Tipos de pesquisas relacionadas à fadiga | |||
Professor de EF do Centro de Educação Básica Francisco de Assis - EFA. (Brasil) |
Daniel Casarotto casarotto79@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008 |
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IntroduçãoA fadiga é um fator limitante do desempenho dos atletas nas mais variadas modalidades esportivas. Ela pode ser definida como uma redução nas capacidades de produção de força e manutenção do desempenho físico (MAGLISCHO, 1999; WEINECK, 2000; REILLY; BANGSBO, 2000).
A fadiga pode ser dividida em dois tipos: a) Fadiga Central: quando atinge o Sistema Nervoso Central (SNC). Causada, normalmente, pela sobrecarga emocional aplicada ao atleta durante a competição, afetando sua capacidade de concentração, raciocínio e tomada de decisão. b) Fadiga Periférica: quando atinge os músculos esqueléticos, afetando os mecanismos de contração muscular (DANTAS, 1998; ANDRES, 2001; KIRKENDALL, 2003). De acordo com Maglischo (1999), pode ser causada pelos seguintes fatores: depleção das reservas de ATP-CP; taxa inadequada do metabolismo anaeróbico; acúmulo de ácido lático; baixos níveis de glicogênio muscular.
A fadiga não pode ser evitada, apenas retardada, o que se consegue através de um treinamento adequado às características do esporte que se pratica (MAGLISCHO, 1999). Além disso, as atividades realizadas no período de recuperação influenciam na recuperação completa após o exercício intenso (REILLY; BANGSBO, 2000).
Diante disso, é grande o número de pesquisas que, constantemente, são realizadas no intuito de se identificar os mecanismos de produção da fadiga nos diferentes esportes, os métodos de recuperação que promovem resultados mais expressivos, bem como a mensuração dos resultados de um determinado tipo de treinamento. Os resultados obtidos nessas pesquisas servem de base à formulação de novos programas de treinamento, contribuindo para o constante crescimento do desempenho dos atletas, fato este que pode ser perfeitamente visualizado através da constante quebra de recordes promovida a cada nova competição.
O presente trabalho de revisão bibliográfica tem por objetivo analisar 10 artigos originais e comparar as diferentes formas de pesquisa relacionadas à fadiga para, a partir disso, entender como se investiga nesta área. Ou seja, pretende-se conhecer qual o tipo de pesquisa mais realizada para se estudar a fadiga, em seus diferentes âmbitos.
Divisão das pesquisas por areasQuando se estuda a fadiga, deve-se estar preparado à busca de informações nas mais variadas áreas do conhecimento. Desta forma, para a elaboração do presente trabalho, buscou-se subsídios em pesquisas que se utilizavam desde cobaias (o que permite uma análise precisa das alterações fisiológicas promovidas pelo experimento) até seres humanos, com objetivos que vão desde a análise fisiológica de uma determinada atividade até fatores comportamentais que afetam o desempenho físico.
Em vista disso, podem-se dividir os trabalhos pesquisados da seguinte forma: a) pesquisas com análise laboratorial; b) pesquisas comportamentais; c) pesquisas de análise do desempenho motor.
Pesquisas com análise laboratorialForam enquadradas neste item algumas pesquisas que se utilizou de alguma análise laboratorial durante o desenvolvimento do trabalho.
Pinto et al. (2001) desenvolveram uma pesquisa que tinha por objetivo descobrir se a temperatura da água ingerida produzia algum efeito sobre a fadiga, durante a realização de exercícios em ambiente termo neutro. Pode ser considerada uma pesquisa experimental, a partir do momento em que ocorre a manipulação de variáveis. Contudo, não houve a criação de um grupo de controle, mas sim situações de controle, como será visto posteriormente.
O experimento abrangeu uma população de seis voluntários, fisicamente ativos, com idade média de 24 anos, VO2 pico médio de 47,8ml.kg-1.min.-1, peso médio de 67,0 kg; percentual de gordura em média de 9,4 %. Teve como variáveis as diferentes temperaturas da água (10ºC, 24ºC e 38ºC) e as situações de esforço submáximo e repouso.
