Formação profissional em Educação Física: percepções e escolhas discentes acerca da licenciatura e do bacharelado Professional formation in Physical Education: perceptions and choices of the university students about licenciatura and bacharelado |
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UFSCar - São Carlos (Brasil) |
Fábio Ricardo Mizuno Lemos |
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O objetivo deste trabalho foi o de desvelar o
entendimento de graduandos em Educação Física, de uma universidade
pública da região central paulista, sobre licenciatura e bacharelado em
Educação Física, bem como, suas motivações para a escolha da
respectiva ênfase.
Unitermos:
Formação profissional. Educação Física. Licenciatura. Bacharelado.
Abstract
The objective of this research was to reveal
the physical education comprehended by university student, of a public
university of the central area of São Paulo, about licenciatura and
bacharelado in physical education, as well as, your motivations for the
choice of the career.
Keywords:
Professional formation. Physical Education. Licenciatura. Bacharelado.
e foi exigido como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008 |
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Introdução
De acordo com RAMOS (1995), as instituições para formação de recursos humanos para o trabalho em Educação Física obedecem a seguinte cronologia:
em 1909, é criada a Escola de Educação Física da Força Policial de São Paulo; em 1914, funda-se a Liga de Esportes da Marinha; em 10 de janeiro de 1922, por Portaria do Ministério da Guerra, cria-se o Centro Militar de Educação Física, ligado à Escola de Sargentos da Infantaria; em 19 de outubro de 1933, o Centro Militar de Educação Física pelo Decreto 23.252, transforma-se na Escola de Educação Física do Exército; em 1934, a primeira escola civil de Educação Física é criada pelo Governo do Estado de São Paulo (Decreto 4.855, de 27 de janeiro de 1931); em 1939, é fundada a Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil (Decreto-Lei 1.212) (p.12).
Com a criação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos, da Universidade do Brasil, em 1939, há o surgimento do primeiro curso de Educação Física vinculado a uma universidade.
Segundo OLIVEIRA, BETTI e OLIVEIRA (1988):
A legislação que criou a Escola Nacional passou a exigir, a partir de então, a posse de diploma de curso superior para o exercício do magistério em Educação Física nos estabelecimentos de ensino superior, secundário, profissional e normal (p.47).
A regulamentação da formação de professores ocorreu, apesar das primeiras escolas superiores em Educação Física no Brasil datarem do início do Século XX, somente no ano de 1969, pelo “Parecer 894/69 e Resolução 69/69 (do Conselho Federal de Educação), que fixaram o currículo mínimo nos cursos superiores” (RAMOS, 1995, p.15).
Esta estrutura curricular manteve-se inalterada até que o Parecer CFE 215/87 e a Resolução CFE 3/87, de 16 de junho de 1987, viessem propor a atual estruturação curricular dos cursos superiores de Educação Física, alterando/modificando a licenciatura e abrindo a possibilidade de criação do bacharelado na área (RAMOS, 1995).
Tais mudanças na estruturação curricular dos cursos superiores de Educação Física não ocorreram por acaso. ANDRADE FILHO (2001) lembra que o advento do fenômeno da esportivização na sociedade,
alterou substancialmente os hábitos de vida da população mundial, em particular da população brasileira, após os anos 70, diversificando e expandindo a procura e a oferta de atividades físicas não escolares, notadamente no sentido do lazer e da saúde. (...) Em conseqüência disso, os cursos de Educação Física foram incorporando disciplinas científicas, pedagógicas e técnicas, acarretando a descaracterização da especificidade dos currículos de licenciatura plena (p.27).
Foi provocado um verdadeiro “inchaço” nos currículos dos cursos de licenciatura em Educação Física, a fim de atender às novas áreas de atuação como musculação, ginástica aeróbica e educação física adaptada (BETTI e BETTI, 1996).
Diante dessa nova realidade, ampliação e diversificação do mercado de trabalho/atuação profissional, as Instituições de Ensino Superior (IES) em Educação Física começaram a manifestar o interesse para currículos mais precisos, mais estruturados, mais voltados para a pesquisa e para a delimitação do campo profissional específico da Educação Física, eclodindo o movimento em defesa/valorização do bacharelado (TOJAL, 1995).
