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Promoção da atividade física na infância como
forma de prevenção de futuras doenças crônicas

 

*Acadêmicas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo.

**Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica, Mestre em Saúde Pública pela FSP/USP
Doutoranda pela Faculdade de Medicina da USP.
Professora Orientadora do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo.

(Brasil)

Juliana Silvério Bergamasco*

julydudy@yahoo.com.br

Janaina Brioschi*

jana-br@bol.com.br

Priscila Navarro Lemes*

prilemes@uol.com.br

Aline Mendes*

alinem_dance@hotmail.com

Grazieli Aparecida Simões*

grazieli_simoes@yahoo.com.br

Renata Furlan Viebig**

refurlan@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          Atualmente, a importância da atividade física é bastante conhecida na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, que podem ter início na infância, sendo o sedentarismo, um dos principais fatores de risco para estas enfermidades. Indivíduos fisicamente ativos experimentam melhor desempenho no trabalho e/ou na escola, adquirem melhores hábitos nutricionais e apresentam menores índices de aquisição de hábitos nocivos à saúde. Crianças fisicamente ativas apresentam menor percentual de gordura corporal e menores valores de índice de massa corporal (IMC). Assistir à televisão por mais de três horas/dia e jogar videogame por mais de duas horas/dia, por exemplo, são fatores de risco para sobrepeso e obesidade, apresentando uma correlação positiva entre o tempo gasto nessas atividades e o IMC. A esses novos hábitos sedentários, alia-se a prática de maus hábitos alimentares em que há diminuição do consumo de alimentos com alto valor nutricional e aumento do consumo de alimentos altamente calóricos e ricos em gorduras. Crianças necessitam de uma maior quantidade de energia que aquela necessária para um adolescente ou para um adulto durante a prática de atividades esportivas.

          Unitermos: Atividade física. Prevenção. Doenças crônicas não transmissíveis.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

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Introdução

    Hoje em dia a importância da atividade física é bastante conhecida na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, dislipidemias, obesidade, diabetes mellitus, sendo a inatividade física (sedentarismo) um dos principais fatores de risco para estas enfermidades. Assim, o nível de atividade física tem sido associado a menores índices de morbimortalidade na população em geral (CASPERSEN et al apud BRACCO et al, 2001, p.46).

    Os indivíduos fisicamente ativos experimentam melhor desempenho no trabalho e/ou na escola, adquirem melhores hábitos nutricionais, apresentam menores índices de aquisição de hábitos nocivos à saúde como tabagismo, alcoolismo e utilização de outras drogas, sendo assim menos sujeitos ao estresse (SALLIS; PATE; HASKELL apud BRACCO et al, 2001, p.46).

    Assim, o enfoque atual de prevenção em saúde pública está baseado na promoção da prática atividade física, a qual poderia ser considerada, no âmbito da promoção de saúde, como um poderoso instrumento para que se atinja melhor qualidade de vida, nos aspectos orgânicos e psicossocioafetivos (MANIFESTO DE SÃO PAULO apud BRACCO et al, 2001, p.46; BRACCO et al, 2003; MATSUDO et al, 2002). Entretanto, para que os benefícios da atividade física tenham reflexos em um estilo de vida saudável, é fundamental que esta seja praticada de forma regular e consistente, pois os benefícios são temporários (BRACCO et al, 2003).

    Em uma revisão de estudos sobre o nível de atividade física em determinados países, constatou-se que o sedentarismo é maior na população de baixa escolaridade, no interior e região metropolitana, e que há declínio da atividade física com o aumento da idade cronológica. No Brasil, os índices de inatividade física são superiores nas regiões Nordeste (65%) e Norte/Centro-oeste (64%), e menores nas regiões Sudeste (59%) e Sul (53%) do país. Assim, nota-se que o sedentarismo atinge tanto países desenvolvidos como os em desenvolvimento e que este quadro é preocupante e exige ações e políticas de saúde pública, para minimizar o impacto deletério na saúde da população (MATSUDO et al, 2002).

