por fim, parece-nos lícito afirmar que a realização de atividades esportivas, praticadas individual ou em grupo, eram justificadas e valorizadas a partir do potencial de competitividade que elas apresentavam, bem como, da estrutura rigidamente composta por regras e normas. No período estudado, a prática esportiva motivada e realizada pela exclusiva busca de lazer não era, aparentemente, compreendida como algo a ser estimulado, visto que, em poucos momentos estiveram presentes na impressa local, notícias acerca de sua existência e realização.

Notas

  1. A cidade de Novo Hamburgo faz parte da região metropolitana de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul/Brasil.

  2. Nos estudos sobre análise de conteúdo encontramos uma diversificação de descrições acerca das etapas que constituem o processo de análise. Neste estudo, optamos pela utilização dos pressupostos apresentados por Moraes, uma vez que compreendemos que eles respondem as nossas necessidades. MORAES. Op. Cit. Entretanto gostaríamos de destacar o trabalho de Bardin (1977), como fonte essencial de estudo para os pesquisadores envolvidos com a análise de conteúdo.

  3. Quanto a questão relacionada a este time de futebol local destaca-se a necessidade de uma investigação específica, pois, em nosso estudo pudemos observar que ele, além de constituir-se num elemento aglutinador dos diferentes atores sociais existentes na região, pode ser considerado como um fator de disputa, bem como, de construção da identidade local devido, entro outros fatores, a problemática relacionada a sua denominação, sede, direção, etc. Neste estudo, em função de sua abrangência, não abordaremos esta questão específica.

Bibliografia

  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Edições 70, 1977. p. 105.

  • CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. O que é lazer. 3. ed. São Paulo, SP: Brasiliense, 1992. [2]p.

  • BACAL, Sarah S. Lazer e o universo dos possíveis. São Paulo, SP: Aleph, 2003. 144 p.

  • DUMAZIDIER, J. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva, 1979.

  • ____________, J. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: SESC, 1980.

  • ____________, J. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 2000.

  • ELMIR, Cláudio. As armadilhas do jornal: Algumas considerações metodológicas do seu uso para a pesquisa histórica. In: Cadernos do PPG em História da UFRGS, n.13, dezembro de 1995.

  • ESPIG, Márcia J. O uso da fonte jornalística no trabalho historiográfico: o caso do Contestado. In: Estudo Ibero-Americanos, Porto Alegre, PUCRS. Curso de Pós Graduação em História, v. XXIV, n. 2, dez 1998.

  • HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. 102 p.

  • LUCA, Tânia R. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla (org). Fontes Históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2005. p. 111/154

  • MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Educação. Porto Alegre: Faculdade de Educação PUCRS/Curso de Pós-graduação, 1999.

  • ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo, SP: Brasiliense, 1998. PETRY, Leopoldo. Novo Hamburgo: florescente município do Vale do Rio dos Sinos : monografia. 4. ed. São Leopoldo, RS: Rotermund, 1963. Não paginado

  • PINSKY, Carla (org). Fontes Históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2005.

  • ROCHE, Jean. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1969

  • VEIGA-NETO, Alfredo (org.). Crítica Pós-Estruturalista e Educação. Porto Alegre: Sulina, 1995.

  • WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira/UNB, 1981.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 13 · N° 121 | Buenos Aires, Junio 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados