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O projeto político-pedagógico com a concepção crítico-emancipatória no estágio curricular supervisionado em Educação Física

 

*Licenciado em Educação Física pelo Centro de Educação Física e Desportos (CEFD)
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); 

Especialista em Educação Física Escolar CEFD/UFSM; e, 

Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) do Centro de Educação (CE) da UFSM.

**Doutor em Educação e em Ciência do Movimento Humano PPGE/CE/UFSM; e, 

Professor Adjunto do Departamento de Metodologia do Ensino CE/UFSM

(Brasil)

Marcio Salles da Silva*

marciosalless@yahoo.com.br

Hugo Norberto Krug**

hnkrug@bol.com.br

 

 

 

Resumo

          Objetivamos analisar a adequação da Concepção Crítico-Emancipatória, que será utilizada pela disciplina de ECS do Curso de Educação Física da UFSM, com o PPP da Escola Verde e relações na formação inicial dos acadêmicos. A metodologia fundamentou-se na fenomenologia, caracterizando-se como estudo de caso e abordagem qualitativa. Na coleta de informações foram utilizados o PPP da Escola Verde e a Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a; 2001b), nas interpretações a análise de conteúdo. Concluímos que, o convívio do acadêmico na instituição escolar dar-se-á na instrumentalização do estar professor, na auto-reflexão e na criticidade do Mundo concreto e histórico, buscando esclarecimento e emancipação.

          Unitermos: Formação de professores. Estágio curricular supervisionado. Projeto político pedagógico. Concepção crítico-emancipatória. Educação Física escolar.

 

Este artigo representa algumas idéias desenvolvidas pelo autor no III Congresso Sul Brasileiro de Ciências do Esporte “A conformação da Educação Física nos (des)caminhos da Ciência Hegemônica”. Santa Maria (Brasil) no ano de 2006, pela UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

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O ponto de partida da investigação

    O Projeto Político Pedagógico (PPP), é o documento que depois de formulado deve nortear todas as ações da escola e sua construção dá-se na coletividade.

    O instrumento imprescindível para esse acontecimento é o planejamento participativo, que colabora no sentido da efetiva participação de todos nas decisões. Vasconcellos (2000, p. 169) revela que o PPP “pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar”. Assim, o planejamento participativo é a base para o Projeto Político Pedagógico poder construir a identidade da escola e dos sujeitos que a congregam. Desta forma, educando e educador, bem como a comunidade em geral podem exercer sua cidadania, percebendo-se como sujeitos socio-históricos na construção de uma nova sociedade.

    A escola também é palco para que acadêmicos/estagiários possam ter os primeiros contatos com a docência. Para Machado (1994) o estágio é um momento rico para o estagiário, pois é uma oportunidade de ser mais estudioso, rever as suas teorias e ser pesquisador.

    Dentre as disciplinas que constam no currículo de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), destaca-se, pela sua relevância, o Estágio Curricular Supervisionado (ECS), que tem por atribuições precípuas colocar o futuro profissional com contato com a realidade educacional, desenvolvendo-se estilos de ensino, possibilitando adequadas seleções de objetivos, conteúdos, estratégias e avaliações, entre outras finalidades. Para tanto, o Estágio Curricular Supervisionado deve fornecer subsídios para a formação do futuro professor, tanto no aspecto teórico quanto no prático, a fim de que possa desenvolver um trabalho docente competente (FERREIRA; KRUG, 2001).

    A concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001b) surge como aporte teórico-metodológico que implica em um direcionamento estruturado com orientações para que ocorra a prática pedagógica na disciplina ECS do curso de Educação Física da UFSM e tendo como palco a Escola Verde.

    Segundo Siedentop (1983) a competência pedagógica é desenvolvida à medida que o professor vai exercendo a sua profissão, pois ela é o domínio da atividade do professor no processo pedagógico.

    Lembramos que o acadêmico estagiário estando no ambiente escolar, este deverá procurar informações sobre a realidade da escola, e, isto ocorrerá à partir do momento da consulta do PPP.

