efdeportes.com

Aulas de dança de salão em Curitiba:
meio ambiente, saúde, sociabilização e técnica

Ball dance classes in Curitiba: environment, health, socialization and technique

 

Professora de dança de salão - “Estúdio Maristela Zamoner”.

Mestre em Ciências Biológicas (UFPR), Especialista em Educação (IBPEX),
Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas (UFPR), professora universitária e bióloga atuante
no Centro de Saúde Ambiental do Município de Curitiba

Maristela Zamoner

www.maristela.zamoner.com.br

maristela@zamoner.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Fatores como temperatura interferem na prática de atividades físicas e de lazer. Atualmente, também já é conhecido o fato de que os processos de urbanização provocam mudanças que abrangem o clima. Este artigo discute a relação entre fatores climáticos e práticas de dança de salão em Curitiba, abordando questões de saúde, sociabilização e características técnicas da atividade.

          Unitermos: Dança de salão. Saúde. Sociabilização.

 

Abstract

          Factors as temperature interfere on the practice of physical and leisure activities. Currently, it is known that the urbanization processes cause changes which affect the climate. This article discusses the relation between climate factors and the practice of ball dance in Curitiba, approaching matters of health, socialization and technical characteristics of this activity.

          Keywords: Ball dance. Health. Socialization.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

1 / 1

Introdução

    As relações que existem entre a dança de salão e as questões ambientais já vêm sendo exploradas em diversos estudos (Zamoner, 2007a, b).

    Para Dishman et al. (1985), os fatores ambientais capazes influenciar a prática de atividade física podem ser classificados em sociais e físicos. No ambiente social os fatores dizem respeito à influência da família, amigos ou profissionais de saúde. No ambiente físico são o clima, o acesso a instalações adequadas, a disponibilidade de tempo.

    Alguns autores consideram que as pequenas alterações no ambiente físico são capazes de influenciar os indivíduos para uma vida mais ativa (Linenger et al., 1991; Brownell et al., 1980). Mendonça (2001) notou que há relação entre as temperaturas e o comportamento humano, observando que o período mais quente do dia é o período em que as pessoas sentem mais cansaço, sendo também mais propenso à criminalidade. Outros autores observaram que a maior parte da atividade física e de lazer de adultos ocorre nos meses de verão (Uitenbroek, 1993; Matthews et al. 2001).

    Desta forma, entende-se que a temperatura também é um fator que influencia a freqüência de alunos às aulas de dança de salão. Portanto, as características climáticas da cidade podem caracterizar também um perfil de freqüência a estas aulas.

    O estudo dos fatores ambientais físicos como a temperatura entre outros, tem sido considerado importante para a promoção da saúde (Santos et al., 2005). Um dos aspectos relevantes é o fato de que a atividade física e o lazer estão relacionados à saúde. Neste aspecto, o aumento de temperaturas em cidades consideradas “frias”, pelo menos em uma época do ano, podem ser favoráveis a uma vida mais ativa no que diz respeito à prática de atividade física e lazer, o que se considera saudável.

    Nas sociedades complexas verificam-se situações de contraposição como esta. Enquanto o aquecimento global tem efeitos negativos sobre uma diversidade de aspectos relacionados à saúde, por exemplo, favorecendo a proliferação de vetores transmissores de doenças (Zamoner, 2007c), a intensificação das práticas de atividade física e lazer representam um contraponto. As pesquisas interdisciplinares que favorecem o diálogo das diversas áreas do conhecimento humano são uma forma de analisar esta complexidade.

    Este artigo pretende discutir as relações entre as aulas de dança de salão em Curitiba e questões como saúde, clima, sociabilização e técnica de dança de salão.

Curitiba, ambiente urbano e clima

    Para análise da influência climática de Curitiba sobre a freqüência de alunos à aulas de dança de salão nesta cidade, é importante analisar alguns aspectos relacionados ao clima.

    A imagem de Curitiba como “cidade com qualidade de vida” foi impulsionada pelos slogans “Curitiba Ecológica” e “Capital Social”, concentrando uma atratividade sobre a cidade (Mendonça, 2002). A instalação de montadoras de automóveis, também contribuiu com os elevados fluxos migratórios para Curitiba e a sua Região Metropolitana. Este processo favorece a instalação de inúmeros problemas sócio-ambientais, característicos das grandes cidades brasileiras.

    Um dos problemas ambientais refere-se às alterações climáticas, que podem ser percebidas pelo aumento da temperatura, a poluição atmosférica, as chuvas mais intensas, as inundações, fenômenos que vulnerabilizam a população. Embora sejam apenas um dos aspectos ambientais urbanos, as mudanças climáticas em Curitiba e suas conseqüências vêm sendo estudadas (Mendonça, 2001 e 2002).

