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Relação entre potência anaeróbia e aeróbia
de meninos pré-puberes e púberes

 

Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte

Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Hinaiana Machado

André Michelin

Vilma Brum

Wagner de Campos

hinaufpr@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Objetivo: verificar a relação entre potência anaeróbia e aeróbia, de meninos pré-púberes e púberes em diferentes estágios maturacionais. 

          Métodos: a amostra foi composta por 183 meninos, praticantes de atividades esportivas recreacionais, com faixa etária de 7 a 14 anos, classificados nos estágios maturacionais de 1 a 4 de Tanner. Foram avaliadas; a massa corporal, a estatura, o índice de massa corporal - IMC, a maturação sexual (auto-avaliação dos pêlos pubianos), potência aeróbia (teste de Legér) e potência anaeróbia (teste de 50m). Na análise estatística utilizou-se ANOVA e correlação de Pearson com nível de significância p<0,05.   

          Resultados: houve correlação significativa e negativa entre potência aeróbia e anaeróbia para todos os estágios maturacionais; estágio 1 (r=-0,61), estágio 2 (r= -0,68), estágio 3 (r= -0,72) e estágio 4 (r= -0,77). Conclusão: nesta amostra foi constatado que conforme a criança cresce e melhora sua potência anaeróbia (pela diminuição do tempo no teste) a potência aeróbia é aumentada também.

          Unitermos: Potência aeróbia. Potência anaeróbia. Maturação.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

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Introdução

    Capacidade anaeróbia é a eficiência do metabolismo em gerar ATP através da via glicolítica, com ausência ou carência de oxigênio (FOSS, 2000). A criança apresenta particularidades em realizar atividades de cunho anaeróbio, visto que não produzem lactato como os adultos, tanto em exercícios máximos quanto em submáximos, ou seja, as crianças possuem menor capacidade glicolítica, possivelmente em decorrência da quantidade limitada das enzimas fosfofrutoquinase e lactato desidrogenase (WILMORE E COSTIL, 2001). Já a capacidade aeróbia é a eficiência em gerar ATP através da via oxidativa, metabolismo predominante em atividades de longa duração e baixa ou moderada intensidade. A via metabólica aeróbia em crianças é utilizada com maior eficiência comparada à anaeróbia e as crianças utilizam tal metabolismo de forma tão eficiente quanto os adultos (CAMPOS e BRUM, 2004).

    Os processos de crescimento, desenvolvimento e maturação biológica estão diretamente ligados com o desenvolvimento tanto da capacidade aeróbia, quanto anaeróbia e uma série de mudanças morfo-fisiológicas aproxima o indivíduo da fase adulta. Além disso, ainda devemos considerar os aspectos genéticos e culturais, que podem aumentar a variabilidade dessas respostas entre os indivíduos (MALINA e BOUCHARD, 1991).

    Não é sabido se existe relação direta da aptidão aeróbia e anaeróbia durante a infância e a puberdade. Em adultos, o treinamento da aptidão anaeróbia altera especificamente seu metabolismo e o mesmo ocorre para o treinamento da aptidão aeróbia. Já em crianças um tipo de treinamento predominantemente anaeróbio pode alterar a aptidão aeróbia concomitantemente (McMANUS, ARMSTRONG e WILLIAMS, 1997). Dessa forma, faz-se necessário conhecer se a criança que possui uma boa aptidão aeróbia também tem boa aptidão anaeróbia e se esta relação se altera durante os diferentes estágios maturacionais. Neste sentido, o propósito deste estudo é verificar a relação entre potência anaeróbia e aeróbia, de meninos pré-púberes e púberes em diferentes estágios maturacionais.

Metodologia

Amostra

    Foram selecionadas 183 crianças pré-púberes e púberes, do sexo masculino, com faixa etária variando entre 7 a 14 anos, classificadas nos estágios maturacionais de 1 a 4 propostos por Tanner (Tabela 1). Os meninos eram praticantes de diferentes modalidades esportivas de um clube de lazer e todos tiveram o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos responsáveis.

Instrumentos e procedimentos

Massa corporal, Estatura e IMC

    A partir das medidas de massa corporal e estatura foi calculado o índice de massa corpórea (IMC) = massa/estatura2.

Maturação

    Para verificar o estágio maturacional dos indivíduos, foi utilizado o método de auto-avaliação da característica sexual secundária (pêlos pubianos) proposta por Tanner e adaptada em figuras (DOCHERTY, 1996).

Potência anaeróbia

    Para medir a potência anaeróbia foi utilizado o teste de Corrida de 50 metros (Johnson & Nelson,1979 citado por Marins, 1998).

Potência aeróbia

    Para medir a potência aeróbia utilizou-se o teste de vai e vem de Legér (1982). Como resultado foi utilizado o número máximo de voltas percorridas pelo sujeito.

Análise estatística

    Estatística descritiva (média, desvio-padrão e análise de variância two-way) foi utilizada para caracterização da amostra. Para verificar a relação entre potência aeróbia e anaeróbia foi utilizada a correlação de Pearson em cada estágio maturacional. O nível de significância estipulado foi p<0,05.

Resultados e discussão

    Como caracterização da amostra, na Tabela 2 são apresentados os valores da idade, massa corporal, estatura, IMC, potência anaeróbia e aeróbia dos meninos em diferentes estágios maturacionais.