    Baseando-se nessas premissas surgiu o problema que originou esta pesquisa: Quais são os apontamentos sobre a utilização da Concepção Crítico-Emancipatória na disciplina de ECS da licenciatura em Educação Física da UFSM e do PPP da Escola Verde e a contextualização na formação inicial dos acadêmicos?

    Assim, esta investigação teve como objetivo analisar a adequação da Concepção Crítico-Emancipatória que será utilizada pela disciplina de ECS do Curso de Educação Física da UFSM com o PPP da escola Verde e, as relações sobre a formação inicial dos acadêmicos.

    Justificou-se esta investigação considerando-se que somente leis não asseguram autonomia e gestão democrática, peças-chave para construção participativa do PPP, mas sim, concretiza-se através do real comprometimento da comunidade escolar, na elaboração, aplicação e avaliação, sendo um processo contínuo, onde cada indivíduo trabalha em prol do coletivo. Também justificou-se pela existência de integração entre a Universidade e Escolas (de Ensino Infantil, Fundamental e Médio), onde ECS inserido no contexto educacional, acontece contribuindo para a formação dos acadêmicos da licenciatura em Educação Física, bem como para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Assim, nesta relação acreditamos que será possível um verdadeiro movimento voltado à transformação e qualificação da Educação, vindo a ser o educando prioridade em todo este processo de democratização da escola.

A metodologia da investigação

    A investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de um estudo de caso com abordagem qualitativa. Os instrumentos utilizados para a coleta de informações foram o PPP entre os anos 2005 e 2006 da Escola Verde, a Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a; 2001b) e a bibliografia existente. Para as interpretações das informações seguiu-se a metodologia de análise de conteúdo (BARDIN, 1977).

Os achados da investigação

Homem e Mundo

    No PPP da Escola Verde a concepção de Homem vem a ser como “sujeito histórico, produto e produtor das relações econômicas, sociais, culturais e políticas que o transformam e são transformados pelos conflitos estabelecidos entre as diferentes classes sociais” e a participação “como processo educativo, conscientizador, transformador e de luta, pela construção de uma sociedade justa e igualitária”.

    Na Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001b, p. 148) o ensino “deve obrigatoriamente incluir a reflexão sobre o Mundo Vivido e respectivo Mundo do Movimento do aluno”, pois “entre a dimensão de determinada visão de mundo e uma correspondente visão de Homem, existe uma relação muito tensa pela qual se pode chegar a interpretar a Educação como um processo real (KUNZ, 2001a, p. 135)”.

Completando este aporte teórico:

    A dimensão política contida em toda a ação educacional é resultado de uma conseqüência lógica expressa pela imagem de Homem e Mundo que fundamenta toda a teoria educacional (Ibid, p. 136). (...) Para a superação (de uma educação através de um sistema ‘bancário’, citado por Freire) é necessário uma leitura crítica da Realidade Social, que no campo pedagógico é possível pelo processo dialético da Ação Comunicativa entre Educador/educando, na medida em que a Compreensão de Mundo dos participantes passa a ser analisada e entendida como objeto de conhecimento da ação educativa (Ibid, p. 145). (...) Uma formação de consciência no sentido crítico e dialético, o que quer dizer: Consciência e Mundo como Subjetividade de Objetividade são inseparáveis (Ibid, p. 154-155). (...) “A consciência e o Mundo se dão ao mesmo tempo: exterior por essência à consciência, o Mundo é por essência, relativo a ela” (SARTE apud KUNZ, 2001a, p. 155).

    O PPP da Escola Verde e a Concepção Crítico-Emancipatória se completam, pois para que o Homem seja considerado enquanto sujeito histórico há a necessidade de levar em consideração o seu Mundo Vivido, os conflitos estabelecidos entre as diferentes classes sociais que são determinados pelas relações dialéticas, e, para que o educando possa analisar-se enquanto sujeito no convívio social através da ação pedagógica consideramos que a leitura crítica da realidade social tem de ser evidenciada, através da Ação Comunicativa.

    Homem e Mundo estão entrelaçados, pois o entendimento da escola, em seu PPP, sobre esta temática deverá evidenciar um ideal de Homem inserido no Mundo.

