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Sistemas energéticos requisitados
na modalidade de tênis de campo

   
Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça - SC.
Núcleo de Estudos e Pesquisa em Ciencias da Saúde e Esporte.
Técnica de Tênis de Campo.
 
 
Maria Letícia Pinto da Luz
mlele85@hotmail.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Sabe-se que a modalidade de tênis de campo é extremamente complexa, que exige de todas as capacidades físicas, fundamentadas na eficiência dos sistemas energéticos. Para que um tenista possa obter um bom rendimento, é necessário que seja elaborado um programa de treinamento de acordo com as características e necessidades individuais e da modalidade. Assim, a presente revisão bibliográfica, teve como objetivo descrever, caracterizar e analisar os sistemas energéticos do organismo requisitados na modalidade de tênis de campo. A partir disto, tornou-se possível concluir que a modalidade em questão é predominantemente aeróbia, onde as principais ações desempenhadas pelo jogador são anaeróbias, tornando fundamental para o bom rendimento o sistema ATP-PC e o sistema aeróbio.
    Unitermos: Tênis de campo. Sistemas energéticos.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

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Introdução

    Ao observar uma partida de tênis, é possível perceber que se trata de uma modalidade que requer uma atividade motora bastante complexa, tanto do ponto de vista motor quanto metabólico, que exige notavelmente os sistemas energéticos. Sendo assim, para que o atleta adquira condições e esteja apto a desempenhar as ações necessárias para o rendimento em uma partida, é fundamental que seja preparado e submetido a um programa de treinamento bem planejado.

    De acordo com Hernandez e Olmos (1998), o conhecimento do funcionamento fisiológico das capacidades físicas condicionais e coordenativas e dos sistemas energéticos requisitados na modalidade em questão, é fundamental para a escolha dos conteúdos e controle das variáveis existentes no treinamento. Naturalmente, esta afirmação motiva o interesse em estudar e conhecer mais profundamente este assunto, aliado à escassez de pesquisas e literatura na área do tênis de campo.

    Anselmi (2004) realizou uma análise das diferentes vias metabólicas implicadas e das capacidades físicas observadas em treinamentos e competições de tênis. Este estudo tinha como objetivo atingir um maior conhecimento para que haja uma maior aproximação entre as necessidades reais do atleta com o que o preparador físico pode oferecê-lo. Com base nisto, acredita-se que pode-se realizar uma melhor seleção e um maior desenvolvimento de jogadores jovens com eficácia, proporcionar melhores adaptações, aprofundar a individualização do treinamento, afastar ou diminuir o risco de lesões e proteger a saúde física e psicológica dos atletas.

    Com o passar dos anos, o tênis de campo tornou-se uma modalidade extremamente dinâmica, que requer uma preparação elaborada para que o atleta consiga desenvolver sua técnica e tática proposta durante uma partida. Segundo Perez et al (2002), a tendência atual do jogo é aumentar cada vez mais a velocidade, o que significa que o tempo de bola em média, vá de um lado para outro da quadra mais rapidamente. Isto obriga os jogadores a se movimentarem com maior rapidez, golpearem com mais força e tomarem decisões em menos tempo. Além disso, afirma também que esta média de tempo vai aumentando à medida que o jogo se torna mais intenso.

    Para que o jogador consiga manter um alto nível de desempenho é necessária uma preparação, embasamento e aperfeiçoamento das capacidades físicas condicionais e coordenativas. Capacidades estas essenciais para a execução das ações durante o jogo. Para isto, é preciso que ocorra o fornecimento de energia necessária para a realização destes movimentos. Assim, os sistemas energéticos e vias metabólicas utilizadas são fundamentais para que haja este abastecimento energético.

    De acordo com Anselmi (2004), o tênis de campo é uma modalidade que utiliza diferentes vias metabólicas, sendo requisitadas tanto os sistemas aeróbios como anaeróbios. Ochoa (2004), afirma que as capacidades físicas condicionais e coordenativas se apresentam como a base da iniciação da maioria das modalidades esportivas individuais e em equipe, pois proporcionam o desenvolvimento de habilidades básicas para a execução de movimentos. A presente revisão bibliográfica, tem o objetivo de abordar e caracterizar os sistemas de obtenção de energia do organismo requisitados na modalidade de tênis de campo.


Referencial teórico

1. Sistemas energéticos envolvidos na modalidade de tênis de campo

1.1. Bioenergética

    Antes de dar início à revisão sobre os sistemas energéticos existentes no organismo humano, é de extrema importância salientar que muitas das informações aqui encontradas foram buscadas e elaboradas a partir das experiências e estudos realizados no decorrer das disciplinas de Bioquímica Aplicada ao Esporte e Fisiologia Aplicada ao Esporte do Curso de Educação Física e Esporte da Universidade do Sul de Santa Catarina.

    Todo movimento ou atividade desempenhada diariamente requer uma quantidade de energia (capacidade de realizar trabalho) suficiente para que o corpo responda com sucesso. Entra aí, o estudo da Bioenergética, que pode ser entendida como energia para a vida obtida através da ingestão de alimentos que são metabolisados a partir de reações químicas anaeróbias (ausência de O2) e aeróbias (presença de O2). Hernandez e Olmos (1998), afirmam que para que o trabalho muscular seja executado, é necessário que ocorra o fornecimento de energia suficiente para a realização do objetivo.

    A Bioenergética refere-se às fontes energéticas para a atividade muscular. Estas fontes de energia provêm dos nutrientes ingeridos através da alimentação. Assim, a energia necessita ser convertida em adenosina trifosfato (ATP), antes que possa ser aproveitada pelo organismo na ação muscular. Com isto, Hernandez e Olmos (1998) afirmam que o objetivo básico das reações é promover a síntese de ATP, molécula que fornece energia para todos os processos existentes no organismo humano. Com base nisto, o corpo processa três tipos de sistemas para produção de energia, que diferem de maneira considerável em complexidade, regulação, capacidade, e tipos de exercícios predominantes. Cada um deles é utilizado de acordo com a intensidade e a duração do estímulo. São classificados em: Sistema Fosfagênio ou ATP-PC; Sistema Glicolítico Aeróbio ou Anaeróbio; e Sistema Oxidativo (aeróbio). (FOX et al, 1991)

    De acordo com Groppel e Roetert (1992), o tênis de campo é uma modalidade que exige em termos energéticos a utilização mista de substratos. Os movimentos de explosão e rapidez executados em uma partida são derivados da ressíntese bioquímica de ATP-PC. Porém, o tempo de duração do jogo pode levar aproximadamente de 30 minutos a 5-6 horas solicitando de maneira considerável o sistema aeróbio. Além disto, a freqüência cardíaca média que será abordada mais adiante indica o requerimento do sistema oxidativo. Fox et al (1991), afirma que a distribuição energética no tênis é em proporções: 70% ATP-PC; 20% anaeróbio alático; e 10% aeróbio.

    É importante ressaltar que posteriormente serão relatadas diferentes abordagens em relação à classificação e predominância de substratos na modalidade de tênis de campo. A partir disto, autores caracterizam as ações executadas em uma partida de tênis de maneiras distintas, determinando quais os sistemas predominantes no esporte em questão.

    Ao analisar o que ocorre durante uma partida de tênis, levando em consideração o rendimento físico do tenista, a Associação dos Tenistas Profissionais - ATP publicou estatísticas em 1988, em pesquisa realizada com os 150 primeiros classificados do ranking. Neste estudo, foi constatado que a duração média de um ponto durante uma partida de tênis é entre 6-10 segundos, onde a distância média percorrida em cada ponto é de 8-12 metros. Assim, em um jogo de cinco sets, o jogador disputa em média 310 pontos, percorrendo uma distância total de 4250 metros. Outro fato investigado foi a freqüência cardíaca média, onde foi visto que as mulheres mantêm a Fc média em 153bpm, enquanto que os homens mantêm a Fc média em 145bpm. Estes dados comprovam que a modalidade de tênis de campo é predominantemente aeróbia, devido a Fc média encontrada e o tempo de duração de uma partida. Por um outro lado, as ações que o atleta desempenha ao longo do jogo requerem de maneira acentuada o sistema anaeróbio.