    Fatores estáticos como a latitude, altitude, proximidade do oceano, condicionam as características climáticas de Curitiba, interferindo na quantidade de energia solar que chega à cidade. Os fatores dinâmicos como as massas de ar e as frentes influenciam o ritmo da sucessão dos estados atmosféricos (Danni-Oliveira, 1999). O tipo climático se dá pela interação entre fatores estáticos e dinâmicos. Desta forma, Curitiba apresenta temperaturas mais elevadas nos meses de dezembro a fevereiro e mais baixas nos meses de junho a agosto. As chuvas, são um pouco mais concentradas no verão, apesar de distribuídas durante todos os meses do ano.

    A ação humana, por meio do crescimento urbano e aumento do fluxo da frota de veículos, faz notar uma tendência à elevação de temperaturas (Danni-Oliveira, 1999).

Aulas de dança de salão, sociabilização e clima em Curitiba

    As primeiras iniciativas curitibanas na área das danças sociais, que abrangem a dança de salão, voltavam-se aos objetivos de sociabilização mais fortemente do que desenvolvimento técnico. Este último, poderia inclusive desviar o foco principal. A cidade, cujas temperaturas não eram permanentemente quentes, contribuiu para o estabelecimento de comportamentos humanos característicos.

    Inicialmente, as aulas de dança de salão não eram procuradas com o objetivo de aprendizagem técnica e sim de conhecer novas pessoas, fazer amigos e encontrar parceiros afetivos. Este objetivo, da maioria dos alunos, era compatível com as características das aulas, desprovidas de técnicas apuradas e respeito à origem de cada ritmo, caracterizando exclusivamente lazer.

    Na medida em que o processo de urbanização e o clima da cidade assumiram novas características, o cenário da dança de salão também sofreu mudanças. Possivelmente estas modificações favoreceram a entrada e estabelecimento de técnicas diferentes e mais aprofundadas. Mais recentemente, embora a atividade seja intensamente procurada por alunos com objetivos de sociabilização, muitos já a procuram visando o aprendizado da arte da dança de salão (Zamoner, 2007d).

Aulas de dança de salão e técnica em Curitiba

    No cenário histórico da dança de salão em Curitiba, nota-se uma relação positiva entre o crescimento urbano e a oferta de aulas. Embora este fenômeno tenha origem multifatorial, nota-se que ocorre em um cenário de mudanças climáticas, influenciadas pelo processo de urbanização. Ao longo das últimas décadas o número de escolas e oferta de aulas particulares, em clubes, condomínios, academias entre outros, aumentou significativamente. Este fenômeno pode ser facilmente observado pelo aumento do número de anúncios de aulas de dança de salão em listas telefônicas, internet e outras mídias.

    Do ponto de vista da técnica da dança de salão também foi possível notar uma mudança no perfil da cidade. Há cerca de vinte anos, a cidade dispunha de iniciativas voltadas à prática unificada do Curinga (Zamoner, 2005), conhecido como “dois e dois”, para quase todos os ritmos. Este método é desprovido de aprimoramento técnico e respeito à origem dos diversos ritmos. Entretanto, é útil para sociabilização e lazer porque permite que se desfrute da dança sem demandar tempo de aprendizado. O foco principal desta prática, portanto, limitava-se basicamente a uma vivência de sociabilização e lazer, sem objetivo de ensino pautado em conteúdos técnicos sistematizados.

    A partir do início da década de 90 este perfil começa a mudar, com a introdução de técnicas provenientes do Rio de Janeiro, especialmente marcado pelos ritmos: samba, bolero, swing/soltinho, salsa, zouk/lambada e tango. Este fenômeno é notado em todo o país. Surgiram novos professores e os que já atuavam em Curitiba, passaram por um processo de adaptação e busca técnica individual.

    Alguns, que atuavam há mais tempo, principalmente com o Curinga (o que inclui as chamadas danças gaúchas), apropriaram-se superficialmente das técnicas cariocas que se espalhavam pelo país, cada vez mais procuradas pelos alunos. Neste contexto, estes professores, passaram a reproduzir as técnicas cariocas sem conhecimento profundo, visando atender a uma necessidade mercadológica. Observa-se o fato de que seus alunos sofreram uma apropriação frágil deste conhecimento, nota-se que não há uma distinção técnica apurada entre Curinga e as técnicas cariocas, revelando-se até mesmo uma mistura de ambas.

    Outros professores, iniciaram suas atividades um pouco depois, como dançarinos de lambada. Mesmo após o processo de aquisição das técnicas cariocas, mantiveram acentuadamente a influência da técnica da lambada, praticada na década de 80. Assim, ocorreu uma influência nítida sobre a prática dos ritmos vindos do Rio de Janeiro, gerando também uma mistura.