Sociedade e Cultura

    A Escola Verde, no PPP, trata como sua função social “produzir conhecimentos e criar relações positivas e democráticas entre os sujeitos envolvidos no processo educativo, para que a Escola seja efetivamente uma Escola Cidadã, que priorize o acesso, permanência e sucesso dos alunos”.

    Na Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a, p. 136) “a educação não é apenas uma qualificação de indivíduos, no sentido individual. Esta qualificação de Sujeitos capazes de atuarem através de uma ‘ação comunicativa’ competente deve visar, também, à Emancipação da Sociedade”.

    Cada indivíduo, em seu respectivo mundo vivido, pertence a um determinado grupo social, no qual um processo de interações se desenvolve, ou seja, se estruturam a intensidade e a regularidade das experiências interacionais, que se vão estabilizando por condicionamentos de antecipações recíprocas. Assim se forma a ‘Identidade Social’ para cada indivíduo. Pedagogicamente são extremamente, neste processo, as instâncias da Primeira Socialização, que são base para a formação desta identidade social do Educando (KUNZ, 2001a, p. 141).

    Desta forma, consideramos que as relações democráticas são palco de explanação tanto no PPP da Escola Verde como na Concepção Crítico-Emancipatória, entretanto, notamos que ambos complementam-se, porque a produção de conhecimentos também ocorre na coletividade, pois tanto a individualidade como a fragmentação dos objetos de estudo promoverá um determinado direcionamento na formação dos sujeitos no ambiente escolar, sendo que o PPP deve nortear as ações ocorridas na escola.

    Somente poderemos evidenciar a emancipação da sociedade caso consigamos, primeiro, a emancipação do educando, para que isso ocorra deve ser trabalhado a identidade social como um processo permanente de comunicação e reflexão, para que as ações sejam interpretadas e reinterpretadas em um processo livre de coerções individuais e sociais.

Conhecimento

    O conhecimento para a Escola Verde, no PPP, trata,

    como processo de construção e reconstrução e, enquanto processo não está pronto, sendo revestido de significado a partir das experiências dos sujeitos-educandos, uma vez que toda criança, jovem ou adulto quando chega à escola traz consigo vivências pessoais, familiares e práticas culturais comunitárias e sociais, as quais deverão ser articuladas com novos conhecimentos, transformando o saber popular em saber elaborado através da ação-­reflexão-ação.

    Já para a Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a, p. 151):

    O campo pedagógico deve assim ser estruturado como um campo de ação a partir do conhecimento da prática social-histórica, e desse conhecimento e do conhecimento sistematizado o saber universal e historicamente acumulado chegar à avaliação crítica da Realidade e das relações sociais. Esta ação deverá estabelecer, assim, a continuidade do conhecimento da prática social ao conhecimento teórico do professor, deverá proporcionar a Dimensão crítica ao educando, o que deverá levar, por sua vez, à ruptura do limitado saber e da experiência da Realidade Social restrita, e simultaneamente reagir sobre esta própria Realidade Social no sentido de sua transformação. Este sistema de ação deverá então estabelecer um sistema circular, ou seja, do conhecimento crítico-teórico e novamente retornando à prática social concreta. Em um ‘processo de ação-reflexão-ação’ (Ibid, p. 184).

    Os documentos, PPP da Escola VERDE e a Concepção Crítico-Emancipatória, demonstram uma total sintonia ao tratarem do tema “Conhecimentos”. Não havendo contrapontos pertinentes, pois o conhecimento historicamente acumulado deve ser levado em consideração no processo educacional, assim como a análise crítica da realidade e as relações sociais, portanto o conhecimento deve ser construído em um processo dialógico de ir e vir, enquanto ação-reflexão-ação.

Educação

    No PPP da Escola Verde, a Educação vem a ser “como agente de democratização do acesso e permanência com sucesso sintonizada com o projeto de emancipação das classes populares, pautada nos princípios de inclusão social e da construção da cidadania”.

    Em se tratando da Educação, a Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a) evidencia os seguintes tópicos:

    A educação é vista, desta forma, como uma interação com todos os aspectos consciente e socialmente regulamentados, na qual o jovem no percurso de seu desenvolvimento deverá ser qualificado, tanto para assimilar, como para dar continuidade ao desenvolvimento da Produção Cultural de uma Sociedade e neste processo de qualificação, ainda, se tornar uma pessoa independente e responsável (BRODTMANN e Outros apud KUNZ, 2001a, p. 136).

    O ensino na concepção crítico-emancipatória deve ser um ensino de libertação de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e construídos nos alunos pela visão de mundo que apresentam a partir de ‘conhecimentos’ colocados à disposição pelo contexto sociocultural onde vivem (KUNZ, 2001b, p. 121).

    A Educação, no entanto, não pode ‘cruzar os braços’ e esperar que estas mudanças no plano político, econômico e social, por intermédio de outras instâncias, aconteçam. As mudanças na sua estrutura básica devem ser um objetivo imediato. Neste sentido, o Sistema educacional brasileiro, tem a obrigação de se antecipar às reformas sociais (KUNZ, 2001a, p. 159).

    Tanto o PPP da Escola Verde quanto à Concepção Crítico-Emancipatória evidenciam o ideal da emancipação, que deve ocorrer em todos os sujeitos da sociedade, fazendo-se a necessidade de um ensino através da libertação das ações relacionadas a coerções e falsas figurações de mundo.

Escola

    A Escola Verde relata, no PPP, que o

    desenvolvimento será ligado diretamente à cultura, ou seja, às características individuais de uma criança dependem, na realidade, da interação que esta estabelece com o seu meio físico e social, a partir de sua realidade concreta. As conquistas individuais são sempre resultado de um processo coletivo vivenciado no grupo (familiar, escolar, vizinhança...). O desenvolvimento humano depende fundamentalmente da existência de situações propícias ao aprendizado, portanto a escola assume um papel fundamental na formação desses sujeitos.

    A finalidade e os objetivos da Escola Verde, que oferece a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos, são:

    Atribuir competências e habilidades a todos os sujeitos envolvidos no processo educativo, respeitando-se os limites de seus processos de desenvolvimento, a diversidade e a singularidade de suas possibilidades; Construir autonomia, espírito de cooperação, reciprocidade; Produzir conhecimentos e criar relações positivas e democráticas entre todos os segmentos envolvidos; Favorecer a transformação grupal através do respeito mútuo, do diálogo, da participação e engajamento; Garantir o acesso e permanência com sucesso a todos (PPP, p. 4)

    A Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a, p. 154) revela que:

    O Mundo de Movimento fora da Escola – sua história, sua função e sua ‘linguagem’ – deverá ser interpretado e compreendido, para também poder ser transformado. Não é possível continuar eternamente ‘domesticando’ os alunos para os ‘esportes modernos’. E que, a própria Escola deveria ter este dever: “A marcante presença da escola como agente coletivo na gênese do cidadão exige que se organize, ela mesma, como campo de relações democráticas que antecipem uma ordem social mais coletiva, participativa e igualitária” (MARQUES apud KUNZ, 2001a, p. 159).

    Nos documentos, encontramos uma grande consistência e significações onde há complementação de termos (palavras e estruturação de frases), evidenciando coerências bibliográficas, ou seja, tanto a Escola Verde quanto a Concepção Crítico-Emancipatória possuem o mesmo entendimento em relação à temática “Escola”.

Processo ensino-aprendizagem

    No PPP da Escola Verde a metodologia de ensino-aprendizagem destaca que “é preciso que os educadores se percebam como organizadores de situações didáticas e de atividades que tenham sentido para os alunos, envolvendo­-os e, ao mesmo tempo, gerando aprendizagens fundamentais”. Com uma metodologia participativa e reflexiva que:

    Valoriza o educando em sua experiência social como indivíduo; Busca a globalização dos saberes propostos no currículo, pela abordagem multidimensional do conhecimento; Prioriza a pesquisa como o eixo desencadeador do processo de construção/criação/re-elaboração; Considera a individualidade e o ritmo de crescimento de cada um, priorizando a construção coletiva do conhecimento; Oportuniza situações concretas para o crescimento integral da pessoa humana, desenvolvendo sua capacidade de pensar, criar, produzir, criticar, ser agente de transformação social.

