Alberto Latorre de Faria: 100 anos. Contribuições da história de vida para pensar a Educação Física brasileira |
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Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Brasil) |
Prof. Dr. Victor Andrade de Melo victor.a.melo@uol.com.br |
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Esse artigo foi originariamente publicado no livro "Historia Oral aplicada à Educação Física", publicado no ano de 1998. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 120 - Mayo de 2008 |
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Introdução
De igual importância é o fato de que precisamos saber como as idéias públicas e coletivas interagem, em nível individual (...) ou na modelação de atitudes pela família, por amigos e meios de comunicação, e mediante a experiência pessoal na infância e na idade adulta, para constituir aquelas milhares de decisões que cumulativamente não só dão forma a cada história de vida, mas constituem também, o rumo e a dimensão de mudança social mais ampla (Thompson, 1993, p. 330).
Aos 28 dias de março de 1908 nascia na cidade de Cachoeira (Bahia) o terceiro filho de Luís Latorre de Faria e Almerinda Peixoto de Faria. Chamaram-no Alberto. Alberto Latorre de Faria.
O menino do interior da Bahia veio para o Rio de Janeiro, foi lutador de boxe e de vale-tudo, como militar serviu na Escola de Infantaria, se envolveu com os primeiros momentos de sistematização mais efetiva da Educação Física brasileira, foi auxiliar do Major Pierre de Seguir na Escola Militar e nos primeiros cursos que ministrou no Brasil, foi professor do Curso de Emergência de 1938, escreveu um dos primeiros livros brasileiros sobre defesa pessoal, foi professor fundador da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (cadeira de Desportos de Ataque e Defesa), viajou por vários países do mundo representando o Brasil e a Escola, foi diretor daquela instituição, membro da Congregação e do Conselho Universitário da Universidade do Brasil, apoiou abertamente a greve dos estudantes da ENEFD em 1956/57, foi aluno e membro do ISEB, esteve ligado ao Partido Socialista Brasileiro, teve seus direitos cassados pelo Ato Institucional número 5, foi membro fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT) em 1982, entre muitas outras ações. Esse quadro, sem dúvida, dá a noção de como Alberto é uma das figuras mais interessantes da história da Educação Física no Brasil.
Tive a oportunidade (e o orgulho) de conhecê-lo bem de perto por ocasião da confecção de minha memória de licenciatura, cujo tema era exatamente as contribuições do prof. Latorre para a Educação Física brasileira. Foram seis meses de encontros semanais, muitas fitas gravadas, conversas deliciosas que culminaram com uma monografia sobre sua vida (Melo, 1993). Foi na época uma experiência fundamental para um jovem pesquisador em início de carreira, cheio de sonhos e boa vontade.
No ano em que Alberto Latorre de Faria completa 100 anos de vida, esse artigo tem como um de seus intuitos homenagear tão importante figura de nossa história. Mas não pretende ser uma homenagem pelo simples prazer de fazê-lo. Pretende discutir algumas contribuições desse professor para a Educação Física brasileira, em sua bastante peculiar trajetória de vida, recuperando e reorientando algumas considerações traçadas na construção de sua biografia.
Prof. Waldemar Areno, Diretor da E.N.E.F.D. e o Prof. Alberto Latorre de Farias. Profa. Kimie Kihara ao centro. Curso de Judô Feminino, 1961.
Acervo del Centro de Memoria de la Escuela de Educacion Fisica/UFRJMais ainda, pretendo discutir alguns possíveis caminhos para o estudo da história da Educação Física brasileira a partir das histórias de vida. Será que a vida de um indivíduo pode nos ajudar a compreender historicamente nossa área de conhecimento? De que forma? Não seria muito limitado pensar na dimensão histórica de uma área de conhecimento somente a partir de um indivíduo? Essas são algumas questões que pretendo também abordar no decorrer desse artigo.
Creio que tal compreensão seja de grande importância, pois se chegarmos à conclusão que as trajetórias individuais podem ser relevantes para ampliar nossa compreensão sobre a Educação Física brasileira, devemos urgentemente começar a nos preocupar com trabalhos dessa natureza, principalmente se considerarmos que o depoimento oral pode ser de grande utilidade. Cabe lembrar que figuras importantes de nosso passado têm falecido com freqüência, sem que sequer tenhamos colhido seu depoimento, suas apreensões, suas compreensões. Ainda mais: sem prestar as devidas homenagens a pessoas que, independente de opções teóricas e visões de mundo diferenciadas, muito contribuíram para o nosso atual estágio de desenvolvimento.
Biografias: uma possibilidade para o estudo da história?Seria a trajetória de um indivíduo interessante para nos permitir compreender melhor um determinado objeto de estudo? Ou seria a própria trajetória individual o alvo do estudo, por si só, sem injunções maiores? Alvo de muitas desconfianças entre os historiadores, as biografias, entretanto, seguem ganhando espaço. Talvez porque, como afirma Giovani Levi (1996):
a maioria das questões metodológicas da historiografia contemporânea diz respeito à biografia, sobretudo as relações com as ciências sociais, os problemas de escalas de análise e das relações entre regras e práticas, bem como aqueles, mais complexos, referentes aos limites da liberdade e da racionalidade humana (p.168).
Parece-me adequado adotarmos uma postura de equilíbrio entre os diversos questionamentos que permeiam as possibilidades da biografia. Ainda mais, assumirmos claramente os seus limites, para que também possamos ressaltar suas potencialidades. Se a macro-estrutura coloca determinantes para qualquer indivíduo, não significa que ele não tenha o poder de subverter e optar por caminhos diferenciados. Tampouco significa que essa opção é fácil e instantânea, tendo que ser construída no decorrer de sua vida. Assim, o que mais nos interessa seria compreender não somente o macro ou o micro, mas de que forma se estabelecem tais relações.
No caso de Alberto, podemos perceber facilmente os trânsitos e tensões. Embora ex-militar, ex-boxeador e partícipe ativo da elaboração dos pressupostos teóricos da Educação Física na década de 1930, no decorrer de sua vida foi construindo outro caminho, que mesmo o diferenciou da maioria de seus pares: fez críticas às influências militares na Educação Física, criticou a violência excessiva no boxe e se envolveu com movimentos e partidos de esquerda, o que lhe causou problemas com o governo militar golpista de 1964.
Apesar dessa mudança, Alberto sempre carregou algumas marcas indeléveis de suas origens. Por exemplo, embora fosse grande sua ligação com os alunos e sua vontade de repensar a Educação Física brasileira, suas aulas em alguns aspectos não se diferenciavam muito dos padrões tradicionais. Embora tivesse escrito muitos artigos sobre os problemas da violência no boxe, alguns alunos reclamavam que em suas aulas a agressividade era denotada. Essas são ambigüidades que nos dias de hoje nos saltam aos olhos, mas na época não eram plenamente identificadas por um ser humano em mudança constante. E se não podemos nos furtar a comentar e criticar, não devemos considerá-las estritamente a partir de pressupostos hodiernos.
Logo, creio que também devemos nos abster de querer estudar isoladamente a vida de um indivíduo, tanto por sua irredutibilidade (a originalidade de sua vida, seus pensamentos, suas ações) quanto por sua coerência com as idéias do sistema. Mas valioso seria compreender como/quando/por que cada indivíduo foi original e quando também não o foi, procurando analisar suas contribuições entre tais dimensões. Especificamente na vida de Alberto, é muito esclarecedora a sua mudança paulatina, fruto de um ambiente nacional de questionamento, mas também de um ambiente de trabalho em plena efervescência.
Kevin B. Wasley (1997) observa que lamentavelmente isso não tem sido muito considerado nas histórias individuais no âmbito da História da Educação Física e do Esporte. Para o autor, grande parte dos estudos biográficos tem se limitado a se centrar somente na figura do biografado, desconsiderando as injunções ao seu redor: "Contudo, esforços no discernimento das influências das estruturas sociais significantes (...) permanecem limitados. Poder e privilégio na sociedade, como aspectos de entendimento, permanecem não descobertos" (p.147).
Estaria então colocado o grande desafio: toda biografia tem um limite claro, pois não pode contar completamente a vida de alguém, mas somente alguns aspectos dessa, sempre a partir de uma determinada compreensão de quem escreveu. No caso da biografia do prof. Latorre, também de seu depoimento (pois a história oral foi a metodologia central do estudo) e da relação entre pesquisado-pesquisador. O desafio maior seria não cair na tentação de compreender a vida do pesquisado de forma ordenada e cronológica, de forma homogênea e sempre coerente. Na época da confecção da monografia, estive longe de conseguir tais intuitos. Recentemente tenho tentado reelaborar algumas de minhas percepções, de forma a torná-las mais adequadas e múltiplas.
Por exemplo, agora posso claramente perceber como tentei idolatrar e construir um mito chamado Alberto Latorre de Faria. Mais ainda, ao construir a figura do herói Alberto, tratei de criar um maniqueísmo claro, destinando o papel de "bandido" aos não alinhados à posição do professor. Obviamente para isso contribuíram a minha própria vida (estudante envolvido com diversos movimentos sociais), mesmo o contexto histórico da Educação Física brasileira no final da década de 80 e principalmente a minha inexperiência e deficiência teórica naquele momento.
Com tal postura idólatra faz-se o feitiço virar contra o feiticeiro. Se um estudo histórico pretende ter um compromisso político claro, e todo estudo irremediavelmente deve tê-lo, melhor seria compreender as ditas irregularidades, as ambigüidades, muito mais ricas para nos permitir reorientar nossa forma de compreensão e de atuação. Muito mais efetivo seria compreender como o biografado estabeleceu (e/ou não estabeleceu) resistências no seu cotidiano do que alterar por completo o sentido de sua vida para comprovar teses previamente já determinadas. Isso é, não adiantaria ir à vida de alguém somente para olhar aquilo que queremos, desconsiderando diversas constatações que podem nos parecer contraditórias.
Um passo fundamental para minimizar tais problemas é a utilização denotada de um referencial historiográfico claro. Possivelmente uma compreensão mais aprofundada do que é um estudo histórico e das possibilidades que a Teoria da História nos reserva, pode nos apontar caminhos mais seguros.
Particularmente tenho defendido tal proposta nos últimos anos e Wasley (ibid.) também a reforça em seu artigo sobre a construção de histórias individuais no âmbito da História da Educação Física e do esporte: "Reinterpretar as história familiares e populares não é uma tarefa fácil, particularmente na história social do esporte, onde o sucesso e a proeza têm sido a base interpretativa do entendimento público e acadêmico" (p. 153).
A utilização de uma construção teórica adequada também afastaria determinados rumores que ainda rondam a realização de biografias e a utilização de relatos orais. Tais rumores ligam-se a questionamentos acerca da objetividade de tais possibilidades. Ora, basta nos afastarmos de compreensões positivistas para que tais críticas sejam relativizadas. O relato oral não é nem mais nem menos objetivo que os documentos escritos. As fontes sempre são produzidas por alguém, com algum objetivo, em um contexto histórico específico e expressando uma determinada forma de pensamento. Logo, são representações e somente a crítica interna das fontes irá descortinar tais fatores.
Além disso, cabe-nos aceitar que o historiador não é o detentor da verdade absoluta. O historiador escreve sobre aquilo que vê e interpreta (e assim sendo é tão importante para a escrita da história quanto a fonte em si). Mais isso não significa que estejamos livres para escrever o que bem desejamos, de qualquer forma que bem imaginemos. Muito pelo contrário, nos traz ainda mais a responsabilidade de construir estudos de qualidade, onde a verdade, se inalcançável, se constitua em uma "luz no fim do túnel"; algo a ser buscado insistentemente, embora inatingível. E nesse sentido, uma compreensão historiográfica é fator sine qua non, pois
Por um lado, o reconhecimento da existência de múltiplas narrativas nos protege da crença farisaica e totalitária de a "ciência" nos transformar em depositários de verdades únicas e incontestáveis. Por outro a utópica busca da verdade protege-nos da premissa irresponsável de que todas as histórias são equivalentes e intercambiáveis e, em última análise, irrelevantes. O fato de possíveis verdades serem iluminadas não significa que todas são verdadeiras no mesmo sentido, nem que inexistem manipulações, inexatidões e erros (Portelli, 1997, p. 15).
Já que falamos de manipulações e inexatidões, é importante lembrar que temos responsabilidades éticas que devem ser consideradas. É óbvio que o pesquisador tem liberdade para proceder livremente suas análises, mas isso não significa distorcer o sentido de depoimentos e documentos, retirá-los de seu contexto e, principalmente, prejudicar o entrevistado. Cabe lembrar que um dos sentidos do uso de depoimento oral é exatamente recuperar a importância do indivíduo, logo nada mais incoerente do que prejudicar esse sujeito1.
Para não nos alongarmos ainda mais nessa parte introdutória do texto2, já que o assunto central desse artigo é a vida do prof. Latorre, procuro dimensionar resumidamente o sentido de ter realizado um estudo biográfico. A biografia do prof. Latorre pode ajudar-nos a ampliar a compreensão de determinados aspectos da trajetória da Educação Física brasileira em determinado período, tanto por ampliar as informações que existem sobre tal momento quanto por nos apresentar outro olhar, uma nova visão. Tal visão não é verídica a priori, mas carrega um quantum de veracidade que procurei trabalhar de acordo com minha compreensão historiográfica.
Meu intuito não é analisar sua vida deslocada das injunções estruturais de seu período, tão pouco resumi-las a tal. Cabe-me aceitar o desafio de compreender a complexidade de sua existência, uma existência marcada pela originalidade de ações, tentando daí colher os melhores resultados para alcance do intuito original, sempre levando em conta que "a vida individual é o veículo concreto da experiência histórica" (Thompson, 1993, p. 238). Cabe-me também homenageá-lo: pelo que fez e pelo que também não foi possível fazer.
Alberto Latorre de Faria e a Educação Física brasileira3Se não seria possível colocar por completo a vida do prof. Latorre em uma monografia, tampouco seria possível abordá-la inteiramente no reduzido espaço desse artigo. Desta forma, tentarei enfocar prioritariamente os aspectos de sua vida mais diretamente ligados a sua atuação na Educação Física, utilizando como eixos de análises o que considero como suas principais contribuições a nossa área de conhecimento. Perceber-se-á que esses eixos não são estanques, estando inextricavelmente relacionados.
O envolvimento de Alberto Latorre de Faria com as lutas (principalmente com o boxe) - sua preocupação com a redução da violência e com a metodologia de ensinoO Prof. Latorre se envolveu com o boxe quase ocasionalmente. Chegara ao Rio de Janeiro em 1925 e logo procurara uma maneira de melhorar sua forma física, bastante frágil devido às doenças que tivera na infância. Na cidade já eram valorizados os tipos físicos com a musculatura desenvolvida e bem delineada, personificados nas figuras de Johnny Weissmuller e Rodolfo Valentino.