Cada voluntário participou de seis situações experimentais, em seis dias diferentes, sempre no mesmo horário, com intervalo fixo de três a quatro dias entre cada experimento. Três das situações consistiam em permanecer sentado em repouso por 60 minutos, tempo este em que ingeriram 1320ml de água a 10º, 24º ou 38ºC, que foram assim distribuídos: primeira dose de 600ml, 15 minutos antes do procedimento experimental e três doses subseqüentes de 240ml cada uma, aos 15, 30 e 45 minutos do repouso. Nas outras três situações, os voluntários realizaram exercícios no mesmo ambiente e com o mesmo esquema de hidratação. O exercício foi realizado em bicicleta ergométrica Monark de frenagem mecânica, a 20 km por hora e 60% da potência aeróbica, até a exaustão (Tempo Total do Exercício-TTE).
Foram monitoradas as temperaturas retal (Tre), média da pele (TMP), média do corpo (TMC) através da utilização de um teletermometro e sonda retal numero 701 (YSI), inserida 10 cm além do esfíncter anal e termossensores de superfície numero 709 (YSI), respectivamente. A freqüência cardíaca (FC) foi monitorada através do um monitor por telemetria marca Polar Vantage e a captação de O2 e extração de CO2, bem como o índice de troca respiratória (R) foram analisados através de expirometria de circuito aberto, num Ergopneumetest, marca Erich-Jaeger. O lactato sanguíneo foi medido pré e pós situação experimental, através do método enzimático. O calor armazenado no corpo (S) foi estimado.
Os dados foram analisados através de análise de variância de dois fatores (para TTE), com medidas respectivas no segundo fator (Ter; TMP; TMC; S; FC; e VO2), seguidos de teste de Tukey para comparações entre as medidas, quando justificadas. As comparações para as medidas de lactato no sangue e variação de peso corporal foram realizadas através do teste t de Student. O nível de significância adotado foi p<0,05.
Após a análise dos resultados, os autores chegaram a conclusão que a temperatura da água ingerida (10ºC, 24ºC, 38ºC) não modificou a tolerância ao exercício, nem interferiu significativamente sobre alguns fatores relacionados à fadiga, como a FC, VO2; CO2, R, concentração de lactato sanguínea, temperatura corporal e variação do peso corporal. Assim, a fadiga que ocasionou o fim do exercício submáximo ocorreu, provavelmente, em virtude de algum outro fator que não foi abrangido pelo presente estudo.
Campbell e Simões (2002) realizaram uma pesquisa comparando os efeitos da recuperação ativa associada à passiva (RA+RP) com a RA associada à massagem (RA+RM) sobre a lactacidemia (Lac), percepção subjetiva de esforço (PSE) e desempenho em esforço físico consecutivo. Trata-se de uma pesquisa experimental, pois realiza a manipulação de variáveis, mas, a exemplo de Pinto et al, não estipularam um grupo de controle para o experimento.
A amostra abrange doze corredores, com idade entre 16 e 31 anos, de ambos os sexos. Cada um foi submetido a quatro testes, com um intervalo de no mínimo três e no máximo sete dias entre eles. Foram eles: a) Velocidade média 3000 m (Vel 3 km); b) 2x1200 m, a 85% e 100% da Vel 3 km, para determinação do limiar anaeróbico de 4 mmol, com 10 minutos de intervalo entre as corridas, com coleta de sangue arterializado aos 1º, 3º e 5º minutos de repouso sendo a velocidade de 4 mmol ( Vel. 4 mmol) determinada por interpolação linear (lactato pico x tempo); c) 2x300 m, com 30 minutos de intervalo entre séries onde realizou-se 15 minutos de RA (80% Vel. 4mmol) mais 15 minutos de RP; d) 2x300 m, com 30 minutos de intervalo entre series, com 15 minutos de RA (80% Vel. 4mmol), mais 15 minutos de RM, utilizando-se as manobras de deslizamento superficial, deslizamento profundo, amassamento palmar, e amassamento digital (a massagem foi realizada apenas nos membros inferiores), sendo realizadas coletas de sangue do lóbulo da orelha antes do inicio do exercício e a cada três minutos de recuperação, até o 30º minuto, bem como ao 8º minuto da recuperação.
