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Efeito das atividades aquáticas e treinamento de força
sobre a densidade óssea: implicações sobre a osteoporose

 

*Pós granduanda em personal training e atividade aquáticas

**Mestre. Professor da Pós-Graduação em personal training e atividades aquáticas

Centro Universitário de Volta Redonda/UNIFOA

(Brasil)

Michelle Souza Buiate

Alexandre Gonçalves

profalexandre09@gmail.com

 

 

 

Resumo

          A osteoporose é uma doença óssea caracterizada por uma perda acentuada da densidade óssea com importantes mudanças na micro-arquitetura  trabecular, tais como perfurações nas trabéculas e perda de conectividade, havendo toda uma conseqüência do movimento, envolvendo microtraumas ósseos por fadiga. Vários estudos têm enfocado esforços no sentido de esclarecer qual a melhor atividade física para prevenção e combate a osteoporose. Dentre estes estudos têm se destacado na literatura grande discussão sobre os efeitos dos exercícios aquáticos versus treinamento de força. Assim, objetivo deste estudo foi, procurar esclarecer, através de uma revisão de literatura realizada nos livros textos das áreas de fisiologia do exercício, periódicos especializados e bancos de dados como SCIELO e MEDLINE, quais os reais efeitos dos exercícios aquáticos e treinamento de força sobre a densidade óssea e consequentemente na prevenção e tratamento da osteoporose. De acordo com os resultados encontrados na literatura podemos sugerir que um programa de exercícios para prevenção e tratamento da osteoporose poderia ser composto de atividades aquáticas conjugadas com treinamento de força.  

          Unitermos: Osteoporose. Atividades aquáticas. Treinamento de força.

    Artigo defendido para obtenção do título de especialista em Personal Training e Atividades Aquáticas no Centro Universitário de Volta Redonda/UNIFOA.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

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1. Introdução

    A osteoporose é uma doença óssea caracterizada por uma perda acentuada da densidade óssea com importantes mudanças na micro-arquitetura trabecular, tais como perfurações nas trabéculas e perda de conectividade, havendo toda uma conseqüência do movimento, envolvendo microtraumas ósseos por fadiga. (ALMEIDA JÚNIOR, 1997)

    Tal acometimento é mais incidente em mulheres, principalmente, após a menopausa. Após a privação de estrogênio na menopausa, cerca de 10 a 15% da massa óssea média da mulher é perdida durante os 5 a 7 anos seguintes. (BORELLI, 2000; KRUGER, CHECOVICH, BINKLEY, 2001).

    De acordo com Moreira (2004) o tratamento para a osteoporose tem característica multifatorial, cuja terapia contra a doença engloba uma combinação de fatores como suplementação de cálcio, terapia de reposição hormonal, vitamina D, medicação para melhor absorção do cálcio, além da prevenção contra traumatismos e quedas e, naturalmente, da prática de atividades físicas.

    Por outro lado, pesquisadores como Gali (2001) e Cardoso (2006) defendem que a melhor forma de tratamento da osteoporose é a prevenção. Tal procedimento tem como base a ingestão de cálcio adequada e prática de exercícios físicos vigorosos a partir da puberdade.

    Tal tese é corroborada por Weineck (2005), ao relatar que não é a idade que enfraquece os ossos, mas, sim a inatividade.

    Assim vários estudos têm enfocado esforços no sentido de esclarecer qual a melhor atividade física para prevenção e combate a osteoporose. Dentre estes estudos têm se destacado na literatura grande discussão sobre os efeitos dos exercícios aquáticos versus treinamento de força. (BONACHELA, 1994; BANKOFF, ZYLBERBERG, SCHIAVON, 1998; ALMEIDA, 1999; MASI, 2000, HUMPHRIES et al, 2000; RASO, MATSUDO, MATSUDO, 2000; SILVA, LÓPEZ, 2002; VINCENT, BAITH, 2002; MOREIRA, 2004; LITTRELL, SNOW, 2004; CADORE et al, 2005).

    Assim, o presente artigo tem como objetivo procurar esclarecer, através de uma revisão de literatura realizada nos livros textos das áreas de fisiologia do exercício, periódicos especializados e bancos de dados como SCIELO e MEDLINE, quais os reais efeitos dos exercícios aquáticos e treinamento de força sobre a densidade óssea e consequentemente na prevenção e tratamento da osteoporose.

