A Corrida de Orientação enquanto conteúdo da Educação Física escolar |
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Lic. em Educação Física. (Brasil) |
Fábio Souza de Oliveira | Johelio Santana Barroso Osvaldo Moura Costa Junior fabio@performbahia.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008 |
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Introdução
Esta pesquisa teve como ênfase o estudo da corrida de orientação enquanto conteúdo da Educação Física Escolar. O anseio por pesquisar este desporto e sua relação com o meio escolar, nasceu do fato de que muitas escolas ainda fazem das suas aulas de Educação Física, meras reprodutoras de aulas aplicadas em clube para formação de atletas, tendência que se manifesta desde a década de 40, quando o movimento de massificação do esporte se inicia, dando prioridade ao esporte nos conteúdos das aulas de Educação Física. (SOARES, 2007).
Esta tendência de esportivizar a Educação Física escolar, esteve muito forte até a década de 80 quando surge uma nova, que procura entender o homem como ser cultural e que tem no movimento uma forma de expressão e de aprender. Este movimento chama esta área de estudo de cultura corporal. (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
A partir de inquietações nossas, depois de conhecer o Esporte de Orientação, que nos mostrou inúmeras possibilidades de relações com as mais variadas faixas etárias de alunos e com as relações possíveis com outras áreas de conhecimento, decidimos verificar suas possibilidades pedagógicas. Este esporte abre um leque de possibilidades de atuação, tanto de locais: como a própria escola, clubes, chácaras, bairro; como de materiais: com ou sem bússola, utilizando mapa da cidade, do bairro, planta de um clube; ou mesmo de participantes: portadores de necessidades especiais, estudantes mais ou menos hábeis fisicamente, contribuindo para os mais novos ideais de educação inclusiva.
Observando estas possibilidades, surgiu a problemática: A Corrida de Orientação nas aulas de Educação Física Escolar oferece contribuições pedagógicas e para o processo de aprendizagem de escolares? Surge então como objetivo deste estudo, analisar a interferência da Corrida de Orientação no processo de construção do conhecimento de escolares.
Para o aprofundamento desta pesquisa, dividimos este estudo em três capítulos. No primeiro, abordamos a orientação, sua historia, suas características e a difusão da orientação no Brasil e no mundo. O segundo capítulo trata dos conteúdos tradicionalmente abordados pela Educação Física, a relação destes com a transversalidade e interdisciplinaridade, além das propostas existentes de conteúdos segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Física. O terceiro e último capítulo apresenta os processos cognitivos envolvidos no aprendizado.
Tentou-se relacionar os pontos discutidos e chegar a uma síntese que ressalte a importância do Esporte de Orientação, criando novas possibilidades, ou novos caminhos a serem explorados pela educação.
Revisão de literaturaEsporte de Orientação e suas contribuições para a escola
A Orientação, desde sempre foi utilizada em todos os deslocamentos terrestres e marítimos com o objetivo de ir o mais rápido possível de um local para outro (FERREIRA, 1999). Segundo Palmer (1997), existem registros que indicam a utilização de mapas rudimentares pelos egípcios a 2.000a.C. Em relação à bússola, embora a sua origem não seja clara, sabe-se que, ela foi utilizada pelos chineses, escandinavos e árabes em tempos muito remotos, havendo indícios do seu surgimento na Europa a partir do século XI (FERREIRA, 1999).
Como modalidade desportiva, a Orientação, atualmente conhecida como Esporte de Orientação, é hoje praticada nos cinco continentes, tendo nascido na Suécia através do Major Ernest Killander em 1918, considerado, portanto o "Pai da Orientação" (PALMER, 1997). Preocupado com o desinteresse dos jovens pela corrida, killander associou ao cross-country, a escolha do percurso entre um ponto e outro. Formulou os princípios básicos da competição nesta modalidade, incluindo as regras, os tipos de provas, o critério para escolha dos postos de controle e a forma de como se deve organizar um evento deste desporto. Tratava-se de uma corrida onde os participantes teriam em seu poder um mapa e uma bússola através dos quais, conheceriam o percurso por onde deveriam passar. Cada ponto a ser visitado, o local da chegada, os obstáculos a serem superados eram descobertos a cada momento durante a execução da atividade, o que a tornava excitante, motivante e com a vantagem de apresentar aspectos sempre diferentes de uma corrida para outra. (PALMER, 1997).
