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Equilíbrio estático de canoístas. Um estudo de caso

 

*Centro de Educação Física – Laboratório de Biomecânica  

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM – Santa Maria

**Centro de Desportos – Universidade Federal de Santa Catarina 

 UFSC – Santa Catarina

(Brasil)

 Luana Mann*

Julio Francisco Kleinpaul**

Luiz Fernando Cuozzo Lemos*

luizcanoagem@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Introdução: A canoagem é uma das modalidades que mais crescem atualmente, porém estudos relacionados tanto a esta modalidade quanto suas relações com a manutenção da postura estática ainda são escassos na literatura. Objetivo: Dessa forma este estudo objetivou verificar o equilíbrio estático de um sujeito praticante de canoagem velocidade. Método: Foi avaliado um atleta do sexo masculino com idade de 21 anos, peso corporal de 782,64 N e estatura de 1,64 m, pertencente a seleção brasileira de canoagem-velocidade. O equilíbrio foi mensurado através de uma plataforma de força AMTI (Advanced Mechanical Tecnologies, Inc.). Para a coleta de equilíbrio o indivíduo foi avaliado nas posturas uni e bipodal, sendo a última com os olhos abertos e com os olhos fechados. O tempo de aquisição dos dados para cada tentativa foi de 30 segundos a uma freqüência de 100 Hz. Para a análise dos dados utilizou-se estatística descritiva. Resultados: De acordo com os dados obtidos pode-se perceber que o sujeito teve menores índices de equilíbrio estático na direção ântero-posterior em ambas as situações do estudo. A retirada da informação visual trouxe aumento nos valores de oscilação do COP. Conclusão: Conclui-se que a prática de canoagem influencia no equilíbrio de seus praticantes.

          Unitermos: Canoagem. Visão. Equilíbrio.

 

Abstract

          Introduction: The canoeing, that is one of the modalities that more they grow in the actuality, however studies related it so much this modality as your relationships with the maintenance of the static posture are still scarce in the literature. Aim: In that way this study aimed to verify the static balance of a subject playing of the speed canoeing. Method: Was assessed one subject with age of 21 years old, 782,64 N of body weight and 1,64 m of stature, belonging the Brazilian selection of canoeing. It was used one force platforms AMTI (Advanced Mechanical Tecnologies, Inc.) for the data collection. Regarding the balance, the subjects were assessed in the postures unipodal and bipodal, being the last with the eyes opened and closed. The time of data acquisition for each attempt was 30 seconds, in a frequency of 100 Hz. For the data analysis it was used the descriptive statistics. Results: According to the data obtained, is possible to notice that the subject who practices canoeing got lower levels of static balance in the anterior-posterior direction, in both the situations of the study. The suppression of the visual information results in increase on the COP sway. Conclusions: The canoeing practice influences the balance in the apprentices.

          Keyworks: Canoeing. Vision. Balance.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

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Introdução

    Nos dias atuais, a canoagem é uma das modalidades que mais crescem, tanto como esporte de competição quanto como atividade de lazer.

    As características antropométricas, neuromusculares e fisiológicas de atletas de elite de diversas modalidades são, na maioria das vezes, muito diferentes, tendo em vista as exigências específicas de cada esporte. Muitas dessas características são moduladas pela hereditariedade, pelo treinamento físico, por aspectos nutricionais, dentre outros fatores que podem contribuir acentuadamente para o sucesso, sobretudo no esporte de alto rendimento.

    Na canoagem, independente dos caiaques utilizados (K-1, K-2 ou K-4), os canoístas mantêm uma posição sentada, exigindo um novo controle postural, o qual nas atividades da vida diária não se está acostumado a fazer. Alguns autores afirmam que a canoagem requisita habilidades abertas, ou seja, requer que as pessoas adaptem seus movimentos, em resposta às propriedades dinâmicas do meio, chamadas de dificuldades (SCHIMIDT e WRISBERG, 2001). Essas dificuldades inesperadas podem causar modificações no equilíbrio do praticante, isso é observado nas sessões de prática da canoagem, quando as pessoas podem desafiar seu equilíbrio a todo instante, correndo o risco de virar e assim estarão aprendendo a dominar a instabilidade do caiaque (COMERLATO, 2003).

    A base de apoio é apontada como fator interveniente no equilíbrio corporal (LATASH et al., 2003; MOCHIZUKI et al., 2006). Na canoagem especificamente o indivíduo está habituado a permanecer por longo período em uma base de apoio menor e que se mantém como desafio constante para o sistema de controle postural, principalmente na direção médio-lateral. Porém, poucos estudos relacionam a modalidade canoagem com o equilíbrio corporal (LEMOS e TEIXEIRA, 2006; LEMOS et al., 2007).

    Diante destes fatos, este trabalho buscou analisar o equilíbrio estático em um canoísta da seleção brasileira de canoagem-velocidade durante o apoio unipodal e bipodal e a influência da visão para manutenção desta capacidade física.

Metodologia

    Para a realização deste estudo foi avaliado um indivíduo do sexo masculino praticante de canoagem-velocidade pertencente a seleção brasileira, com tempo de prática na modalidade de 9 anos, com idade de 21 anos, peso corporal de 782,64 N e estatura de 1,64 m, sem histórico de problemas músculo-esqueléticos e/ou síndromes vestibulares.

    O indivíduo foi convidado a participar do estudo, e após tomar conhecimento do que se tratava o mesmo assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi determinado um dia para a coleta de dados que ocorreu em ambiente de laboratório.

    O equilíbrio foi coletado através de uma plataforma de força OR6-5 AMTI (Advanced Mechanical Tecnologies, Inc). O posicionamento do indivíduo foi padronizado na primeira tentativa de cada situação e repetido nas demais tentativas, estando este com um ou dois pés sobre a plataforma, braços relaxados ao lado do tronco, olhar fixo em um ponto de referência posicionado a frente na parede na altura dos olhos, distante dois metros da plataforma de força.

    O indivíduo foi avaliado em duas situações, sendo apoio unipodal direito e esquerdo com os olhos abertos e, na situação bipodal em duas condições sensoriais, olhos abertos (OA) e olhos fechados (OF). Foram realizadas três tentativas para cada condição e situação totalizando 12 tentativas. O tempo de aquisição dos dados para cada tentativa foi de 30 segundos, após a estabilização visual do centro de força (COP), a uma freqüência de aquisição de 100 Hz. Foi mensurado a estatura e peso corporal do indivíduo e o mesmo respondeu a um questionário para aquisição de dados prévios.

    O equilíbrio corporal foi analisado através da amplitude do deslocamento do centro de força nas direções ântero-posterior (COPap) e médio lateral (COPml), através da velocidade média do deslocamento do centro de força (Vel) e da trajetória de deslocamento do centro de força (Comp). Estas variáveis são mensuradas pela plataforma de força, e dadas pelas seguintes equações:

Onde:

COPa-p = coordenada do centro de força na direção ântero-posterior;

COPm-l = coordenada do centro de força na direção médio-lateral;

Mx = momento em torno do eixo ântero-posterior;

My = momento em torno do eixo médio-lateral;

Fx = componente ântero-posterior da força de reação do solo;

Fy = componente médio-lateral da força de reação do solo;

Fz = componente vertical da força de reação do solo;

h = distância da superfície até o centro geométrico da plataforma de força;

Vm = velocidade média;

L = comprimento total do caminho do COP;

n = número total de quadros;

∆t = mudança total de tempo;

C= comprimento total da trajetória;

Xi= coordenada do eixo x;

yi= coordenada do eixo y.

Análise estatística

    Os dados foram submetidos à estatística descritiva. Em função de se tratar de um único sujeito não foi realizada análise estatística.

Resultados

Tabela 1: Resultados para o COPap, COPml, Vel e Comp para a situação de apoio unipodal dos membros sendo, membro direito (D) e membro esquerdo (E) na condição sensorial com os olhos abertos.

Variáveis

COPap (cm)

COPml (cm)

Vel (cm/s)

Comp (cm)

UNIPODALL

Mem

Média

D.padrão

Média

D.padrão

Média

D.padrão

Média

D.padrão

D

5,05

1,66

3,66

0,27

4,55

0,12

91,14

2,31

E

4,79

1,21

3,60

0,61

4,24

0,19

84,89

3,84

Tabela 2: Resultados para o COPap, COPml, Vel e Comp na situação apoio bipodal para ambas as condições sensoriais analisadas sendo, olhos abertos (OA) e olhos fechados (OF).