    Portanto, o tênis deve ser considerado um esporte que pode ser classificado como aeróbio e anaeróbio. Assim, confirma-se que pode ser aeróbio em função da duração da partida. Por outro lado, diz-se que é anaeróbio já que a duração média de um ponto se encontra entre 6-10 segundos. Assim, afirma que pode-se estabelecer como sistema fundamental no tênis de campo o ATP-PC, pois o ATP é a única forma utilizável de energia para contração muscular. (PEREZ et al, 2002)


    Sistema Fosfagênio ou ATP-PC

    No organismo humano, a energia é encontrada em forma de adenosina trifosfato - ATP. O mesmo é composto quimicamente por uma adenosina ligada a três fosfatos (adenosina----P----P----P), onde vale salientar que a energia encontra-se na ligação. É então formado por uma base nitrogenada (adenina), um monossacarídeo de cinco carbonos (pentose) e três fosfatos.

    Nas fases iniciais de qualquer exercício, a produção de energia é anaeróbia, mesmo que a intensidade não seja extremamente elevada, pois os mecanismos de captação, transporte e utilização de oxigênio levam algum tempo para aumentar a eficiência. Assim, a fonte energética imediata para as ações é proveniente da quebra ou desintegração do composto exposto acima. Isto acontece pela ação da enzima Atpase, fazendo com que a reação seja a seguinte:

    É possível perceber que na reação acima, o ATP catalisado pela enzima Atpase tornou-se um ADP, mais um fosfato inorgânico, mais a energia liberada na quebra, suficiente para exercícios que duram de dois a três segundos. É importante salientar que esta reação é reversível. Outra fonte de energia é a fosfocreatina - creatina ligada ao fosfato (PC), armazenada nas células musculares onde pela ação da enzima creatinaquinase é transformada em creatina, mais o fosfato inorgânico, mais a energia liberada na quebra. Esta última é destinada à ressíntese de ATP, visto que a adenosina trisfosfato possui uma reação reversível, o que torna possível ser efetuado o caminho contrário.

    Este sistema é conhecido como ATP-PC ou sistema fosfagênio e é utilizado em exercícios que exigem muito mais o fornecimento rápido de energia em porção satisfatória, do que um abastecimento que produz grande quantidade de energia de forma lenta. O ATP e a PC são muito semelhantes pelo fato de que ambos, quando seus fosfatos são removidos, fornecem uma boa quantidade de energia rapidamente. Assim, estas duas reações citadas individualmente anteriormente, podem ser entendidas simultaneamente da seguinte forma:

    A única maneira da PC ser sintetizada novamente a partir de Pi (fosfato inorgânico) e C (creatina) é pela energia liberada na quebra do ATP. Isto ocorre durante a recuperação após o exercício. Os níveis de fosfocreatina nunca chegam a 0% no organismo, pois o máximo que se consegue utilizá-la ou depletá-la é 80% em atividades de alta intensidade. Assim, a recuperação do substrato tem duração aproximada de três a cinco minutos. Quando gasto parcialmente, demora-se em média de 30 a 60 segundos para recuperá-lo.

    Vale ressaltar que o ATP armazenado no músculo é suficiente para contrações de dois a três segundos. Quando é degradado, o organismo utiliza a fosfocreatina que possui a energia que ressintetiza o composto adenosina trifosfato. Então, pode-se considerar que este sistema gera energia para 8-10 segundos de exercícios em alta intensidade. Hernandez e Olmos (1998) afirmam que em função de este sistema ocorrer sem a necessidade ou presença de oxigênio, pode receber a denominação de via anaeróbia alática, onde o termo alático é citado pela decorrência da não formação de ácido lático durante a evolução destas reações. Em função disto, o fator limitante não é a fadiga causada pela dissociação do ácido lático em lactato, e sim as quantidades de fosfocreatina armazenadas na musculatura.