Matriculou-se então na academia de Enéas Campelo, situada no centro da cidade. Enéas era na época um professor dos mais conhecidos e sua ginástica era baseada no levantamento de peso para desenvolver força. Com muitas dificuldades no início, afinal não havia barras adequadas, com o tempo os resultados começaram a ser notáveis.
Aprendeu algumas posições de boxe em um livro francês que por acaso chegou às suas mãos, procurando praticá-las, após as aulas, em frente ao espelho. Nessa mesma época, perto de sua casa em São Cristovão, foi aberta uma escola de boxe: o São Januário Boxing Club. Foi lá que pela primeira vez Alberto praticou esse esporte sob orientação, ainda que a metodologia fosse ineficiente. Oficialmente, o boxe nascera no Brasil há apenas cerca de sete anos, com a criação de comissões municipais em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Mas centenas de jovens já o praticavam, ainda que: "sem a menor orientação técnica. Não havia sequer uma só pessoa nesse país que realmente pudesse ensinar sequer o bê-a-bá do pugilismo. Era tudo feito empiricamente, 'de ouvido', em academias e ringues improvisados" (Matteuci, 1988, p.13).
Daí para frente seu envolvimento com o boxe foi cada vez maior, tendo sido lutador amador, depois contratado por diversas companhias de boxe4, árbitro de diversas competições5, consultor da federação e partícipe ativo em muitas iniciativas6. Sem falar que foi o professor fundador da cadeira XVII (Desportos de Ataque e Defesa) na Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), sendo o principal responsável pelo ensino do boxe. Assim, mesmo tendo encerrado sua carreira como lutador de boxe já no final da década de 30, Alberto esteve envolvido com o boxe até a década de 70.
Desde seus tempos de lutador, era conhecido pelo público e pela imprensa em geral como um valoroso e gentil "sportsman". Poucas não foram as vezes que concedeu entrevistas criticando o excesso de violência nos estádios. Os estádios Brasil e Riachuelo, locais cariocas onde se desenvolviam as lutas, eram verdadeiros palcos de agressividade, onde o público sedento de violência contava com a complacência de árbitros despreparados e de técnicos que de tudo faziam para vencer, inclusive "pentear" as luvas de quatro onças de seus atletas; isto é, afastar a cobertura nas regiões proeminentes das mãos para potencializar os golpes. Alguns lutadores sempre apanhavam muito, mas continuavam a tentar, pois o valor das bolsas de premiação era atraente.
No que se refere à violência no boxe, uma de suas maiores preocupações era a mudança da luva de quatro para seis onças. De fato, foi um dos responsáveis por tal mudança. Mas a maior contribuição de Alberto foi o seu trabalho "O Punch-Drunkness"7, apresentado no Congresso Sul-Americano de Educação Física de Montevidéu, sendo agraciado com menção honrosa.
Nesse estudo aborda o estado patológico que surge entre aqueles que sofreram sérios ou freqüentes traumatismos na cabeça. Alberto fez uma revisão da escassa literatura, toda norte-americana, procurando levantar efeitos e causas, propondo precauções, inclusive com mudança de regras. O artigo foi concebido a partir da observação dos constantes derrotados que viviam em um estado denominado na ocasião de "sonato", "no mundo da lua". Por mais que seu valor científico possa hoje ser questionado, não há como negar que pela primeira vez no Brasil alguém manifestava esse tipo de preocupação.
O boxe não foi a única luta com a qual o prof. Latorre esteve ligado. Já quando lutador, ao abandonar o boxe, se envolvera com a luta livre. Na verdade, desde que ingressou no exército já vinha tendo aulas dessa modalidade, passando em seguida a praticar o jiu-jitsu sob supervisão do famoso Geo Omori. Era uma época de grandes desafios e logo o nome de Alberto ganhou os jornais, onde mais uma vez sempre se ressaltava que era um valoroso cavalheiro8. Até promotor e árbitro de "lutas de vale tudo", ou catch-as-catch-can, Alberto foi. Por exemplo, foi o promotor e árbitro do célebre desafio entre Waldemar Santana e Hélio Gracie. Foi até mesmo treinador da guarda pessoal de Getúlio Vargas, já na década de 19409.
Antes de ser professor da ENEFD, Alberto já tinha se envolvido com o ensino de lutas em vários locais, inclusive na Escola Militar de Realengo e na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx). Foi Latorre o instrutor de defesa pessoal no Curso de Emergência de formação de profissionais de Educação Física, em 1938.
Com tal experiência, sentiu a necessidade e procurou organizar metodologicamente o ensino das lutas para melhor alcance de objetivos claros, sempre atento às suas possibilidades educativas. Procurava difundir suas idéias nos muitos artigos que escreveu sobre o assunto, publicados nos Arquivos da ENEFD10 e na Revista Brasileira de Educação Física11, entre outros periódicos; em livros12; nas conferências e cursos para as quais era convidado; e nos seus trabalhos apresentados em congressos. De cada viagem que fazia, para tomar parte em congressos e/ou competições, procurava trazer novas técnicas, novas metodologias e equipamentos para tornar mais adequado o ensino das lutas.