No Brasil, o Esporte de Orientação chega através de militares que, em 1970, foram à Europa observar as competições de Orientação do CIMS (International Military Sports Council). Em 1971, eram realizadas as primeiras competições neste país (FERREIRA, 1999). Em 1974, foi incluído no Currículo da Escola de Educação Física do Exército e neste mesmo ano surge a primeira publicação técnica brasileira sobre este desporto. Em 1984, foi realizado em Curitiba, o XVII Campeonato Mundial Militar de Orientação que, contribuiu para o desenvolvimento do desporto entre os militares e civis brasileiros. Em 1991, foi fundado o Clube de Orientação de Santa Maria (COSM), iniciando um movimento de expansão por todo o Estado do Rio Grande do Sul e apoiando a fundação de outros clubes (FERREIRA, 1999).
Somente em 1998, o Esporte de Orientação foi incluído nos currículos das escolas municipais de Cachoeira do Sul - RS, e na atualidade encontra-se incluído como disciplina em algumas escolas e Universidades, inclusive ao nível de pós-graduação na Universidade do Paraná. De acordo com a Confederação Brasileira de Orientação (2007), o Esporte de Orientação cresce no universo escolar por sua capacidade de unir, sobretudo aspectos físicos e cognitivos, o que amplia a possibilidade de participação dos estudantes em condições de igualdade, por sua necessidade de se conhecer a leitura precisa de mapas, avaliação e escolha da rota, uso da bússola, concentração sob tensão, tomada rápida de decisão, entre outras.
A Orientação pedestre é uma modalidade de endurance que, envolve grande componente mental e físico (PASINI, 11/12/2007). Como o próprio nome sugere é praticada a pé, sendo, portanto, a mais viável para utilização em meio escolar. Não há impedimentos quanto à sua realização correndo ou andando, uma vez que uma boa leitura do mapa e correta utilização da bússola, ou seja, boa orientação, fará maior diferença do que o simples condicionamento físico. A Orientação pedestre pode ainda, ser realizada em duplas, trios ou equipes, gerando situações de conflito ou cooperação, o que será matéria-prima para discussão dos trabalhos em grupo.
Antes de tratarmos da vertente pedagógica, foco deste trabalho, é relevante tratar do conceito da palavra pedagogia ou pedagógico. Pedagogia significa "dar direção à", que no âmbito da educação, trata-se evidentemente de dar direção aos processos educativos significativos. Por extensão, pedagógico significa direcionador (SOUZA, 2007). Logo, o Esporte de Orientação em termos educacionais, corresponde ao conjunto de ações que visam colocar o desporto a serviço do aluno, direcionando-o ao aprendizado significativo. Nesse caso, procura-se a melhor qualidade do ensino e a motivação do aluno, não importando a performance; mas, sim, a participação, visando a formação do indivíduo para o exercício da cidadania e para a prática do lazer.
Na escola, o desenvolvimento do esporte e, especificamente do esporte de orientação, deve estar focado em questões que atendam à participação, onde todos tenham acesso e, sobretudo com chance de sucesso, contextualizado às realidades individuais; formação, com vistas aos conteúdos que incrementem seu acervo conceitual nas diferentes áreas do saber, já que se trata de um projeto interdisciplinar; lazer, tornando-o apto ou consciente do uso do seu tempo em atividades que lhe permitam prazer, repouso ou crescimento cultural; atividade física, onde deve se ter claro os objetivos da atividade enquanto envolvimento motor: quais os sistemas energéticos envolvidos, de que forma pode-se através deste esporte enriquecer o repertório motor, quanto será necessário se praticar para atingir estes objetivos, etc. Os esportes podem ainda propiciar o desenvolvimento do trabalho em equipe, seja durante os planejamentos e elaboração do evento ou da própria atividade, seja durante a execução propriamente dita do desporto ou, em última análise, posterior à sua execução na forma de grupos de discussão e avaliação. Por fim, é necessário estar atento também à motivação para a atividade. Há que se ter claro que qualquer atividade rotineira, sem diferencial, que não atenda aos anseios ou à realidade dos alunos está fadada à desmotivação, ao desinteresse ou à falta de dedicação plena ao participar.
