Desvios na coluna vertebral em menores causados por trabalho com sobrecarga |
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Discente
do curso de Licenciatura Plena em Educação Física – UESB, (Brasil) |
Bruno Rodrigues Pires |
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Resumo O trabalho infantil é um problema social brasileiro que vem sendo passado de geração em geração, em que os menores são submetidos a trabalhos que deveriam ser feitos por adultos, pois são vistos como “solução” para os problemas econômicos e sociais de suas famílias. E
este trabalho pode estar acarretando uma sobrecarga sobre as estruturas
desses menores que ainda estão em desenvolvimento, assim podendo
implicar em danos a essas estruturas e ocasionar os desvios.
Unitermos: Trabalho
infantil. Coluna vertebral. Desvios posturais Abstract
The child labor is a social problem brazilian which comes being past from
generation to generation, where minors are submitted the labor which
Should be done by adults, Because they are seen as “solution” for the
economic problems and social of their families. And
this work may be causing an overload on the structures of these
minor who are still under development, so may result in damage to these
structures cause and deviations from.
Keywords: Child labor. Vertebral
column. Deviations posturals. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 120 - Mayo de 2008 |
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1. Introdução
A presença de crianças e adolescentes em ambientes de trabalho é citada em vários momentos na história da humanidade, porém, deve-se ressaltar que a concepção de trabalho infanto-juvenil entendida na conotação capitalista, será evidenciada no mundo, principalmente, a partir do processo de Revolução Industrial iniciada no século XVIII.
Segundo Priore (2004), no Brasil, já na embarcação dos portugueses rumo a este país no século XVI, crianças já faziam parte do contexto do trabalho, pois várias crianças eram embarcadas para exercerem a função de pequenos marujos, tal contexto demonstra que enquanto os ingleses procuraram suprir a falta de mão-de-obra adulta livre nos navios, utilizando escravos e negros alforriados, os portugueses optaram pela utilização de crianças.
A absorção de crianças e adolescentes no universo do trabalho demonstra que as políticas econômicas em voga privilegiam o mercado, em detrimento da integridade física e moral do indivíduo, já que estes são subjugados a aceitar as regras de dominância, pois vêem sua entrada no mundo do trabalho como uma possibilidade de driblarem a pobreza e a exclusão social à que estão sujeitos.
O trabalho infanto-juvenil é um fenômeno histórico, que ainda não foi superado totalmente pela humanidade, já que os imperativos que levam as crianças e adolescentes a ingressarem nesse universo ainda se colocam marcantes na vida das famílias e, principalmente, das crianças e adolescentes que são colocados como "solução" de um problema que deveria ser resolvido por adultos.
Sabendo que estas crianças estão em um processo de desenvolvimento maturacional, surgiu o interesse em estar apontando como este trabalho pode alterar as curvaturas da coluna caracterizando os desvios. Este trabalho tem como objetivo relacionar desvios na coluna vertebral em menores, com o trabalho infantil e mostrar o quanto é prejudicial o trabalho infantil ao desenvolvimento estrutural e postural, dando ênfase à coluna vertebral das crianças.
2. Caracterização dos desvios e alterações musculares
A coluna vertebral é composta por 33 vértebras sobrepostas umas as outras com a função de dar estrutura e absorção do peso corporal. De acordo com Moore & Dalley (2001) a coluna vertebral estende-se do crânio até o ápice (ponta) do cóccix. Um quarto é formado por discos fibrocartilagíneo, que separam e mantêm juntas as vértebras. Tem a função de proteger a medula espinhal e os nervos espinhais, suportar o peso do corpo, fornecer um eixo parcialmente rígido e flexível para o corpo e um pivô para a cabeça e exercer um papel importante na postura e locomoção.
Entende-se por postura o conjunto de posições que descrevem o estado ou formas adotadas pelo indivíduo num determinado tempo. Segundo Kendall et al. (1995) a postura é composta das posições de todas as articulações do corpo em um dado momento e o alinhamento postural estático se descreve em termos de posições de varias articulações e segmentos do corpo.
A postura pode ser boa ou má. Entende-se por boa postura um conjunto de posições onde as articulações estejam em harmonia e haja um bom alinhamento da coluna vertebral, pois de acordo com Kendall et al. (1995) o alinhamento esquelético ideal envolve uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, e conduz a eficiência máxima do corpo.
Uma boa postura, segundo Carnaval (1998) é aquela em que o indivíduo, em posição ortostática, exige pequeno esforço da musculatura e dos ligamentos para se manter nessa posição. Assim ele se encontra num melhor equilíbrio estático.