Após assepsia do lóbulo da orelha, foi realizada uma punção no local com lanceta descartável e luvas descartáveis para coleta do sangue capilarizado. Foram coletadas amostras de 25 uI em tubos capilares calibrados para esta dosagem. As amostras eram depositadas em tubos Eppendorff com 50 uI de fluoreto de sódio a 1%. Após a coleta, as amostras eram congeladas para posterior análise, realizadas utilizando-se de um Analisador de Lactato Eletroenzimático Yellow Springs 2.3000S. A avaliação da PSE imediatamente após cada série de corrida de 300m, utilizando-se da escala de Borg de 15 pontos. O Delta (variação) do lactato foi determinado subtraindo-se a concentração verificada imediatamente antes do experimento da concentração verificada no 8º minuto de recuperação.
Os resultados foram expressos em média e desvio padrão. Para a analise dos dados utilizou-se o teste t de Student pareado para verificar as diferenças do lactato em cada dosagem obtida durante a RP e RM e no Delta do lactato durante as séries de 300m. ANOVA foi utilizada para comparar as velocidades obtidas nas séries de corridas de 300m e no questionamento da PSE após cada série. O nível de significância aceito foi de p<0,05.
No presente estudo, não foram encontradas diferenças significativas quanto a remoção de lactato entre os métodos de recuperação experimentados. O Delta de lactato apresentou significativa diminuição do 1º para o 2º pique de 300m, em ambos os métodos de recuperação, indicando uma maior tendência aeróbica para o 2º pique. Não houveram alterações significativas no desempenho dos atletas do 1º para o 2º pique, em ambas as situações de recuperação.Os atletas indicaram uma menor PSE após o 2º pique, se comparado ao primeiro, em ambas as situações.
Franchini et al (1998) desenvolveram um experimento com judocas do sexo masculino, pertencentes às categorias Juvenil-A (idade entre 15 e 17 anos, n=6), Junior (idade entre 18 e 20 anos, n=5), e Sênior (acima de 21 anos, n=4), cujo objetivo era comparar as variáveis metabólicas obtidas em testes laboratoriais com as obtidas durante situações de luta. Trata-se de uma pesquisa experimental, pois ocorre a manipulação da variável: idade dos atletas. A amostra constituiu-se, ao todo, de 15 atletas.
Foram realizados os seguintes testes: a) Teste em esteira rolante, com objetivo de determinar o limiar anaeróbico, para calculo da Velocidade deste (VLan). Neste teste, coletou-se sangue do lóbulo da orelha, previamente dilatado com pomada vasodilatadora Filnalgon, para dosagem de lactato no aparelho eletroquímico Accusport, com fitas Boehringer Mannheim. Durante o teste, os atletas eram monitorados através de um eletrocardiograma e de um frequencímetro Polar Vantage XL. Após a coleta inicial, o atleta iniciava uma caminhada/corrida na esteira a uma velocidade de 0,6 km/h, durante 3 minutos, quando era realizada uma nova coleta de sangue. Após isso, ele retornava à esteira, que recebia um acréscimo de velocidade de 0,6 km/h. Este procedimento se repetiu até atingir uma concentração sanguinea de lactato (CSL) superior a 3,5 mmol/l. O calculo da VLan foi feito manualmente a partir do ajuste da curva velocidade x CSL. b) Teste em cicloergômetro para membros superiores, realizado em uma bicicleta Monark adaptada à realização do referido teste. O atleta iniciava pedalando com uma carga de zero Kp, mantendo uma velocidade de 35 km/h, visualizado através de um velocímetro Echowell Echo J-7, colocado a sua frente, durante 3 minutos. Ao final deste período, era coletado sangue do lóbulo da orelha e a carga era aumentada em 0,25 Kp. Este procedimento foi repetido até o atleta não conseguir mais manter a velocidade de 35 km/h. c) Situação de luta, onde cada um simulou 3 lutas, com duração de 4 minutos cada, mesmo que ocorresse um "ippon". As coletas de sangue arterializado do lóbulo da orelha, para dosagem do lactato, foram realizadas 1 minuto antes da lutas, e 1, 3, 5 minutos após cada uma delas. O intervalo entre uma luta e outra foi sempre superior a 20 minutos.
Para a análise dos dados, utilizou-se o programa "Statistica for Windows versão 4.2 Stasoft Inc. 1993". A comparação entre as classes para os resultados obtidos nos três testes, tempo de intervalo entre as lutas e a comparação entre a CSL no decorrer das três lutas foram feitas através da análise de variância de um fator, seguido por teste de Tukey quando encontrada significância. A correlação entre os resultados obtidos nos três testes foi realizada através de correlação de Pearson. A comparação entre o tempo de intervalo das lutas se deu através do teste t de Student para amostras dependentes. O nível de significância adotado foi de p<0,05.
Os autores chegaram à conclusão de que não há diferenças significativas entre as faixas etárias no que se refere à capacidade aeróbica (teste de esteira rolante), Potência aeróbica e carga atingida (cicloergômetro para membros superiores) e CSL após cada uma das lutas. Contudo, Percebeu-se que, com o decorrer da idade, aumentou a tolerância dos sujeitos à concentração de lactato. O tempo de recuperação passiva de 20 minutos, aproximadamente, entre as lutas, não foi suficiente para que os níveis de lactato sanguíneo retornassem ao nível de repouso.
Outro trabalho que utilizou-se de análises laboratoriais para a resolução de seu problema foi o realizado por Rogatto e Luciano (2001). O objetivo do referido experimento foi avaliar os efeitos do treinamento intenso sobre o metabolismo de carboidratos nas condições de repouso e pós exercício em ratos. Como as pesquisas acima, enquadra-se nas de tipo experimental, mas com algumas diferenças das anteriores. Alem de manipular as variáveis, há um grupo de controle, o que fornece maior confiabilidade ao experimento. A amostra constituiu-se de ratos machos jovens, com aproximadamente 60 dias, Wistar. Todos receberam alimentação balanceada e água a vontade. Foram divididos em quatro grupos, que também equivalem às quatro variáveis utilizadas: a) Sedentário Repouso (SR), animais sedentários mantidos em repouso no dia do sacrifício; b) Sedentário Agudo (AS), com animais sedentários submetidos ao exercício intenso no dia do sacrifício; c) Treinado Repouso (TR), com animais treinados mantidos em repouso no dia do sacrifício; d) Treinado Agudo (TA), composto de animais treinados submetidos ao exercício no dia do sacrifício.
Após um período de adaptação ao meio liquido, os animais dos grupos TR e TA foram submetidos a um programa de treinamento de seis semanas, que consistia na realização de saltos em um tanque de água, com sobrecarga de 50% do peso corporal. Cada sessão de treinamento foi constituída da realização de quatro series de 10 saltos com 1 minuto de intervalo entre as séries. A profundidade da água era equivalente a 150% do comprimento corporal do animal. A temperatura da água foi mantida entre 30° e 32° C. Os saltos foram realizados em um tubo de PVC com 25 cm de diâmetro, no intuito de limitar a possibilidade de movimentos aleatórios dos ratos. O tubo, com fundo vazado, foi colocado em tanques de amianto com 100 cm de comprimento e 70 cm de largura. Durante o treinamento físico, foi realizado acompanhamento do peso corporal, comprimento corporal, ingestão alimentar e hídrica semanalmente.
Ao final das seis semanas de treinamento, os animais foram mantidos em repouso por 48 horas em relação a ultima sessão de exercícios, sem jejum prévio. Os animais do grupo SR e TR foram sacrificados nesta condição, enquanto os dos grupos AS e TA foram submetidos a uma sessão de exercícios, igual as do treinamento, antes do sacrifício. Este ocorreu por decapitação em guilhotina, para coleta de sangue em tubos sem anticoagulante, que, após 10 minutos de centrifugação à 3000rpm, foi utilizado para avaliação da glicose (pelo método enzimático da glicose oxidante) e insulina sérica (utilizando-se um radioimunoinsaio - Kit Coat - A - Count, USA). O lactato foi determinado a partir de amostra de sangue, diluída em NaF, e leitura em lactimetro YSL 2300 STAT - Yelow Springs - USA. Logo após o sacrifício foram recolhidas amostras do coração, fígado e músculo gastrocnêmio (porções branca e vermelha) para análise do glicogênio.
Os resultados foram avaliados estatisticamente por Análise de Variância e teste post-hoc de Bonferroni, Com nível de significância de p< 0,05. Após analise, chegou-se aos seguintes resultados: a) Os animais do grupo treinado apresentaram maior concentração de glicogênio no músculo gastrocnêmio, tanto na condição de repouso como pós-exercício; b) Não foram encontradas diferenças significativas na concentração de glicogênio nos músculos hepático e cardíaco entre os grupos; c) Aumento da glicemia após exercício, tanto em S quanto em T. Contudo, não se encontrou diferenças significativas entre SA e TA, nem entre SR e TR; d) O grupo SA apresentou redução na concentração sérica de insulina após o exercício; e) Tanto S como T apresentaram aumento na concentração sanguínea de lactato após seção única de esforço. Porém, não apresentaram diferenças significativas entre si.
Pesquisas comportamentaisNeste item enquadram-se as pesquisas que procuram verificar fatores comportamentais que venham a influenciar o desempenho dos atletas.
Sonoo (2000) desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de encontrar, analisar, compreender e explicar os elementos constituintes do clima (ambiente, atmosfera moral) para verificar se este influi na dinâmica de uma equipe de voleibol. Segundo o próprio autor, trata-se de uma pesquisa descritiva, pois descreve, registra, analisa e interpreta os resultados, com aproximação ao método etnográfico, por achar mais adequado para se encontrar os resultados. As pesquisas etnográficas, que enquadram-se dentre as qualitativas, caracterizam-se, segundo Thomas e Nelson (2002), por uma longa e extensa observação e extensas entrevistas; registro preciso e detalhado dos acontecimentos através de notas, fitas de áudio, videoteipes, etc. Por estudar o assunto através de um único grupo, o próprio Sonoo classificou o trabalho como um estudo de caso.
Foram pesquisados 19 sujeitos pertencentes à equipe de voleibol da COCAMAR, sendo 14 atletas e 5 integrantes da comissão técnica. A coleta de dados se deu no decorrer da Superliga 96/97, entre outubro de 1996 e fevereiro de 1997, através de observações, entrevistas, filmagens e analise de documentos. As observações, tanto individuais como gerais, foram realizadas no seu ambiente de atuação (local de treinamento e ginásio de esportes onde realizavam os jogos). As entrevistas foram realizadas formal e informalmente, possibilitando a extração de dados fundamentais à identificação dos elementos que constituem o clima de uma equipe.
Após a analise dos dados colhidos, foram definidas 5 dimensões do clima, bem como os elementos que às constituem: a) Indefinição: bem estar no grupo; objetivos e metas comuns; identificação com o esporte; identificação com o grupo. b) Reconhecimento: promoção; recompensa econômica; apreciação e incentivo. c) Crescimento: treinamento visando o crescimento; melhoria de habilidades e experiência. d) Autonomia: comunicação adequada através do dialogo; participação na tomada de decisão; liberdade para definir estratégias; liberdade de atuação nos treinos e jogos. e) Desempenho: êxito nos treinos e jogos. Deve-se salientar que todos eles desempenham um papel importante no desenvolvimento de um bom clima na equipe.
Noce e Samulski (2002) realizaram pesquisa descritiva exploratória (descritiva porque descreve as características/procedimentos adotados por diferentes grupos; exploratória a partir do momento em que realiza entrevistas com indivíduos que já tiveram experiências práticas com os fatos estudados - THOMAS; NELSON, 2002) com 157 atletas (atacantes) que disputavam a Superliga de Voleibol 97/98, sendo 99 homens e 58 mulheres, com o objetivo de identificar as situações mais criticas, típicas aos atacantes de alto nível e verificar as técnicas mais eficientes no controle do estresse por eles utilizadas nessas situações. A idade situou entre 17 e 36 anos, sendo 23 menores de 20 anos e 133 maiores ou com idade igual a 20 anos, com experiência média de 9,09 anos de competição. As variáveis utilizadas foram o sexo (M e F) e a idade (menores de 20 anos e maiores ou com idade igual a 20 anos).
Os dados foram coletados através de questionário, quando da realização de jogos na cidade de Belo Horizonte, em horários e locais pré-estabelecidos pela comissão técnica de cada equipe. O questionário, chamado de Teste de Estresse Psíquico do Voleibol (TEP-V), era composto por 18 situações típicas aos atacantes do voleibol durante uma partida. A cada uma destas situações, o atacante atribuía um valor (não estressante/pouco estressante; estressante; muito estressante/extremamente estressante), indicava sua provável reação/comportamento na ocorrência desta situação, indicando ainda o nível de eficiência desta reação em sua auto-regulação.
