É possivel o beisebol ser trabalhado nas aulas de Educação Física escolar? |
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Professor
da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Ponta Porã e UNIGRAN
(Brasil) |
Ms. Rogério Zaim-de-Melo |
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Este texto tem o objetivo de relatar uma experiência de ensino envolvendo
o beisebol, demonstrando o mesmo como conteúdo possível de ser
trabalhado na Escola. A experiência nasceu visando atender a curiosidade
de alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental com os desportos que
figuram na mídia.
Unitermos: Beisebol. Educação
Física escolar. Ensino. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008 |
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Introdução
Cada vez mais o professor de Educação Física escuta falas desta natureza: “O que é determinado esporte?” “Porque este esporte não é muito praticado no Brasil?” “Para que serve determinada atividade?” As informações transmitidas pelas mídias, principalmente a televisiva, contribuíram suntuosamente para que se criasse este tipo de situação. Diariamente são veiculadas milhares de imagens com inúmeras informações aos telespectadores.
As crianças e adolescentes, hoje, e cada vez mais, tomam contato com os conteúdos da cultura corporal de movimento como telespectadores, e não como praticantes, pela imagem, e não pela vivência. (BETTI, 2001, p.126-7)
A mídia televisiva na maioria das vezes é informativa não explicativa e/ou formativa. Nesse contexto cabe ao professor de Educação Física sanar as lacunas deixadas pelos programas, aproveitar-se da situação para despertar um aluno crítico e consciente capaz de interagir com novas formas relacionadas à cultura corporal de movimentos. O professor, pela sua experiência e sabedoria deve exercer um papel mediador entre as mídias e os alunos (ibid).
Buscando enquadrar-se nessa situação e propiciar aos alunos, além da reflexão, uma vivência prática o presente texto apresenta a experiência de incluir o beisebol como conteúdo a ser trabalhado nas aulas de Educação Física escolar.
Assim como o Bet´s 1, o beisebol é um jogo de taco e bola, mas ao contrário do anterior é pouco praticado no Brasil. Em países como os Estados Unidos e o Japão é tão popular quanto o futebol é para nós brasileiros.
Segundo Duarte (2000) o beisebol aparenta ser mais um esporte que os ingleses inventaram. Suas origens remontam ao Século XVIII. Na Inglaterra jogava-se um jogo chamado rouders. Com o domínio inglês nesta época seus costumes foram levados às suas Colônias, entre as quais os Estados Unidos. Em terras americanas o rouders muda de nomes algumas vezes até tornar-se beisebol. As primeiras regras do jogo foram sistematizadas em 1839.
No Brasil o beisebol foi trazido no início do Século XX por americanos que vieram trabalhar por aqui. Há relatos da existência de uma liga de beisebol na década de 20.
A vinda dos imigrantes japoneses contribuiu para a inserção do beisebol em terras brasileiras, criavam-se clubes e equipes para que os nipo-brasileiros pudessem praticar o desporto.
Elementos necessários para a compreensão o beisebol
O beisebol é um esporte marcado pela relação existente entre o ataque e a defesa. Cada equipe possui os seus tempos de ataque e tempos de defesa. Um jogo tem a duração de 09 (nove) alternâncias entre o ataque e a defesa. Uma equipe sai da situação de defesa ao eliminar três atacantes adversários. Um atacante é eliminado quando:
Não consegue rebater a bola em três tentativas;
Os jogadores de defesa apanham a bola, rebatida por ele, antes que a mesma toque o solo;
Um defensor apanha a bola e toca-o antes que ele atinja a base seguinte; e
A bola rebatida é lançada ao defensor próximo à base que o ele (atacante) tenta alcançar e o defensor toca a base (de posse da bola) antes que ele mesmo o faça.
O ataque é caracterizado pelo rebatimento de bolinhas e a execução de corridas. Uma equipe faz ponto toda vez que um atacante consegue passar pelas quatro bases, sem ser eliminado.
Do beisebol na escola ao beisebol da escola
A introdução do beisebol na escola deu-se de forma alternativa, adaptando-se o desporto para transformá-lo em uma prática possível de ser realizada por todos. Desta forma garantimos a presença do esporte em nossas aulas, não o desporto institucionalizado que exige indumentária e espaços específicos para sua prática e sim o desporto da escola que serve aos seus propósitos.
Com esse intuito, a criação do beisebol da escola, as aulas foram iniciadas com a realização de um jogo chamado Base 4.