    A Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001b, p. 139) revela que “o ensino escolar para uma formação crítico-emancipatória e que considera cada área específica, hoje denominada disciplina, como um campo de pesquisa e estudo, pretende preparar o aluno para uma competência do agir”.

    Mudar a concepção da relação Ensino-aprendizagem significa, também, que os alunos sejam capacitados para atuarem, agirem de forma independente, isto é, que eles possam, nas aulas, reconhecer por si nas possibilidades de atuar; que eles mesmos possam, por exemplo, de acordo com suas condições, estabelecer e definir de forma responsável as situações e o desenrolar dos movimentos no esporte, ou no jogo, bem como participar nas decisões da estruturação e organização das aulas. para adquirirem uma competência social e um agir independente através do processo de ensino, os alunos deverão adquirir também determinado Saber, determinados conhecimentos que, sem dúvida, não podem ser alcançados somente pelo fazer prático (KUNZ, 2001a, p. 190).

    Ainda encontramos em Freire (apud KUNZ, 2001a, p. 147) que “a verdadeira aprendizagem só se realiza quando o educando se apropria do conhecimento, o redescobre e o relaciona com o mundo vivido concreto”.

    Os documentos, PPP da Escola Verde e a Concepção Crítico-Emancipatória, demonstram uma grande interação teórica ao tratarem do tema “ensino-aprendizagem”, pois não há discordâncias. Entretanto, a “competência do agir” está intimamente ligado à apropriação do conhecimento e suas relações com o “mundo vivido concreto”, almejado pela Concepção Crítico-Emancipatória, o educando é considerado como um sujeito que sabe criticar e receber críticas e capaz de refletir em relação a si e aos sujeitos inseridos em determinado contexto social, fazendo parte do mundo em movimento, podemos então considerá-lo como um “agente de transformação social” (PPP da Escola Verde), à partir do momento em que estiver esclarecido e emancipado.

Relação professor-aluno

    Para o PPP da Escola Verde a relação professor-aluno “deverá ser democrática, solidária, horizontal, em constante interação, possibilitando a humanização e conscientização, ajudando-o a se comprometer no processo de transformação social”.

    Para a Concepção Crítico-Emancipatória podemos citar Freire (apud KUNZ, 2001a):

    Afirma que no processo de ensino dialógico o professor deveria procurar ser 50% professor e 50% aluno, de maneira que num processo comum de ensino o professor tem que aprender a ‘morrer como exclusivamente professor, e renascer como professor-aluno’, ao mesmo tempo em que o aluno, também, precisa aprender a ‘morrer como exclusivamente aluno, e renascer como aluno-professor’ (p. 148). Educador-educando e Educando-educador estão ambos colocados, na prática da formação libertadora, como Sujeitos do Conhecimento frente ao Objeto a ser apreendido. (...) E, o critério para avaliar um professor é a sua prática – não a sua fala (p. 150).

    Assim, “o ensino deve fomentar, para tanto, a capacitação dos alunos para uma agir solidário, nos princípios da codeterminação e autodeterminação. Essas interações de alunos-alunos, alunos-professor e professor-alunos não podem acontecer sem a participação da linguagem” (KUNZ, 2001b, p.37).

    Os documentos, PPP da Escola Verde e a Concepção Crítico-Emancipatória, demonstram sintonia ao tratarem do tema “professor-aluno”. Não havendo contrapontos pertinentes, ocorrendo interação e complementação teórica entre ambas.

Metodologia

    A Escola Verde, no seu PPP, relata que a metodologia,

    terá uma abordagem dialética e deverá criar no ambiente de sala de aula situações problematizadoras e desafiadoras em função do nível de competência dos alunos. Os conteúdos serão trabalhados de forma contextualizada, partindo sempre do contexto histórico-social no qual se encontram os alunos. Para tanto, o professor deve lançar mão dos recursos que a Escola oferece, tais como: trabalho com vídeos, computadores, jornais e revistas; com o objetivo de criar ambientes de ensino e aprendizagem que favoreçam a postura crítica, a curiosidade, a observação e análise, a troca de idéias de forma que o aluno possa ter autonomia no seu processo de aprendizagem, buscando e ampliando conhecimentos.