A análise dos dados se deu através da média, desvio padrão, distribuição das freqüências e teste de comparação de médias (ANOVA One Way ou Teste de Qui-quadrado). O nível de significância adotado foi p< 0,05.
A situação que provocou mais estresse aos atacantes, independente do sexo e idade, foi "o levantador não confia em mim", seguida de "minha equipe perdeu o ponto em um momento decisivo por um erro meu". Também atingiram um valor bastante significativo as situações: "o levantador não me aciona quando minha posição era mais favorável para definir", "Não consigo superar um determinado bloqueador" e "sou bloqueado repetidas vezes". O comportamento mais provável foi "tento me tranqüilizar" e o nível de eficiência dos comportamentos em geral foi de 28,9% de muita eficiência. Estar em desvantagem após o 25º minuto do set foi considerado mais estressante que estar em desvantagem antes do 25º minuto de jogo. As mulheres mostraram-se mais estressadas ao "sempre receber forte marcação de bloqueio nos momentos decisivos" que os homens. Nos demais itens, as diferenças não foram significativas entre os sexos ou faixas etárias.
Deve-se comentar, contudo, um pequeno erro que consta neste trabalho. Refere-se ao numero de atletas. Os autores indicam 157 ao todo, numero este atingido se somarmos o numero de homens (99) com o de mulheres (58). Porém, se somarmos o numero dos jovens atletas, com menos de 20 anos (23) com os com idade igual ou superior a 20 anos (133), teremos 156 atletas. Não que isto venha a alterar significativamente o resultado da pesquisa, mas deslizes como este podem comprometer muitos trabalhos.
Pesquisas de análise do desempenho motorAs pesquisas englobadas neste item por buscarem suas respostas através da simples observação dos fatos ocorridos durante as avaliações e, a partir disto, estabelecerem relações com possíveis métodos de treinamento ou alterações fisiológicas ocasionadas pelo esforço.
Rodacki et al. (1997) realizaram uma pesquisa com o objetivo de; a) quantificar o numero de saltos verticais (SV) realizados pelos jogadores das diferentes posições em um set e uma partida de voleibol; b) analisar a diferença da impulsão vertical (IV) dos atletas em condições de pré o pós-jogo. Trata-se de uma pesquisa descritiva (descreve/quantifica o numero de saltos realizados durante um set/partida de voleibol) experimental (manipula a variável posição dos jogadores).
A amostra consistiu de 36 atletas participantes do Campeonato Paranaense de Voleibol Infanto-Juvenil de 1996. Para a quantificação dos saltos realizados durante as três primeiras partidas oficiais do campeonato, 4 especialistas efetuaram a contagem dos saltos realizados pelos jogadores das diferentes funções durante a partida em que foram avaliados. Os jogadores foram divididos, de acordo com suas funções, nos seguintes grupos: Atacantes de meio (M; N=12); atacantes de ponta e saída de rede (P; N=18); e levantadores (L; N=6). O numero total de saltos realizados durante uma partida foi obtido pelo somatório da quantidade de saltos realizados nos sets. Para a determinação da IV, foi realizado o "sarjent jump test" antes do inicio da partida (no período de aquecimento com bola) e logo após o termino do jogo. Para que os testes pudessem ser realizados juntamente em ambas as equipes, foram instaladas duas estações de medição de fácil acesso, distantes cerca 5,0 m da linha lateral da quadra de jogo. Considerou-se como SV todos os saltos realizados nas ações de ataque, bloqueio, saque, levantamentos em suspensão e fintas.
Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o pacote estatístico STATISTICA® (STATSOFT Inc.). O nível de significância foi de p<0,05.
Os jogadores das funções L e M obtiveram um maior numero de SV por set e por partida, sendo L os que mais efetuaram SV. Os jogadores P foram os que, em média, realizaram menos SV por set e por partida. Através do "Sargent Jump Test", verificou-se a IV pré e pós-jogo, onde pôde-se observar que, apesar de a impulsão pós-jogo haver sido superior a pré-jogo, não houve diferenças significativas entre ambas. Isto leva os autores a concluir que os procedimentos que visam o desenvolvimento da resistência muscular para SV devem ser evitados durante os treinamentos, pois, além de não possuem benefícios comprovados, além de contribuírem à ocorrência de lesões por esforço repetitivo.
