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Análise estabilométrica em atletas e não atletas

 

*Universidade de Córdoba
(España)

**Centro Universitário de Maringá
(Brasil)

Lisiane Martins de Lima Cecchini*

José Luis Lancho Alonso*

Afonso Shiguemi Inoue Salgado***

lisicecchini@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo analisar o comportamento do equilíbrio postural estático em atletas de atletismo e indivíduos não atletas. A amostra foi de 20 atletas e 15 não atletas, com idades entre 12 e 18 anos, de ambos sexos, de um Centro Universitário de Porto Alegre-RS. O instrumento utilizado para registrar o equilíbrio postural dos indivíduos foi a estabilometria eletrônica. Os resultados obtidos apontam diferença significativa na velocidade de deslocamento e deslocamento radial entre os atletas e não atletas para a variável baricentro do corpo. Conclui-se que indivíduos que não praticam atividade física apresentam menor equilíbrio estático.

          Unitermos: Estabilometria. Equilíbrio. Baricentro.

 

Abstract

          The purpose of the present study was to analyze the static postural balance behavior in athletics athletes and non-athletes. Twenty athletes and 15 non-athletes (12-18 years of age, boys and girls), from a University Center in Porto Alegre, RS participated in the study. The instrument used to record postural balance of each individual was the electronic stabilometer. The obtained results show significant difference in displacement speed and radial displacement between athletes and non-athletes for body baricenter variable. Concluding, individuals who do not perform any physical activity have lower static balance.

          Keywords: Stabilometer. Balance. Baricenter.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

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Introdução

    Desde que o homem modificou sua postura passando de quadrúpede para bípede, tiveram que ocorrer uma série de reajustes tônicos posturais. O sistema tônico postural é muito amplo e participa em todas as atividades do ser humano, desde levantar-se, manter-se em pé, como em atividades que exijam equilíbrio e coordenação [1].

    O corpo humano, como todos sólidos, obedece às leis da gravidade. O corpo é considerado em equilíbrio estável quando a vertical traçada a partir de seu centro de gravidade cair na base de sustentação. No ser humano, em posição vertical, o centro de gravidade está localizado no corpo da 3ª vértebra lombar e a base de sustentação são os pés [2;3].

    O corpo demonstra movimentos oscilatórios de sustentação ao redor de uma postura fixa, chamada oscilação postural espontânea [4].

    Considerando-se que há oscilações posturais, o centro de gravidade acaba situando-se à frente do corpo da 4ª vértebra dorsal, esse ponto chama-se centro de equilíbrio [2].

    Somente alguns estudos têm relatado o controle postural em esportistas e a maioria desses pesquisam esportistas que possuem um sistema de equilíbrio postural muito desenvolvido, como, por exemplo, ginastas [5].

    As diferentes modalidades esportivas levam os atletas ao desenvolvimento de atividades motoras diferenciadas de indivíduos não atletas. As situações de treino e competição exigem controle da postura e estímulos sensoriais que podem modificar as estratégias e utilização predominante de um sistema de aferência sensorial sobre outro. Vários autores afirmam, através de suas pesquisas, que indivíduos atletas têm diferenças significativas no mecanismo de controle postural comparando com não atletas, indicando que os atletas desenvolvem um complexo programa motor a partir de seus treinamentos [6].

    Essa pesquisa tem como objetivo analisar o comportamento do equilíbrio postural estático em atletas de atletismo e não atletas. Para isso, foi avaliada através do exame de estabilometria a velocidade da oscilação postural e a trajetória do deslocamento radial dos atletas antes e após a indução de fadiga.

Material e métodos

    Este estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa do tipo exploratória descritiva quantitativa.