    Pessoas que não tinham histórico de vivência com a dança de salão e nem de docência, motivadas pelas novas possibilidades do mercado de ensino, iniciaram atividades docentes antes de atingirem domínio técnico adequado, reproduzindo também para seus alunos, a dança de salão sem profundo conteúdo técnico.

    Entretanto, poucos professores tornaram-se detentores de profundo conhecimento técnico nas modalidades que se disseminavam por todo o país. Destes, alguns curitibanos que adquiriram conhecimento sólido por seus próprios meios, outros vieram de São Paulo e do Rio de Janeiro. Estes ainda dividiam-se principalmente em duas linhas técnicas também diferentes, porém, fiéis à sua origem. As linhas seguidas por estes professores, embora diferentes, respeitam tecnicamente seus disseminadores cariocas, que são os grandes nomes da dança de salão nacional.

    Este processo repercutiu em uma multiplicidade de segmentos de dança de salão, variando desde a prática exclusiva do Curinga até a prática das danças de salão nos moldes cariocas, passando por diversas apropriações técnicas, das mais superficiais às mais profundas.

    Todo este processo, verificado mais marcadamente nas duas últimas décadas, ocorreu concomitantemente à intensificação do processo de urbanização da cidade e sua conseqüente mudança climática.

Considerações finais

    Certamente, múltiplos fatores culturais participaram desta nova configuração do cenário técnico da dança de salão em Curitiba. Mas, curiosamente, a natureza técnica da maioria dos ritmos ensinados em Curitiba hoje, cidade cujas temperaturas têm aumentado, foram trazidos de uma cidade brasileira cujas temperaturas sempre foram mais altas que as de Curitiba, o Rio de Janeiro.

    Hoje, Curitiba apresenta dias, em média, mais quentes, o que favorece a busca por atividades físicas e de lazer, dentre elas, a dança de salão. Acompanhando este processo, uma diversidade de escolas e oportunidades de aulas nos moldes das mais variadas técnicas, passam a estar disponíveis, oferecendo além de atividade física e lazer, conhecimento profundo da arte das técnicas originais da dança de salão.

Referências bibliográficas

  • Brownell KD, Stunkard AJ, Albaum JM. 1980. Evaluation and Modification of Exercise Patterns in the Natural-Environment. American Journal of Psychiatry 137: 1540-1545.

  • Danni-Oliveira, I.M. Aspectos Climáticos de Curitiba-PR: uma contribuição para o ensino médio. RA'E O Espaço Geográfico em Análise, Curitiba, no 03, p. 229-253, 1999.

  • Dishman RK, Sallis JF, Orenstein DR. 1985. The Determinants of Physical-Activity and Exercise. Public Health Reports 100: 158-171.

  • Linenger JM, Chesson CV, Nice DS. 1991. Physical fitness gains following simple environmental change. Am.J Prev.Med 7: 298-310.

  • Matthews CE, Freedson PS, Hebert JR, Stanek EJ, III, Merriam PA, Rosal MC, Ebbeling CB, Ockene IS. 2001. Seasonal variation in household, occupational, and leisure time physical activity: longitudinal analyses from the seasonal variation of blood cholesterol study. Am.J.Epidemiol. 153: 172-183.

  • Mendonça, F.A. 2001. Clima e Criminalidade- ensaio analítico da correlação entre a temperatura do ar e a incidência de criminalidade urbana. Ed. UFPR, Curitiba.

  • Mendonça, F.A. 2002. Aspectos da problemática ambiental urbana da cidade de Curitiba/PR e o mito da "capital ecológica". GEOUSP - Espaço e tempo. São Paulo: v.1, p.179 – 188.

  • Santos, MP. Gomes, H.; Ribeiro, JC.; Mota, J. 2005. Variação sazonal na actividade física e nas práticas de lazer de adolescentes portugueses. Rev. Port. Cien. Desp.

  • Zamoner, M. 2005. Dança de Salão, a caminho da licenciatura. Editora Protexto. Curitiba.

  • Zamoner, 2007a Educação Ambiental na Dança de Salão. 1. ed. Curitiba: Protexto, v. 500. 128 p.

  • Zamoner, 2007b. Educação ambiental e educação em saúde na dança de salão para melhor idade: uma experiência na Paraíba. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 109, p. 1-7, 2007.

  • Zamoner, M. 2007c. Biologia ambiental. 1. ed. Curitiba: Protexto, v. 500. 432 p.

  • Zamoner, M. 2007d. Prática e ensino de dança de salão, comportamento sexual e drogadição: confusões e preconceitos. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 107, p. 1-6.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 13 · N° 119 | Buenos Aires, Abril 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados