Atividade física de adultos de São Paulo: divergências entre resultados do questionário IPAQ-8 e os testes de esforço Physical activity of adults of São Paulo: divergences between results of ipaq-8 questionnaire and exercise tests |
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Renata Furlan Viebig1 Maria Pastor-Valero2 | Alice Tatsuko Yamada3 Fernando Araújo3 | Alfredo José Mansur4 refurlan@terra.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008 |
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IntroduçãoEstudos epidemiológicos realizados na última década mostram que a adoção de níveis adequados de atividade física reduz a incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), exercendo efeitos favoráveis para a manutenção do peso corporal, da pressão arterial e dos níveis séricos de lipídeos e glicose1-5.
As recomendações atuais da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde brasileiro apontam que a prática de pelo menos 30 minutos de atividade física regular, de intensidade moderada, na maioria dos dias da semana reduz os riscos de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e câncer de cólon e mama1,4-6.
Nos países em desenvolvimento, conhece-se muito pouco a respeito dos hábitos de atividade física das populações7. A mensuração do nível de atividade física de populações é difícil, pois compreende todas as atividades voluntárias ocupacionais, de lazer, domésticas e de deslocamento realizadas pelos indivíduos, bem como a freqüência, duração e intensidade de execução destas atividades6-8. Assim, diversos desafios são apontados, principalmente no que se refere ao debate sobre quais seriam os métodos mais fidedignos para avaliar o nível de atividade física da população.
Um dos métodos mais utilizados para mensurar o nível de atividade física de populações são os questionários, que embora apresentem limitações, como por exemplo, a imprecisão nas respostas e os vieses de memória, apresentam baixo custo e facilidade de aplicação, além de coletarem o tipo de atividade e o contexto em que a mesma ocorre2,7,8,10,11.
No Brasil, poucos estudos têm investigado o nível de atividade física de populações nos últimos anos. Porém, a maioria destes trabalhos utilizaram questionários de atividade física habitual sem evidências de validade e reprodutibilidade12.
Um dos questionários mais utilizados, na atualidade, para estimar o nível de atividade física de indivíduos e populações é o International Physical Activity Questionnaire - IPAQ, o qual foi desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1998, com o objetivo de realizar um levantamento mundial da prática de atividade física através de um instrumento padronizado8.
A versão curta do IPAQ, no idioma português, foi validada no Brasil por Matsudo e colaboradores (2001)7,11 em uma população de voluntários, com idade acima de 12 anos, do município paulista de São Caetano do Sul. O método de referência utilizado pelos pesquisadores para comparação com o IPAQ foi a utilização de um sensor de movimento (Computer Science Application), sendo que os coeficientes de correlação encontrados foram de baixos a moderados (r=0,75 para a forma curta), embora similares aos encontrados em estudos com outros instrumentos7.
Não há dúvidas de que provas objetivas de avaliação da atividade física podem informar com mais precisão a respeito do nível de atividade física ou da capacidade de esforço de um individuo.
Mezzani & Giannuzzi13, em uma revisão a respeito de métodos para a determinação do nível de atividade física de indivíduos, sugerem que as medidas obtidas em testes de esforço sejam em termos de freqüência cardíaca, consumo máximo de oxigênio ou METS, poderiam ser importantes indicadores do nível de atividade física cotidiano. Porém, o emprego deste tipo de teste em estudos epidemiológicos de base populacional é bastante difícil de se administrar, além de serem economicamente caros.
O objetivo desta pesquisa foi avaliar o nível de atividade física de 194 adultos da Região Metropolitana de São Paulo, por meio da aplicação do IPAQ-8, versão curta, e compará-lo contra resultados de testes de esforço.
MétodosPopulação de estudo e amostra
A população do estudo foi selecionada, de forma aleatória, dentre os indivíduos adultos, voluntários, que ingressaram no estudo longitudinal "Avaliação Cardiológica" da Unidade Clínica de Ambulatório Geral do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), no ano de 2002. Este estudo longitudinal teve início em 1997 e continua até o momento presente14,15.
Para a participação em nosso estudo foram considerados os seguintes critérios de inclusão: os indivíduos a partir de 20 anos de idade, homens e mulheres, sem alterações no exame físico, eletrocardiograma, radiografia de tórax, teste ergométrico e ecocardiograma.