Temos como desvios da coluna vertebral:
Escoliose: é um desvio lateral, pode ser classificada em funcional ou estrutural, ou segundo outros estudiosos: congênita, do bebê, idiopática, paralítica, estática, cicatrizes, pós-traumáticas, antálgica, doenças de sistemas e histérica (Fischinger, 1984).
Destas a mais comum entre crianças e adolescentes é a idiopática (Stanger, 2002). E se classifica em:
Simples – apresenta uma única curvatura em uma das regiões da coluna vertebral. É causada pela hipertrofia da musculatura da região específica. Pode ser: Escoliose Dorsal ou Torácica Direita, Escoliose Dorsal ou Torácica Esquerda, Escoliose Lombar Direita e Escoliose Lombar Esquerda.
Total – com apenas uma curvatura que abrange mais de uma região da coluna vertebral. Causada pela hipertrofia da musculatura lateral da coluna vertebral. Pode ser: Escoliose Total Direita ou Esquerda.
Dupla e Tripla – apresentam duas ou três curvaturas em cada região da coluna vertebral. Causada pela compensação da escoliose simples. Classifica-se em: Escoliose Dorsal Esquerda Lombar Direita, Escoliose Dorsal Direita Lombar Esquerda, Escoliose Cervical Direita Dorsal Esquerda Lombar Direita e Escoliose Cervical Esquerda Dorsal Direita Lombar Esquerda (Carnaval, 1998).
Hipercifose ou cifose: é uma deformidade da convexidade posterior da coluna torácica e encontra-se aumentada. As causas principais são:
Tuberculose de coluna vertebral;
Fratura vertebral compressiva não-reduzida;
Osteocondríte de Scheurmann;
Espandilite anquilosante;
Osteoporose senil e
Tumor de coluna vertebral. (Adams, 1978).
Hiperlordose ou lordose: deformidade oposta a cifose onde a curvatura normal na região lombar está exagerada. As principais causas são: os distúrbios espinhais e deformidade postural (Adams, 1978).
Hiperlordose Cervical – curva acentuada da coluna cervical, que é causada pela hipertrofia da musculatura extensora do pescoço;
Hipercifose Dorsal – acentuação da curvatura da coluna dorsal, causada pela hipertrofia da musculatura anterior do tórax;
Hiperlordose Lombar – acentuação da curvatura da coluna lombar é causada pela hipertrofia da musculatura lombar;
Costa Plana – diminuição das curvaturas normais da coluna vertebral, causada pela hipertrofia da musculatura abdominal (Carnaval, 1998).
Esses desvios podem ser ocasionados pela má utilização dos músculos, ocasionando contraturas, atrofias, encurtamentos adaptativos musculares gerando fraqueza que pode ser também causada pelo estiramento do músculo (Kendall, 1995).
3. Implicações do trabalho infantil na coluna vertebral
Nosso corpo é formado por um sistema de alavancas que são movidas por um eficiente sistema motor. Esse sistema é composto por músculos que além do papel de promover a mobilidade através de suas contrações a essas alavancas que tem como ponto de apoio as articulações fazem também um papel muito importante que é o de estabilizá-las para que nos mantenham em uma boa postura.
A coluna vertebral é um conjunto de vértebras sobrepostas umas sobre as outras, desta forma temos também um conjunto de articulações sobrepostas que tem por mobilidade os movimentos de flexão, extensão, hiperextensão, rotação, flexão lateral e circundução, mas cada articulação se limita em apenas alguns graus para cada movimento. Estes movimentos variam de amplitude entre as regiões da coluna (Campos, 2000).
A manutenção da posição ereta só é possível devido a ação do potencial dos músculos intrínsecos espinhais e sem a existência dos reflexos alternados de refinada coordenação. A contração excessiva de um grupo de músculos intrínsecos caso não seja corrigida provoca a contração antagônica aos intrínsecos das regiões próximas, com as quais mantém relação postural crâneo-pélvica. (Fischinger, 1984) .
Essa ação dos músculos vem a ser reforçada por Knoplich (1989), quando afirma que as manobras para posição ereta só foram possíveis pelo aparecimento das curvas lordóticas, secundárias, na região cervical e na lombossacra; nisto desempenhou papel fundamental a massa muscular, por desenvolver uma força antigravitacional poderosa, que permitiu aos primitivos seres antropóides erguer-se do chão, adquirir a postura ereta, mantê-la e andar. Esses atos voluntários eram comandados pelo sistema nervoso central, e, com o passar dos séculos, transformaram-se em atos regulados pelo sistema nervoso.
Então, vendo que as crianças não vêm sendo tratadas com tal e sim vista como um pequeno adulto e são exploradas em sua mão de obra como se fossem verdadeiros adultos.
A sobracarga do trabalho de um adulto é posto em uma estrutura ainda em formação pode estar prejudicando as estruturas da coluna. Pois segundo Dezan et al. (2004) durante a prática de exercícios onde é exigida uma grande força e potência dos músculos flexores do quadril, movimentos de flexão do quadril a fim de abaixar o centro de massa e aumentar a estabilidade, têm sido descritos como prejudiciais à coluna vertebral devido à sobrecarga imposta sobre as unidades funcionais da coluna. E que a solicitação física desproporcional entre os músculos antagonistas do quadril (flexores e extensores) pode favorecer o desenvolvimento de desequilíbrios das forças geradas pelos músculos que atuam ao redor da cintura pélvica alterando o ângulo de inclinação pélvica. Este aumento no ângulo de inclinação pélvica tem sido descrito como um dos principais fatores desencadeantes de alterações posturais na coluna vertebral. E esta é a condição que vemos no dia-a-dia dessas crianças que trabalham carregando feira, capinando, em olarias amassando e carregando barro para a construção de tijolos e telhas e as meninas que desde muito novas assumem o papel de babás onde colocam em seus colos outras crianças, criando dessa forma uma grande sobrecarga.
E por se tratar de crianças esses fatores podem se agravar ainda mais visto que estão em crescimento e suas estruturas ainda não estão totalmente maduras. Pois segundo Weineck (1991) a massa muscular da criança é menor que a de um adulto cerca de 27%, a capacidade anaeróbica só chega ao seu ápice entre os 20-30 anos, e os ligamentos e tendões ainda estão imaturos e não se desenvolvem na mesma velocidade do músculos que se adaptam rápido aos esforços.
4. Conclusão
A submissão de crianças ao trabalho é um fenômeno presente em nossa sociedade reforçado pelas condições sociais de suas famílias.
E esta situação passa despercebido por conta da cultura de nossa sociedade que insiste em ver nas crianças, pequenos adultos.
Por conta disso deixamos de cobrar os nossos direitos como cidadãos, de ter uma vida digna e emprego, “não trabalho”, aos “adultos” que são os quem devem realmente assumir as responsabilidades da família. E dessa forma diretamente ou indiretamente submetemos as nossas crianças a esta situação aonde vimos que:
O trabalho infantil com sobrecarga em que se utiliza a força pode ocasionar estas alterações musculares, pois o trabalho intenso pode causar fadiga, com isso o sistema neuromuscular perde sua habilidade
para controlar as forças impostas sobre o sistema. Resultando numa alteração na mecânica do movimento e uma mudança nas responsabilidades das cargas que absorvem o choque. Desta forma provocando lesões no músculo esquelético que geralmente são micro lesões nas fibras musculares que causam dor, dor muscular tardia, edema e possíveis deformidades anatômicas (Hamill e Knutzen, 1999).Com essas lesões e desvios posturais estas crianças tendem a se tornarem adultos doentes com comprometimento em sua mobilidade devido às conseqüências como, hérnias, lombalgias, encurtamento muscular e outras implicações.
Referências bibliográficas
ADAMS, J. C. Manual de Ortopedia. 8ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 1978.
CAMPOS, M A. Biomecânica da Musculação. Rio de Janeiro, Sprint, 2000.
CARNAVAL, P. E. Medidas e Avaliação, em ciências do esporte. 4ªed.Rio de Janeiro: SPRINT,1998.
DEZAN, V. H., SARRAF, T. A., RODACKI, A. L. F. Alterações Posturais, Desequilíbrios Musculares e Lombalgias em Atletas de Luta Olímpica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília v12. p35-38. jan/mar. 2004
FISCHINGER, B. Escoliose em Fisioterapia. São Paulo: PANAMED Editorial, 1984.
HAMILL, J.; KNUTZEN, M. K. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. 1ª ed. São Paulo: Ed. Manole, 1999.
KENDALL, F.P.; McCREARY, E.K.; PROVANCE, P.G. Músculos, provas e funções. 4ª ed. São Paulo: Ed. Manole, 1995.
KNOPLICH. J. Endireite as Costas: Desvios da coluna – Exercícios e Prevenção. 5ªed. São Paulo: IBRASA, 1989.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia Orientada para Clínica. 4ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001
PRIORE, M D (org). História das crianças no Brasil. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
STANGER, M. Tratamento Ortopédico. IN: TECKLIN, J.S. Fisioterapia Pediátrica. 3ªed. Porto Alegre: Artmed, 2002
WEINECK, J. Biologia do Esporte: J. Weineck. 1ªed. São Paulo: Manole, 1991
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