    Na Concepção Crítico-Emancipatória (FREIRE apud KUNZ, 2001a, p. 148):

    O Diálogo como Método. É pelo diálogo que se consegue que o processo de formação da consciência se desenvolva a partir do Mundo Vivido do educando. Através dele os Conhecimentos e Conteúdos do processo de ensino são apresentados com a intenção de reagir sobre a Realidade Concreta, de onde são extraídos e para onde devem retornar pela competência do aluno de poder melhor entendê-la, explicá-la e transformá-la.

    Desta forma, consideramos que o ensino através do diálogo é palco de explanação tanto no PPP da Escola Verde como na Concepção Crítico-Emancipatória, entretanto, notamos que ambos complementam-se, pois a participação do “contexto histórico-social” e/ou “Mundo Vivido do educando”, é levado em consideração juntamente com a criticidade no ambiente de ensino e a interação sobre a “Realidade Concreta”, na busca e ampliação de conhecimentos, para que haja apropriação deste, através de construções interacionistas entre os sujeitos do contexto educacional.

Avaliação

    Para a Escola Verde, em seu PPP, a avaliação, “será emancipatória e diagnóstica e servirá de momento de reflexão para determinar caminhos”.

    A Concepção Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2001a, p. 124) utiliza “categorias para o controle da aprendizagem”, são elas: 1) pela observação sistemática e assistemática do aluno como um todo, na realização dos trabalhos; 2) testes práticos, escritos e/ou orais; 3) auto-avaliação do aluno; e, 4) avaliação cooperativa.

    “Assim, a avaliação deverá atingir a mensuração nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor de forma concomitante, ou seja, a partir do procedimento que observa, além das capacidades motoras, a conduta, os conhecimentos e a capacidade intelectual do aluno” (KUNZ, loc. cit.).

    Os documentos, PPP da Escola Verde e a Concepção Crítico-Emancipatória, demonstram sintonia ao tratarem do tema “avaliação”. Portanto, o professor como participante do processo de ensino interage, observa e conhece o trabalho realizado por cada educando, utiliza a auto-avaliação como um momento de reflexão do educando sobre suas ações no processo educacional, logo existe a necessidade de testes práticos, escritos e/ou orais, pois enquanto disciplinas são atreladas ao conhecimento, esse deve ser construído e a utilização da avaliação cooperativa. Assim, a avaliação será “emancipatória e diagnóstica”.

O ponto de chegada da investigação

    A partir dos achados da investigação, podemos notar que, em relação ao “Homem e Mundo”, à “Sociedade e Cultura”, ao “Conhecimento”, à “Educação”, à “Escola”, ao “Ensino-aprendizagem”, ao “Professor-Aluno”, à “Metodologia” e à “Avaliação”, o PPP da Escola Verde e a Concepção Crítico-Emancipatória demonstram estarem em acordo teórico, pois não houve qualquer discordância nos documentos estudados. Ambos entendem que no ensino deve ser levado em consideração a reflexão sobre o Mundo Vivido do educando, historicamente construído, onde Consciência e Mundo se dão ao mesmo tempo na busca de uma sociedade justa e igualitária. Podendo estabelecer o acesso, a permanência e o sucesso dos alunos em relações democráticas promovendo a Identidade Social dos educandos para que através da ação comunicativa ocorra a Emancipação da Sociedade.

    O conhecimento da prática social-histórica deve proporcionar a dimensão crítica ao educando, para que possa reagir sobre a própria Realidade Social no sentido de sua transformação, através do processo de Ação-Reflexão-Ação.

    A Educação deve ser entendida como agente de democratização do acesso e permanência do educando no contexto educacional, ou seja, um projeto de emancipação para inclusão social e a construção da cidadania.

    A Escola como agente coletivo na gênese do cidadão promovendo relações democráticas, de ordem social mais coletiva, participativa e igualitária, de forma que possa construir a autonomia, a cooperação e a reciprocidade, para que ocorra a transformação grupal através do respeito mútuo, do diálogo, da participação e do engajamento.