Alicerçada no desejo manifestado pelas Escolas de Educação Física (...) ficou clara a necessidade de se introduzir o bacharelado no parecer e resolução, juntamente, no parecer e resolução que trata da licenciatura, o que se deu através do parecer do Conselho Federal de Educação de número 215/87, aprovado em 11 de março de 1987 (TOJAL, 1995, p.79).
BARROS (1995), considera a Resolução CFE 03/87, advinda do Parecer CFE 215/87, um dos marcos da transformação da Educação Física, representando uma verdadeira “emancipação da Educação Física no Brasil.” (p.71) e disserta:
Até 1987 todos os cursos de Graduação em Educação Física, diríamos, vestiam uma camisa de força imposta pelo CFE, que restringia as suas possibilidades ao oferecimento do curso de licenciatura, e complementarmente, o de Técnico Esportivo. Desse modo, limitava a motivação dos estudiosos da área e a responsabilidade das Instituições de Ensino Superior envolvidas na preparação desses profissionais. Esta situação não possibilitou à Educação Física descobrir a si mesma (p.71).
Vale ressaltar que, a área de Educação Física, com essa Resolução, segundo BÁSSOLI DE OLIVEIRA e DaCOSTA (1999), tornou-se “a primeira do país a ter autonomia curricular em nível de graduação” (p.87), isto é, foi a pioneira na eliminação do chamado currículo mínimo, o que colaborou para o salto qualitativo na área, pela liberdade de constituição curricular.
Ainda, de acordo com BÁSSOLI DE OLIVEIRA e DaCOSTA (1999), “Para nossa satisfação, as Diretrizes organizadas para a Educação Física (Resolução 3/87) serviram de base para o Ministério da Educação na recomendação às demais áreas do conhecimento” (p.88).
Retomando, a possibilidade de criação do bacharelado em educação física pode ser entendida e associada a uma resposta às críticas e “deficiências” na formação do licenciado, além da perspectiva da própria regulamentação da profissão – que se efetivaria com a Lei nº. 9.696, de 1º de setembro de 1998 (BRASIL, 1998).
Procedimentos metodológicos
A pesquisa qualitativa centra-se na descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo investigatório, procurando entendê-las de forma contextualizada. Isto significa que nas pesquisas de corte qualitativo não há a preocupação em generalizar os achados (NEGRINE, 1999).
Assim, para o presente estudo, o enfoque metodológico se pautou na abordagem qualitativa, da qual utilizou-se, como instrumento de coleta de informações, entrevista com quinze alunos do quarto ano do curso de Educação Física de uma universidade pública da região central paulista, distribuídos da seguinte maneira:
Bacharelado – 8 alunos;
Licenciatura –
As entrevistas foram realizadas seguindo uma ordem de disponibilidade dos alunos, sem uma prévia seleção dos mesmos.
As indagações ocorreram individualmente, sendo gravadas em mini-fitas cassetes magnéticas, para posterior transcrição na íntegra, sem alteração dos vocábulos utilizados, para se minimizar a contaminação das informações. A utilização dos discursos foi autorizada pelos depoentes.
Para garantir um determinado rol de informações importantes ao estudo e para dar maior flexibilidade às indagações, utilizou-se de entrevista semi-estruturada, pois:
É ´semi-estruturada’ quando o instrumento de coleta está pensado para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realize explorações não-previstas, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa (NEGRINE, 1999, p.74).
Desta forma, as questões elaboradas foram:
Quais eram seus objetivos ao ingressar no Curso de Educação Física? Eles continuam os mesmos ou se modificaram?
Qual a sua opinião sobre a estrutura curricular do curso (formação comum – 3 anos + formação específica – 1 ano)?
O que o/a levou a optar por tal ênfase? Quando se deu essa decisão?
Como foi esse momento para você?
Para você o que é (ênfase que está cursando)?