Esper (2002) realizou um estudo objetivando avaliar a saltabilidade das equipes de voleibol feminino de alto nível que disputam a Liga Metropolitana Argentina. Para a realização do estudo, descritivo (somente relata os resultados obtidos nos testes), foram avaliadas 88 jogadoras de 9 equipes que disputavam a referida competição.
Antes da partida, realizou-se os seguintes testes: a) Salto com Contra Movimento (CMJ); b) Multi-saltos 15 segundos (MS 15"). Os testes pré partida foram realizados após ma sessão de 30 minutos de aquecimento geral, seguida de outra sessão de 30 minutos de aquecimento com bola. Após a partida, todas as jogadoras (mesmo as que não jogaram) realizaram novamente MS 15", onde avaliou-se apenas a altura média alcançada pelas atletas. Foram registrados os resultados individuais de cada jogadora e, a partir daí, feita a média da equipe.
Em algumas equipes não foi possível avaliar a totalidade das atletas, devido a problemas musculares, estarem em fase de recuperação de lesão ou haverem lesionado-se durante a partida.Com exceção de uma equipe, todas conseguiram manter ou melhorar seus resultados ao final da partida. Ou seja, as atletas saltaram mais alto após a partida do que antes dela.
Em outro estudo, Esper (2003), objetiva quantificar a quantidade e os tipos de saltos que realizam as jogadoras das diferentes posições durante uma partida de voleibol. Trata-se de uma pesquisa descritiva (quantifica os saltos). Foram avaliadas 12 atletas da equipe feminina de voleibol do Clube Gimnasia Y Esgrima La Plata (GELP) durante 7 partidas da Liga Metropolitana Argentina, onde foram disputados 23 sets.
Os saltos foram divididos nas seguintes categorias: bloqueio; ataque; outros. Foi feita uma media de saltos por posição por set e por partida disputada. A quantidade de saltos efetuados pelas jogadoras de uma determinada posição foi somada e dividida pela quantidade de atletas da posição que atuam em quadra (1 levantadora, 2 centrais, 2 pontas e 1 oposta).
Ao todo, foram realizados 1802 saltos, sendo 895 de bloqueio, 639 de ataque e 268 outros (saques, fintas, defesas...). A posição que mais realizou saltos foi a oposta (17 por set), seguida centrais (14 por set), pontas (13 por set) e levantadoras (7 por set). Percentualmente, 50% dos saltos realizados foram de bloqueio, 35% de ataque e 15 % outros tipos.
Casarotto e Dreher (2006) realizaram uma pesquisa descritiva correlacional com o objetivo de quantificar as variações das médias da Impulsão Vertical (IV, desempenho físico), da Freqüência Cardíaca (FC, desempenho fisiológico), e da Percepção Subjetiva do Esforço (PSE, desempenho comportamental), nas condições de pré e pós-jogo, bem como verificar a existência de alguma relação linear entre estas variáveis. A população deste estudo abrangiu 9 atletas da equipe feminina de voleibol adulta da Unijuí, com idade média de 23,88 ± 3,5 anos.
No objetivo de padronizarem-se as condições físicas, fisiológicas e comportamentais das atletas, somente consideraram-se os resultados das atletas que disputaram toda a partida. Em vista disto, a amostra ficou reduzida a 3 atletas, com idade média de 25 ± 3,6 anos.
Antes do jogo, foi verificada a FC de repouso das atletas, pela técnica de palpação radial, em 15 segundos. Foi aplicada, também, a Escala RPE de Borg, individualmente, para estimar-se a PSE em repouso. Antes do jogo, durante o aquecimento de ataque na rede, verificou-se a IV de todas as atletas, através do Sargent Jump Test. Ao final de cada set, imediatamente após a troca de quadra, foi verificada a FC, IV e PSE das atletas que o iniciaram e não foram substituídas, utilizando-se os mesmos métodos já descritos anteriormente. Para a realização da análise estatística utilizou-se do programa estatístico Microsoft Office Excel 2003® e da Correlação Linear de Pearson.