    O Processo Ensino-aprendizagem deve ser entendido como valorização do educando em sua experiência social, através de pesquisa como o eixo desencadeador do processo de construção/criação/re-elaboração, na construção coletiva do conhecimento, para que possa ser desenvolvida sua capacidade de pensar, criar, produzir, criticar, também devendo participar nas decisões da estruturação e organização das aulas como agente de transformação social na busca de determinados saberes e conhecimentos. Essas interações de alunos-alunos, alunos-professor e professor-alunos devem acontecer através da linguagem, sendo democrática, solidária, horizontal, em constante interação, possibilitando a humanização e conscientização, no resgate da capacitação dos alunos para uma agir solidário nos princípios da codeterminação e autodeterminação.

    A Metodologia deve ocorrer através do diálogo a partir do contexto histórico-social (Mundo Vivido do educando) em situações de ensino e aprendizagem que favoreçam a postura crítica, ou seja, para que possa reagir sobre a Realidade Concreta pela competência do aluno de poder melhor entendê-la, explicá-la e transformá-la, com autonomia na busca e ampliação dos conhecimentos.

    A avaliação será emancipatória e diagnóstica, resultado de um processo de construção de conhecimento, pela observação sistemática e assistemática do educando, testes (práticos, escritos e/ou orais), auto-avaliação do aluno, e , avaliação cooperativa, para que possamos atingir a mensuração nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor de forma concomitante.

    É necessário que os acadêmicos, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado da licenciatura em Educação Física da UFSM e que optarem pela Escola Verde, estejam sensitivos para o aprimoramento da ação pedagógica e o primeiro passo para que ocorra a interação no ambiente escolar deve ser feita a leitura e interpretação do PPP da Escola, sendo que este está em total sintonia com a “Concepção Crítico-Emancipatória” (KUNZ, 2001a e 2001b).

    Após, o professor da disciplina (ECS) deverá resgatar a historicidade dos acadêmicos com a finalidade de promover entrelaçamentos com o entendimento de esporte dos mesmos, e, identificar ações coercitivas e falsas figurações de mundo, para que através do diálogo seja evidenciada a necessidade de haver a contemplação da Concepção Crítico-Emancipatória na Escola que será palco da extensão universitária.

    A partir do momento em que os acadêmicos passarem por um processo de instrumentalização em relação a Concepção Crítico-Emancipatória, ou seja, tenham interiorizado com uma maior clareza os aportes teóricos, que devem ser discutidos e refletidos em um contexto de busca em constante aprimoramento, para assim exercer com autonomia o convívio com os educandos na escola.

    A Educação Física, conseguindo introduzir com competência e organização a formação de indivíduos críticos com perspectiva emancipadora, poderia iniciar um processo concreto de redimensionamento da educação do jovem no Brasil e ser imediatamente acompanhada pelas demais disciplinas escolares, pois, na verdade, só existe uma formação crítico-emancipadora da escola e não de uma disciplina (KUNZ, 2001b, p. 151).

    A interação educacional deve ser tratada como um resgate reflexivo permanente em constante transformação de todos os seus integrantes, portanto o convívio em uma instituição escolar deve ser prazeroso e espontâneo para que assim possamos estar livres de ações coercitivas, cultivando o sentido da liberdade enquanto auto-reflexão da criticidade relevante a um contexto específico e/ou inserido no Mundo concreto, de forma esclarecida, nos tornando pessoas emancipadas.

Referências bibliográficas

  • BARDIN, L. tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

  • FERREIRA, F. F.; KRUG, H. N. A reflexão na Prática de Ensino em Educação Física. In: KRUG, H. N. Formação de professores reflexivos: ensaios e experiências. Santa Maria: O Autor, p. 83-114, 2001.

  • KUNZ, E. Educação Física: ensino e mudanças. 2 ed. Ijuí: Unijuí, 2001a.

  • KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. 4 ed. Ijuí: Unijuí, 2001b.

  • MACHADO, N. P. O estágio curricular na Faculdade de Educação na UFCE. In: VII ENDIPE. Anais..., Goiânia, 1994. p. 131.

  • SIEDENTOP, D. Developing teaching skills in Physical Education. 2 e., Ohio: Mayfield Publish Company, 1983.

  • VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino aprendizagem e projeto político-pedagógico. 9 ed. São Paulo: Libertad, 2000.

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