    Segundo Perez et al (2002), a concentração de ATP no organismo é bastante escassa, alcançando aproximadamente até cinco segundos de contração muscular intensa. Uma das considerações importantes do sistema ATP-PC é seu alto grau de localização no qual é definido por seu combustível, a fosfocreatina, que se encontra reservada específica e unicamente nas fibras musculares. Isto significa que o sistema apenas é estimulado com o trabalho particular de cada músculo e que na maioria das situações não provocará mudanças em outros músculos não envolvidos na contração. A fosfocreatina é constituída pela creatina (aminoácido) unida por uma ligação de alta energia de 10Kcal à um fósforo.

    A creatina pode ser ingerida em pequenas quantidades através da ingestão de carnes e peixes ou pode ser sintetizada endogenamente através de aminoácidos precursores a concentração de PCr no interior da fibra muscular é de três a cinco vezes maior que a concentração de ATP. Perez et al (2002) afirma que no momento que começa a ruptura do ATP para produção de energia mecânica, a fosforilação do substrato é produzida principalmente pela PCr, na qual a ligação de alta energia é destruída pela creatinaquinase, separando para um lado a creatina e para outro o fósforo. Assim, a energia química contida na ligação é liberada para produzir a união do fósforo da fosfocreatina ao ADP para que haja então a ressíntese de ATP.

    Com base nestas afirmações, em exercícios de alta intensidade o sistema ATP-PC é o que mais rápido produz a fosforilação de ATP, pois a PCr é armazenada no citosol da célula, muito próxima aos sítios ativos de utilização de energia. Também pois a hidrólise da PCr produzida pela creatinaquinase é rapidamente ativada pela acumulação de ADP e não é necessário a ocorrência de várias reações enzimáticas antes que a energia seja transferida para a restituição do ATP. Vale ressaltar que por um outro lado, a diminuição do Ph, causada pela acumulação de ácido lático, pode ser um fator inibidor desta enzima. Pode-se observar no gráfico apresentado abaixo, como variam as concentrações de PCr e ATP durante a contração muscular intensa. É importante perceber que quando as concentrações de PCr chegam a níveis baixos, as concentrações de ATP se mantêm muito altas, enquanto que quando os níveis de PCr caem em torno de 10%, o ATP fica aproximadamente em 90%.

    Um outro fator bastante relevante é que para que haja a ressíntese de PCr, também é necessária a provisão de energia fornecida pelo ATP, sustentada por outros sistemas energéticos, como o sistema anaeróbio lático e principalmente o aeróbio. Assim, o autor citado acima diz que corredores de resistência podem apresentar um encurtamento do tempo de ressíntese da PCr, que reflete em uma melhor capacidade oxidativa dos músculos. A partir disto, pode-se estabelecer uma relação entre a ressíntese de PCr e o VO2. Assim, ressalta-se a importância do treinamento aeróbio na modalidade de tênis de campo.


    Sistema Aeróbio

    Para Perez et al (2002), o tênis de campo é considerado um esporte acíclico, onde pode-se afirmar que durante o desenvolvimento do jogo, o gesto motor realizado difere em cada ocasião em que é executado. Para ele, existe dentre os fundamentos realizados, um movimento que se enquadra dentro das características cíclicas, o saque. Segundo Anselmi (2004), a modalidade em questão utiliza e requer diferentes vias metabólicas, sendo fundamentalmente um esporte de importante base aeróbia com participação de vias anaeróbias, especialmente aláticas. Assim, pode-se considerar que a intensidade e dinâmica crescente dos jogos de tênis de alto nível é que determina um maior ou menor compromisso lático. Isto se explica pois quando o nível de jogo e rendimento é alto, a dinâmica de jogo e velocidade dos pontos é bastante grande, com muita intensidade e em função disto, com menor duração. Como foi citado anteriormente, para que se produza a contração muscular é necessário um aporte contínuo de energia na fibra muscular e para sua recuperação. Com isto, o autor afirma que durante uma partida de tênis, o abastecimento energético na fibra muscular é principalmente aeróbio, onde ao analisar a tabela abaixo, esta afirmação pode ser confirmada a partir do controle da freqüência cardíaca.