O que você está achando de cursar a ênfase escolhida? Você está gostando? Por que? Eram essas as suas expectativas?
Qual o seu entendimento de (outra ênfase)?
Você pretende cursar a outra ênfase? Por que?
O que pretende fazer após concluir a graduação?
Resultados
Partindo das informações recolhidas neste trabalho, foram construídas cinco categorias, sendo elas:
Objetivos/visão de educação física dos ingressantes no curso;
A estrutura curricular do curso;
Opção pela ênfase;
Sobre as ênfases licenciatura e bacharelado;
Caminhos da pós-graduação.
A divisão em categorias foi realizada visando a síntese das informações sobre uma mesma temática. Os trechos das entrevistas são apresentados seguidos da identificação dos sujeitos, bem como, da ênfase a qual está cursando. Optou-se pela não identificação nominal dos indivíduos, bem como da instituição, condição acordada com os mesmos, para proporcioná-los uma ampliada liberdade de expressão.
Categoria 1. Objetivos/visão de educação física dos ingressantes no curso
Na seqüência, excertos das entrevistas demonstram a visão inicial sobre a formação do profissional de educação física, independentemente da opção pela ênfase que fizeram posteriormente.
“Gostava muito de esporte, praticar atividade física. Então, eu, como muita gente, creio que entrei dessa maneira, né? Pensando que a educação física era uma simples prática de esporte” (sujeito 1, licenciatura). “Eu entrei pensando em esportes, em atividades físicas, pura e simplesmente, sabe?” (sujeito 2, licenciatura). “Eu achei que eu fosse fazer educação física, ser um curso bem prático” (sujeito 1, bacharelado). “Eu sempre tive aquela visão que todo mundo de fora da educação física tem, que é aquele caráter esportivista, totalmente esportes” (sujeito 8, bacharelado).
É notado que a educação física é vista, única e inicialmente, como algo ligado às práticas de esportes e de atividades físicas. Tal visão sobre a área parece ser um tanto quanto reducionista e esportivista, porém, característica de alunos que ingressam em cursos de educação física.
Em estudo realizado no Curso de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá (CARRARO et al., 2001), a respeito dos principais motivos que levaram os alunos a se interessarem pelo presente curso, é possível comprovar a afirmação realizada acima, visto que, revelou as seguintes aspirações: “vocação esportiva, profissão do futuro, ter sido atleta, facilidade de ingresso, influência familiar e outros” (p.53), centrando-se na vocação esportiva, na condição de ser atleta na atualidade e por esta profissão ser considerada a profissão do futuro.
Entretanto, com o decorrer do curso sofrem modificações que refletem a importância e a necessidade do processo de preparação profissional na área. Trechos das falas dos entrevistados confirmam tal compreensão:
“Passei a ter uma visão um pouco não, não tão esportivista, mais voltado para a socialização, ao convívio mesmo entre professor e aluno” (sujeito 2, bacharelado). “Com o andamento do curso mudaram muitas visões, muitos conceitos e concepções e hoje mesmo me distanciei dos esportes, do treinamento” (sujeito 7, licenciatura).
Nota-se que a grande maioria dos sujeitos entrevistados, de ambas as ênfases, tiveram a sua visão modificada, para uma educação física na qual o profissional não apenas consome e transmite técnicas, por exemplo, mas se coloca criticamente em relação a elas sistematizando novas maneiras de se relacionar com seu campo profissional:
“Eu achava linda a profissão, os professores que eu tive eram assim, todo mundo gente boa. Eu não tinha, assim, nada aprofundado que não fosse isso. Depois que eu entrei eu vi que era completamente diferente, filosoficamente, historicamente, em todos os aspectos” (sujeito 2, licenciatura). “Eu esperava a formação que eu tive no curso técnico, exatamente adquirir a profissão e atuar, totalmente isento de reflexão, isento de criação de alguma coisa, então mudou bastante. Eu continuo com a idéia ainda de sair daqui com uma profissão, profissão docente e, mas, mudou muito, assim, em questão de ser aquela coisa técnica, aquela coisa rígida, simplesmente tá ali atuando, pegar um conhecimento e com esse conhecimento atuar. Hoje já mudou um pouco isso. Dá pra fazer mais coisa, dá pra criar, dá pra refletir sobre o trabalho” (sujeito 5, licenciatura). “E foi o que acabou um pouco mudando, o lance de você tar encarando a pessoa como um corpo, vai, e tudo, mas, tentar compreender ela num contexto, foi isso que mudou um pouco” (sujeito 7, bacharelado).