Atividade física na infância e adolescência: uma forma de prevenção

    A ocorrência de muitas doenças crônicas não transmissíveis no adulto pode ter início na infância, sendo assim, é fundamental estimular precocemente a atividade física nessa faixa etária, para a promoção da saúde e prevenção dessas doenças. Além disso, estudos apontam que crianças e adolescentes que se mantêm fisicamente ativos, apresentam probabilidade menor de se tornarem adultos sedentários, obtendo então melhor qualidade de vida, visto que mudar hábitos e atitudes já estabelecidos na fase adulta, representa tarefa complexa e muitas vezes resultados insatisfatórios (ALVES et al, 2005; BRACCO et al, 2003; BARUKI et al, 2006).

    Dentre as doenças crônicas não transmissíveis citadas, a que apresenta maior prevalência no mundo é a hipertensão arterial (HA), ocorrendo em cerca de 30% na população adulta no mundo. Ela é conceituada como uma síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados associados à alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos tróficos (hipertrofia cardíaca e vascular). Ela pode ser desencadeada pela obesidade, que por sua vez, é desenvolvida pelo sedentarismo acompanhado por um aporte calórico mais elevado na dieta (SANGI; MUELLER apud GUEDES; GUEDES, 1998, p.18).

    Apesar de todo o conhecimento da população em relação aos benefícios da vida ativa, a sociedade moderna apresenta altos níveis de sedentarismo. Estudos mostram associação positiva entre o tempo gasto assistindo TV e a prevalência da obesidade, devido ao elevado consumo de alimentos e baixo gasto energético. Somado a isso, pesquisas voltadas para a determinação do nível de atividade física em crianças têm demonstrado que, com o avanço tecnológico, vem caindo a prevalência da atividade física nessa faixa etária. As crianças se tornam cada vez mais sedentárias em virtude de hábitos como assistir TV, jogar videogame e usar computador (THORLAND; MONTOYE; VACCARO; SALLIS apud BRACCO et al, 2001, p.47; BRACCO et al, 2003; BARUKI et al, 2006; GUEDES; GUEDES, 1998).

    Assistir à televisão por mais de três horas/dia e jogar videogame por mais de duas horas/dia são fatores de risco para sobrepeso e obesidade. Em um estudo realizado com 403 escolares, com idade entre sete e dez anos, da rede municipal de ensino em Corumbá, Minas Gerais, foi visto que as crianças eutróficas gastavam menos tempo nessas atividades do que as crianças com sobrepeso, sustentando evidências nas quais crianças que assistem à televisão por mais de quatro horas/dia são menos ativas e obesas, ou mais propensas ao sobrepeso, constatando uma correlação positiva entre o tempo gasto nessa atividade e o Índice de Massa Corporal (IMC) (BARUKI et al, 2006). Baseada nessas tendências, a American Academy of Pediatrics, recomendou um tempo para o uso de TV e vídeo de, no máximo, duas horas por dia (ADA, 2004).

    No Brasil, é possível observar que o processo de urbanização vem acompanhando mudanças de comportamento da dieta e da atividade física. Isso pode ser decorrente de muitos fatores, como a falta de espaços públicos, falta de tempo e baixa escolaridade. Dentre as crianças, os principais fatores que funcionam como barreiras para a prática de atividade física são: a crescente onda de violência que provoca o confinamento em casa, o hábito viciante de assistir televisão e jogar vídeo game, a obesidade de crianças que tem que fazer maior esforço do que as não obesas, e que geralmente estão sob forte estresse emocional promovido pelo culto ao corpo perfeito, onde ela se sente desestimulada a expor seu corpo por zombaria de outras crianças, isso pode ser comprovado por estudos que relatam maior nível de atividade física entre indivíduos eutróficos (BRACCO et al, 2003; BARUKI et al, 2006; MARTIN; ZUGATTO; NACIF, 2007).

    A idade escolar é o melhor período para o desenvolvimento da aptidão física e para adoção de um estilo de vida mais ativo, que pode ser mantido na vida futura, além de melhorar o desempenho acadêmico (BRACCO et al, 2003; COSTA et al, 2004). A participação da criança em atividades desportivas tem grande importância para promover crescimento e desenvolvimento saudáveis no processo de socialização, e como oportunidades de lazer e desenvolvimento de aptidões, além de melhorar a auto-estima e confiança, enquanto que a inadequação dessa prática pode levar ao estresse e distúrbios alimentares e psicológicos (BRACCO et al, 2003; MARTIN; ZUGATTO; NACIF, 2007; COSTA et al, 2004; RAYA et al, 2007; JUZWIAK; PASCHOAL, 2001).