Conteúdos da Educação Física e a relação da transdiciplinaridade e interdisciplinaridadeObservando a disciplina Educação Física no ensino fundamental, nota-se que, a predominância dos conteúdos está relacionada aos esportes, sendo os que têm maior receptividade aos planejamentos dos professores, são os esportes de quadra: Voleibol, Handebol, Futsal e Basquetebol. Estes têm grande popularidade, em grande parte devido à mídia, ou são os mais conhecidos e, portanto, de domínio do professor.
A segunda dimensão da critica diz respeito à função do esporte que acontece na escola, sustentando-se, por um lado na idéia de que o esporte que acontece na escola está a serviço da instituição esportiva, na revelação de atletas, constituindo-se na base da pirâmide esportiva e, por outro lado, na dimensão axiológica, nos valores que ele transmite, perpassa e constrói. A escola, por meio da educação física, estaria assumindo os códigos, sentidos e valores da instituição esportiva (ASSIS, 2005, p. 16).
Porém, durante a história da Educação Física, os conteúdos prioritários foram mais diversificados enquanto manifestação corporal, mas, sempre atendendo a um anseio que a realidade social do momento impunha para esta disciplina reproduzir, juntamente com todas as outras disciplinas da escola. Como afirma Paulo Freire (1996), a educação nunca estará neutra no processo de formação, ela atenderá sempre a um propósito dentro da sociedade.
(...) a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento (FREIRE, 1996, p. 98).
A partir da década de 80, surge uma nova concepção de Educação Física, que vem para romper com essa reprodução do esporte competição dentro da escola, questionando qual a importância para a formação do aluno desta abordagem, de treinamento precoce de atletas na escola. Esta corrente propunha-se a utilizar o esporte como uma rica forma de transformar o aluno. A idéia era utilizar não o jogo pelo jogo, mas sim, contextualizá-lo, destacando sua relação com a estrutura social, e, fazendo o aluno, a partir daí, poder criticar a sua realidade.
O esporte não é certamente o único recurso metodológico que a Educação Física escolar tem; o homem é um ser cultural, e este, tem um repertório corporal capaz de jogar, dançar, lutar, brincar... O esporte por sua vez, deve ser então, considerar as potencialidades deste homem e não reduzi-lo a um reprodutor de normas, deve permitir re-elaboração de normas, aprendizado, questionamento.
Como referencial para a sistematização das aulas da disciplina Educação Física, temos no Brasil os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que auxiliam com questões e objetivos que devem ser abordados durante os ciclos escolares.
Os PCN trazem alguns objetivos para a disciplina Educação Física, cabendo aqui, ressaltar os que chamam mais atenção para esta pesquisa:
Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais;
Reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria da saúde coletiva;
Solucionar problemas de ordem corporal em diferentes contextos regulando e dosando o esforço em um nível compatível com as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e o desenvolvimento das competências corporais decorrem de perseverança e regularidade e devem ocorrer de modo saudável e equilibrado;
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Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão
(BRASIL, 1997, vol. 7, p.43).Para alcançar estes objetivos o próprio PCN indica conteúdos divididos em três blocos, os quais devem ser distribuídos durante a sistematização da disciplina.
Analisando esta proposta de conteúdos, mais os objetivos elencados pelos PCN para a disciplina Educação Física, nota-se que, o conteúdo esporte pode e deve ser meio de transformação do aluno em um cidadão crítico ao fim dos ciclos escolares. Para tanto é preciso romper com o modelo de esporte, repensando o modelo de aula atualmente empregado, para que estas sejam mediadoras da aprendizagem destes objetivos que vão além do simples jogar, correr, dançar ou lutar.
O grande desafio da educação física da escola é promover aprendizado significativo e relevante para o cotidiano do aluno.
Os PCN trazem um módulo específico para tratar da transversalidade e da interdisciplinaridade e definem como transversalidade:
Possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). (BRASIL 1997, vol. 8, p. 40).
Analisando esta proposta de conteúdos, mais os objetivos elencados pelos PCN para a disciplina Educação Física, nota-se que, o conteúdo esporte pode e deve ser meio de transformação do aluno em um cidadão crítico ao fim dos ciclos escolares. Para tanto é preciso romper com o modelo de esporte, repensando o modelo de aula atualmente empregado, para que estas sejam mediadoras da aprendizagem destes objetivos que vão além do simples jogar, correr, dançar ou lutar.
O grande desafio da educação física da escola é promover aprendizado significativo e relevante para o cotidiano do aluno.
Os PCN trazem um módulo específico para tratar da transversalidade e da interdisciplinaridade e definem como transversalidade:
Possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). (BRASIL 1997, vol. 8, p. 40).
E discorre sobre Interdisciplinaridade:
Questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento, produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles - questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. (BRASIL, 1997, vol. 8, p. 40).
Apesar de serem definidas de formas distintas, a transversalidade e interdisciplinaridade, são dependentes, não dá para tratar de uma destas, sem diretamente utilizar também a outra. As duas vêm questionar a segmentação que existe na escola, em que cada disciplina trata isoladamente de suas questões sem relacioná-las a um todo, mesmo diversas vezes tendo conteúdos bem parecidos e comuns, para proporcionar ao aluno um aprendizado de melhor qualidade, com maior ligação com o mundo fora da escola, ou seja, o cotidiano dos alunos.
O conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido. Para ter sentido, a palavra necessita do texto, que é o próprio contexto, e o texto necessita do contexto no qual se enuncia. (MORIN, 2000, p. 36).
Há inclusive de se pensar se, os conteúdos são mais importantes que os objetivos elencados para a formação do aluno. Sendo assim, os educadores terão que repensar sua forma de tratar os conhecimentos dentro da escola e qual o significado que estes têm para o aluno.
A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade mais expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar. (MORIN, 2000, p. 39).
Enfatizando a interdisciplinaridade e transversalidade dentro do planejamento escolar, as disciplinas passarão a não ter mais conteúdos independentes e sim os conteúdos passarão a ser de todas na unidade ou bimestre. E todas as disciplinas ou um conjunto de disciplinas, se encarregarão de tratar destes de forma integrada.
Para que este processo interdisciplinar obtenha sucesso dentro da escola, é imprescindível que o professor antes de tudo, tenha a convicção que este projeto de intervenção pode e tem condições para transformar o aluno e assim terá condições para enfrentar as possíveis resistências que surgirão.
Pois é notório que além do sistema educacional estar, viciado historicamente na segmentação do conhecimento, tem o agravante da acomodação dos professores enquanto, oferecer e buscar novas possibilidades para mediação do conhecimento com o aluno.
Temos então que, ressignificar o processo de ensino e aprendizagem e também a classificação de conteúdos. Zabala (1998) trata de como estão situados os diferentes conteúdos de aprendizagem sob a perspectiva disciplinar, fazendo com que cada disciplina veja seus conteúdos de forma isolada e usando de uma didática específica para tratar cada um do "seu" conteúdo.
Para esclarecer do que se trata esta nova visão dos conteúdos, vamos então apresentar o que são os conteúdos atitudinais, procedimentais e conceituais segundo Zabala.
Conteúdo Procedimental:
É um conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a realização de um objetivo. São conteúdos procedimentais: ler, desenhar, observar, calcular, classificar, traduzir, recortar, saltar, inferir, espertar, etc. (ZABALA, 1998).
Conteúdos atitudinais
Englobam uma serie de conteúdos que por sua vez podemos agrupar em valores, atitudes e normas. Cada um destes grupos tem uma natureza suficientemente diferenciada que necessitará, em dado momento, de uma aproximação especifica. (ZABALA, 1998, p. 46).
Conteúdos conceituais (Factuais)
Tratam do conhecimento de fatos, acontecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e singulares: a idade de uma pessoa, a conquista de um território, a localização ou a altura de uma montanha, os nomes, os códigos, os axiomas, um fato determinado num determinado momento, etc. (ZABALA, 1998, p. 41).
Partindo destas definições de cada conteúdo no processo de aprendizagem, podemos fazer esta ligação com a Educação Física e com a corrida de orientação. A Educação Física, como foi exposto, focou por décadas a esportivização com ênfase na performance, fazendo assim uma redução da aprendizagem ao saber fazer e nisto, ao campo do conteúdo procedimental, restringindo assim aprendizagem ao mero fazer pelo fazer.
Processos cognitivos envolvidos na aprendizagemO processo de aprendizagem pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento (VYGOTSKY, 1993). Uma mudança relativamente durável do comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada (VYGOTSKY, 1993).
A aprendizagem é influenciada pela inteligência, incentivo, motivação, e, segundo alguns teóricos, pela hereditariedade. Estímulo, impulso, reforço e resposta são os elementos básicos para o processo de fixação das novas informações absorvidas e processadas pelo indivíduo. Por exemplo, aprende-se melhor e mais depressa se houver interesse pelo assunto que se está a estudar.