Variáveis

COPap (cm)

COPml (cm)

Vel (cm/s)

Comp (cm)

BIPODAL

Sit

Média

D.padrão

Média

D.padrão

Média

D.padrão

Média

D.padrão

OA

2,33

1,20

1,51

0,22

3,01

0,09

60,30

1,73

OF

3,04

1,58

1,67

0,24

3,17

0,11

63,34

2,21

Discussão

    O objetivo do presente estudo foi analisar o equilíbrio estático unipodal e bipodal de um canoísta da seleção brasileira de canoagem-velocidade e a influência da visão para manutenção desta capacidade física. Os resultados demonstram que a prática da modalidade exerce influência sobre o equilíbrio principalmente na direção médio-lateral.

    Quando analisadas as variáveis referentes ao apoio unipodal de ambos os membros (tabela 1), os dados do presente estudo são superiores aos encontrados por krebs et al. (2005) avaliando remadoras. Em nossos resultados comparando-se o equilíbrio na posição unipodal direito e esquerdo os mesmos demonstram aumento da oscilação corporal em função da diminuição da base de apoio. Estes resultados concordam com a literatura consultada que afirma que com a diminuição da base de apoio ocorre aumento da oscilação corporal (MOCHIZUKI et al., 2006). Este estudo foi realizado com 9 indivíduos saudáveis, com objetivo de verificar mudanças durante a oscilação postural frente a manipulação da base de apoio. Os resultados mostram que o aumento de oscilação foi mais pronunciado quando utilizada a menor base de apoio. Segundo os autores até mesmo pequenas alterações na base de apoio têm grande influência sobre o equilíbrio corporal (MOCHIZUKI et al., 2006). Segundo os mesmos, o medo é um fator que influencia no aumento da oscilação postural, frente a uma situação onde o sistema de controle postural possa ser mais exigido. Alguns estudos têm mostrado que ajustes posturais antecipatórios são utilizados durante a posição estática com área de apoio reduzida (ARUIN, FORREST e LATASH, 1998).

    Os valores encontrados para as variáveis indicativas de equilíbrio corporal analisadas, demonstram que as maiores oscilações no equilíbrio estático na posição de pé, estão na direção ântero-posterior (COPap) para ambas as situações do estudo. Uma possível explicação estaria vinculada ao número de graus de liberdade na direção ântero-posterior, relacionado ao maior número de articulações envolvidas para manutenção do equilíbrio, quando comparada à direção médio-lateral, pois esta se resumiria basicamente a articulação do quadril e também em função da anatomia do tornozelo (MOCHIZUKI et al., 2006). Esses dados vão ao encontro do estudo de Krebs et al. (2005) com remadoras. Os resultados em ambas as condições visuais na situação bipodal foram semelhantes aos encontrados no presente estudo. Segundo os mesmos este resultado pode sugerir que a informação proprioceptiva influenciou mais o desempenho das oscilações médio-lateral do equilíbrio de tronco do que a ântero-posterior.

    Ao longo da prática da canoagem as maiores preocupações e adaptações dos praticantes estão na direção médio-lateral, que por sua vez tem menor superfície de apoio na água e é nesta direção que o caiaque pode virar, já para o sentido ântero-posterior não existe muitos problemas, pois a técnica apurada do esporte sugere que este movimento seja o mínimo possível, para que assim não se perca rendimento esportivo e cause um maior atrito do caiaque com a água. Logo, pode-se notar que o equilíbrio ântero-posterior não é muito trabalhado em comparação ao médio-lateral.

    Nossos dados concordam com as afirmações acima em virtude das oscilações no sentido médio-lateral terem sido menores tanto para o apoio unipodal quanto para o apoio bipodal. Esses achados vão ao encontro do estudo de Lemos et al. (2007), que avaliaram o equilíbrio de praticantes de canoagem amadora e compararam aos valores obtidos por praticantes de outras modalidades (atletismo e natação). Os resultados mostraram que com a prática da canoagem as oscilações corporais diminuíram na direção médio-lateral.