Mudanças nos objetivos estabelecidos no início da graduação, também foram notadas. Estas modificações ocorreram, principalmente pelo melhor conhecimento da área e de sua abrangência:
“Os objetivos se modificaram porque eu conheci outras áreas, outros campos de trabalho” (sujeito 3, bacharelado).
Categoria 2. A estrutura curricular do curso
A estrutura curricular do curso freqüentado pelos sujeitos pesquisados é composta por três anos básicos e comuns a todos, sendo que, no sétimo semestre é obrigatória a opção por uma das ênfases, licenciatura ou bacharelado, sendo possível, após o término da 1ª ênfase (4 anos), habilitar-se à outra, cursando mais 2 semestres (5º ano).
Sobre esta estrutura curricular (formação comum – 3 anos + formação específica – 1 ano), encontrou-se as seguintes opiniões:
Favoráveis à estrutura:
“É uma estrutura boa por não ter que escolher na entrada” (sujeito 1, bacharelado). “Os três anos dão uma base boa pros alunos pra depois estar fazendo a ênfase” (sujeito 4, bacharelado).
O que mais se elogia da presente estrutura é a possibilidade de se conhecer as especificidades das ênfases, antes de ter que cursá-las.
Porém, as opiniões que imperam, dizem respeito a um descontentamento com a presente estrutura. Sugestões para a sua transformação indicaram os seguintes arranjos: -formação nas duas ênfases, integradas, em 4 anos; -formação nas duas ênfases, integradas, em 5 anos; -2 anos de formação comum e 2 anos de especialização na ênfase.
“A estrutura em si não é tanto o problema. O problema que a nossa grade não consegue separar a licenciatura do bacharelado. Eu acho que assim, a gente aprende pouca coisa do bacharelado e pouca coisa da licenciatura” (sujeito 7 bacharelado). “Eu acredito que o profissional de educação física tem que ser completo (...) Eu acho que bacharelado e licenciatura deveria ser uma coisa só e oferecida no curso durante os quatro anos sem a gente ter que optar” (sujeito 3, bacharelado). “Essa divisão entre licenciatura e bacharelado eu não acredito. Eu acho que, nem que fosse para colocar um ano a mais ou um semestre a mais, formar um profissional em educação física e não um bacharel ou um licenciado em educação física, mas, um profissional de educação física” (sujeito 1, licenciatura). “A especialização em licenciatura ou bacharelado eu acho que é um pouco supérflua, o conhecimento, segmentar o conhecimento, principalmente o conhecimento em educação física, eu acho que fica devendo para os dois lados” (sujeito 5, licenciatura).
Categoria 3. Opção pela ênfase
Buscando o entendimento dos motivos pelos quais são escolhidas as ênfases, chegou-se à verificação que as opções pela licenciatura e pelo bacharelado tiveram forte relação com o gosto pela área de estudo da ênfase.
“Eu fiz a opção pela licenciatura para trabalhar numa área de educação, numa área onde você tem uma liberdade maior de tar atuando, de tar estruturando os seus conhecimentos, de estar modificando os seus conhecimentos com a sua prática” (sujeito 5, licenciatura). “Eu optei pela licenciatura para continuar na área de educação” (sujeito 7, licenciatura). “Foi mais pelo gosto pela área de saúde, área de treinamento mesmo, mais por esse gosto” (sujeito 1, bacharelado). “Eu gosto muito de fisiologia do exercício, fisiologia, sabe? De treinamento esportivo, então eu resolvi optar por essa ênfase” (sujeito 3, bacharelado). “As atividades que hoje eu penso profissionalmente trabalhar me levam a ter escolhido a área do bacharelado” (sujeito 4, bacharelado).
