Alterações glicêmicas agudas em diabéticos tipo 1 após uma sessão de exercícios resistidos |
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*Mestrando em Saúde e
Desenvolvimento da Região Centro-Oeste **Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) ***Mestre em
Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), (Brasil) |
Brunno Elias Ferreira* Erika Alves Morel** Paulo Henrique Azuaga Braga*** |
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Resumo
Diabetes Mellitus é uma doença
crônico-degenerativa com recorrentes casos de hiperglicemia. O Diabetes
Mellitus tipo 1 representa 8-10% dos casos diagnosticados de diabetes e
normalmente é associado a destruição auto-imune das células beta
pancreáticas produtoras do hormônio insulina, responsável pelo
controle da glicemia em níveis normais. Estudos mostram que o exercício
físico pode diminuir a concentração de glicose, mas os estudos sobre
os exercícios resistidos nos diabéticos tipo 1 são poucos para um
efetivo ingresso, sucesso e fidelização do diabético nessa modalidade.
Com o objetivo de analisar as alterações glicêmicas após uma única
sessão de exercício resistidos, seis diabéticos tipo 1 (38,7 ± 2,3
anos, IMC 24,2 ± 1,5 kg/m2, 23,8 ± 2,8% de gordura, hemoglobina
glicosilada 9 ± 0,7% e 17,2 ± 2,3 anos de diagnóstico de diabetes) se
submeteram a uma sessão prescrita a 65% da Uma Repetição Máxima. Os
participantes estavam em jejum e ingeriram 70 gramas de carboidratos com
índice glicêmico de 75, então ficaram em repouso por 40 minutos e
iniciaram a sessão. Foram feitas três coletas de glicemia: jejum (132,8
± 5,6 mg/dl), glicemia antes dos exercícios (354,3 ± 15,3 mg/dl) e
glicemia após os exercícios (275,8 ± 17,9 mg/dl). A comparação das
médias das glicemias, que tiveram queda de 22,2 ± 3%, resultaram em p =
0,001 (nível de significância de p ≤ 0,05). Os resultados indicam
que a queda aguda na glicemia pode auxiliar os diabéticos tipo 1 no
controle glicêmico.
Unitermos:
Diabetes Mellitus. Exercício físico. Musculação. Glicemia. Insulina. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 120 - Mayo de 2008 |
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Introdução
O processo de urbanização, automação das máquinas e desenvolvimento da ciência promovido no decorrer do século XX e crescente no século XXI permitiu a eliminação ou controle de várias doenças viróticas, mas abriram portas para as doenças com transmissão genética ou advindas da longevidade, as doenças crônicas. Roberts e Barnard (2005) mostram que as doenças crônicas são as líderes de causas de morte na sociedade ocidental e estão crescendo nos países em desenvolvimento. O Diabetes Mellitus (DM) é tido como uma epidemia em curso. A Sociedade Brasileira de Diabetes (2006) mostra que a epidemia está em crescente evolução, sendo que em 1985 estimava-se 30 milhões de adultos diabéticos no mundo, número que aumentou em 1995 para 135 milhões, em 2002 para 173 milhões e tem projeção para 2030 de 300 milhões de diabéticos.
Fortemente ligada aos hábitos de vida, o DM traz principalmente complicações metabólicas (URSICH et al, 1992), mas ainda afeta o portador com problemas psicossociais (MOREIRA et al, 2003) e crônicos (WAJCHENBERG, 1992). Ela é uma doença crônico-degenerativa com recorrentes casos de hiperglicemia, inerente às várias manifestações da doença (DIB et al, 1992). Se a glicose sanguínea não for controlada, além da complicação metabólica, podem-se agravar os outros sistemas do organismo, como o cardiovascular, renal e nervoso (ZIMMERMAN e WALKER, 2002).
O DM tem sido estudado com profundidade, contando com especial atenção de órgãos internacionalmente conhecidos, como American College of Sports Medicine (2007) e o American Diabetes Association (2004). O intuito dos estudos é conhecer as fontes da doença e oferecer tratamentos eficazes melhorando a vida do portador. Atualmente o tratamento consiste em três métodos: administração de insulina exógena; controle dietético regulando a oferta de glicose e evitando sobrecarga do pâncreas; e exercício físico, promovendo a diminuição da glicemia.