    Verifica-se que a idade é bem distinta em cada estágio maturacional, bem como as variáveis de crescimento físico (massa corporal e estatura), que mostraram diferenças significativas entre todos os grupos. Com relação ao IMC, apenas o grupo pré-púbere apresentou-se diferente dos estágios 3 e 4. Estes resultados mostram pouca variação do IMC depois que os sujeitos entram na fase pubertária.

    Para as variáveis de aptidão física, a potência anaeróbia foi significativamente diferente em todos os estágios maturacionais, mostrando que conforme o sujeito se desenvolve, o tempo (em segundos) no teste diminui e consequentemente sua potência é aumentada. Estes resultados são compatíveis com outros estudos (VILLAR e DENADAI, 2001) que mostram a melhora da potência anaeróbia com o avanço da idade ou maturação. As principais atribuições destes resultados são para o crescimento físico e alterações na composição corporal como o desenvolvimento da massa muscular, além disso, o aumento da força e alterações hormonais durante a puberdade são fatores determinantes para mudanças na potência anaeróbia (MARTIN e MALINA, 1998).

    A potência aeróbia também apresenta uma melhora linear com o avanço dos estágios maturacionais, porém, não significativo em todos os grupos. Verifica-se que apenas o grupo de meninos pré-pubere é diferente de todos os outros e o estágio maturacional 2 (início da puberdade) é distinto do estágio 4 (final da puberdade). Nota-se que a entrada da puberdade é marcada pela melhora da aptidão aeróbia, isto pode ser confirmado por Campos e Brum (2004), que apresentam as alterações fisiológicas no sistema cardiorrespiratório com a entrada da puberdade: eficiência ventilatória, aumento do limiar anaeróbio, maior capacidade de suportar acidose em intensidades de exercício mais elevadas.

    Na Tabela 3 são apresentados os resultados da Correlação de Pearson entre potência aeróbia e anaeróbia para cada estágio maturacional.

    Nos resultados observou-se correlação significativa e negativa em todos os estágios maturacionais, ou seja, conforme a criança ou adolescente melhora sua potência anaeróbia (pela diminuição do tempo no teste de 50m) a potência aeróbia também é aumentada (representada pelo número de voltas no teste), independente do tipo de esporte praticado, visto que a amostra foi composta por jovens praticantes de iniciação esportiva de variadas modalidades como o tênis, futebol, vôlei, natação, basquete, dança, entre outros.

    Além disso, nota-se na Tabela 3 que a correlação fica mais forte à medida que o estágio maturacional aumenta, atribui-se este fato não a modalidade esportiva praticada, que geralmente possui predominância do metabolismo aeróbio ou anaeróbio, mas sim às alterações proporcionadas pelo crescimento físico, desenvolvimento e maturação biológica, que geram uma série de modificações que aproximam o indivíduo da fase adulta, logo os adolescentes pertencentes aos estágios maturacionais mais avançados terão passado por mais modificações nos sistemas morfológico, fisiológico e endócrino, refletindo o maior desempenho, tanto no âmbito aeróbio quanto anaeróbio.

Conclusão

    A potência anaeróbia é diferente em todos os estágios maturacionais, sendo que, quanto maior a maturação biológica melhor é o desempenho anaeróbio. Por outro lado, a potência aeróbia apresenta um padrão menos distinto com relação aos estágios maturacionais. Somente o grupo pré-púbere apresentou diferença significativa comparado aos demais, além disso, não houve diferença entre os grupos 3 e 4. Na correlação entre a potência aeróbia e anaeróbia houve significância em todos os estágios maturacionais, sendo maior a medida que o estágio avança. Futuras pesquisas fazem-se necessárias, utilizando amostra com ambos os sexos e populações com diferentes níveis de aptidão física.

Referências

  • CAMPOS, W; BRUM, V.P.C. Criança no Esporte. 2004.

  • DOCHERTY, DAVID. Measurement in pediatric exercise. Champaing: Human Kinetics, 1996.

  • FOSS, Merle L., KETEYIAN, Steven J. Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 2000.

  • LÉGER, L. A. and LAMBERT, J. A maximal multistage 20-m shuttle run test to predict V02max. European Journal of Applied Physiology, 49: 01-12, 1982.

  • MALINA, R.M., BOUCHARD, C. Growth maturation and physical activity. Human Kinetics, 1991.

  • MARINS, João C. Bouzas; GIANNICHI, Ronaldo S. Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. Rio de Janeiro: Shape. 1998.

  • MARTIN, C. J.; MALINA, R.M. Developmental variations in anaerobic performance associated with age and sex. In: VAN PRAAGH, Pediatric Anaerobic Performance. Human Kinetics, 1998.

  • McMANUS, A. M.; ARMSTRONG, N.; WILLIAMS, C. A. Effect of training on the aerobic power and anaerobic performande of prepubertal girls. Acta paediatrica. v. 86, n. 5, p. 456-459, 1997.

  • VILLAR, R.; DENADAI, B. S. Efeitos da Idade na Aptidão Física em Meninos Praticantes de Futebol de 9 a 15 Anos. Motriz. v. 7, n.2, p. 93-98, 2001.

  • WILMORE,J.H.; COSTIL, D.L. Fisiologia do Esporte e Exercício. 2 ed.São Paulo: Editora Manole, 2001.

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