Foi observado, no caso da licenciatura, que a escolha, para alguns, teve uma forte ligação com as possibilidades profissionais referentes ao mercado de trabalho desse profissional.
“Eu escolhi a licenciatura por conta do mercado de trabalho” (sujeito 1, licenciatura). “Porque eu não sei o dia de amanha, então eu te falei, eu prefiro, entendeu? Teve um concurso, eu posso prestar porque eu sou licenciada e foi em cima disso que eu decidi” (sujeito 2, licenciatura).
A não identificação com a outra ênfase, também foi importante no momento da escolha.
“Eu decidi que ia fazer licenciatura por eu não gostar muito dessa área de treinamento” (sujeito 6, licenciatura). “Eu não gosto da área escolar (...) eu vou fazer o bacharelado primeiro” (sujeito 3, bacharelado).
Quanto ao momento no qual se deu a decisão, encontrou-se que, esta, no caso dos alunos da licenciatura, ocorreu: -desde o início; -com o decorrer do curso, com as disciplinas mais voltadas para as áreas específicas; -após a realização de vivência na área escolar; -no momento da escolha de ênfase.
Para os alunos do bacharelado, encontrou-se, que estes, em sua maioria já estavam decididos, desde o início da graduação, a escolher tal ênfase. A decisão apenas no momento da escolha da ênfase, bem como, a escolha em um momento não definido cronologicamente completam as percepções dos alunos da ênfase bacharelado sobre o momento no qual se deu a decisão.
Quanto à escolha propriamente dita, ou seja, o momento oficial e obrigatório de solicitação de ênfase, 57% dos alunos da licenciatura e 87% dos alunos do bacharelado disseram ter passado por este momento de uma forma tranqüila, devido à certeza da escolha.
Categoria 4. Sobre as ênfases licenciatura e bacharelado
No Parecer no 215/87 do Conselho Federal de Educação, item 5, Bacharelado e/ou Licenciatura Plena, fica evidenciada a distinção da atuação do Bacharel e do Licenciado. É apresentada a indicação de que o bacharel é o graduado em nível superior, para o exercício profissional na área de seus estudos, e o licenciado, o graduado em nível superior, cuja formação é direcionada para o magistério nas séries do ensino básico e médio (antigos 1o e 2o graus) (BRASIL, 1987a).
Analisando as respostas encontra-se que suas percepções a respeito da licenciatura estão relacionadas com a educação, não só no ensino formal, ressaltando o seu aspecto didático e pedagógico e a generalidade da atuação desse profissional.
“A licenciatura em educação física é, é, uma ênfase em que a gente atua junto ao ensino, né? Junto ao ensino escolar no caso, né?” (sujeito 1, licenciatura). “A licenciatura dá muita ênfase na educação, não só a educação física escolar, mas, a educação em geral” (sujeito 3, licenciatura). “O profissional que trabalha na área escolar, trabalha na educação física escolar(...) Tem um papel mais didático e pedagógico” (sujeito 3, bacharelado). “Pode fazer tudo que um bacharelado faz (...) Além de tudo, pode dar aulas na escola” (sujeito 5, bacharelado). “Prepara o profissional na parte mais pedagógica, é, é, mais a questão de didática mesmo, pedagógica.” (sujeito 8, bacharelado).
As percepções sobre o bacharelado em educação física remetem à visão de que esta ênfase é mais voltada para a área biológica, tratando da atuação fora da escola, em outras áreas como, por exemplo, academias e clubes, para trabalhar com a prática de exercícios, treinamentos e programas de condicionamento físico.