2. Fisiopatologia da osteoporose

    O osso é um tecido vivo complexo que fornece suporte estrutural para os músculos, protege os órgãos vitais e armazena cálcio, essencial para a força e densidade óssea. Pode ser descrito como uma matriz tecidual dinâmica de colágeno e minerais cujos principais componentes celulares são osteoblastos, osteócitos e osteoclastos. Os primeiros são responsáveis pela síntese da matriz óssea não calcificada (colágeno e glicoproteinas). Já os osteócitos são osteoblastos que mergulharam no interior da estrutura do osso, comunicando se entre si e com os osteoblastos da superfície através de canalículos, podendo desempenhar algum papel na mobilização dos minerais ósseos. Os últimos são as células que participam do processo de remodelação do tecido ósseo. (PAPALEO NETO, 2000; NIEMAN, 1999)

    Os osteoblastos parecem ser afetados mais acentuadamente pelo envelhecimento que os osteoclastos e, portanto, a formação de osso diminui mais que a reabsorção óssea, resultando na perda de osso relacionado à idade. Tal fato pode culminar no desenvolvimento da osteoporose. (ACSM, 2004)

    Este distúrbio osteometabólico, caracterizado pela perda de massa óssea e desarranjo de sua microarquitetura, eleva a fragilidade dos ossos, assim como a incidência de fraturas, deformações e diminuição da estatura, dores, invalidez e até a morte. (FRAZÃO, NAVEIRA, 2006 artigo 9)

    Os locais de maior incidência de fraturas osteoporóticas são os corpos vertebrais (fratura de crush), o colo do fêmur e as extremidades distais do antebraço (fratura de colles), acompanhados por dor e contratura muscular (ALMEIDA JUNIOR, 1997).

    Assim, observa-se a necessidade de se estimular o tecido ósseo a se desenvolver no sentido de criar uma reserva óssea a qual poderá amenizar as conseqüências da idade sobre sua arquitetura.

    Tal fato é respaldado por Weineck, (2005) quando afirma que quando os ossos são insuficientemente estimulados para a manutenção ou melhora de sua arquitetura interna e com isso, de sua resistência devido ao sedentarismo crônico observado na atualidade, ocorre o desenvolvimento da osteoporose.

    A manutenção da arquitetura óssea assim como seu desenvolvimento através do estresse imposto pelos exercícios físicos se deve ao fato de que na aplicação de uma força ou uma pressão sobre um osso, ele se curva. Isso desencadeia uma cascata de eventos que estimulam as células a fortalecer o osso, o qual pode se adaptar à pressão ou à falta da mesma pela formação ou perda de massa. Para que os ossos tornem-se maiores e mais densos, a pressão deve ser maior e além dos níveis normais. (Nieman, 1999)

3. Atividades aquáticas e densidade óssea

    Segundo Bonachela (1994), a hidroginástica surgiu na Alemanha para atender a um grupo de pessoas com mais idade que precisavam praticar uma atividade física segura sem causar riscos ou lesões às articulações e que lhe proporcionasse bem estar físico e mental.

    Dentre os benefícios desta atividade física para indivíduos idosos encontram-se a melhoria do sistema cárdio-respiratório, aumento da amplitude articular, melhoria da resistência muscular, ativação da circulação sangüínea, melhoria da postura, alívio das dores, diminuição significativa do impacto nas articulações, melhoria do condicionamento físico geral, alívio das tensões do dia a dia, efeito relaxante, além de proporcionar bem estar físico e mental. (BONACHELA, 1994; ALMEIDA, 1999; MASI, 2000; MOREIRA, 2004).

    Portanto, de acordo com os autores supracitados observa-se que a hidroginástica tem seus efeitos benéficos mais focados nas manifestações clínicas provenientes do quadro de osteoporose do que na melhoria significativa da densidade óssea propriamente dita.