Como critérios de exclusão estabelecemos que não fariam parte do estudo os indivíduos com: a) história de doença cardiovascular ou sintomas cardiológicos; b) doenças crônicas tais como: doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, hipertensão arterial, doenças inflamatórias crônicas, doenças osteoarticulares, diabetes, doenças renais, neoplasias e doença de Chagas; c) glicemia de jejum > 140mg/dl documentada em duas ocasiões.
Maiores detalhes e informações sobre as características da população do estudo assim como a metodologia já foram explicadas anteriormente16,17.
O nível de atividade física dos participantes foi avaliado mediante resultados de testes de esforço efetuados no InCor e aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ-8, versão curta).
Teste de esforçoO teste de esforço ou teste ergométrico mede as respostas clínicas e hemodinâmicas de indivíduos ao esforço físico, como andar em uma esteira ou pedalar em uma bicicleta estática18,19.
A capacidade de esforço do indivíduo durante o teste ergométrico pode ser medida em múltiplos de equivalentes metabólicos - METS, que representam a quantidade de oxigênio consumido por uma pessoa em repouso, definida como 3,5mL/minuto/Kg de peso corporal. Para a avaliação do nível de atividade física realizada no teste ergométrico utilizou-se a capacidade de esforço dos participantes medida em METS20.
A Tabela 1 apresenta o protocolo Ellestad utilizado no InCor para a condução dos testes ergométricos e para a avaliação da capacidade de esforço, e sua conversão em equivalentes metabólicos (METS)18.
A partir dos resultados obtidos com os testes de esforço, o nível de atividade física dos indivíduos foi categorizado segundo a classificação proposta por Morris et al21 que correlaciona os resultados do teste ergométrico, em METS, com o risco de doença cardiovascular. Dessa forma, uma capacidade de esforço, atingida durante o exame, inferior a 6 METS representaria alto risco de doenças cardiovasculares, de 6,1 a 9,9 METS caracterizaria risco moderado, e maior ou igual a 10 METS significaria proteção.
IPAQ-8O IPAQ é um questionário sobre a freqüência (dias/semana), duração (minutos/dia) e a intensidade da atividade física do indivíduo durante uma semana "habitual", tanto em atividades ocupacionais quanto de locomoção, lazer ou prática esportiva.
Para classificar o nível de atividade física dos participantes, examinamos as respostas coletadas pelo IPAQ-8 de acordo as recomendações de Marshall & Bauman8, segundo as quais seriam considerados fisicamente ativos os indivíduos que realizassem ao menos 150 minutos de atividade física semanal por cinco ou mais dias da semana e sedentários os que realizavam menos de 10 minutos diários de atividade física. Os indivíduos que relataram realizar atividade física, mas não alcançaram as recomendações propostas, seriam considerados insuficientemente ativos.
IPAQ-8 frente a testes de esforçoPara a comparação dos resultados obtidos na aplicação do IPAQ-8 com os testes de esforço, as informações ambos os métodos foram expressas como variáveis contínuas, medidas em METS. Para tanto, as respostas ao questionário foram convertidas em METS, de acordo com o quadro de equivalência utilizado por Marshall e Bauman8, baseado no Compêndio de Atividades Físicas proposto por Ainsworth et al20 (Tabela 2).
Análise estatísticaPara a construção da base de dados e análise dos mesmos foi utilizado o software estatístico STATA (versão 6.0)22.
Primeiramente, as distribuições de todas as variáveis contínuas do estudo foram examinadas para saber se seguiam ou não uma distribuição gaussiana. A análise descritiva da população foi realizada por meio do cálculo de medidas de tendência central e de proporções.
As diferenças apresentadas no nível de atividade física da população, mensurado pelos dois métodos, e as variáveis gênero, idade, escolaridade e raça foram avaliadas pelo teste de associação X2 (Chi-quadrado).
A concordância das respostas do IPAQ comparada às informações dos testes de esforço foi realizada mediante o coeficiente de correlação de Spearman, com as informações provenientes de ambos os métodos medidas na mesma unidade, ou seja, equivalentes metabólicos - METS.