Apesar disso, muitos de seus alunos ainda reclamavam que suas aulas eram muito violentas. É perfeitamente possível que isso realmente tenha ocorrido. Como falamos na introdução, ambigüidades de um indivíduo em mudança.
A despeito das controvérsias, o nome de Alberto esteve invariavelmente ligado ao desenvolvimento das lutas e de seu ensino no Brasil.
O crescimento da consciência e participação política de Alberto Latorre de FariaAlberto foi criado em uma família onde a política ocupava espaço especial. Seu pai, Luís Latorre de Faria, era um dos representantes do "Seabrismo" na cidade de Cachoeira13, além de ligado à maçonaria. Fora inclusive devido a tal ligação que, na década de 1920, Alberto e sua família tiveram que deixar a Bahia e vir para o Rio de Janeiro.
Já no Rio de Janeiro, em 1927, entra para a vida militar, servindo inicialmente na Escola de Sargentos de Infantaria (ESI). Foi no exército que Alberto teve a possibilidade de participar dos primeiros momentos mais sistematizados da Educação Física brasileira, desde os primeiros contatos com Pierre de Seguir até a participação como instrutor nos cursos do Centro Militar, na EsEFEx e na Escola Militar.
Foi também no exército que o prof. Latorre travou seus primeiros contatos com o marxismo, através de um capitão do seu regimento. Esse capitão procurava passar a vários militares, entre eles muitos sargentos, noções sobre as obras de Marx e Lenin. Inicialmente, o pensamento marxista lhe causara um certo incômodo, pois suas relações, inclusive pessoais14, com o Estado Novo eram intensas. Parece que as diretrizes daquele pensamento ainda ficariam anestesiadas por um tempo em Alberto.
É realmente no final da década de 1940 que sua atuação e seu pensamento começam a mudar pronunciadamente, sendo de tal mudança decorrentes suas três outras contribuições mais significativas para a Educação Física brasileira. Para isso contribuem a sua experiência no interior da ENEFD, o próprio momento político da Nação e sem dúvida a sua inquietação intelectual, que o impulsionava a busca de novos desafios.
Ainda assim, o auge dessa mudança e de uma atuação política mais organizada somente vai ser observável muitos anos depois, quando Alberto ingressa e conclui, em 1959, o curso do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), sendo chamado para assumir o serviço de cursos e conferências daquela instituição.
Fundado em 1955, no governo de Juscelino Kubistchek, o ISEB foi transformado em órgão de assessoria, apoio e sustentação à política econômica desenvolvimentista. Dos seus conselhos participavam intelectuais de várias áreas, representantes do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA) e dos ministérios militares, do Conselho de Segurança Nacional, do Congresso e dos demais Ministérios. O ISEB pode ser visto como um aparelho ideológico do Estado, elaborando uma ideologia pautada na orientação da cultura e direção intelectual, muito interessante ao Estado instituído à ocasião. Na verdade, teoricamente traduziu o populismo e sempre deu ampla cobertura ao desenvolvimentismo. O próprio Kubistchek encampa o nacionalismo, acreditando no capitalismo como alternativa viável à superação do subdesenvolvimento brasileiro (Benevides, 1979).
Mas o ISEB não chegou a patrocinar integralmente tal proposta. No seu interior, em fins de 1958, houve uma cisão entre os fiéis integralmente às idéias originais do Instituto (os "Moderados") e os que discordavam de algumas orientações, principalmente as ligadas ao capital estrangeiro. Lembremos que entre os mentores intelectuais do ISEB encontramos alguns socialistas notórios, como Roland Corbisier e Nélson Werneck Sodré.
Logicamente esse rico contato leva Alberto a se envolver, acreditar e defender o nacionalismo, sob a égide burguesa e em consonância com a defesa da cultura nacional. Mas também o deixa mais atento ao marxismo e às possibilidades de pensar a realidade brasileira a partir de tal referencial teórico. E sem sombra de dúvida o tornou mais presente nas decisões da política brasileira. Por exemplo, junto com Corbisier e Sodré, participa da confecção da plataforma com que o marechal Henrique Lott lançou sua candidatura à presidência da República.
Em 1962, Alberto ainda estava fortemente ligado aos nacionalistas, e estando filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de inspiração Getulista, se lança candidato a deputado estadual com uma plataforma de renovação e combate à corrupção, onde se destacava a defesa e emancipação da cultura nacional.
Cada vez mais afeito ao marxismo e ciente das muitas incoerências do PTB, futuramente Alberto desligar-se-ia desse partido, ligando-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), embora jamais a ele se filiasse oficialmente. Alberto também mantinha muitas relações com membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nessa época já era notória sua afinidade por Cuba, o que o levou várias vezes àquele país, até mesmo de forma clandestina. Nesse momento, a ligação de Alberto com as Ciências Sociais, a Filosofia e a Política já era de grande intensidade, o que o levava a procurar congressos como o II Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em 1962, em Belo Horizonte.
Com o golpe militar de 1964 e o fechamento do ISEB, um período bastante conturbado começa na sua vida. Achou por bem não deixar o país, mas suas possibilidades de atuação e participação são cada vez menores, pois mesmo não aderindo ao golpe, também não tomou parte ativa em algumas iniciativas de resistência.
No ano de 1968 é convidado pelos dirigentes estudantis a participar da Passeata dos Cem Mil. Não aceitou o convite já que, embora achasse um belo gesto, não acreditava em seu sucesso como forma de reverter a situação. Além do mais decidira tomar uma posição de não-confronto contra a quartelada.
Em 1964, o prof. Latorre já tinha sido tachado de "velho comunista" e "covarde" por um grupo de estudantes (sob a denominação de Frente da Juventude Democrática), em manifesto publicado no "Diário de Notícias". Alberto responde no mesmo jornal, no artigo "Latorre perdoa jovens por amor", que rejeitava tais rótulos, afirmando que nunca fora comunista, mas sim um nacionalista, trabalhista, humanista, "marxólogo" e estudioso das ciências sociais. Na ocasião do convite para a passeata de 1968, episódio semelhante ocorrera. Os estudantes da comissão não queriam ouvir suas razões e o taxavam de medroso e veladamente de covarde, o que o levou a definitivamente não mais se posicionar.
De fato, Alberto muitas vezes adotou uma postura mais conciliadora e/ou de não ataque direto. Suas próprias palavras podem nos dar conta de que embora tivesse tomado posturas bastante diferenciadas, se aproximando firmemente dos pensamentos de esquerda, sempre manteve alguns pensamentos e posturas de resguardo. Ao afirmar isso, não estou fazendo para acusá-lo, mas para que possamos compreender melhor suas contribuições a partir desse paradoxo aparente.
Ainda assim, o prof. Latorre foi incluído e teve seus direitos cassados pelo Ato Institucional número 5, respondeu a cinco Inquéritos Policial-Militares, chegou a sofrer alguns atentados, e viu muitas portas serem fechadas, inclusive na ENEFD.
Paralelamente a tais acontecimentos, a ENEFD passava por um momento brusco de mudança, também no final dos anos 1940. Os médicos, depois de alguns anos de articulação, conseguem assumir a direção e mudam bastante as ações e o sentido de sua atuação15. Percebe-se uma preocupação crescente com a qualidade da formação profissional, com a pesquisa e com levar a Escola a ocupar efetivamente seu espaço de Escola-Padrão, responsável por liderar o desenvolvimento da área de conhecimento no Brasil.
Nesse contexto, começam a ser notáveis os esforços dos professores no sentido de melhorar a formação profissional. Isso quase sempre estava ligado à busca de atualização dos conteúdos e desenvolvimento de metodologias mais adequadas, normalmente adquiridas em congressos e cursos, em outros estados, em outros países e mesmo no interior da ENEFD. Como já visto, Alberto também procurou desenvolver sua cadeira de Desportos de Ataque e Defesa nesse sentido.
Mas um diferencial importante na atuação de Alberto foi sua destacada preocupação com a formação de um profissional atuante na sociedade. Seus estudos passam a ultrapassar o campo esportivo, para pensar a Educação Física como uma disciplina, um campo de conhecimento, que poderia ser ou não utilizada para fundação de uma nova ordem social. Essa postura fica ainda mais clara quando se deixa influenciar pela ala mais a esquerda do ISEB e quando se desliga do PTB.
Em 1955 publica o que considera um de seus trabalhos mais importantes. "A profissão de professor de Educação Física (suas implicações culturais) - a universidade como clima adequado a formação de professores de Educação Física" surge como reação aos que afirmavam que a universidade não era local adequado para a formação em Educação Física. Essa obra se destaca na época por sua preocupação com a formação em si, não procurando supervalorizar o professor de Educação Física, mas sim por levemente conclamá-lo a adotar preocupações sociais claras.
Procurando levantar as ligações entre Educação Física e Cultura e Educação Física e Ciências Sociais, um dos primeiros a fazer isso, o prof. Latorre afirma em certo momento:
Só o professor de Educação Física tem a componente psicológica e ideológica necessária a compreensão da sua realidade profissional e só ele possui a consciência de suas necessidades profissionais como um todo. Só ele tem o saber existencial. Só ele tem a vivência imprescindível. Só ele reúne a teoria à "práxis". Só ele, pois, é autêntico nos seus "affaires" (Faria, 1955, p.4).
Preocupado em defender a Educação Física como disciplina acadêmica que deve ser tão respeitável como qualquer outra, a todo momento Alberto fala na profissão de "professor de Educação Física", deixando claro no decorrer do artigo que a via como parte da Educação.
Embora possua pontos bastante polêmicos, esse artigo pode ser considerado um trabalho avançado para a ocasião. Utiliza-se de categorias e de fundamentação teórica rica e avançada para a área, embora muitas vezes conflitante em seu interior.
Na verdade, esse artigo reflete bem um determinado momento na ENEFD e na Educação Física brasileira. Veremos que não por acaso é também a base de seu discurso de paraninfo das turmas de 1957. Tal artigo é fundamentalmente um libelo de afirmação da categoria "Professor de Educação Física", reflete tal necessidade de afirmação e de alguma forma conclama os professores a assumirem a responsabilidade por conduzir sua área de conhecimento/atuação. Embora não desconhecesse a importância das associações específicas, Alberto acredita que o sindicato da categoria deveria ser um mais amplo, dos professores em geral:
No plano da arregimentação profissional, a classe, só agora, começa a se agrupar em associações e em seu sindicato - o de professores em geral. Adquire, assim, consciência dos seus interesses legítimos, passando do primitivo estágio de classe em si ao superior de classe para si (...), isto é, como a noção precisa e clara do seu status social, seus deveres, seus direitos, suas reivindicações (p.6).
Depois de médicos e militares dando os rumos e gozando de prestígio destacado, no interior da ENEFD os professores de Educação Física começam a se sentir incomodados pela situação de desprestígio em uma escola diretamente a eles ligados.
Paralelamente a isso, o movimento estudantil começa a se organizar e a tornar suas ações cada vez mais efetivas. O passo decisivo desse crescimento deu-se com a realização da greve de 1956/1957, cujo principal intuito era retirar da direção o médico João Peregrino Júnior, que além de não estar realizando uma direção adequada, supostamente afirmara que era uma vergonha dirigir uma escola de educação física16.
Como essa greve ia ao encontro de alguns anseios dos professores de Educação Física, muitos desses manifestaram apreço a tal realização, mas somente Alberto Latorre de Faria claramente apoiou a greve. Aí está uma das contribuições destacáveis de Alberto: o estímulo à organização do movimento estudantil.
Deve-se deixar claro que tal colaboração nunca significou intervenção direta, mas: apoio nas iniciativas dos estudantes (por exemplo, auxiliando na organização dos eventos estudantis e como palestrante em tais eventos); estímulo à participação no Diretório Acadêmico, no Diretório Central dos Estudantes e na União Nacional dos Estudantes; a busca de esclarecer os estudantes da sua necessidade de participação na construção dos rumos da Educação Física e da sociedade brasileira.
Tais contribuições normalmente se davam por ocasião das palestras para as quais era chamado, em seus artigos e nos seus discursos de paraninfo ou de aulas inaugurais.
No período universitário, o melhor treino político será a participação efetiva dos estudantes junto aos seus Diretórios Acadêmicos, e nas Federações e Uniões Estudantis, vivendo não só a problemática geral do seu país e do mundo, mas especialmente, a problemática profissional futura (Faria, 1955, p.6).
Enfim o estímulo de Alberto foi muito importante, reconhecido não só pelos convites para eventos estudantis, com a escolha de seu nome para paraninfo, como também nas palavras dos próprios estudantes:
Queremos contudo salientar a figura ímpar de Alberto Latorre de Faria, (...), que com a sua nobreza de caráter e seu elevado espírito cívico, nos ofereceu durante estes anos de formação, uma visão mais completa de nossa profissão, instruindo-nos, baseando-nos com a sua vastidão de conhecimentos e com a fluência e clareza de suas idéias (Cysneiros, 1960, p.137).
É importante observar que junto com o estímulo às ações dos estudantes, sempre estava presente uma crítica à ENEFD e sua proposta de formação conservadora e atrasada. Pode-se ver como, logo, estavam articuladas as idéias de Alberto: a necessidade de reformular o projeto de formação profissional, onde também estivessem contempladas as preocupações com a mudança da ordem social; o fortalecimento do sentimento da categoria professor de Educação Física, pois implicitamente e delicadamente Alberto deixava transparecer que um dos motivos da situação anterior seria a direção de indivíduos não-professores; o estímulo ao movimento estudantil, pois para Alberto esse seria o futuro professor e deveria estar atento a tais dimensões, além do que os estudantes eram partícipes diretos nessas críticas.
Para proceder tais críticas, Alberto fazia uso de um referencial teórico bastante diverso, mas onde paulatinamente uma determinada concepção de marxismo passou a imperar. Muitas vezes tal utilização não era das mais adequadas, ou mesmo era de forma forçada para legitimar suas constantes críticas aos aspectos militares impregnados na prática desportiva e da Educação Física em geral; às mistificações idolatras, egocêntricas e narcisistas que a impregnavam; à educação física isolada da sociedade.
Obviamente seus colegas de categoria são constantemente criticados por não perceberem a necessidade de novos modelos de ensino para atenderem a perspectiva de formação de um profissional crítico e que tenha recursos para influenciar o processo de superação de uma ordem social não satisfatória. Percebe que o uso das ciências biomédicas em excesso suplanta e anula o estudo das ciências humanas, desmascarando o projeto político-ideológico que está por trás disso. Tudo permeado por uma clara percepção de uma sociedade dividida em classes: "Transforma, constituindo-se em exceção a sua época, seu discurso em crítica das mistificações (ideológicas), crítica do cotidiano do ensino da educação física, crítica das representações do que não deveria ser no meio universitário" (Silva, 1991, p.5).