    Tal afirmação é respaldada por Almeida Junior (1997) ao relatar que na prescrição de exercícios para osteoporose, é preciso levar em consideração a condição física do paciente. Pessoas com alto grau de desmineralização óssea, às vezes não têm as condições físicas necessárias para caminhar por alguns minutos. Assim, a hidroginástica seja, talvez, a única atividade que ele possa executar com segurança.

    Entretanto, não está claro se o exercício aquático é uma eficaz estratégia para reduzir riscos de fratura na mulher que já tenha estado na menopausa. (artigo 2 e 3, tradução lolo)

    Ainda seguindo esta linha de raciocínio vários estudos relacionaram a influência de modalidades de atividades físicas com impacto como a ginástica, voleibol, corrida e atividade sem impacto como natação sobre a densidade mineral óssea de seus praticantes. Todos estes estudos convergiram seus achados para o fato de que atividade como a natação não tem o efeito protetor esperado sobre a densidade mineral óssea de seus praticantes. Já os ginastas e atletas de voleibol tiveram manutenção e aumento da densidade óssea. (FEHLING, ALEKEL, CLASEY, RECTOR, STILLMAN, 1995; TAAFFE, SNOW-HARTER, CONNOLLY, ROBINSON, BROWN, MARCUS, 1995; TAAFFE, ROBINSON, SNOW, MARCUS, 1997, MACKARDLE, KATCH, KATCH, 1998; NIEMAN, 1999)

    Analisando os estudos supracitados, pode-se perceber claramente que quanto maior o impacto e a intensidade da atividade física, maiores são os valores de densidade óssea dos indivíduos que a praticam. Outro fator importante a ser ressaltado é que a maioria das pesquisas demonstrou que a natação não é o tipo de exercício mais adequado quando se quer aumentar a densidade óssea e/ou prevenir o grau de perdas ósseas. Nos estudos citados anteriormente, pode-se observar que os nadadores têm menor densidade óssea quando comparados a atletas de outras modalidades esportivas e geralmente não há diferença quando comparados ao grupo controle-sedentário.

    Contudo, estudos mais recentes se opõem a tais conclusões ao observarem melhoria da densidade óssea em atividades aquáticas. (CLARK, 2003; BÁLSAMO, 2002, LITTRELL E SNOW, 2004).

    No mais recente realizado por Littrell, Snow (2004) teve como objetivo examinar a eficácia de um programa de exercício aquático leve quanto à densidade mineral óssea e ao funcionamento físico na mulher na pós-menopausa. Foram analisadas 27 mulheres as quais participaram de um exercício aquático leve de 45 minutos, três vezes por semana durante um ano, enquanto que o grupo controle foi composto por 32 mulheres as quais foram orientadas a manterem os níveis de atividades rotineiras. Após um ano observou-se a conservação da densidade mineral óssea das mulheres praticantes de exercício aquático. Além disso, concluíram que o exercício na água é um meio eficaz de manter e melhorar o funcionamento físico na mulher de idade.

    Mas, nos estudos acima os autores não deixam claro se houve um controle sobre as demais atividades executadas no dia a dia pelos voluntários submetidos aos exercícios aquáticos. Tal fato pode ter influenciado os resultados encontrados. Sugere-se que novas pesquisas com maior rigor no controle dos fatores de intervenção sejam realizadas para análises mais conclusivas.

    Assim, observa-se que atividades aquáticas, aparentemente, não seriam as mais indicadas no que tange a manutenção e desenvolvimento da densidade óssea. Contudo, não se pode deixar de ressaltar que estas atividades trazem outros benefícios para seus praticantes como melhoria do condicionamento cardiorrespiratório, flexibilidade, controle do percentual de gordura corporal, equilíbrio, dentre outros os quais também são importantes para melhoria da qualidade de vida do portador de osteoporose. Uma estratégia interessante seria sugerir que tais atividades sejam praticadas juntamente com outras que venham ter melhor impacto sobre a manutenção e desenvolvimento da densidade óssea.

4. Treinamento de força e densidade óssea

    O efeito benéfico do exercício sobre a densidade óssea pode ser explicado através do efeito piezoelétrico, ou seja, no momento da compressão do osso há o surgimento de cargas negativas no local da compressão e cargas positivas em outras áreas. Quantidades mínimas de correntes elétricas estimulam os osteoblastos (células formadoras de tecido ósseo) na extremidade negativa que está sendo comprimida, aumentando a formação óssea nesta região (BANKOFF, ZYLBERBERG E SCHIAVON, 1998).