“O bacharelado é o que vai trabalhar fora da escola, seja em clubes, em academias, em, como personal. Mais especificamente eu acho que trabalha com a parte de treinamento, programas de treinamento, com práticas de treinamento” (sujeito 2, bacharelado). “No meu entendimento, em princípio, era que bacharelado seria trabalhar em tudo, menos na escola” (sujeito 6, bacharelado). “Não sei, na minha cabeça é uma coisa mais para a área acadêmica. Você pode ficar na academia, na área de pesquisa” (sujeito 5, bacharelado). “O bacharelado é a atuação do profissional em outras áreas que não no ensino escolar, no caso. São essas áreas do mercado não formal que tão surgindo, como clubes, academias” (sujeito 1, licenciatura). “É voltada para a área do treinamento, tem um certo envolvimento com os esportes e também na pesquisa, né?” (sujeito 7, licenciatura).
Ainda sobre as ênfases, foi constatado que dos 8 alunos entrevistados do bacharelado, 4 pretendem cursar a outra ênfase, 2 ainda estão indecisos e 2 não pretendem cursar.
As justificativas para o interesse na outra ênfase relacionam-se a ampliação da área de atuação profissional, visando principalmente a segurança no emprego e a possibilidade de inscrições em concursos, bem como, pelo interesse pela área pedagógica e do aprendizado.
Dos 7 alunos entrevistados da licenciatura, 2 pretendem cursar a outra ênfase, 2 ainda estão indecisos e 3 não pretendem cursar.
As justificativas para o interesse na outra ênfase dizem respeito a uma busca de uma formação integral.
“É isso mesmo que estava pensando das matérias, nenhuma foi novidade, nenhuma foi nem além, nem aquém do que eu tava esperando” (sujeito 8, bacharelado). “As disciplinas especificas são importantes, mas o tempo é muito curto (...) tem de uma certa forma atingido os objetivos” (sujeito 2, bacharelado). “Algumas matérias foram um pouco jogadas. Precisaria de professores que tivesse mais a fim de dar aula e que preocupasse um pouco mais com os alunos” (sujeito 1, bacharelado). “Eu tô gostando, mas, acho que não é suficiente. Eu acho que poderia ser mais aprofundado” (sujeito 5, bacharelado). “Pra mim deixa um pouco a desejar” (sujeito 4, bacharelado). “Foi muito vaga essa ênfase, foi muito fraca” (sujeito 3, bacharelado). “Tem disciplinas que eu esperava muito e não respondeu” (sujeito 7, bacharelado). “O conhecimento é passado de uma maneira incompleta ou de uma maneira imprecisa, de qualquer jeito aí” (sujeito 6, bacharelado).
As opiniões sobre o desenvolvimento da ênfase bacharelado, em sua maioria, denunciaram uma insatisfação relativa ao que se esperava. As expectativas, assim, não foram atingidas de forma satisfatória.
As percepções sobre a ênfase licenciatura, também denotaram algumas insatisfações, porém, estas disseram respeito mais à situação geral da universidade, calendário acadêmico atrasado devido à greve, do que necessariamente pelo descontentamento com o desenrolar das disciplinas da referida ênfase. Encontrou-se uma maior aprovação, um maior atendimento das expectativas desta ênfase, proporcionalmente, do que da ênfase anterior. Os trechos a seguir confirmam estas percepções:
“É uma coisa muito teórica e pouco prática. E eu acho que se pudesse, podia fazer mais estágios supervisionados, freqüentar mais aos locais de atuação, seria bem melhor” (sujeito 6, licenciatura). “Está atendendo as minhas expectativas” (sujeito 1, licenciatura). “Eu acho que tá um pouco falho, assim, as disciplinas mais específicas pra educação, pra mais assim de, sei lá, de estruturação de aula” (sujeito 4, licenciatura). “Eu tô gostando de tá fazendo, mas eu acho que a gente tá passando por um período muito conturbado na faculdade, acho que tudo tá sendo muito rápido pra gente” (sujeito 3, licenciatura). “Eu tô gostando (...) eu acho que as discussões ali em Práticas de Ensino que a gente teve, na própria Didática, é muita coisa que hoje a gente ta vivendo mais, a gente já discutiu isso no curso, só que na época, eu nunca tinha trabalhado, então eu acho super interessante você tá podendo trazer problema seu pra dentro da sala” (sujeito 2, licenciatura). “Foi melhor do que eu esperava, foi uma prática muito gostosa, o processo educativo é um processo muito legal de se envolver” (sujeito 7, licenciatura).