ResultadosA amostra do presente estudo foi composta por 194 indivíduos, sendo 119 (61,5%) indivíduos do sexo feminino e 75 (38,5%) do sexo masculino, com idade média de 41,7 anos (mediana=42,6) e 41,0 anos (mediana=43,0), respectivamente.
A maioria da população estudada (75%) foi composta por indivíduos da raça branca, com 4,5% da raça negra e 3,5% de orientais. Cerca de 37,5% dos participantes apresentavam o Ensino Médio completo ou Superior incompleto (12 ou mais anos de estudo). Informações mais detalhadas podem ser encontradas em publicações anteriores16,17.
Com relação ao estilo de vida dos participantes, observou-se que os fumantes atuais constituíam cerca de 30% dos homens e 17% das mulheres (p=0,034), sendo que a prevalência de tabagismo aumentava com a idade (p=0,013). A maioria dos indivíduos de nossa população relatou que não consumia bebidas alcoólicas habitualmente (71,5%).
A análise do nível de atividade física, avaliado segundo as respostas ao questionário IPAQ-8, mostrou que 8,7% dos indivíduos estudados foram considerados sedentários (não realizavam nenhuma atividade física semanal) e 79,4% puderam ser classificados como ativos (cumpriam ao menos 5 dias/semana de atividade física com duração mínima de 30 minutos por dia) (Tabela 3). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre atividade física e gênero, idade, escolaridade e ocupação.
Na Tabela 4, observa-se que os testes de esforço classificaram como sedentários e com alto risco de doenças cardiovasculares cerca de 13,4% dos indivíduos e 51,0% dos entrevistados foram classificados como possuindo uma capacidade de esforço que significaria proteção contra as doenças cardiovasculares ( > 10 METS).
De forma diversa ao encontrado na aplicação do IPAQ-8 houve diferença estatisticamente significativa dos resultados do teste de esforço entre gêneros (p=0,008) e idade (p=0,011). Entretanto, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre capacidade de esforço, escolaridade e ocupação.
Existe uma clara discordância entre IPAQ-8 e testes de esforço, cuja disparidade máxima se observa na classificação dos indivíduos fisicamente ativos (79,4% e 51,0% dos indivíduos, respectivamente) e entre os indivíduos classificados como sedentários (8,7% e 13,4%, respectivamente).
A concordância entre as respostas ao IPAQ-8 convertidas em METS e os testes de esforço foi examinada mediante o coeficiente de correlação de Spearman, que mostrou uma fraca associação positiva que alcançou significância estatística r=0,1669 (p=0,006). O coeficiente de correlação de Spearman entre IPAQ-8 e os testes de esforço não se modificou com o ajuste por idade, IMC, tabagismo, consumo de álcool, escolaridade e ocupação. Quando observadas as correlações, separadamente para homens e mulheres, verificamos que a correlação parcial para o sexo feminino mostrava-se mais fraca que para o sexo masculino (r=0,1007; p=0,2740).
Diante da fraca concordância encontrada e com o intuito de conhecer como os dois métodos classificavam a atividade física, comparamos os resultados dos dois instrumentos (Tabela 5).
A Tabela 5 mostra a discordância na classificação do nível de atividade física dos indivíduos de ambos os métodos. A maioria dos indivíduos que os testes de esforço identificaram com alto risco de desenvolver doença cardiovascular (73%), ou com risco moderado (81%), foram classificados a sua vez como ativos pelo questionário IPAQ-8. De acordo com esta comparação, o questionário estaria superestimando de forma importante os indivíduos ativos da população e subestimando os sedentários.
Por outro lado, observa-se que 8% dos participantes classificados como sedentários pelo IPAQ apresentariam, segundo o teste ergométrico, uma capacidade de esforço >10 METS, o que representaria uma proteção contra as doenças cardiovasculares.
DiscussãoOs resultados do presente estudo mostraram uma clara divergência entre a população classificada como sedentária e fisicamente ativa pelo IPAQ-8 e pelos testes de esforço (8,7% frente a 13,4%). Por outro lado, o IPAQ-8, teria classificado a maior parte dos indivíduos, 79,4%, como fisicamente ativos contra 51,0% apontados pelos testes ergométricos.
IPAQ-8O nível de atividade física da população, mensurado pelo IPAQ-8, revelou que a maioria dos indivíduos entrevistados eram fisicamente ativos (79,4%), frente a 11,9% de insuficientemente ativos e 8,7% de sedentários.
A dificuldade de comparação de nossos resultados com outros estudos brasileiros se dá, principalmente, pelas diferenças metodológicas entre os métodos de coleta e pontos de corte para sedentarismo adotados pelos diferentes estudos já empreendidos.
Em sua revisão sistemática, Hallal et al9 encontraram que dentre os 32 estudos brasileiros que definiram sedentarismo (ou qualquer outro termo para denominar as pessoas com baixos níveis de atividade física), foram identificadas 26 formas diferentes de operacionalização desta variável, sendo o critério mais utilizado para a definição de sedentarismo a prática de atividades físicas inferior a 150 min por semana (4 estudos), estando estes de acordo com as recomendações atuais quanto à prática de atividade física entre adultos.
Três estudos brasileiros, que usaram questionários diferentes do IPAQ-8, encontraram prevalências de sedentarismo muito maiores do que as encontradas em nosso estudo. Em um estudo com funcionários de um banco estatal do município do Rio de Janeiro, encontrou-se uma prevalência de 60% de sedentarismo, definido este como a realização de atividade física com duração inferior a 20 minutos e freqüência menor que 2 vezes por semana23. Em um segundo estudo, realizado com adultos do Estado de Goiás, observou-se que 62% dos 1739 entrevistados não realizavam nenhum tipo de atividade física no lazer e 71% eram considerados como sedentários com relação à sua atividade ocupacional (ficavam sentados ou se movimentavam muito pouco no trabalho)24. Em outro estudo, com 704 funcionários adultos da Universidade de Brasília, em 2002, foi observada uma prevalência de sedentarismo de 48,4%, representando os indivíduos que relatavam que não praticavam nenhum tipo de atividade física durante a semana25.
Foi possível comparar nossos achados com os resultados de 3 outros estudos brasileiros que usaram o IPAQ-8 e os mesmos pontos de corte para nível de atividade física que nosso estudo. Na pesquisa que avaliou o nível de atividade física de adultos residentes na cidade de Londrina, no Paraná, foi observada uma prevalência de 33,2% de sedentarismo26. Em outro estudo, que analisou o nível de atividade física de indivíduos de 29 cidades do Estado de São Paulo2, os autores encontraram uma prevalência de sedentários ainda menor do que a observada em nosso estudo, de aproximadamente 6% na Região Metropolitana de São Paulo. Em outra pesquisa realizada na cidade de São Paulo, em 2003, com indivíduos jovens e adultos que responderam ao IPAQ-8, foi observada uma prevalência de sedentarismo de 8,9%, muito similar à encontrada em nosso estudo27.
Finalmente, em estudo recentemente publicado, que avaliou o nível de atividade física no lazer de adultos do município de Pelotas, Rio Grande do Sul, em 2003, por meio do IPAQ-8, foi observado que somente 27,5% dos indivíduos eram suficientemente ativos (realizavam pelo menos 150 minutos por semana de atividade física no lazer)28, em comparação aos 79,4% de ativos apontados em nosso estudo. Porém, este estudo somente levou em consideração as atividades físicas e práticas esportivas realizadas no tempo livre dos participantes, fato este que, segundo Monteiro et al29 poderia superestimar os inativos em até 20%.
Testes de esforçoOs testes de esforço identificaram 13,4% dos indivíduos como sedentários ou com uma capacidade de esforço menor do que 6 METS, o que representaria uma população com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Por outro lado, os testes classificaram como fisicamente ativos a 51% da população.
Diferentemente dos resultados do IPAQ-8 foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os resultados dos testes ergométricos e o gênero e a idade, sugerindo que os testes podem ser provas mais precisas quando se trata de avaliar a atividade física dos indivíduos.
Estes resultados não puderam ser comparados com outros estudos, uma vez que não foram encontrados outros estudos brasileiros que utilizassem os resultados de testes ergométricos para avaliar a atividade física de uma população adulta geral.
IPAQ-8 frente a testes de esforçoSegundo nosso conhecimento nenhum estudo brasileiro comparou questionários para avaliação de atividade física de população geral contra resultados de testes ergométricos.