Pôde-se verificar que a FC sofreu um aumento da situação de pré-jogo para o pós-jogo, sendo a maior FC verificada ao final do 1º set. A FC pós 2º set foi inferior a FC pós 1º set e superior às medidas verificadas ao final do 3º set. A FC variou, na média dos 3 sets, 57,77 bpm. A PSE não sofreu grandes alterações no decorrer da partida. Na média dos 3 sets, houve um aumento de apenas 1,44 pontos em relação ao repouso, não indicando redução do desempenho comportamental. A IV foi, na média dos 3 sets, 2,33 cm (5,10%) inferior a IV verificada na situação de pré-jogo, o que caracteriza, segundo os autores, um elevado nível de fadiga.
As correlações entre as variações de FC e PSE, ao final do 1º, 2º e 3º sets levam a entender que as correlações entre estas variáveis não seguem um padrão de comportamento, sendo seus resultados negativos ao final do 1º e 3º sets (-0,82 e -0,75 respectivamente), enquanto ao final do 2º set a correlação verificada foi positiva (0,11). As correlações entre as variações de IV e PSE, ao final dos 3 indicam uma baixíssima correlação negativa entre as variáveis( -0,24, -0,29 e 0, ao final do 1º, 2º e 3º sets, respectivamente). Contudo, as correlações entre as variações de IV e FC, indicam haver grande correlação positiva entre estas variáveis (0,75 ao final do 1º set, 0,92 ao final do 2º set e 0,65 ao final do 3º set).
Análise comparativaA maioria dos artigos pesquisados tratam-se de trabalhos do tipo descritivo/experimental. Eu acredito que isto se deve o fato de diminuir-se a possibilidade de erros ou aspectos que venham a interferir no resultado da pesquisa ao se manipular variáveis.
As pesquisas aqui qualificadas como laboratoriais, ou seja, que levam em consideração aspectos bioquímicos, apresentam maior nível de detalhes quanto aos procedimentos adotados para sua elaboração. Ao mesmo tempo, são as que mais utilizam-se de instrumentos para sua elaboração
As pesquisas voltadas ao estudo comportamental no esporte foram desenvolvidas a partir da utilização de questionários e observação das populações amostradas. Os questionários, contudo, não fornecem grande confiabilidade, pois não se sabe se ao respondê-lo o atleta esta sendo sincero.
Os trabalhos que avaliaram apenas o desempenho motor dos atletas deixaram um pouco a desejar no que se refere à riqueza de detalhes e clareza dos métodos utilizados. Quanto aos resultados obtidos nestes experimentos, vale salientar a divergência entre os resultados obtidos por Rodacki et al. (2002) e Esper (2003). No primeiro, os jogadores que mais realizaram saltos foram ao levantadores e, os que menos saltaram foram os pontas. No segundo verificou-se exatamente o contrário. O jogador que mais realizou saltos foi o oposto (que Rodacki et al. enquadrou como ponta) e o que menos realizou saltos foi o levantador. Deve-se considerar, contudo, as diferenças de idade e sexo existentes entre as populações dos dois experimentos.
Rodacki et al (2002) e Casarotto e Dreher (2006) também apresentam resultados divergentes, visto que no primeiro a IV pós jogo foi superior a verificada em repouso, apesar da variação ser pouco significativa. Já no segundo trabalho a variação da IV foi inferior à verificada na situação de repouso.
Outro fator que deve ser mencionado é a falta de clareza, verificada em alguns artigos, no que se refere aos métodos utilizados na pesquisa e, principalmente, identificação das variáveis manipuladas em seus desenvolvimentos. A falta deste tipo de informação dificulta em muito a identificação do tipo de pesquisa realizada, dificultando com isso sua compreensão.
Acredito, contudo, que este trabalho seja de grande valia para a compreensão dos métodos de pesquisa utilizados na realização de experimentos que envolvam a fadiga e as demais áreas que a circundam. Ao se falar em fadiga, deve-se considerar uma gama de fatores que contribuem à sua ocorrência ou retardamento. Deve-se salientar que sua ocorrência é uma forma de defesa do organismo contra exigências excessivas, evitando-se riscos vitais (WEINECK, 2000). O objetivo de estudá-la é justamente para que possamos compreender suas causas e, a partir disso, desenvolver um programa de treinamento que proporcione seu retardamento.
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digital · Año 13
· N° 119 | Buenos Aires,
Abril 2008 |