No Base 4 os participantes são divididos em duas equipes, alternando-se entre ataque e defesa. Delimita-se um quadrado com lados de aproximadamente 10 metros para ser o campo de jogo.
Em cada vértice e no baricentro do quadrado é desenhado um círculo, ou utilizam-se arcos, para delimitar as bases e o espaço do arremessador.
Na primeira base, fica o rebatedor da equipe que está atacando (os outros vértices são respectivamente as bases 2, 3 e 4 e o centro a base A). Os demais rebatedores ficam fora do campo esperando a sua vez de realizar a ação de ataque.
A equipe que se encontra na defesa, espalha-se pelo campo de jogo visando apanhar a bola rebatida e impedir que o ataque faça os pontos.
Um de cada vez os jogadores da equipe atacante colocam-se na 1ª base a fim de rebater a bola o mais longe possível. Se conseguir rebater, corre em direção a 2ª base. Ao mesmo tempo os defensores tentam apanhar a bola e passar para o arremessador, este ao segurar a bola, deve colocá-la no chão, para impedir a progressão do atacante. O rebatedor poderá progredir em direção a quantas bases conseguir em uma corrida. Se estiver ameaçado estaciona em uma base e aguarda o próximo rebatedor. Um ponto é feito quando um atacante percorre as três bases (B2, B3 e B4) e chega à base A.
Não é permitido:
Depois que todos os jogadores da equipe que estiver no ataque passarem pela posição de rebatedor, mudam-se as posições, passando que estava atacando a defender.
A partir do momento que os alunos dominaram os pré-requisitos necessários para se jogar o base 4 iniciou-se gradativamente as modificações no jogo, inserindo elementos novos, visando à aproximação com o beisebol.
Nesse processo utilizou-se a seguinte ordem:
Diminuição do tamanho da bola (no começo foi usada uma bola de voleibol);
Inserção de um taco feito com cabo de vassoura para rebater;
Utilização da eliminação por três tentativas consecutivas de rebatimento;
Eliminação quando a bola rebatida é apanhada sem tocar o solo;
Avanço para a base seguinte toda vez que o arremessador fizesse quatro maus arremessos consecutivos.
Em nenhum momento, até então, havia sido falado aos alunos sobre o desporto em si. Nesta etapa foi solicitado aos discentes que fizessem uma pesquisa sobre o beisebol, abordando a origem do esporte, campo de jogo, indumentária adequada e algumas regras.
Ao realizarem a ação de pesquisar os discentes relacionaram o jogo realizado na escola com o qual haviam pesquisado e perceberam a possibilidade de entender e praticar o novo beisebol.
Considerações finais
A criação do beisebol da escola foi um momento impar para os meus alunos e serviu a diversos propósitos:
adequação do componente curricular Educação Física a informações veiculadas pela mídia;
possibilitou aos educandos a oportunidade de apropriação de saberes oriundos de outras culturas, a qual eles não dominavam os tornou mais confiantes.
modificação nas conversas dos corredores da escola os assuntos passaram a ser strikes, home runs, etc.
A utilização da adaptação de regras permitiu a contemplação do princípio da inclusão, nenhum dos alunos dominava a habilidade motora de rebater. Frases do tipo: “eu não consigo” ou “eu não sou bom (a)” foram substituídas por incentivos aos colegas. Foi possível descobrir talentos naqueles alunos “excluídos”.
Quando se cria um desporto da escola há uma maior valorização da comunidade escolar, as regras tornam-se mais respeitadas e por alguns momentos o esquecimento das atividades tradicionais da Educação Física.
Nota
O bet’s, betis ou bete é um jogo de taco e bola, jogado entre duas equipes com 02 (dois) jogadores cada, cujo objetivo do ataque é rebater a bola o mais longe possível, trocar de lado no campo com seu parceiro, para que se configure o ponto. Ao mesmo tempo proteger sua “casinha” alvo de cobiça do seu adversário. Quando a casinha é derrubada invertem-se os papéis, que estava atacando passa a defender e vice-versa.
Referências
BETTI, Mauro. Mídias: aliadas ou inimigas da educação física escolar? Motriz, Rio Claro, v. 2, n. 7, p.125-129, jul./dez. 2001
DUARTE, Orlando. História dos esportes. São Paulo: MaKron Books do Brasil, 2000.
revista
digital · Año 13
· N° 119 | Buenos Aires,
Abril 2008 |