    A Federação Internacional de Medicina Esportiva recomenda que as atividades físicas em crianças sejam aquelas para recreação e educação, ressaltando não haver justificativas fisiológicas ou educacionais para treinamento intensivo com objetivos de melhora do desempenho para fins competitivos (GERRARD apud BRACCO et al, 2001, p.48). Sendo assim, a atividade física para crianças deve ser fonte de prazer e alegria para que se torne um hábito em sua vida. A criança deve escolher o esporte de sua preferência para que tenha motivação de praticá-lo, facilitando sua permanência e continuidade na prática esportiva (BRACCO et al, 2001; COSTA et al, 2004).

    Os pais também têm grande participação na iniciação de hábitos da atividade física de seus filhos, levando-os para praticarem esportes e caso não tenham tempo nos dias úteis, preencha os finais de semana com jogos e brincadeiras que exijam a participação ativa da criança (COSTA et al, 2004).

    Crianças com talento natural sempre hão de aparecer, tornando a missão dos profissionais de saúde e educação de extrema responsabilidade no sentido de oferecê-los condições ótimas e de desenvolvimento natural, não os expondo à atividades extenuantes e sentimentos de ganância e competitividade em fases precoces da vida, pois a quantidade excessiva de exercícios pode retardar seu crescimento e desenvolvimento (BRACCO et al, 2001; COSTA et al, 2004).

    Atualmente, embora se considere que todas as crianças e adolescentes deveriam ser fisicamente ativas, não existem recomendações oficiais sobre a freqüência e duração ideais para a prática de atividade física como ação de prevenção de doenças crônicas para estes indivíduos (BRACCO et al, 2003; MATSUDO et al, 2002).

Consumo alimentar inadequado e sedentarismo

    Aos novos comportamentos sedentários das crianças e adolescentes brasileiros, se alia a prática de maus hábitos alimentares em que há diminuição do consumo de alimentos com alto valor nutricional como frutas, verduras e legumes, e aumento do consumo de alimentos altamente calóricos e ricos em gorduras, como sanduíches, salgadinhos e frituras que, subitamente, concorrem para o aumento da incidência de inúmeras doenças crônicas na idade adulta (THORLAND; MONTOYE; VACCARO; SALLIS apud BRACCO et al, 2001, p.47; BRACCO et al, 2003; BARUKI et al, 2006; GUEDES; GUEDES, 1998).

    O surgimento de distúrbios nutricionais na infância e adolescência, relacionados com a ingestão energética, como a obesidade, estão comumente associado ao desequilíbrio entre a atividade física e a ingestão alimentar. A obesidade é resultante da ação de fatores ambientais sobre os indivíduos geneticamente predispostos a apresentar excesso de tecido adiposo. Esta, quando ocorre na infância pode levar a criança a ter até 50% de chance de ser um adulto obeso, e, quando ocorre na adolescência, confere chances de 70 a 80% (VITOLO, 2003).

    Em relação à prevalência da obesidade em escolares, há uma grande variabilidade, quando comparados os diferentes estudos realizados no Brasil e no mundo. Entre estudos publicados recentemente, em Feira de Santana observou-se prevalência de excesso de peso de 9,2% em escolas públicas e 20,4% em escolas particulares; em Recife, 35,0% dos escolares apresentaram excesso de peso corporal; em Salvador, a prevalência de obesidade foi de 30,0% nas escolas particulares e 8,0% nas públicas; no Rio de Janeiro, a prevalência de excesso de peso foi de 23,0% para as meninas e 19,0% para os meninos. Em estudos realizados na América Latina verificam-se desde prevalências bastante baixas de obesidade infantil, como 5,0% em Quito, Equador, até prevalências muito elevadas, como 26,2% em San José, Costa Rica (COSTA; CINTRA; FISBERG, 2006).

    Hábitos alimentares inadequados puderam ser observados em um estudo realizado em São Paulo, com 30 crianças e adolescentes, com idade entre 7 a 14 anos, no qual 53,3% da população estudada apresentavam aversão em relação ao consumo de verduras e legumes e 13,3% às frutas. Os autores observaram também que as crianças e adolescentes apresentaram um consumo diário elevado de guloseimas, sendo que 43,3% consumiam balas e chicletes, 16,7% ingeriam bolachas recheadas e refrigerantes e 13,3% sanduíches (CARDOSO et al, 2005). Esses alimentos industrializados, geralmente de maior densidade energética, podem elevar substancialmente o teor de gordura na alimentação, contribuindo para maior acúmulo de peso corporal (GUEDES; GUEDES, 1998).

    Segundo as Dietary Reference Intakes (DRIs, 2002), a ingestão máxima de açúcares de adição pelas crianças, deve ser de no máximo 25% da necessidade energética total, pois foi observado que quando se ultrapassa essa recomendação, há uma diminuição da ingestão de micronutrientes essenciais, como o cálcio. Porém, se têm limitações, uma vez que muito dos açucares apresentam-se intrínsecos nos alimentos e bebidas como as guloseimas, e os açucares de adição não são listados nos rótulos dos alimentos, fazendo com que seja difícil a determinação do conteúdo de açúcar adicionado nos produtos (ADA, 2004).

    Os pais e responsáveis têm um impacto importante na alimentação das crianças e nos padrões de atividade física. A influência precoce dos pais está associada com o desenvolvimento do relacionamento das crianças com o alimento no futuro. Por exemplo, hábitos alimentares de jovens adultos, como comer toda comida do prato, usar o alimento com incentivo ou ameaça, comer sobremesas, fazer refeições sempre nos mesmos horários (regularmente), estão relacionados às mesmas práticas alimentares usadas por seus pais durante a infância deles (ADA, 2004).

    Vários fatores interferem no consumo alimentar na infância, tais como valores socioculturais, imagem corporal, alimentos consumidos fora de casa, aumento do consumo de alimentos semi-preparados, hábitos alimentares, disponibilidade de alimentos e facilidade de preparo (CARDOSO et al, 2005).

    Os padrões alimentares infantis estão mudando na atualidade, com inclusão de um crescimento nas refeições fora de casa. O tradicional modelo da família se reunir pra fazer as refeições ao redor da mesa da cozinha foi mudado. Hoje em dia, poucas famílias fazem refeições juntas. No entanto, crianças que jantam com seus familiares em casa têm uma dieta de melhor qualidade do que aquelas que não fazem isso. Essas crianças também tendem a ter maiores ingestões de frutas e vegetais, fibras, folato, cálcio, ferro e vitaminas B6, B12, C e E; e menores ingestões de refrigerantes, alimentos fritos, gorduras saturadas e gorduras trans. Já crianças que consomem “fast food” têm maiores ingestões de gorduras (saturadas e trans), colesterol e sódio; e menores ingestões de fibras, cálcio e ferro, quando comparadas àquelas que não consomem tanto “fast food” (ADA, 2004).

    As fibras possuem uma importante função: atuam na diminuição do risco de algumas doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e câncer de cólon, e tem sido reconhecida por organizações de saúde. Dietas ricas em fibra também tendem a conter menos gordura, colesterol e energia do que dietas com baixa quantidade de fibras (ADA, 2004).

Reflexos da inatividade física e dos hábitos alimentares errôneos na composição corporal de crianças e adolescentes

    O estado nutricional desempenha um papel fundamental no padrão de atividade física de crianças e adolescentes. Alguns autores têm verificado pior desempenho em testes de aptidão física em crianças com algum grau de desnutrição, quando comparadas com crianças bem-nutridas, além de apresentarem manutenção destas diferenças ao longo do processo de crescimento (MALINA; BOUCHARD; MATSUDO et al, BRACCO et al apud BRACCO et al, 2001, p.46; MARTIN; ZUGATTO ; NACIF, 2007).

    A participação das crianças em eventos esportivos proporciona oportunidade de divertimento, interação social e desenvolvimento de suas habilidades motoras, além de contribuir para o seu crescimento e desenvolvimento, e de previnir diversas enfermidades, tais como, diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade, que têm sido constatadas em idades cada vez mais precoces (RAYA et al, 2007).

    Crianças fisicamente ativas apresentam menor percentual de gordura corporal e menor valor de índice de massa corporal (IMC). Crianças obesas, comparadas com crianças não obesas, são menos ativas e participam menos de atividades moderadas e/ou intensas, com predomínio das atividades de baixa intensidade. Vale também ressaltar a importância da prática de atividade física, já que crianças que são ativas desde cedo têm maior probabilidade de permanecer ativas quando adultas. Assim, combater o sedentarismo é o enfoque principal nas intervenções direcionadas à criança no tratamento e controle da obesidade (BARUKI et al, 2006).

    Aliada à atividade física, a nutrição também apresenta notável importância, já que, além da sobrevivência, a nutrição adequada é indispensável para o crescimento e desenvolvimento, construindo um alicerce para o desempenho físico e sendo muito importante para a saúde geral do praticante de exercício físico, em qualquer faixa-etária (RAYA et al, 2007). Hábitos alimentares saudáveis na infância também ajudam a prevenir desnutrição crônica e retardo no crescimento, assim como problemas nutricionais infantis agudos, como anemia ferropriva e cáries dentais (ADA, 2004).

    Especialmente no caso de crianças praticantes de esportes, é necessária atenção especial em relação à adequação do consumo de alimentos e nutrientes (RAYA et al, 2007).

    O incentivo à prática de atividade física e ao desenvolvimento de hábitos alimentares adequados, requerem uma atenção especial, uma vez que a prevalência mundial da obesidade infantil vem apresentando um rápido aumento nas últimas décadas, sendo caracterizada como uma verdadeira epidemia mundial. Este fato é bastante preocupante, pois a associação da obesidade com alterações metabólicas, como a dislipidemia, a hipertensão e a intolerância à glicose, considerados fatores de risco para o diabetes melitus tipo 2 e as doenças cardiovasculares até alguns anos atrás, eram mais evidentes em adultos; no entanto, hoje já podem ser observadas freqüentemente na faixa etária mais jovem (OLIVEIRA; FISBERG, 2003).

    Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de crianças que estão acima do peso mais que dobrou, entre aquelas de 2 a 5 anos, e mais que triplicou entre aquelas de 6 a 11 anos, fato que pode levar a conseqüências de extrema importância. Esse crescimento do sobrepeso na infância tem ampliado a atenção à orientação dietética, para direcionar o consumo excessivo de crianças que ingerem alimentos altamente calóricos e pobres em nutrientes (ADA, 2004).

    No Brasil, por sua vez, verifica-se, nas últimas décadas, um processo de transição nutricional, constatando-se que entre os anos 1974/75 e 1989, houve uma redução da prevalência da desnutrição infantil (de 19,8% para 7,6%) e um aumento na prevalência de obesidade em adultos (de 5,7% para 9,6%). Em adolescentes, por meio da análise dos dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN-1989), encontrou uma prevalência de 7,6% de sobrepeso. Mais recentemente, comparando-se os dados do Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF), realizado em 1974/75 com os dados da Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizada em 1996/97 somente nas regiões Sudeste e Nordeste, verificou-se um aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade de 4,1% para 13,9% em crianças e adolescentes de 6 a 18 anos (OLIVEIRA; FISBERG, 2003).

    Estudos têm mostrado que, quanto mais avançada a idade e maior a quantidade de gordura corporal, menor deverá ser a probabilidade de se reverter o quadro de adiposidade. Essa situação deverá ocorrer tanto pelos hábitos alimentares e de menor atividade física já incorporados, como pelas alterações metabólicas que, se já eram facilitadoras do maior acúmulo de gordura, tornam-se mais resistentes à sua regressão (FEINLEIB apud GUEDES; GUEDES, 1998, p.23).

Recomendações nutricionais para crianças fisicamente ativas

    A nutrição adequada em quantidades e qualidades de macro e micronutrientes e de hidratação, é indispensável para o crescimento e desenvolvimento das crianças, além de constituir papel essencial no desempenho físico daquelas fisicamente ativas, portanto deve-se ter atenção especial à alimentação das crianças adequando ao tipo, freqüência e duração da atividade física executada (MARTIN; ZUGATTO; NACIF, 2007; RAYA et al, 2007). No entanto, a infância é caracterizada por uma redução na velocidade de ganho de peso e estatura em relação ao primeiro ano de vida, característica que condiciona uma redução do apetite nessa faixa etária, fato que pode levar à uma evolução do peso em relação à altura menor do que a esperada nas curvas de crescimento (MADEIRA; AQUINO, 2003; COSTA et al, 2004).

    A ingestão energética inadequada está associada à ingestão marginal e macro e micronutrientes, principalmente de carboidratos, piridoxina, cálcio, folato, zinco e magnésio. Tal associação tem conseqüências prejudiciais sobre o crescimento, tais como o aumento do risco de aparecimento de doenças e a diminuição da taxa metabólica (JUZWIAK apud RAYA et al, 2007).

    A necessidade calórica deve ser estimada de acordo com a ingestão alimentar diária, índice de crescimento, idade e atividade física (JUZWIAK; PASCHOAL, 2001). As crianças necessitam de uma maior quantidade de energia que aquela necessária para um adolescente ou para um adulto durante a prática de atividades esportivas (BAR-OR apud RAYA et al, 2007). Assim, vários pesquisadores, estudando profundamente as necessidades nutricionais de crianças e adolescentes fisicamente ativos, recomendam uma dieta pobre em lipídios (20-25% do VCT), rica em carboidratos (60-70% do VCT), com quantidade adequada de proteínas (10-15% do VCT) e variando qualitativamente para alcançar as recomendações de micronutrientes (COLEMAN; WILLIAMS apud JUZWIAK; PASCHOAL, 2001, p.35).

    A ingestão adequada de proteína para crianças e adolescentes visa manter o balanço nitrogenado positivo, ou seja, a ingestão deve ser maior que a utilização para manter normal o crescimento e o desenvolvimento dos órgãos e tecidos (BAR-OR apud RAYA et al, 2007). Porém, certos comportamentos alimentares podem prejudicar o estado nutricional por deficiência energética, em que as proteínas, essenciais no processo de crescimento, serão utilizadas como fonte de energia para a atividade física, levando à alteração no crescimento (JUZWIAK; PASCHOAL apud RAYA et al, 2007).

    Dessa maneira, uma dieta com predominância de ingestão de carboidratos, dando preferência aos complexos (40-45%), também é algo fundamental, já que a depleção dos estoques de glicogênio e a diminuição da glicose sanguínea durante o exercício pode dificultar a ressíntese de ATP no músculo. Além disso, a depleção de carboidratos pode aumentar a percepção de fadiga, o que pode levar a incoordenação motora, diminuição na concentração e redução da capacidade de treinamento (WALBERG-RANKIN apud RAYA et al, 2007).

    Atenção especial deve ser dada à desidratação, já que, assim como em adultos, a desidratação voluntária ocorre em crianças. (BAR-OR et al; RIVERA-BROWN et al; WILK; BAR-OR apud BAR-OR, 2000, p.3). É importante ressaltar que a temperatura corporal interna da criança se eleva muito mais rapidamente quando ocorre a desidratação (BAR-OR, 2000). Portanto é importante prevenir ou minimizar a desidratação de crianças esportistas, pode-se evitá-la durante o exercício prolongado e intermitente se ingerirem líquidos a cada 15-20 minutos (BAR-OR ; UNNITHAM apud JUZWIAK; PASCHOAL, 2001, p.36; BAR-OR, 2000).

Considerações finais

    A promoção de atividades que evitem os hábitos sedentários pode ser fundamental para evitar o aparecimento de doenças crônicas futuras no público infantil, especialmente nos países em desenvolvimento.

    Assim, a prática da atividade física aliada à alimentação adequada é essencial para que a criança fisicamente ativa garanta seu potencial de crescimento e desenvolvimento e tenha seu desempenho maximizado durante a prática desportiva.

Referências

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  • MATSUDO, S. M. et al. Nível de atividade física da população do Estado de São Paulo: análise de acordo com o gênero, idade, nível sócio-econômico, distribuição geográfica e de conhecimento. Rev. Bras. Ciên. e Mov, Brasília, v. 10, n. 4, p. 41-50, 2002.

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  • VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação à adolescência. Rio de Janeiro: Reichmann & Autores Editores, 2003.

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