    A amostra foi composta de dois grupos distintos de voluntários: um grupo de 15 indivíduos não atletas, 10 homens e 5 mulheres, com idade entre 12 e 18 anos, saudáveis e sedentários. O outro grupo de 20 atletas praticantes de atletismo, 15 homens e 5 mulheres, com idade entre 12 e 18 anos. Não foi encontrada diferença estatística significante de altura entre o grupo controle e os atletas (p≤ 0, 076). Já os valores de peso apresentaram diferença estatística significante entre o grupo controle e atletas (p≤ 0,01).

    Como instrumento de coleta de dados foi utilizada uma plataforma de força do Sistema de Análise FootWork, com 2704 sensores capacitivos calibrados de 7,62 x 7,62 mm, dispostos em uma área de 40X40 cm de superfície ativa, a qual permite uma análise estabilométrica da descarga de pressão e tempo de contato do pé com o solo em posição ereta estática ou dinâmica. No presente estudo foi utilizada a plataforma para análise estática. A plataforma se encontrava ao lado da pista de atletismo em superfície plana, a 1m da parede. Este equipamento é composto de um conversor A/D de 16 bits, e a freqüência de amostragem de 150 Hz. O tempo de sinal da coleta foi de 20 segundos.

    Primeiramente os voluntários não atletas foram avaliados pela pesquisadora para que fossem descartados indivíduos que tivessem sofrido algum tipo de lesão nos últimos 6 meses, assim como lesões neurológicas que envolvessem o aparelho vestibular. Os dois grupos foram orientados a ficar em postura ereta irrestrita; com os pés descalços sobre a plataforma; braços alinhados ao longo do corpo; cabeça em posição neutra; com olhar em um ponto fixo na parede a um metro de distância e na altura da região glabelar de cada indivíduo para a coleta. O registro dos dados do grupo controle foi feito no mesmo dia e local do grupo de atletas.

    Os atletas passaram pelo mesmo processo de avaliação. Também foi feito nesse momento o exame de Estabilometria eletrônica para registrar o equilíbrio postural estático dos atletas em repouso.

    A coleta, organização e descrição dos dados ficaram a cargo da estatística Descritiva (Software Excel 97), enquanto a análise e interpretação dos dados da estatística Inferencial (Software Microcal Origin 6.0).

    O Software Microcal Origin 6.0 foi utilizado na estatística inferencial, para realizar a análise comparativa através do teste T-Student com índice de significância de p≤0,01 dos dados estabilométricos.

Resultados

    Através dos resultados do teste de comparações t-student para amostras independentes verifica-se que existe diferença significativa na velocidade de deslocamento entre os grupos atletas em repouso e não atletas para a variável baricentro do corpo (Tabela 1).

Tabela 1. Comparação da velocidade de deslocamento entre os grupos de atletas em repouso e não atletas.

Comparação

Grupo

n

Média

Desvio-Padrão

p

Baricentro

Atletas

20

2,20

0,50

<0,01

Não Atletas

15

4,27

0,79

    Observa-se na Figura 1 que os atletas em repouso possuem uma velocidade de deslocamento média do baricentro do corpo inferior ao grupo de não atletas (p<0,01).

Figura 1. Comparação da velocidade de deslocamento entre os grupos de atletas em repouso e não atletas.

    Através dos resultados do teste de comparações t-student para amostras independentes verifica-se que existe diferença significativa no deslocamento radial entre os grupos atletas em repouso e não atletas para a variável Baricentro do corpo (Tabela 2).

Tabela 2. Comparação do deslocamento radial entre os grupos de atletas em repouso e não atletas.

Comparação

Grupo

n

Média

Desvio-Padrão

p

Baricentro

Atletas

20

0,57

0,11

<0,01

Não Atletas

15

0,71

0,18

    Para esta variável, como se observa na Figura 2, os atletas em repouso possuem um deslocamento radial médio inferior ao de não atletas. (p<0,01)

Figura 2. Comparação do deslocamento radial entre os grupos de atletas em repouso e controle.

Discussão

    A velocidade de deslocamento do baricentro do corpo apresentou menores valores para os atletas em repouso do que para os não atletas. Esse resultado sugere que os atletas têm melhor equilíbrio postural estático do que o grupo controle, confirmando a hipótese de vários autores de que o esporte desenvolve essa capacidade.

    No estudo de Vuillerme, Teasdale e Nougier (2001) verificaram que a velocidade do centro de pressão foi igual de um grupo de ginastas comparado com o grupo controle (composto por atletas de futebol, handebol e tênis). A diferença encontrada na velocidade do deslocamento do centro de pressão apareceu quando o tendão do tornozelo foi submetido a uma vibração, fazendo com que a entrada proprioceptiva fosse perturbada. O grupo de ginastas apresentou uma recuperação do equilíbrio mais rápida do que o grupo controle, sugerindo que o tipo de treino que as ginastas fazem favorece o treino do equilíbrio.

    Os atletas obtiveram menor trajetória de deslocamento da oscilação corporal comparando com o grupo de não atletas. Perrin et al (2002) obtiveram resultado semelhante ao nosso quando foi analisada a área e a trajetória do equilíbrio, mostrando que o grupo de atletas judocas apresentaram melhor regulação do equilíbrio do que o grupo controle.

    Segundo Perrin et al (2002), o grupo controle pode apresentar um menor equilíbrio, pois esses indivíduos realizam uma avaliação multisensorial para regular o seu desequilíbrio, sem uma clareza da entrada sensorial que vai prevalecer. Os mesmos autores sugerem que os indivíduos atletas têm um melhor controle postural, pois recebem diferentes estímulos sensoriais. Essa idéia vem ao encontro de nossos resultados, pois os atletas apresentaram melhor equilíbrio estático. Há também estudos que questionam o controle postural de atletas em diferentes modalidades, sugerindo que dependendo do esporte existe a predominância de uma entrada sensorial. No estudo de Perrin et al (2002) os resultados mostraram que dançarinas de ballet clássico dependem mais da entrada visual para a regulação da postura, assim como os atletas de judô privilegiam as aferências somatosensorias na manutenção do equilíbrio.

Conclusão

    Os resultados encontrados nessa investigação mostram que os atletas em repouso apresentam uma velocidade de deslocamento média e deslocamento radial médio do baricentro do corpo inferior ao grupo controle. Assim se sugere que indivíduos que não praticam atividade física apresentam menor equilíbrio.

Agradecimentos

    Ao treinador de atletismo Ramão Paz por ter disponibilizado seu atletas para nossa pesquisa.

Referências

  1. BRICOT, B. Posturologia. São Paulo: Ícone, 1999.

  2. BIENFAIT, M. Os Desequilíbrios Estáticos: fisiologia, patologia e tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus, 1995.

  3. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

  4. LEBIEDOWSKA, M. K.; SYCZEWSKA, M. Invariant Sway properties In: CHILDREN. Gait and Posture. England: n. 12, p. 200-4, 2000.

  5. NAGY, A.; TOTH, K.; HORVATH, G.; ANGYAN, L. Postural control in athletes participating in an ironman triathlon. Hungary: Eur J Appl Physiol, n. 92, p. 407-413, 2004.

  6. FANQUIN, A.; MELO, S.I.L.; PIRES, R. Comparação do equilíbrio entre atletas que treinam com calçado, descalços e não atletas. In: XI CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMECÂNICA. Anais. Brasil, 2005.

  7. VUILLERME, N.; TEASDALE, N.; NOUGIER, V. The effect of expertise in gymnastics on proprioceptive sensory integration in human subjects. Neuroscience Letters, p. 311, 2001.

  8. PERRIN, P. et al. Judo, better than dance, develops sensorimotor adaptabilities involved in balance control. Gait and Posture, p. 15, 2002.

  9. VUILLERME, N.; PINSAULT, N.; VAILLANT, J. Postural control during quiet standing following cervical muscular fatigue: effects of changes in sensory inputs. France: Elsevier, n. 378, p. 135-139, 2005.

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