Diabetes Mellitus
O DM é um conjunto de disfunções metabólicas crônicas caracterizadas por hiperglicemia, complicação inerente as várias manifestações da doença, resultando na deficiência na secreção de insulina, na sua reduzida ação ou dos dois fatores (PEIRCE, 1999). A patologia afeta o metabolismo dos lipídeos, proteínas e principalmente carboidratos. Comumente, os problemas que surgem com a eclosão do diabetes são intolerância à glicose, resistência à insulina ou mesmo a pouca ou inexistente produção de insulina (COMMITTEE REPORT, 2003).
O DM está intimamente ligado ao pâncreas, glândula situada logo abaixo do estômago. Esta glândula tem importância para o sistema gastrointestinal e endócrino. Para o primeiro, o pâncreas secreta os sucos digestivos no lúmen intestinal, para o segundo secreta o hormônio glucagon através das células alfa e a insulina através das células beta (POWERS e HOWLEY, 2000).
O diagnóstico do DM é feito através de testes que usam a concentração de glicose no sangue, a glicemia (DIB et al, 1992). A Sociedade Brasileira de Diabetes (2006), através de suas diretrizes construídas sobre as referências da American Diabetes Association, tem o diagnóstico do DM em três critérios: sintomas clássicos (poliúria, polidpsia, etc) e glicemia casual maior que 200 mg/dl; glicemia de jejum igual ou acima de 126 mg/dl; e glicemia acima de 200 mg/dl duas horas após administração de 75 gramas de glicose. O diagnóstico só é confirmado após repetição do teste em outro dia.
O DM tem diferentes classificações, segundo sua etiologia (COMMITTEE REPORT, 2003): Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1), tipo 2, gestacional ou outros tipos específicos. Este trabalho se foca no DM1, abordado a seguir.
Diabetes Mellitus Tipo 1
O DM1 caracteriza-se pela deficiência absoluta de insulina, causada na maioria dos casos por um processo auto-imune que destrói as células que secretam o hormônio (NOTKINS, 2002; DE ANGELIS et al, 2006). Seu aparecimento se dá em qualquer idade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2006), mas a maioria dos diagnósticos acontece por volta dos 11-14 anos (DIB et al, 1992). O DM1 representa 8-10% dos casos diagnosticados de DM (DE ANGELIS et al, 2006). Normalmente o portador do tipo 1 não tem outra doença paralela, logo é possível controlar os efeitos da doença com maior eficácia e levar a vida com qualidade
, apesar de algumas restrições (SEIDL e ZANNON, 2004).O DM1 possui um risco de mortalidade aumentado conforme Dib (2006), quando comparado a população geral, em parte devido às doenças cardiovasculares. Isso se dá pelo excesso de glicose circulante na corrente sanguínea, o que leva a complicações como doenças coronarianas, nefropatia, neuropatias, hipertensão e dislipidemia (DE ANGELIS et al, 2006). Dib (2006) ainda coloca dois novos pontos sobre a doença: o aumento da prevalência da obesidade na adolescência é um complicador, que leva a resistência insulínica cada vez mais cedo e a possibilidade de se fazer o diagnóstico do DM1 de maneira precoce oferece tratamento com maior eficácia, o que adia as complicações. De Angelis et al (2006) apontam para casos de DM1 diagnosticados em crianças de 5 anos.
Sarnblad et al (2005) estudaram o nível de atividade física, ingesta alimentar e controle glicêmico em 26 garotas diabéticas do tipo 1. Os autores apontaram como justificativa para o estudo o constante descontrole glicêmico com a chegada da puberdade, independente da eficácia da insulina utilizada. Foram analisados os níveis de atividade física e ingesta alimentar durante sete dias, e os resultados comparados com o grupo controle, que continha 49 garotas com a mesma idade média e perfil antropométrico. O grupo diabético não apresentou diferença estatisticamente significante quando comparado com o controle no quesito ingesta. Já no nível atividade física, o grupo diabético apresentou forte tendência a inatividade, mostrado através de um nível muito inferior ao controle. Os autores concordam com Dib (2006), que aponta a crescente obesidade no momento da eclosão do DM1, que pode ser causada pela inatividade física. Marrero (2005) afirma que o exercício auxilia na manutenção no controle glicêmico, evitando ou amenizando complicações desde que levando em conta os riscos e cuidados na presença de retinopatia, nefropatia e neuropatias. Falta de tempo e estímulo para a prática são os motivos mais citados (SANTANA et al, 2006).
Há quase duas décadas Santana et al (2006) apontam a motivação como fator importante para a prática de exercícios entre diabéticos. Huttunen et al (1989) estudaram 32 crianças diabéticas tipo 1 (11,9 anos), divididas em dois grupos: o grupo exercício que se engajou um programa de atividade física por três meses, sendo uma sessão semanal de uma hora, e um grupo inativo. Quando o grupo exercício foi comparado com o inativo, obteve aumento no pico de consumo de oxigênio, apesar de não ter tido melhora significativa no controle glicêmico representado pela hemoglobina glicosilada. Os diabético mais motivados a participar foram os que obtiveram as melhoras mais significativas. Já Khawali et al (2003) analisaram o perfil lipídico de 46 jovens (15 ± 1,5 anos) com DM1 controlado (hemoglobina glicosilada 6,9 ± 1,3%) submetidos a um programa de dieta e exercício físico por oito dias. No início do programa 65% dos participantes apresentaram colesterol total ≥ 160 mg/dl, enquanto no final apenas 38% desses participantes continuaram nesse patamar. Quanto ao LDL-colesterol, 67% apresentaram valores maiores que 100mg/dl no início, e no final apenas 24% continuaram acima desse nível. Os autores concluem que a atividade física tem importante papel na manutenção de níveis saudáveis de colesterol em jovens diabéticos tipo1.
Grande parte dos estudos sobre diabéticos tipo 1 em exercício utilizam exercícios aeróbios para discutir as modificações glicêmicas. Em diabéticos tipo 2, os exercícios resistidos foram estudados isoladamente (CASTANEDA et al, 2002; CAMBRI e SANTOS, 2005; CAUZA et al, 2005) ou em associação com exercícios aeróbios (SILVA e LIMA, 2002) e se encontrou boas evidências para a utilização dessa modalidade no controle metabólico dessa população: redução da hemoglobina glicosilada dependendo do tempo de análise das pesquisas, sendo que esse padrão configura o controle glicêmico dos últimos três meses (ZIMMERMAN e WALKER, 2002); redução da dose de remédios para controle da doença; diminuição da resistência insulínica; melhora no perfil lipídico e controle de peso corporal. Como os estudos em diabéticos tipo 1 com intervenção através de exercícios resistidos são poucos, o que dificulta o engajamento dessa população nessa modalidade de exercícios, é preciso aumentar as descobertas sobre as alterações glicêmicas em diabéticos tipo 1 no exercício resistido.
Objetivo
O objetivo deste estudo foi verificar as alterações glicêmicas após uma sessão de exercícios resistidos em portadores de DM1; e com isso verificar se elas são benéficas para os portadores, através da diminuição da glicemia, e se são significantes.
Matériais e métodos
A população alvo deste estudo foram diabéticos do tipo 1, com mais de cinco anos de diagnóstico da doença, o que significa plena instalação da patologia (ZIMMERMAN e WALKER, 2002), maiores de 18 anos e sem outra complicação paralela (retinopatia, hipertensão arterial...).
Foram voluntários para este estudo seis homens diabéticos tipo 1, com 38,7 ± 2,3 anos, IMC 24,2 ± 1,5 kg/m2, percentual de gordura de 23,8 ± 2,8%, hemoglobina glicosilada 9 ± 0,7% e 17,2 ± 2,3 anos de diagnóstico de DM1. Todos os participantes tiveram liberação do médico endocrinologista responsável para participação neste estudo, e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, onde continham os dados da pesquisa, seus riscos e benefícios. Os participantes estavam utilizando a insulina do tipo lenta com aplicação no período da manhã. A liberação do médico endocrinologista permitiu que o diabético não utilizasse a insulina no dia da pesquisa.
Os participantes já tinham experiência prévia com exercícios resistidos (musculação), mas foram classificados como moderadamente ativos pelo Questionário de Atividades Físicas Habituais (NAHAS, 2001), tornando a população hegemônica.
Para adaptação aos exercícios utilizados na pesquisa foram realizadas seis sessões utilizando o local onde seriam realizadas as coletas de dados. Os exercícios utilizados foram: puxada alta, cadeira extensora, supino reto guiado, leg press, mesa flexora, rosca bíceps direta, flexão plantar em pé e tríceps na polia alta. Foi adotado o método direto, com três séries para cada exercício com 10-12 repetições.
Os exercícios da sessão foram prescritos a 65% da Uma Repetição Máxima (1RM) através de protocolo sugerido por Bompa (2001). O teste foi realizado na 6ª sessão de adaptação.
No dia anterior a sessão de coleta de dados os participantes foram instruídos a não consumir álcool, manter a ingesta alimentar normal e não consumir nenhum alimento após ir se deitar. Na manhã da coleta não deveriam administrar a insulina e não deveriam ingerir nenhum alimento a não ser o oferecido pelos pesquisadores. Todos os participantes tiveram de 8-9 horas de sono antes da coleta de dados.
A sessão de coleta consistiu nos seguintes procedimentos: coleta da glicemia de jejum; administração de carboidratos; repouso; coleta da glicemia após o repouso (GLIC1); alongamento ativo e sessão de exercícios resistidos; coleta da glicemia após os exercícios (GLIC2); e alongamento passivo.
Todas as coletas foram feitas por avaliador treinado que, após assepsia local, lancetava o dedo do participante com material descartável e coletava uma gota de sangue. As coletas das glicemias capilares foram analisadas imediatamente por glicosímetro digital MediSense Optium e fita descartável MediSense Blood Glucose Sensor Electrode (Abbott Laboratories, UK). A administração de alimentos foi feita em jejum com 70 gramas de carboidratos com índice glicêmico de 75. O repouso para estabilização da glicemia foi feito no local da coleta por 40 minutos. Toda a sessão foi supervisionada por um professor de Educação Física com experiência em exercícios resistidos.
A análise estatística foi feita através de teste descritivo e teste t de student para amostras dependentes com valor de significância de p < 0,05. Foi utilizado o software SPSS 13.0 for Windows.
Resultados e discussão
A sessão de exercícios resistidos teve a duração de uma hora entre a coleta da GLIC1 e o alongamento passivo. Os resultados encontrados estão na tabela 1.
Tabela 1. Resultados obtidos nas coletas de glicemia capilar de jejum, antes dos exercícios (GLIC1), após os exercícios (GLIC2) e o percentual de redução.
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Média |
Desvio-padrão |
Glicemia de jejum (mg/dl) |
132,8 |
5,6 |
GLIC1 (mg/dl) |
354,3 |
15,3 |
GLIC2 (mg/dl) |
275,8 |
17,9 |
Percentual de redução (%) |
22,2 |
3 |
A glicemia de jejum em 132,8 ± 5,6 mg/dl mostra a falta da insulina e a dificuldade em manter o controle glicêmico. A Sociedade Brasileiras de Diabetes (2006) preconiza como concentração de glicose sanguínea aceitável menor que 100 mg/dl. A hemoglobina glicosilada de 9 ± 0,7% mostra uma glicemia média nos últimos três meses de 210 mg/dl, caracterizando uma instabilidade nesse parâmetro (ZIMMERMAN e WALKER, 2002).
A administração de carboidratos antes do exercício provocou um aumento esperado na glicemia, alcançando média de 354,3 ± 15,3 mg/dl. Aumento encontrado em outro estudo com diabéticos (ANDRADE et al, 2005) e população normal (SAPATA et al, 2006; FRANCA et al, 2007). Em pessoas com ação insulínica normal, é possível ver um ajuste glicêmico 30 minutos após a ingesta de carboidratos, como estudado por Franca et al (2007) que utilizou 25 gramas de carboidratos com índice glicêmico de 56. O pâncreas é estimulado a liberar insulina quando aumenta a concentração de glicose na corrente sanguínea (GOODMAN, 2001).
Os resultados obtidos mostraram queda de 354.3 ± 15.3 mg/dl da GLIC1 para 275.8 ± 17.9 mg/dl da GLIC2, o que representa uma queda de 22.2 ± 3%. O teste t de student revelou valor de p = 0,001, mostrando diferença significante entre as médias de GLIC1 e GLIC2. Quedas na glicemia durante o exercício com diabéticos tipo 1 também foram encontradas por Andrade et al (2005), que administraram bebida com 6% de carboidrato e placebo em grupo de adolescentes (15,3 ± 2,4 anos). Os participantes realizaram uma hora de exercício em cicloergômetro, e os a autores concluíram que a bebida com carboidrato atenuou a queda glicêmica, e a mesma ocorreu nos dois grupos.
