Atividade física habitual em mulheres idosas participantes de grupos de convivência no município de Jequié Bahia |
|||
Mestrando em Saúde Coletiva/UEFS. Docente do curso de Bacharelado em EF - Faculdade de Tecnologia e Ciências/Itabuna-BA. Docente da Faculdade do Sul-Rede O Delta. |
Saulo Vasconcelos Rocha sauloedfisica@yahoo.com.br (Brasil) |
|
|
Apoio: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia-FAPESB.
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008 |
1 / 1
IntroduçãoOs avanços da ciência, o aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de natalidade proveniente das mudanças de hábitos de vida da sociedade atual têm ocasionado um aumento significativo do contingente de idosos em todo o mundo. Estima-se que a população idosa aumentará em torno de 100% e a proporção de pessoas com mais de 60 anos passará de 5% em 1960 para 14% em 20251.
O envelhecimento é um fenômeno que se manifesta de forma heterogênea nas pessoas e é influenciado por diversos fatores: biológicos, patológicos, causas externas2. É multidimensional e multidirecional variando no ritmo e no sentido das mudanças (ganhos e perdas)3.
Evidências epidemiológicas demonstram o efeito positivo de um estilo de vida ativo e/ou do envolvimento dos indivíduos em programas de atividade física e exercício físico na prevenção e minimização das perdas decorrentes do processo de envelhecimento. Os cientistas enfatizam cada vez mais, a necessidade de que a atividade física seja parte fundamental dos programas mundiais de promoção da saúde4,10-14.
O Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM)9 atribui alguns benefícios para a inclusão da prática regular de atividade física no cotidiano de pessoas idosas: a) redução e/ou prevenção de alguns dos declínios nos componentes da aptidão física associada com o envelhecimento; b) prevenção de doenças crônico-degenerativas; c) maximização da saúde psicológica: d) manutenção da capacidade funcional; e) auxilia na reabilitação de doenças crônicas e agudas: f) inversão da síndrome do desuso.
Neste sentido, o objetivo deste estudo foi verificar o nível de atividade física habitual em mulheres idosas participantes de grupos de convivência da Associação de Amigos e Grupos de Convivência e Universidade Aberta à Terceira Idade (AAGRUTI) no município de Jequié - Bahia.
MétodosEstudo de coorte transversal, descritivo e correlacional, realizado no período de Junho a Agosto de 2005, em 13 grupos de convivência da Associação de Amigos e Grupos de Terceira Idade e Universidade Aberta á Terceira Idade (AAGRUTI) no município de Jequié-Bahia e que faz parte do Projeto Influência do Nível de Atividade Física Habitual na Qualidade de Vida de Idosos do Município de Jequié-BA realizado pelo Núcleo de Estudos em Atividade Física e Saúde (NEAFIS/UESB).
Para tanto foi realizado um contato prévio com a coordenadora geral da AAGRUTI onde agendou-se as visitadas aos grupos que ocorreram nos horários de reunião.
Na investigação do Nível de Atividade Física habitual utilizou-se o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAC) adaptado para a população idosa e validado para esta população no Brasil por Benedetti, Mazo e Barros16 É um questionário aplicado em forma de entrevista face a face, composto de dados referentes a atividades no trabalho, tarefas domésticas, transporte e lazer. Ao responder o IPAC o entrevistado recorda as atividades físicas realizadas na última semana.
A classificação do Nível de Atividade Física seguiu as recomendações da Organização Mundial de Saúde (WHO)17 Ativos (indivíduos que acumulam mais de 150 minutos de atividades físicas leves, moderadas ou intensas por semana) e Inativos (indivíduos que não acumulam mais de 150 minutos de atividades físicas leves, moderadas ou intensas por semana).
Para avaliação do nível sócio-econômico dos entrevistados optou-se pelo Critério de Classificação Sócio Econômica Brasil (ANEP)8. Foram coletadas informações referentes à quantidade de alguns objetos na casa (televisão em cores, banheiro, empregada doméstica, máquina de lavar, geladeira, máquina de secar roupa, rádio, automóvel, freezer, aspirador de pó, videocassete, DVD e lavadoura de louça) dos entrevistados e o nível de escolaridade.
Da população do estudo foram excluídos os idosos do sexo masculino por representar uma parcela muito pequena da população da AAGRUTI (<1,0%). A amostra constituiu-se 266 mulheres acima de 60 anos participantes de Grupos de convivência da AAGRUTI selecionadas de forma aleatória.
Os critérios de inclusão na pesquisa foram: > 60 anos, sexo feminino e ser participante de Grupos de Convivência da AAGRUTI. Todos os indivíduos convidados aceitaram participar do estudo, não havendo nenhuma recusa.
Os dados foram tabulados e analisados através de ferramentas de informática (Programa Epidata versão 3,1 b) na criação do banco de dados, e o pacote estatístico SPSS 11.0 para análise dos dados.
Na análise dos dados empregaram-se procedimentos da estatística descritiva (média, desvio-padrão) e o teste Qui-quadrado com p<0,05.
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo as exigências da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
ResultadosA idade das idosas variou entre 60 a 96 anos (média 71,48 ± 7,45 anos), demais características sócio demográficas estão descritas na tabela 1.
Dentre as características sócio-demográficas identificadas na tabela 1 as pessoas na faixa etária de 60-69 anos representaram uma porcentagem significativa da amostra correspondendo a 51,5% (n= 137), sendo que 48,5% (n=129) referiram ser viúvas, prevaleceu o baixo nível de escolaridade, aproximadamente 89% (n=236) não haviam concluído o curso ginasial. O arranjo familiar multigeracional foi referido por 38 % (n=101) das entrevistadas e 88,8% (n=183) eram de classe econômica baixa (classe D e E ) de acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil (ANEP)4.
Com referencia ao nível de atividade física habitual, 64,3% (n=171) são ativas fisicamente (>150 minutos de atividades físicas por semana) e 35,7 % (n=95) são sedentários, de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde.
As pessoas ativas fisicamente (>150 minutos de atividades físicas por semana) tinham como característica: faixa etária entre 60 a 69 anos (X2 =0,004, p=0,000), menor nível de escolaridade (X2 =0,00, p=0,000), possuíam um baixo nível sócio econômico (X2 =1,04, p=0,002) e arranjo familiar multigeracional (X2 =1,95, p=0,005).
O Nível de atividade física habitual apresentou relação com as doenças referidas: diabetes (X2 =0,00, p=0,000), hipertensão (X2=1,42, p=0,04) e artrite/artrose (X2 =1,41, p=0,04), os indivíduos ativos refeririam um número inferior de doenças com relação aos indivíduos inativos fisicamente.
DiscussãoNa população estudada uma pequena parcela dos investigados são das classes A e B (12,3%) e a maioria são das classes C, D e E (91,4%). Essa desigualdade reflete a má distribuição de renda do país que privilegia uma pequena parcela da população em detrimento da maioria. Lima-Costa, Matos e Camarano18 mostraram que indivíduos no estrato mais baixo de renda apresentavam piores condições de saúde, função física e menor uso de serviços de saúde, tanto na faixa etária de 20- 64 anos quanto na > 65 anos e a força das associações são modificaram-se entre os anos de 1998 e 2003, portanto não ocorrendo alterações nas desigualdades sociais no país no período estudado.
A situação sócio-econômica desempenha um papel fundamental na determinação das condições de saúde das pessoas5. Estando diretamente relacionada com uma autopercepção de saúde positiva7,15 sendo assim políticas de atenção a saúde do idoso devem conter ações que visem a melhoria da condição de renda das pessoas.
O número elevado de pessoas ativas fisicamente é um dado relevante tendo em vista o fato de que as perdas ocasionadas pelo processo do envelhecimento nas variáveis antropométricas, metabólicas e neuromusculares são diminuídas em indivíduos fisicamente ativos8.
A diminuição da aptidão física (músculoesquelética e cardiorrespiratória) aumenta a fragilidade dos idosos, podendo torná-los vulneráveis a desenvolver, em longo prazo, mais incapacidades quando confrontados com episódios crônicos e agudos22. Levantamento realizado no município de São Leopoldo-RS19 demonstrou que 37,6% (n=70) das mulheres na faixa etária de 50-60 anos são sedentárias nos momentos de lazer, não se beneficiando da proteção oferecida pela prática de atividades físicas.
Os benefícios oriundos do aumento do nível de atividade física habitual se estendem desde a melhora da capacidade funcional, regulação da pressão arterial, redução do risco de doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes e certos tipos de câncer3. Neste levantamento as idosas ativas fisicamente refeririam uma menor quantidade de patologias (diabetes, hipertensão, artrite/artrose) do que as pessoas inativas. A atividade física habitual parece exercer um efeito protetor contra algumas patologias. Desta forma a pratica de atividade física regular é uma terapia imprescindível nos programas de atenção à saúde.
A atividade física mostrou-se um habito mais freqüente em idosas mais jovens (60-69 anos), um nível de renda e de escolaridade mais baixos, arranjo familiar multigeracional, corroborando o presente estudo Mazo et.al.20 realizou um levantamento com idosas participantes de grupos de convivência da cidade de Florianópolis-SC e observou que 66% das idosas eram ativas fisicamente e que as idosas mais ativas são mais jovens, viúvas, possuem um menor nível de escolaridade em contra partida não houve relação entre atividade física habitual e o nível de renda.
Os dados evidenciam que as idosas participantes de grupos de convivência são mais ativas nas suas atividades diárias. Nos grupos de convivências são realizadas atividades (lazer, culturais, físicas, manuais, artísticas) que favorecem as idosas a aderirem a um estilo de vida ativo.
ConclusãoA população de idosas participantes de grupos de convivência possui um nível de atividade física considerada recomendável, de acordo com os critérios da OMS, o fato de participarem de grupos de convivência favorece a adoção de um estilo de vida mais saudável.
A formulação de programas de intervenção voltados para a mudança de comportamento e o incentivo a adoção de estilo de vida ativo poderá contribuir ainda mais para a melhoria da capacidade funcional destas pessoas.
Estudos transversais produzem dados momentâneos da situação de saúde, não avaliando adequadamente a causa dos eventos ocorridos. Outro aspecto é que apenas idosas participantes de grupos de convivência participaram do estudo, esses limites, portanto, não permitem generalizar os resultados encontrados.
Recomenda-se a realização de estudos longitudinais, incluindo os idosos do sexo masculino e os não participantes de grupos de convivência, no intuito de estabelecer melhor estas relações.
Referências
Ramos LR, Coelho Filho JM. Epidemiologia do envelhecimento no nordeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev de Saúde Pública 1999; 33 (5): 445-53
Coelho Fabrício SC, Rodrigues RA, Costa Júnior L. Causas e conseqüências de quedas de idosos atendidos em hospital público. Rev Saúde Pública 2004; 38(1): 93-9
Heikkinen RL. O papel da atividade física no envelhecimento saudável. (M. F. S. Duarte & M. V. Nahas, trad), Organização Mundial da Saúde; 1998.
ANEP (2003). Critério de Classificação Econômica Brasil. (On-line). Disponível: http://www.anep.org.br/arquivos/cceb.pdf/. (Acessado em 05/05/2007)
Lima-Costa MF, Barreto SM, Giatti l, Uchôa E. Desigualdade social e saúde entre idosos brasileiros: um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Cad de Saúde Pública 2003; 19 (3): 745-757
Dachs NW. Determinantes das desigualdades na auto-avaliação do estado de saúde no Brasil: Análise dos dados do PNAD/1998. Ciência e Saúde Coletiva 2002; 7 (4): 641-657.
Alves LC, Rodrigues RN. Determinantes da autopercepção de saúde em idosos do Município de São Paulo. Rev. Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 2005; 17(5/6)
Matsudo SMM, Matsudo VKR, Barros Neto, Turíbio L. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Rev Bras de Ciência e Movimento 2000; 8 (4): 21-32.
American College Of Sports Medicine. Exercise and physical activity for older adults. Medicine & Science in Sports & Exercise, 1998; 30: 992-1008
Antunes HKM, Santos RF, Boscolo RA, Bueno OFA, Mello MT. Análise da taxa metabólica basal e composição corporal de idosos do sexo masculino antes e seis meses após exercícios de resistência. Rev.Bras. Med Esporte 2005; 11 (1)
Copolla L, Grassia A, Coppola A, Tondi G, Peluso G, Mordente SG, et al. Effects of a moderate-intensity aerobic porgram on blood viscosity,platelet aggregation and fibrinolytic balance is young and middle-aged sedentary subjects. Blood Coagul Fibrinolysis 2004; 15 (1): 31-7
Ferrara CM, Mccrone SH, Brendle D, Ryan AS, Goldberg AP. Metabolic effects of the addition of resistive to aerobic exercise in older menInt. J Sport Nutr Exerc Metab. 2004; 14 (1): 73-80.
Vilanova N, Pasqui F, BurzacchinI S, Forlani G, Manini R, Suppini A, et.al. A physical activity program to reinforce weight maintenance following a behavior program in overwight/obese sujects. In J. Obes(Lond) 2005; [Epub ahead of print]
Brandon LJ, Bovet LW, Lloyd A, Gaasch DA. Resistive training and long-term function in older adults. J. Aging Phys Act. 2004; Jan:12 (1):10-28.
Loch MR, Konrad LM, Santos PD, Nahas MV. Percepção de Saúde e associação com a aptidão física relacionada à saúde em universitários na UFSC. Rev. Bras. de Ciência e Movimento 2005; 13 (4) Suplemento 2005.
Benedetti TB, Mazo GZ, Barros MVG. Aplicação do Questionário Internacional de Atividades Físicas de mulheres idosas: validade concorrente e reprodutibilidade teste-reteste. Rev. Bras. de Ciência e Movimento 2004;12 (1):25-34.
The WHOQOL Group.The world health organization quality of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Sociology Science Medicine, 1995;23: 24-56.
Lima Costa MF, Matos DL, Camarano AA. Evolução das desigualdades sociais em saúde entre idosos e adultos brasileiros: um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 1998, 2003). Ciência & Saúde Coletiva, 2006;11(4):941-950,.
Masson CR. Prevalência de sedentarismo nas mulheres adultas da cidade de São Leopoldo. Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, 2005; 21(6):1685-1694.
Mazo GZ, Mota J,Gonçalves LHT, Matos MG. Nível de atividade física, condições de saúde e características sócio-demográficas de mulheres idosas brasileiras. Rev Port Cien Desp, 2005; 5(2): 202-212.
Barbosa AR, Souza JMP, Lebrão ML, Marruci MFN. Estado Nutricional e Desempenho Motor de Idosos de São Paulo. Rev Assoc Med Bras 2007; 53(1): 75-9.
revista
digital · Año 13
· N° 121 | Buenos Aires,
Junio 2008 |