Motivado, um indivíduo possui uma atitude ativa e empenhada no processo de aprendizagem e, por isso, aprende melhor. Daí depreende-se que, as atividades escolares devem atender a este apelo. Atividades monótonas, rotineiras e sem apelo motivacional, ou seja, que não atendem aos anseios dos alunos tendem a ser mais dificilmente assimiladas. Em contrapartida, as que contemplam seus interesses, ou atendem à sua realidade, são por si só, interessantes e os conduzem ao fazer, à participação motivada, que finalmente propiciam aprendizagem efetiva.
Independente da linha de pensamento seguida sabe-se que, o indivíduo desde o nascimento vai ampliando seu repertório e construindo conceitos, em função principalmente do meio que o cerca. Estes conceitos são regidos por mecanismos de memória onde as imagens dos sentidos são fixadas e relembradas por associação a cada nova experiência. Os efeitos da aprendizagem são retidos na memória, onde este processo é reversível até um certo tempo.
É fato que, o ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e internos (incentivo, motivação) para o aprendizado. Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de aprender a falar, a andar, necessitando que eles passem pelo processo de maturação física, psicológica e social. Porém, na maioria dos casos, a aprendizagem se dá no meio social e temporal em que o indivíduo convive; sua conduta muda, normalmente, por esses fatores.
Uma das análises da aprendizagem pode ser feita a partir da concepção de Vygotsky. Para ele, o pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas, é determinado por um processo histórico-cultural com propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala (VYGOTSKY, 1993). Sendo o pensamento sujeito às interferências históricas às quais está o indivíduo submetido, entende-se que, o processo de aquisição da ortografia, a alfabetização e o uso autônomo da linguagem escrita, são resultantes não apenas do processo pedagógico de ensino aprendizagem propriamente dito, mas, das relações subjacentes a isto.
Vygotsky (1993), diz ainda que o pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos, necessidades e interesses. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Desta forma, não seria válido estudar as dificuldades de aprendizagem sem considerar os aspectos afetivos.
É necessário fazer uma análise do contexto emocional, das relações afetivas e do modo como a criança está situada historicamente no mundo. Levando-se em conta o pensamento acima descrito de Vygotsky, não é possível planejar nenhuma ação pedagógica sem antes diagnosticar o universo de cada aluno em seus diferentes aspectos. Ou ainda, a preocupação com a aprendizagem versa sobre horizontes ainda maiores que o simples planejar de atividades de cunho cognitivo, há que se pensar no sujeito como um todo, pensamento que, também é corroborado por Zabala (1998).
Nos estudos de Piaget (1978), o desenvolvimento do pensamento e da inteligência resulta da atividade e da interação que o indivíduo estabelece com o meio, num processo contínuo e ativo, como resposta aos estímulos exteriores. No desenvolvimento da inteligência e do pensamento, Piaget chama a atenção para a atividade da criança sobre o seu meio ambiente, que resulta por um lado, do seu interesse, curiosidade e necessidade de ação, e por outro, das estruturas físicas e psíquicas que possui.
Neste sentido, o autor salienta a capacidade e necessidade de cada pessoa ser a construtora do seu próprio processo de desenvolvimento e aprendizagem, o qual se estrutura numa relação direta com o meio, interagindo com os objetos, os acontecimentos e as pessoas, ao longo do tempo (PIAGET, 1978). Assim, verifica-se já aqui, uma relação estreita entre a percepção de aprendizagem de Piaget e o esporte de orientação com suas diferentes situações de interação, seja com materiais, com pessoas, com o meio ou com o conhecimento tradicionalmente abordado na escola.
Segundo Piaget (1978), a criança no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem passa por diferentes etapas ou estágios, cada uma delas apresentando diferentes níveis de relação com o meio e diferentes estruturas cognitivas ou esquemas mentais.
Sua teoria da equilibração, de uma maneira geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Na assimilação, o sujeito busca solucionar uma determinada situação utilizando uma estrutura mental já formada, ou seja, o novo elemento é incorporado e assimilado a um sistema já pronto. Quando as estruturas antigas são inadequadas ou insuficientes para solucionar o novo elemento, o sujeito tentará novas formas de agir, havendo necessidade de modificar suas estruturas antigas para dominar uma nova situação, processo este, denominado, acomodação (PIAGET, 1975).
É de Piaget o postulado de que, o pleno desenvolvimento da personalidade sob seus aspectos mais intelectuais é indissociável do conjunto das relações afetivas, sociais e morais que constituem a vida da instituição educacional. À primeira vista, o desabrochamento da personalidade parece depender sobretudo, dos fatores afetivos; na realidade, a educação forma um todo indissociável e não é possível formar personalidades autônomas no domínio moral se o indivíduo estiver submetido a uma coerção intelectual, tal que o limite a aprender passivamente, sem tentar descobrir por si mesmo a verdade: se ele é passivo intelectualmente, não será livre moralmente. Mas reciprocamente, se sua moral consiste exclusivamente numa submissão à vontade adulta e se as únicas relações sociais que constituem as relações de aprendizagem são as que ligam cada estudante individualmente a um professor que detém todos os poderes, ele não pode tampouco ser ativo intelectualmente (PIAGET, 1982). Piaget afirma que, adquirida a linguagem, a socialização do pensamento manifesta-se pela elaboração de conceitos e relações e pela constituição de regras.
A motivação é afetada por incentivos intrínsecos e extrínsecos (DAVIDOFF, 2001). O indivíduo intrinsecamente motivado é aquele que se relaciona com o objeto sem interferências exteriores. Na educação, provavelmente na maioria dos casos, a motivação extrínseca, conduzida pelo uso de incentivos que não a própria atividade, são mais freqüentes e necessários. Isso pode se dá, por exemplo, pela diversificação das abordagens a um tema, quanto mais diferenciadas as tarefas, maior é a motivação e a concentração e melhor decorre a aprendizagem.
Outro ponto importante a respeito da aprendizagem é que, não é possível integrar grandes quantidades de informação ao mesmo tempo. É necessário proceder-se a uma seleção da informação relevante, organizando-a de modo a poder ser gerida em termos de aprendizagem. Este é um problema comum enfrentado nas escolas. Com a obrigatoriedade de se cumprir a ementa, muito conteúdo é fornecido a um só tempo, sem preocupações com o aprender motivado. Então, certamente alguns alunos terão problemas com a assimilação, o que irá gerar frustração desestimulando-o.
É consenso entre os estudiosos que, cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias cognitivas que mobilizam o processo de aprendizagem. Em outras palavras, cada pessoa aprende a seu modo, estilo e ritmo. São postulados quatro estilos de aprendizagem: a) visual: aprendizagem centrada na visualização; b) auditiva: centrada na audição; c) leitura/escrita: aprendizagem através de textos; e d) ativa: aprendizagem através do fazer.
MetodologiaDesenvolvemos nosso estudo através da análise e interpretação de dados obtidos em pesquisa indireta do tipo bibliográfica. Segundo Mattos, Rosseto Junior e Blecher (2004), a pesquisa bibliográfica tem como finalidade, colocar o pesquisador em contato com materiais e informações que já foram escritos anteriormente sobre determinado assunto. A pesquisa adotou o método qualitativo exploratório, proporcionando maior familiaridade com o problema através de levantamento bibliográfico (RODRIGUES, 2007).
Desta forma, a base desta pesquisa foi o estudo de livros, artigos especializados, dissertações e teses, o que possibilitou o acesso e manipulação de informações relevantes para nossa reflexão sobre as relações entre esporte de orientação, psicologia da aprendizagem e os conteúdos da Educação Física Escolar.
O levantamento bibliográfico específico sobre o esporte de orientação foi feito em bases de dados disponíveis via Internet, selecionando apenas os trabalhos dos autores mais relevantes para o tema de nossa pesquisa. Os trabalhos ou documentos acadêmicos sobre este esporte são escassos, sobretudo no Brasil dada sua difusão pelo mundo. Portanto, as bibliotecas setoriais da Unicamp, bem como a Biblioteca Central, o google acadêmico, a faculdade de Traz-os-Montes, e os sites das federações e confederações deste esporte foram pesquisados todos por meio eletrônico.
Após o levantamento bibliográfico, o material foi estudado através da realização de fichamentos, que visaram abranger todas as informações relevantes para o estudo da relação entre o esporte de orientação e a aprendizagem na escola, fazendo posteriormente uma síntese das principais idéias de cada texto pesquisado.
Para analisar os dados, fizemos uma análise de todo o material estudado para que pudéssemos obter uma visão global do assunto pesquisado. A partir desta análise pudemos destacar os principais temas abordados pelos vários autores em seus estudos.
O material fichado foi então organizado segundo estes temas, o que nos permitiu cruzar as idéias dos diversos autores em relação a cada tema. Assim, pudemos situar o trabalho de cada autor no contexto mais amplo do assunto que nos propusemos a estudar, associando suas idéias a outras semelhantes.
Por fim, relacionamos as informações dos diferentes aspectos estudados, estabelecendo uma reflexão ampla e integradora. Acreditamos que através de uma pesquisa bibliográfica que agregue os conhecimentos sobre as relações entre esporte de orientação, psicologia da aprendizagem e conteúdos da Educação Física Escolar, estamos disponibilizando um conhecimento que poderá dar suporte a profissionais de educação, ampliando uma discussão que já existe, além de poder servir de base para outras pesquisas na área, pois o material é escasso, porém, o assunto é amplo e de grande interesse para aqueles interessados no estudo deste esporte.
ConclusãoAtravés dos estudos da Psicologia da Aprendizagem constatou-se que, o esporte é um precioso coadjuvante escolar. Assim, pode-se utilizar inicialmente a motivação quase espontânea do aluno em relação ao desporto com o intuito de provocar ou facilitar a aprendizagem na Educação Física.
Dado o seu potencial interdisciplinar, pode-se utilizar o esporte de orientação como ferramenta motivadora também em outros campos do conhecimento como no aprendizado da latitude, longitude, leitura cartográfica, regras de conservação do meio ambiente, ângulos, cálculos, endurance, força, velocidade, escalas, vegetação, características do relevo, etc. O esporte de Orientação, por tratar de questões como meio ambiente, saúde e possivelmente outros temas, propicia dentro da escola a transversalidade, que conforme discutido é a lida com temas relacionados ao tema central, abrangendo uma realidade maior que o simples conceito tratado.
Em segunda análise, ainda considerando-se a Psicologia da Aprendizagem, Piaget salienta a capacidade e necessidade de cada pessoa ser a construtora do seu próprio processo de desenvolvimento e aprendizagem, o qual se estrutura numa relação direta com o meio, interagindo com os objetos, os acontecimentos e as pessoas, ao longo do tempo. No esporte de orientação, cada aluno entra em contato com o conhecimento vivo, num meio real e a possibilidade de interação com outros alunos, com objetos e com o meio é total.
É ele, o aluno, quem toma as decisões durante o jogo, fazendo uso consciente dos objetos, do seu corpo e de suas capacidades, administrando seus próprios recursos para atingir seu próprio objetivo, que pode ser, vencer a disputa em primeiro lugar, ou obter o prazer de descobrir todos os prismas com somente interpretação do mapa e uso da bússola, tendo para isto feito uso de todos os recursos de que dispor como condicionamento físico, domínio das características do relevo e da vegetação, etc.
A Psicologia da Aprendizagem trata ainda dos estilos de aprendizagem, que em sala de aula, podem não ser completamente atendidos e com isso ficando alguns alunos à margem do aprendizado. Neste esporte, o conhecimento é tratado nas mais diferentes formas, contemplando alunos auditivos, visuais ou cinestésicos. Os diferentes prismas pelos quais são observados os conteúdos permitem melhor e mais efetiva apreensão.
Este trabalho também evidenciou a potencialidade deste desporto para o trato dos conteúdos nas diferentes dimensões defendidas por Zabala. Ao planejar, o professor pode pensar em atitudes, conceitos e procedimentos que levam em conta o aluno como ser integral e não como um mero recebedor de conceitos.
Por fim, este esporte permite sua utilização no contexto do jogo ou do esporte mesmo, em contexto recreacional, competitivo ou pedagógico. Mas, sua principal característica é a possibilidade de alunos de diferentes níveis escolares ou mesmo de características físicas diferentes, interagirem no mesmo instante por estarem envolvidos não só atributos físicos ou só cognitivos.
Desta forma, fica clara a importância do esporte de orientação como atividade lúdico-desportiva contribuindo pedagogicamente para o processo de ensino-aprendizagem.
Referências bibliográficas
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revista
digital · Año 13
· N° 119 | Buenos Aires,
Abril 2008 |