De Angelis et al (2006) apontam como efeitos dos exercícios no metabolismo do diabético tipo 1 a melhora da ação insulínica, que ocorre principalmente pela maior expressão e translocação de GLUT-4 (proteína transportadora de glicose dependente de insulina) do centro para a membrana celular. Essa proteína está presente nas células do músculo cardíaco, esquelético e tecido adiposo (PEREIRA e SOUZA JUNIOR, 2007). A ingesta de carboidratos eleva a concentração de glicose no sangue, o que provoca a liberação do hormônio e a entrada do substrato nas células (JAMES e PIPER, 1994). No diabético tipo 1 a insulina não é secretada ou é ineficiente, o que leva o portador a administrar o hormônio através de rotinas prescritas pelo médico endocrinologista. Dohm (2002) aponta que o GLUT-4 também pode ser estimulado por contração muscular. Kraniou et al (2006) concluiram que a concentração celular de GLUT-4 aumenta rapidamente com o treinamento e diminui com o destreinamento. Essas descobertas corroboram a afirmação de Fleck e Kraemer (2006) sobre o fenômeno do destreinamento, que é um descondicionamento que afeta as capacidades fisiológicas.
A intensidade utilizada foi de 65% da 1RM, o que representa um treino de resistência muscular localizada e é próximo do preconizado pelo American College of Sports Medicine (2007) para populações diabéticas. O controle glicêmico tem importante papel durante o exercício. Simões (2000) aponta o controle da glicemia como fator para a prescrição de treinamento em atletas, o chamado limiar glicêmico, já que a glicemia tem relação com a intensidade do exercício. Sobre esse ponto, Franca et al (2007) estudaram o comportamento glicêmico em indivíduos saudáveis durante o exercício resistido em duas intensidades diferentes. O estudo consistiu em duas sessões de exercícios resistidos, sendo a primeira prescrita com 10 a 12 repetições máximas e a segunda com o mesmo número de repetições, mas a 60% da 1RM. O estudo coletou a glicemia em jejum, outra coleta 30 minutos após ingesta de 25g de carboidratos e mais cinco coletas durante a sessão. Os mesmos indivíduos realizaram os dois treinos com 48 horas de intervalo. Quando as sessões foram comparadas, a sessão com as repetições máximas manteve a glicemia sempre acima da sessão com 60% da 1RM. Os exercícios resistidos são prioritariamente anaeróbios, o que leva a uma atividade glicolítica intensa (POWERS e HOWLEY, 2000), logo os autores apontam que a alta intensidade de exercícios pode ativar os hormônios contra-reguladores da insulina, que disponibilizarão glicose para fins energéticos durante os exercícios.
Considerações finais e implicações práticas
Os exercícios resistidos prescritos a 65% da 1RM são capazes de provocar diminuição significativa na glicemia de diabéticos tipo 1 após uma sessão. Como o tratamento do DM constitui-se em métodos para controlar a glicemia em níveis próximos aos normais, essa modalidade de exercícios deve se mostrar eficaz na diminuição e conseqüente controle em longo prazo. Uma das complicações do DM é a hipoglicemia que acontece de maneira aguda como resposta ao exercício. Campos (2001) aconselha fazer suplementação de carboidratos para que a queda não seja a ponto de induzir uma hipoglicemia no diabético.
A carga utilizada foi de 65% da 1RM, o que constitui um trabalho de resistência muscular localizada. O diabético sofre o risco de desenvolver complicações, entre eles a hipertensão arterial e a retinopatia com descolamento da retina. Exercícios resistidos podem levar a essas complicações pelo aumento da pressão interna, dessa maneira essa faixa de prescrição parece ser mais segura (CAMPOS, 2001; PÁDUA et al, 2007). Esses riscos obrigam os professores de Educação Física efetuarem
um constante aprimoramento na prescrição de treinamento físico (DULLIUS e LÓPEZ, 2003), buscando formas de oferecer benefícios aos praticantes com o mínimo de riscos.A queda na glicemia após uma sessão de exercícios resistidos prescritos a 65% da 1RM aproxima mais o exercício do tratamento do diabético. Contudo, os dados na literatura em geral ainda são poucos quanto ao diabético tipo 1 em exercício. Alguns caminhos para futuras pesquisas incluem estudos sobre a manutenção glicêmica em longo prazo, com uso da hemoglobina glicosilada para controle e comparação dos efeitos dos exercícios aeróbios e resistidos nessa mesma população. Por se tratar de uma doença crônica, o objetivo dos estudos deve ser de melhorar a relação do diabético tipo 1 com a doença, promovendo maior expectativa de vida e com qualidade.
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Outros artigos em Portugués
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