Categoria 5. Caminhos da pós-graduação
Aspirações pós-graduação foram detectadas e remeteram, no caso da licenciatura, à continuação dos estudos, seja cursando uma especialização ou um mestrado, ou, outra graduação, bem como, à inserção no mercado de trabalho, ministrando aulas.
No caso dos alunos do bacharelado, as aspirações remeteram à continuação dos estudos, podendo ser cursados uma especialização ou um mestrado, à complementação de curso, assim como, a inserção no mercado de trabalho na área de treinamento.
É importante notar que 71% dos entrevistados da licenciatura e 75% dos entrevistados do bacharelado remeteram suas respostas à idéia de continuarem seus estudos.
Esta constatação vai de encontro com a visão que apenas o bacharel deve fazer pesquisa/continuar estudando, enquanto que o licenciado não faz pesquisa e nem continua estudando, apenas leciona aulas.
Fica, assim, uma forte tendência de que o curso pesquisado esteja, talvez, contribuindo para a negação desta falsa idéia, associada a outras áreas do conhecimento (biologia, física, química, etc.), bem como, à própria legislação da educação física (BRASIL, 1987b) que obriga a realização da monografia apenas para o bacharel:
Art. 5o O Estágio Curricular, com duração mínima de um semestre letivo, será obrigatório tanto nas Licenciaturas como nos Bacharelados, devendo para estes (Bacharelados), ser complementado com a apresentação de uma monografia (“Trabalho de Conclusão”).
Considerações
Durante a realização deste trabalho procurou-se analisar e compreender a licenciatura e o bacharelado em educação física, no caso específico de um curso de Educação Física da região central paulista, sob a ótica de alunos do 4o ano.
Com base nos discursos dos graduandos foi possível levantar questões atinentes a cinco aspectos relacionados à temática do trabalho, os quais culminaram na construção das seguintes percepções:
no início da graduação a educação física é vista como algo ligado às práticas de esportes e de atividades físicas (visão reducionista e esportivista);
com o decorrer do curso, a grande maioria dos sujeitos, de ambas as ênfases, tiveram a sua visão de educação física modificada;
mudanças nos objetivos estabelecidos no início da graduação ocorreram, principalmente, pelo melhor conhecimento da área e de sua abrangência;
opiniões favoráveis à estrutura do curso relacionaram-se à possibilidade de se conhecer as especificidades das ênfases, antes de ter que cursá-las, porém, opiniões descontentes com a estrutura deste são a maioria;
sugestões para a transformação da estrutura do curso indicam: formação nas duas ênfases, integradas, em 4 anos; formação nas duas ênfases, integradas, em 5 anos; 2 anos de formação comum e 2 anos de especialização na ênfase;
as opções pela licenciatura e pelo bacharelado tiveram forte relação com o gosto pela área de estudo, bem como, com a não identificação com a outra ênfase;
no caso da licenciatura, a escolha, para alguns, teve uma forte ligação com as possibilidades profissionais referentes ao mercado de trabalho desse profissional;
o momento no qual se deu a decisão, no caso dos alunos da licenciatura, ocorreu: após a realização de vivências na área escolar; com o decorrer do curso, com as disciplinas mais voltadas para as áreas específicas; desde o início; no momento da escolha;
os alunos do bacharelado, em sua maioria, já estavam decididos, desde o início da graduação, a escolher tal ênfase. A decisão apenas no momento da escolha da ênfase, bem como, a escolha em um momento não definido cronologicamente, completam as percepções dos alunos;
57% dos alunos da licenciatura e 87% dos alunos do bacharelado disseram ter passado pelo momento obrigatório e oficial de solicitação de ênfase de uma forma tranqüila, devido à certeza da escolha;
percepções a respeito da licenciatura estão relacionadas com a educação, não só no ensino formal, ressaltando o seu aspecto didático e pedagógico e a generalidade da atuação desse profissional;