    A canoagem por ser um esporte em que o praticante realiza na posição sentado, o deslocamento do caiaque está extremamente relacionado com a força gerada pelos membros superiores, o desenvolvimento de membros inferiores fica bastante prejudicado. Conseqüentemente a esse fator, devido ao

    extremo trabalho muscular realizado a cada sessão de treinamento da modalidade, acontece um grande ganho de massa muscular no seguimento superior do corpo dos canoístas, o que pode prejudicar a manutenção corporal em equilíbrio estático, pois o fato de haver maior quantidade de massa muscular no seguimento superior altera o centro de gravidade (CG) para cima, causando maior instabilidade. Mesmo que o valor do CG seja previsto pela literatura, estando entre 55 e 57% da estatura do indivíduo a partir do solo, em um plano que passa horizontalmente através do corpo de 2,5 a 5 cm abaixo do umbigo ou aproximadamente 15 cm acima do púbis (Mcginnis, 2002), alguns centímetros à frente da vértebra L3 (Wirhed, 1986), demonstrando diferenças do equilíbrio estático entre homens e mulheres adultas, justificando essas diferenças por fatores antropométricos como altura (Oliveira et al., 2005) e possivelmente com o comprimento de membros inferiores (ECKERT, 1993). Com isso pode-se dizer que, em um esporte cujas dimensões corporais são modificadas para otimizar o desempenho, a análise de variáveis relacionadas com o CG e com o equilíbrio corporal devem ser melhor estudadas, visto que os canoístas podem apresentar o centro de gravidade mais alto.

Conclusão

    Conclui-se deste estudo, que tanto a dependência da visão quanto da situação de apoio para manutenção do equilíbrio estático foi expressiva neste atleta de canoagem. A prática da canoagem demonstrou ser um fator interveniente sobre o equilíbrio do atleta avaliado, uma vez que, devido a especificidade deste esporte, as oscilações no sentido médio-lateral foram minimizadas.

Referências

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  • Comerlato L. Canoagem para deficientes físicos. [periódico on line]. 2003. Disponível em: http://cbca.org.br/biblioteca/arquivos/biblioteca. [2006 jul 27].

  • Eckert HM. Desenvolvimento motor. 3.ed. São Paulo: Manole, 1993. 490 p.

  • Krebs RJ, Oliveira F, Bertoni A, Soares AV. Características do equilíbrio de tronco de remadoras com e sem informação visual. In: XI CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMECÂNICA. Anais... João Pessoa. 2005. 5p

  • Lemos LFC, Teixeira CS. Equilíbrio Estático em Canoístas. In: XXI JORNADA ACADÊMICA INTEGRADA. Anais eletrônicos... Santa Maria, Rio Grande do Sul: UFSM. 2006.

  • Lemos LFC, Teixeira CS, Pranke GI, Mann L, Rossi AG, Mota CB. Investigação do equilíbrio estático em praticantes de canoagem velocidade. In: XII CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMECÂNICA. Anais... Rio Claro, São Paulo. 2007. 6p

  • Mcginnis PM. Biomecânica do esporte e exercício. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • Mochizuki L, Duarte M, Amadio AC, Zatsiorsky VM, Latash ML. Changes in Postural Sway and Its Fractions in Conditions of Postural Instability. Journal Applied Biomechanics. 2006; 22: 51 - 60.

  • Latash ML, Ferreira SS, Wieczorek AS, Duarte M. Movement sway: changes in postural sway during voluntary shifts of the center of pressure. Experimental Brain Reserch. 2003;150: 314 – 324.

  • Oliveira LF, Imbiriba LA, Garcia MAC, Oliveira JM, Mainenti MRM, Cruz CR. Controle do equilíbrio corporal durante testes de longa duração na postura ereta. Revista Brasileira de Biomecânica. 2005;115-120.

  • Smith PG, Lees A. “Balance” in horizontal jumps. Track Coach.2003; 5163-5220.

  • Schimidt RA, Wrisberg C. A aprendizagem e performance motora: Uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

  • Wirhed R. Atlas de Anatomia do Movimento. São Paulo: Manole, 1986.

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