Recentemente, Florindo et al30 desenvolveram um questionário de atividade física habitual para adolescentes o qual foi validado em uma população de estudantes de 11 a 16 anos de idade do município de Piracicaba, São Paulo, contra resultados de teste de avaliação da capacidade cardiorrespiratória em "corrida vai-e-vem" (20 metros). Os autores encontraram coeficientes de correlação que variaram entre r=0,17 e r=0,30.
Oka et al (1993)31, avaliaram o nível de atividade física de indivíduos coronarianos de São Francisco, Califórnia, por meio de um questionário proposto por Hlatky et al (1989)32, o DASI - Duke Activity Status Index. Os autores encontraram um coeficiente de correlação de 0,81 entre as respostas ao questionário e o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) durante o teste ergométrico em esteira.
Outro estudo, realizado por Mezzani et al33, avaliou o nível de atividade física, por meio de uma entrevista referente aos últimos seis meses que considerou atividades físicas de lazer e ocupacionais, e o desempenho em teste ergométrico de indivíduos adultos italianos coronarianos e assintomáticos (grupo controle). Os pesquisadores encontraram uma forte correlação entre a capacidade respiratória (VO2máx) durante o teste de esforço e a atividade física no último semestre entre os indivíduos assintomáticos (r=0,83; p<0,0001).
O coeficiente de correlação encontrado em nosso estudo, entre os métodos pesquisados, é considerado baixo. Alguns fatores devem ser levados em consideração quando se avalia o nível de atividade física de populações por meio de questionários, especialmente o viés de memória, o que pode aumentar a variabilidade e levar a correlações mais baixas30,34.
A população do presente estudo foi formada por voluntários que buscavam avaliação cardiológica preventiva e, portanto, poderiam ser pessoas com maior preocupação em relação à saúde e atividade física. Quando comparamos as características sócio-econômicas da população do nosso estudo com a população do município de São Paulo, a população base da presente pesquisa, observamos características muito similares de acordo com os dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, especialmente com relação às distribuições de idade, sexo e raça35. Porém, os participantes do presente estudo apresentaram um nível de escolaridade ligeiramente superior ao reportado pelo IBGE.
O caráter voluntário de participação de nossa população poderia explicar um nível sócio-econômico superior ao referido pelo IBGE, pois as pessoas que voluntariamente preocupam-se em ter seu estado de saúde avaliado por meio de um check-up seriam, em princípio, indivíduos com nível sócio-econômico-cultural superior e com maior acesso a melhor informação. Este fenômeno é conhecido em epidemiologia como "Healthy Effect" dos voluntários.
Normalmente, indivíduos tendem a superestimar sua atividade física e segundo Rzewnicki et al36, um dos prováveis motivos para este fato é de que estes indivíduos dêem respostas socialmente desejáveis aos questionários, de acordo com os comportamentos e hábitos valorizados pela sociedade. Isto ocorre, em especial, em grupos de maior escolaridade, pois aparentemente valorizam um estilo de vida mais saudável do que os grupos de menor escolaridade e renda.
Em seu estudo, Rzewnicki et al36 estudaram indivíduos adultos belgas que responderam o IPAQ-8 durante entrevista de um inquérito nacional e, posteriormente, responderam novamente o IPAQ-8 por telefone. Os autores observaram que 50% menos pessoas atingiram as recomendações para prática de atividade física nos questionários aplicados via telefônica, o que sugere que estes superestimaram a atividade física nas entrevistas pessoais.
Em nosso estudo, o IPAQ-8 poderia estar superestimando como ativa cerca de 50% da população e, como conseqüência, subestimando de forma importante a população sedentária.
A medida adequada da atividade física de populações tem se tornado um assunto que envolve cada vez mais o interesse de pesquisadores em todo o mundo e especialmente nos países em desenvolvimento, onde pouco se conhece, atualmente, sobre o nível de atividade física das populações.
ConclusãoO presente estudo mostra uma importante divergência entre os dois métodos utilizados para avaliar a atividade física dos participantes. Quando contrastamos os resultados obtidos por ambos os métodos, o questionário IPAQ-8 poderia estar superestimando a população ativa e subestimando a sedentária. Futuros estudos, de base populacional, deveriam ser realizados para validar o questionário IPAQ-8 em populações adultas brasileiras contra provas objetivas de avaliação do nível atividade física.
AnexoTabelas
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