Exercício e hipertensão: mecanismos e fatores
influenciadores da hipotensão pós-exercício físico agudo e crônico |
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*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais **Graduanda em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais (Brasil) |
Luiz Henrique Marchesi Bozi* Dayane Graciele de Jesus Miranda** |
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Resumo Estudos epidemiológicos mostram que a prática de atividade física relaciona-se inversamente com a mortalidade por doença cardíaca em vários países. Considerando-se que a hipertensão é fator de risco importante para tais doenças, o exercício físico tem sido indicado também como um tratamento anti-hipertensivo não farmacológico. Porém, apesar dos mecanismos responsáveis pela redução da pressão arterial ainda não estarem totalmente esclarecidos, alguns fatores podem influenciar a magnitude da hipotensão pós-exercício. Unitermos: Hipertensão. Exercício físico, Hipotensão.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008 |
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Introdução
A hipertensão arterial é uma patologia fisiologicamente explicada pela elevação da pressão das moléculas que compõe o sangue sobre os vasos sanguíneos. A pressão arterial acima dos níveis normais contribui para o aumento do trabalho realizado pelo coração e, em conseqüência, a hipertrofia ventricular esquerda. . A hipertrofia cardíaca patológica é, reconhecidamente, um dos principais fatores de risco de morte súbita, infarto do miocárdio e falha cardíaca (Levy et al., 1990). Além disso, torna o coração mais vulnerável às lesões isquêmicas e a apresentar débito cardíaco reduzido, arritmias permanentes e aumento da perda de enzimas intracelulares durante a reperfusão pós-isquêmica (Snoeckx et al., 2001).
Neste sentido, vários estudos têm demonstrado que tanto o exercício físico agudo bem como o crônico é capaz de reduzir a pressão arterial frente a uma situação de hipertensão (Rondon et al., 2002; Reger et al., 2006).
Hipotensão pós-exercício físico agudo
Rondon et al. (2002), observaram que uma sessão de exercício físico de baixa intensidade (50% do Vo2 máximo) em 24 pacientes com hipertensão, com idade média de 69 anos, provocou uma significativa redução na pressão sangüínea, por um período de 22 horas após a atividade.
Buscando verificar os fatores que afetam a hipotensão pós-exercício, Forjaz et al. (2000) monitoraram a pressão sangüínea de 30 indivíduos normotensos e 23 hipertensos após uma sessão controle e uma sessão de exercício físico, na qual os indivíduos realizaram exercício físico a 50% do seu Vo2 máximo. Como resultado, foi observado que 65% dos indivíduos de ambos os grupos apresentaram redução da pressão sangüínea pós-exercício.
Entretanto, vários estudos apontam para o fato de que alguns fatores, como o nível de pressão arterial (Cleroux et al.,1992), intensidade do exercício (Pescatello et al., 1991; Cleroux et al.,1992), duração da sessão de treinamento (Forjaz et al., 1998;) e o tipo de exercício (Cleroux et al., 1992; Pescatello et al., 1991), poderiam estar envolvidos tanto na ocorrência como na magnitude e duração da hipotensão pós-exercício físico.
Tem sido sugerido que um dos possíveis mecanismos responsáveis pela redução da pressão sangüínea após uma sessão de exercício físico seriam as alterações nos fatores hemodinâmicos. Rondon et el. (2002), observaram que a hipotensão pós-exercício, em pacientes hipertensos, está associada à redução do volume sistólico e volume diastólico final.
Outro achado importante que pode justificar a hipotensão pós-exercício físico agudo é uma diminuição na resistência vascular e nos níveis plasmáticos de noropinefrina após uma sessão 30 minutos a 50% do VO2 máximo em indivíduos hipertensos (Cleroux et al., 1992). Estes resultados sugerem que uma atividade nervosa reduzida, como vista na concentração plasmática diminuída de noropinefrina, estaria envolvida na redução da resistência cardiovascular.
Hipotensão pós-treinamento físico
Com relação ao exercício físico crônico, sugere-se que o treinamento físico tem um importante papel no sentido de reduzir a pressão arterial em indivíduos hipertensos (Tsai et al., 2004; Horta et al. 2005; Pinheiro et al., 2007; Whelton et al., 2002).
Em seu estudo, Tsai et al. (2004), observaram que a atividade física regular de intensidade moderada, 3 dias/semana por 10 semanas, foi capaz de reduzir a pressão sangüínea de indivíduos com hipertensão moderada. Resultado semelhante foi obtido por Tanaka et al. (2003), que reportaram que os grupos submetidos ao treinamento físico apresentaram significativa redução da pressão arterial.
Por sua vez, Whelton et al. (2002), concluíram que o exercício físico aeróbico é capaz de reduzir os níveis tensoriais tanto em indivíduos normotensos bem como em hipertensos.
Em contrapartida, foi reportado que o exercício físico, 50% do VO2 máximo, 30 minutos/sessão e 3
a 5 dias/semana, reduziu de forma significativa a pressão sistólica e diastólica em pacientes hipertensos, entretanto, não foi notada alteração na pressão arterial média. Os resultados sugerem que o exercício físico aeróbico é capaz de provocar, apenas, pequenas reduções na pressão arterial (Mughal et al., 2001).Com relação a experimentos utilizando modelo animal, verificou-se que ratos espontaneamente hipertensos (SHR) apresentaram redução da pressão arterial após treinamento em esteira rolante, 1hora/dia, 5 dias/semana, durante 20 semanas (Horta et al., 2005).
Já Reger et al., (2006), utilizando o mesmo modelo animal, observaram que o exercício não foi capaz de atenuar a pressão arterial sistólica, a qual estava aumentada após o programa de treinamento em esteira rolante (25 m/min, 60 minutos/dia, 5 dias/semana, durante 16 semanas). Resultado semelhante foi obtido por Lajoie et al. (2004), que não observaram nenhum efeito do treinamento de corrida em esteira (18 m/min, 120 min./dia, 5 dias/semana, durante 8 semanas), no sentido de atenuar o progressivo aumento da pressão sangüínea.
Entretanto, alguns fatores, da mesma forma como no exercício agudo, podem interferir no efeito hipotensor do treinamento físico.
Foi observado que os níveis de pressão arterial antes do treinamento podem influenciar a magnitude da redução da pressão arterial. Sugere-se que indivíduos com altos índices tensoriais têm maiores reduções da pressão sangüínea (Tsai et al., 2004).
No que diz respeito à intensidade do treinamento, os estudos mostram o fato de que intensidades submáximas são as mais indicadas para redução da pressão arterial (Tsai et al., 2004).
Já com relação à quantidade de exercício necessária para provocar redução da pressão arterial, Ishikawa-Takata et. al (2003), em seu estudo com 207 sujeitos destreinados, divididos em 5 grupos de acordo com a quantidade e duração de exercício por semana (controle sedentário, 30 a 60 min/semana, 61 a 90 min/semana, 91 a 120 min/semana e > 120 min/semana), sugeriram que o volume de exercício requerido para reduzir a pressão sangüínea pode ser relativamente pequeno e que reduções significantes podem ser alcançadas com modestos aumentos na atividade física sobre os níveis sedentários.
Outro fator que pode influenciar a redução da pressão arterial é o tipo de exercício. Vários estudos têm reportado que modalidades dinâmicas cíclicas são capazes de reduzir a pressão arterial (Horta et al., 2005). Da mesma forma, apesar de existirem poucos estudos, alguns autores sugerem que programas de treinamento com exercício resistido podem provocar reduções na pressão sangüínea, entretanto, existem controvérsias. Carter et al. (2003), no intuito de verificarem os efeitos do treinamento de força na pressão arterial, submeteram 12 indivíduos jovens a um programa de treinamento com exercícios com pesos, 3 vezes por semana durante 8 semanas. Como resultado, foi observado uma redução da pressão sangüínea diastólica e sistólica, além da redução da pressão arterial média. Resultado semelhante foi apresentado em outro estudo, onde indivíduos apresentaram redução da pressão sistólica de repouso após treinamento isométrico (Howden et al., 2002).
Os mecanismos responsáveis pela hipotensão causada pelo treinamento físico, ao que parece, têm uma ligação muito forte com o sistema nervoso simpático. Duncan et al. (1985) analisaram o efeito de 16 semanas de treinamento aeróbico na pressão arterial e no nível de catecolaminas do plasma, em 56 pacientes. Como resultado, eles obtiveram que o grupo hiperadrenérgico apresentou redução da pressão arterial, que estava associada a uma redução dos níveis de catecolaminas plasmáticas. Este resultado aponta para uma redução da atividade nervosa simpática.
Outro possível mecanismo é o aumento da sensibilidade dos barorreceptores. Neste sentido, foi observado em um estudo utilizando ratos normotensos e hipertensos (SHR) que o exercício em esteira rolante, 26,8 m/min, 5dias/semana, 60 min/sessão e duração de 13 semanas, foi capaz de aumentar a sensibilidade dos barorreceptores da aorta dos animais treinados, tanto normotensos, como hipertensos. Estes resultados indicam que o exercício pode contribuir para uma melhor regulação da pressão arterial pelos barorreceptores (Brum et al., 2000).
Já Amaral et al. (2000), reportaram que o treinamento físico de baixa intensidade pode provocar, além da redução da pressão arterial, diminuição da resistência da microcirculação no músculo esquelético e remodelação dos vasos, em ratos SHR.
Veras-Silva et al. (1997), no intuito de analisarem o efeito do treinamento de baixa e alta intensidade, 55 e 85%, respectivamente, em ratos SHR, verificaram que os animais que tiveram acesso ao treinamento de baixa intensidade apresentaram a pressão arterial média significativamente menor que os animais dos grupos sedentário e treinamento de alta intensidade. Outro achado importante foi que o treinamento de baixa intensidade promoveu uma diminuição do débito e da freqüência cardíaca. Estes achados sugerem que a redução do débito cardíaco também poderia estar relacionada com a redução da pressão arterial após o treinamento físico.
Contudo, apesar da grande gama de possibilidades para explicar os mecanismos responsáveis pela redução da pressão arterial após o treinamento físico, os mecanismos não estão totalmente esclarecidos.
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