Com certeza existem muitas impropriedades na utilização do marxismo por Alberto, mas creio que, ainda assim, aí esteja outra de suas contribuições. Pela primeira vez na Educação Física brasileira, um autor tentava utilizar declaradamente as categorias marxistas para pensar a área de conhecimento.
Algumas palavras finaisCreio que esse artigo não necessite de uma conclusão nos moldes tradicionais, pois em seu interior já foram discutidas e apresentadas suas colaborações básicas. Contudo quero aproveitar esse momento final para ressaltar o que na verdade foram os três intuitos centrais desse trabalho. Cabe lembrar que esse artigo procurou recuperar uma discussão anterior, procedendo uma auto-crítica, no sentido de contribuir para que as histórias de vida possam ser tratadas com rigor teórico suficiente que nos permita realmente potencializar sua contribuição para o estudo da história da Educação Física.
Espero ter sido capaz de demonstrar como a vida de um determinado indivíduo pode ser importante para nos permitir compreender de forma mais múltipla nossa história. Nesse caso, o uso de fontes orais foi pronunciado, pois foram as entrevistas de Alberto que concederam os eixos centrais de análise. A utilização de fontes escritas não foi dispensada, embora desencadeada pelos depoimentos.
O exemplo de Alberto é somente uma possibilidade. Lembro que existem muitas outras possibilidades de estudos biográficos e utilização de fontes orais, cabendo-nos realizar tais experiências o quanto antes possível. Se somente a vida de um indivíduo nos pode conceder uma imensidade de novas reflexões, podemos imaginar quantas mais não surgiriam com a abordagem da vida de outros indivíduos.
Por fim, gostaria de reafirmar o sentido de homenagem que esse artigo também tem. É o mínimo que podemos fazer para agradecer a contribuição na construção do que hoje temos, independente das posturas teóricas e visões de mundo dos homenageados.
Notas
Para um aprofundamento sobre as questões éticas ligadas a História Oral, sugiro o artigo de Alessandro Portelli (1997).
Os interessados em discussões mais aprofundadas sobre o desenvolvimento de estudos biográficos e a utilização de depoimentos como fontes, sugiro os estudos de Aspásia Camargo (1978, 1989), Carlos Humberto Correa (1978), Verena Alberti (1989), Marieta de Moraes Ferreira (1994), José Carlos Sebe Meihy (1996), Gabriele Rosenthal (in: AMADO, FERREIRA, op.cit.), Pierre Bourdieu (in: AMADO, FERREIRA,op.cit.), além dos já citados.
Algumas dessas discussões de alguma forma já foram apresentadas em outros artigos. Aqui foram recuperadas de acordo com o sentido central de auto-crítica desse artigo.
Pela primeira vez em 1934, pela "Empresa Pugilística S.A.". Segundo Alberto, ele nunca chegou a ser profissional, mas sim um "amador marrom", com contratos de gaveta. Os preconceitos para com os pugilistas, normalmente jovens oriundos da classe trabalhadora, eram imensos. O boxe era considerado um esporte de vagabundos e baderneiros.
Inclusive nas eliminatórias para selecionar a equipe brasileira para os Jogos Olímpicos de 1936.
Por exemplo, em 1946 a Federação Metropolitana de Pugilismo o convida a participar da comissão para elaborar anteprojeto dos estatutos e da regulamentação desportiva da modalidade. Outro exemplo é ter sido indicado como membro efetivo representante da Confederação de Pugilismo no Supremo Tribunal de Justiça Desportiva para o biênio de 62/63.
Esse trabalho foi publicado em 1954, nos 'Arquivos da ENEFD'.
Alguns exemplos podem ser encontrados no jornal A Nação, de 3 de janeiro de 1934, no O Diário de Notícias, de 28 de abril de 1934, e no A Nação de 28 de fevereiro de 1938.
Na verdade, Alberto se envolveu com muitas outras lutas, entre as quais teve participação destacada no judô e na capoeira.
Dos treze artigos que publicou nesse periódico, sete foram sobre lutas, sendo seis sobre o boxe, como "O box - sentido educativo - seu papel na moderna Educação Física" (1945), "O punch - drunkness (domentia pusilística)"(1954) e "Breve histórico do Boxe" (1959).
Por exemplo, o artigo "Noções de Técnica Pugilística" (1947).
Entre eles, "Boxe ao alcance de todos", publicado em 1960 pela primeira vez. Também escreveu junto com Waldemar Silva, "Defesa Pessoal" (1951), um dos primeiros livros sobre o assunto a ser editado no Brasil.
José Joaquim Seabra foi governador da Bahia e um dos grandes nomes do cenário político nacional no fim do século XIX e início do século XX. Foi também Ministro da Viação e Obras Públicas no governo Hermes da Fonseca (1912).
Alberto manteve inclusive relações de amizade com Getúlio Vargas e sua filha Ivete Vargas.
Maiores informações podem ser obtidas nos estudos de Melo (1996a, 1996b).
Maiores informações sobre a greve de 1956/1957 e sobre a atuação do movimento estudantil na ENEFD podem ser obtidas nos artigos de Melo (1995,1997).
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revista
digital · Año 13
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