    O sistema aeróbio é um complexo de vários componente distintos. Isto ocorre em função da sua habilidade de utilizar como substratos carboidratos, gorduras e proteínas e também porque existe a produção de CO2 e água como produto final. Assim, este sistema tem uma capacidade maior de produzir ATP. A complexidade e necessidade por constante suprimento de O2 é que podem ser considerados os fatores limitantes deste sistema para a produção de energia. Assim, vale salientar que para o tenista, é de fundamental importância ter um bom nível de resistência aeróbia, pois desta maneira adquire condições ótimas para que haja a devida captação, transporte e utilização do O2, permitindo uma excelente recuperação entre pontos.

    As vias aeróbias envolvem a oxidação completa dos substratos em dióxido de carbono (CO2) e água (H2O), produzindo energia em forma de ATP. Os principais combustíveis metabólicos são: o glicogênio / glicose e os ácidos graxos. Estima-se que a contribuição energética das proteínas durante o exercício varia entre 5% e 15%, já que exerce a função principal de estruturação e reparação dos tecidos. Assim, quando necessário este substrato poderá ser utilizado mediante ao processo de glicogenólise, onde ocorre a degradação dos aminoácidos em glicose pelo fígado. Poderá também ser aproveitado pela conversão dos aminoácidos em acetil-coa, na qual poderá ser convertido em ácido graxo e participar do ciclo de krebs.

    As reações químicas que produzem ATP na presença de O2 são efetuadas a partir de três vias metabólicas: a glicólise, o ciclo de krebs e a cadeia respiratória. Assim, o metabolismo aeróbio pode produzir uma quantidade de energia suficiente para gerar 36-38 ATPs a partir de cada molécula de glicose, oxidada totalmente em CO2 e H2O. Também pode produzir 130 moléculas de ATPs a partir de aproximadamente 256g de gordura.

    A limitação deste sistema se dá pelo fato de que apenas pode ocorrer na presença de oxigênio. Isto implica que esportes explosivos de curta duração com características anaeróbias não podem depender apenas deste sistema para produzir ATP. Este fato se explica, pois a formação de ATP é lenta, visto que para ser sintetizado é necessário ocorrer três reações químicas (glicólise, ciclo de cori, cadeia respiratória). O processo na realidade é mais lento, pois ocorre apenas quando o oxigênio chega à fibra muscular, tendo que passar por várias estruturas anatômicas do organismo. Assim, neste espaço de tempo, o organismo utiliza outras vias para obtenção de energia, onde primeiramente mobiliza as reservas musculares de ATP e logo, quando esta fonte se esgota, entra o sistema ATP-PC (fosfocreatina) ou anaeróbio alático. Se a necessidade energética for contínua, exigindo uma alta demanda de energia, entra em funcionamento o sistema aeróbio lático.


    Glicólise

    O sistema glicolítico é utilizado em atividades de até três minutos, sendo um processo um pouco mais lento que o sistema fosfagênio. No organismo, os carboidratos ingeridos podem ser encontrados na forma de açucares simples, entendidos como glicose. Esta pode ser utilizada imediatamente a partir da corrente sanguínea ou pode ser armazenada no fígado ou na fibra muscular em forma de glicogênio.

    A glicólise é composta por dez reações sucessivas, dividida em duas fases. A primeira é a fase preparatória e a segunda, a fase compensatória. Na fase inicial, são gastos um ou dois ATPs, onde esta variação pode ocorrer de acordo com o primeiro substrato utilizado no sistema. Pode ser iniciado a partir da glicose sanguínea, que necessita entrar na fibra muscular e para isto gasta um (1) ATP para ser fosfatada. Esta reação importante é catalisada pela enzima fosfofrutoquinase. Já quando a glicólise é iniciada a partir do glicogênio muscular, não é necessário gastar um (1) ATP, pois a molécula já encontra-se no interior da fibra muscular. Assim, após várias reações ocorre a formação de piruvato, pela ação da enzima piruvatoquinase. A partir daí, pode haver a produção de ácido lático e logo de lactato, ou este piruvato pode entrar na mitocôndria. Então, considerando que na fase compensatória são sintetizados quatro ATPs, este sistema pode ser capaz de gerar dois a três ATPs.

  • 1. Glicólise Anaeróbia ou Sistema Anaeróbio Lático
    Quando a demanda energética é contínua e o sistema fosfagênio é esgotado, dá-se início a um processo químico denominado glicólise anaeróbia. Este processo químico ocorre independentemente da presença de oxigênio, proporcionando a energia necessária para síntese de ATP. Como a necessidade energética é superior a quantidade que o sistema aeróbio pode fornecer, os carboidratos são degradados, produzindo resíduos na forma de ácido lático e etanol. Quando esta quantidade de ácido lático atinge níveis altos no músculo e no sangue, produz a fadiga muscular, que muitas vezes impede que o atleta continue o exercício. Como foi abordado anteriormente, na ausência de oxigênio, a partir do momento que ocorre a formação do piruvato, que pela ação da desidrogenase lática é transformado em ácido lático, que é rapidamente dissociado em lactato. Nesta reação ocorre a liberação de um H+ para dentro da célula, que é considerado o fator causador da fadiga.
    É importante salientar que para o tenista, este sistema também é fundamental, visto que muitas vezes, a duração do ponto pode ser semelhante ao tempo do processo em questão. Isto pode ser confirmado, pois a média de tempo de pontos constatada pela Associação dos Tenistas Profissionais - ATP de 6-10 segundos foi elaborada a partir da análise de jogadores de alto nível, onde pode-se considerar que a dinâmica de jogo é muito elevada. Sendo assim, a glicólise anaeróbia pode ser muitas vezes requisitada durante uma partida de tênis de campo.

  • 2. Glicólise Aeróbia
    O processo aeróbio deste sistema ocorre apenas da presença de oxigênio. Após a formação do piruvato, este entra na mitocôndria pelos poros existentes na membrana externa. Assim, é transformado em acetil-coa pela ação do complexo piruvato desidrogenase, e com isto, o acetil-coa é o primeiro substrato do ciclo de krebs. A partir dele, é possível a formação de 12 ATPs. Logo, ocorre também a cadeia respiratória, dando origem a CO2 e H2O a partir dos H+ que entram na mitocôndria na presença de oxigênio.


    Ciclo de Krebs

    De acordo com Lenningher (1980), o ciclo de krebs ou ciclo de cori é um processo que ocorre no interior da mitocôndria, que consiste em oito reações sucessivas. É um sistema enzimático circular, onde o primeiro substrato é o Acetil-Coa, proveniente do metabolismo de aminoácidos, de ácidos graxos e da glicólise. Há cada volta no ciclo, ocorre a formação de três NADH, um FADH2 e um GTP. Assim, vale salientar que fora do ciclo cada NADH dá origem a três ATPs, cada FAHD2 dá origem a dois ATPs e cada GTP dá origem a um ATP. Sendo assim, este processo é capaz de gerar 12 ATPs por volta.


    Cadeia Respiratória

    Lenningher (1980), afirma que a cadeia de transporte de elétrons ou cadeia de transferência de elétrons ou cadeia respiratória ocorre na membrana interna da mitocôndria e consiste em uma série de reações de óxi-redução, onde os elétrons são transferidos de uma molécula para outra. Neste processo, existe um agente redutor, que é a molécula que doa o elétron e um agente oxidante, que é a molécula que aceita o elétron. Com isto, estes elétrons podem ser transferidos na forma de íon hidreto, que possui 2e.

    Após este transporte realizado pelas proteínas carreadoras, também na mitocôndria ocorre a fosforilação oxidativa. Assim, a respiração é acoplada a partir de um intermediário - ATP. Este processo capacita os organismos aeróbios a captar muito mais energia livre dos substratos.


    Oxidação de ácidos graxos - beta-oxidação

    Para Hernandez e Olmos (1998), uma forma de fornecimento de energia através de reações aeróbias é a oxidação dos ácidos graxos, derivados de gordura estocados no organismo humano. Este processo é denominado beta-oxidação e produz quantidades grandes de energia, porém de forma mais demorada. De acordo com Anselmi (2004), a oxidação dos substratos - glicose e ácido graxo - libera a energia utilizada para a ressíntese de ATP. Como mostra o gráfico abaixo, após os primeiros momentos da partida, os lipídios aportam a maior quantidade de energia requerida pelos músculos. É importante perceber que o ponto mais alto do gráfico se dá no momento em que a intensidade do exercício se encontra entre 65% e 85% da Fc máxima. Isto indica uma intensidade moderada - alta, considerada a partir dos princípios da prescrição do treinamento, uma freqüência cardíaca alvo ou ideal para perda / queima de gordura e emagrecimento. Como foi citado anteriormente, a Fc média atingida pelo tenista durante uma partida, fica em torno de 155bpm e 163 bpm, o que salienta de maneira considerável a utilização da gordura como um importante substrato para o fornecimento energético ao longo do jogo.

    O treinamento aeróbio favorece a utilização do ácido graxo e incrementa a capacidade de mobilização das reservas de gordura dentro do músculo. Isto faz com que a energia esteja disponível para ser utilizada em maiores quantidades e mais rapidamente, visto que o processo de metabolismo de ácido graxo é encurtado. Este fato pode ser explicado, pois a gordura é armazenada no organismo em forma de triglicerídeos ( três moléculas de ácido graxo ligadas a uma molécula de glicerol) no tecido adiposo e nos músculos. Para serem liberados e utilizados, é necessário haver a quebra desta ligação. Esta reação é catalisada pela enzima lipase, que é estimulada pelas catecolaminas e hormônio do crescimento. No tecido adiposo, após ser efetuada a quebra desta ligação, o glicerol dirige-se ao fígado e então é transformado em glicose. Já os três ácidos graxos liberados vão para o sangue através do auxílio de transporte de albuminas (proteínas carreadoras). Assim, seguem ao músculo e no interior da fibra, entram na mitocôndria. Então é realizada a beta-oxidação, que da origem a 35 ATPs e oito Acetil-Coa, primeiros substratos do Ciclo de Krebs, que da origem a mais 96 ATPs. Após estes processos, ocorre a cadeia respiratória, dando origem a moléculas de dióxido de carbono e água. Os triglicerídeos intramusculares, quando são degradados liberam o glicerol que da mesma maneira dirige-se ao fígado para ser transformado em glicose. Os ácidos graxos, como já se encontram no interior da célula muscular, são utilizados diretamente, fazendo com que o processo seja mais simples e rápido. Então, a partir do músculo o caminho é o mesmo - mitocôndria - beta-oxidação (acetil-Coa) - ciclo de krebs - cadeia respiratória - produção de CO2 e H2O.

    Ao analisar as afirmações expostas acima, pode-se constatar que a oxidação dos ácidos graxos ou beta-oxidação proporciona o aporte de altas quantidades de energia em tempo mais prolongado. Assim, quando o tenista é submetido a partidas que ocupam um longo período, este sistema torna-se essencial para que haja o fornecimento de energia suficiente para contração dos músculos e recuperação.

    Após descrever estes sistemas, pode-se considerar que na modalidade de tênis de campo, o tenista desempenha / executa ações de extrema velocidade e aceleração com mudanças de direção. Estas ações desenvolvidas em cada ponto, requerem de maneira acentuada o sistema fosfagênio ou ATP-PC e o sistema glicolítico anaeróbio. Estes processos proporcionam um fornecimento relativamente bom de energia e com alta velocidade. Em contrapartida, o jogador muitas vezes necessita estar em atividade em partidas que duram muitas horas, solicitando um aporte contínuo de energia ao longo do jogo. Isto faz com que seja requisitado o sistema aeróbio, que fornece uma quantidade grande de ATP, porém de maneira bastante lenta.

    Assim, pode-se confirmar que os sistemas energéticos na modalidade de tênis de campo não funcionam de forma isolada e sim, em uma constante interação. Isto é explicado, pois não há participação de apenas um processo, não havendo 100% de predominância de um sistema energético sobre os outros. A partir disto, ao longo da partida, de acordo com o momento, são solicitados sistemas e vias de aporte energético mais adequados com a situação. Durante as ações decorridas em cada ponto são solicitados principalmente o sistema fosfagênio e a glicólise anaeróbia, enquanto que ao longo do jogo, o sistema aeróbio é requisitado simultaneamente. Estes fatos fazem crer e salientar que o jogador de tênis necessita ser submetido a um programa de treinamento individualizado e planejado, envolvendo o trabalho das capacidades físicas solicitadas de acordo com o sistema utilizado. Além disto, a alimentação torna-se importantíssima para que os substratos possam estar disponíveis para serem metabolisados em quantidades satisfatórias.


Conclusões

    É importante salientar que o conhecimento do funcionamento fisiológico, das vias de obtenção de energia e das capacidades físicas condicionais e coordenativas torna-se um fator crucial e de extrema importância para que seja possível montar um programa de treinamento para o tenista. Isto se deve ao fato de que a modalidade requer diferentes vias energéticas que são determinadas de acordo com as ações desempenhadas durante uma partida.

    Assim, observou-se que o tênis de campo é uma modalidade predominantemente aeróbia em função da duração e da freqüência cardíaca média obtida pelo tenista ao longo da partida. Por um outro lado, as ações desempenhadas pelo jogador durante os pontos, são geralmente de alta intensidade e curta duração, envolvendo acentuadamente o sistema anaeróbio. Portanto, da mesma maneira que o esporte necessita um aporte contínuo de energia durante várias horas (4h-5h), requer um abastecimento rápido de energia para que seja possível executar cada ponto em alta intensidade. Então pode-se afirmar que a modalidade de tênis é predominantemente aeróbia, onde as principais ações desempenhadas pelo jogador são anaeróbias. Assim, o sistema aeróbio garante uma boa captação, transporte e utilização do oxigênio, além de propiciar uma boa recuperação durante os intervalos dos pontos, permitindo um abastecimento contínuo ao longo da partida; enquanto que o sistema anaeróbio (ATP-PC principalmente) age como fonte energética imediata. Isto faz concluir que para que um tenista venha a obter bons resultados, em seu treinamento deve constar uma boa preparação aeróbia e anaeróbia.

    Em função da possibilidade do tenista estar durante muitas horas em atividade durante uma partida e também das ações que executa ao longo do jogo, a preparação e o treinamento das capacidades físicas condicionais tornam-se essenciais para atingir o bom rendimento. Portanto, a força, a velocidade, a resistência e a flexibilidade são requeridas durante todos os momentos da partida. Sendo assim, estão fortemente ligadas aos sistemas energéticos ou de obtenção de energia do organismo, pois de acordo com cada momento do jogo, são envolvidas determinadas capacidades que determinam a utilização das vias energéticas.


Referências bibliográficas

  • ANSELMI, H. Sistema energéticos y cualidades físicas. Argentina. Fuerza y Potencia.

  • FOX, E.L. ; BOWERS, R.W. ; FOSS, M.L. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. Ed.4. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan: 1991.

  • GROPPEL, J. L.; ROETERT, E. P. Applied physiology of tennis. Sports Medicine. v.14. n.4. p. 260-268. 1992.

  • HERNANDEZ JR.; OLMOS, B. D. MUSCULAÇÃO: Montagem da Academia, Gerenciamento de Pessoal e Prescrição de Treinamento. Rio de Janeiro. Sprint: 1998.

  • LENINGHER, A. L. PRINCÍPIOS DA BIOQUÍMICA. São Paulo. p.193-237. Sarvier:1980.

  • OCHOA, J. Entrenamiento de las capacidades físicas em el tenis de campo. International Tennis Federation. 2004.

  • PEREZ, J.; DESPIERRE, G.; PERASSO, G. Entrenamiento Deportivo. Argentina. Tenisargentina.

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