percepções sobre o bacharelado remetem à visão de que esta ênfase é mais voltada para a área biológica, tratando da atuação fora da escola, em outras áreas como, para o trabalho com a prática de exercícios, treinamentos e programas de condicionamento físico;
dos 8 alunos entrevistados do bacharelado, 4 pretendem cursar a outra ênfase, 2 ainda estão indecisos e 2 não pretendem cursar. O interesse na outra ênfase relaciona-se a ampliação da área de atuação profissional, visando principalmente a segurança no emprego e a possibilidade de inscrições em concursos, bem como, pelo interesse pela área pedagógica e do aprendizado;
dos 7 alunos entrevistados da licenciatura, 2 pretendem cursar a outra ênfase, 2 ainda estão indecisos e 3 não pretendem cursar. As justificativas para o interesse na outra ênfase dizem respeito a uma busca de uma formação integral;
as opiniões sobre o desenvolvimento da ênfase bacharelado, em sua maioria, denunciaram o não atendimento das expectativas dos graduandos;
as percepções sobre a ênfase licenciatura, denotaram algumas insatisfações, porém, relacionadas mais à situação geral da universidade, calendário acadêmico atrasado devido à greve, do que necessariamente pelo descontentamento com o desenrolar das disciplinas da referida ênfase;
encontrou-se maior aprovação, maior atendimento das expectativas da ênfase licenciatura do que da ênfase bacharelado;
os alunos da licenciatura pretendem, após terminarem o curso, continuar os estudos, seja cursando uma especialização ou um mestrado, ou, outra graduação, bem como, conseguir a inserção no mercado de trabalho, ministrando aulas;
os alunos do bacharelado, pretendem continuar os estudos, cursando uma especialização, um mestrado ou a complementação de curso, assim como, a inserção no mercado de trabalho na área de treinamento;
71% dos entrevistados da licenciatura e 75% dos entrevistados do bacharelado pretendem continuar estudando.
Deste modo, com estes apontamentos, o objetivo de desvelar o entendimento de graduandos de universidade pública da região central paulista sobre licenciatura e bacharelado em Educação Física, bem como, suas hesitações e (des)motivações para a escolha da respectiva ênfase, foi atingido de forma satisfatória.
Ficam, assim, registrados os posicionamentos dos 15 alunos que revelaram, além do pretendido, a mudança de visão a respeito da Educação Física, o que reflete, também, nos caminhos da pós-graduação, inculcando nestes, o desejo de uma formação continuada, independente da ênfase escolhida.
É importante ressaltar que a formação continuada entendida, segundo CANDAU (1996):
não pode ser concebida como um processo de acumulação (de cursos, palestras, seminários etc., de conhecimentos ou de técnicas), mas sim como um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal e profissional, em interação mútua (p.150).
Assim, esta “continuação da formação”, como ressalta um dos entrevistados, pode ser favorável à busca da merecida dignidade (e reconhecimento) do trabalho do profissional de Educação Física.
“Eu pretendo ficar aqui (...) estudando no que eu gosto (...) Talvez trabalhando meio período em academia para conhecer melhor e para me manter aqui, para depois desse ano de estudo e trabalho, atuar (...) Eu quero entrar no mercado de trabalho (...) mas sabendo bastante para mostrar competência e ter um trabalho digno de um educador físico” (sujeito 1, bacharelado).
Finalmente, não se pode esquecer das “falhas” apontadas pelos graduandos, relacionadas à estrutura do curso e ao desenvolvimento das ênfases (principalmente bacharelado), todavia, a partir dos depoimentos, estima-se que esta formação está proporcionando importantes contribuições aos futuros Profissionais de Educação Física.
Referências
ANDRADE FILHO, Nelson F. Formação profissional em educação física brasileira: uma súmula da discussão dos anos de 1996 a 2000. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.22, n.3, p.23-37, mai. 2001.
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digital · Año 13
· N° 121 | Buenos Aires,
Junio 2008 |