    Exercícios com pesos ou aqueles em que o indivíduo tem que suportar o peso corporal são bastantes eficientes para estimular o efeito piezelétrico no osso, gerando maior atividade osteoblástica e aumentando a formação óssea. (RASO et al.,1997)

    Seguindo esta linha de raciocínio Almeida Júnior (1997) relata que os estímulos estacionários não são osteogênicos, fato que só ocorre em exercícios dinâmicos. Assim, exercícios que produzem carga sobre o tecido ósseo, como o levantamento de peso, nos quais existe um aumento da carga, são mais efetivos do que aqueles cuja base de treinamento é o numero de repetições por exercícios, com baixa aplicação de carga sobre o osso, como a natação.

    Para Weineck (2005) um treinamento geral dosado de força reduz ou adia a osteoporose, que surge com o avanço da idade. Segundo este autor, um programa mínimo geral já aumenta o teor de minerais dos ossos. Os indivíduos que realizam musculação durante toda a vida o processo de perda de teor mineral ósseo não é observado.

    O mecanismo para o aumento da densidade mineral óssea (DMO) através do treinamento de força (TF) passa pela magnitude da deformação óssea causada durante essa atividade. De fato, maiores intensidades de treino relativas à carga máxima geralmente estão associadas a maiores estímulos para o aumento na DMO, do que menores intensidades. (KERR et al, 2001; VINCENT, BRAITH, 2002).

    Quando TF é bem orientado, dentre as adaptações fisiológicas proporcionadas, estão um ganho de força, hipertrofia muscular e massa magra (HASS et al., 2000).

    Muitos estudos vêm demonstrando uma correlação positiva entre massa magra, força e DMO em mulheres adolescentes, pós-menopausa e homens. (CALMELS et al., 1995; HUGHES et al., 1995; TAAFFE et al., 1995; DORNEMANN et al., 1997; WITZKE e SNOW et al., 1999; HUMPHRIES et al., 1999; PROCTOR et al., 2000; NUNES et al., 2001)

    Estudos mais recentes também têm demonstrado que o TF é uma boa intervenção no sentido de proporcionar a manutenção e desenvolvimento da densidade óssea. (HUMPHRIES et al, 2000; ANDREOLI et al, 2001; LIU et al, 2003; RYAN et al, 2004)

    Entretanto, apesar desse possível efeito benéfico, volumes muito grande de treinamento podem ser prejudiciais à DMO. Esse prejuízo parece ter estreita relação com a perturbação da homeostase hormonal do organismo. (GREMION et al, 2001; MAIMOUN et al, 2003; BURROWS et al, 2003)

    Assim, pode-se notar que para que o TF surta o efeito benéfico sobre a densidade óssea é importante que se observe e respeite alguns princípios básicos do treinamento físico, como sobrecarga, volume e intensidade adequados. Por outro lado, esta modalidade de treinamento é a que mais possibilita o controle destas variáveis.

    Outro aspecto que deve ser levado em consideração na prescrição ideal do TF com objetivo de estímulo à formação óssea é o tipo de contração muscular utilizado. Em estudos comparando o TF excêntrico e concêntrico com a mesma carga relativa, o primeiro demonstrou ser mais efetivo no aumento da DMO (HAWKINS et al, 1999; HORTOBÁGVI et al, 1996; AAGAARD et al, 2000).

    Assim, de acordo com os estudos supracitados podemos concluir que o TF vem sendo apontado como uma das atividades físicas que mais resultam em osteogênese. Entretanto, existem muitos pontos de discussão a respeito de qual método de TF seria o mais eficaz, levando em consideração os exercícios, a intensidade e o período necessário para se obter a resposta óssea. (Cadore et al, 2005).

    Além disso, as diferenças entre as características dos indivíduos são fatores que podem levar à inconsistência dos resultados quando à eficácia do TF em indivíduos com altos níveis de DMO aparentam não responder facilmente ao estímulo osteogênico do treinamento de força. (HUMPHRIES B et all, 2000; VINCENT, BAITH, 2002)

5. Considerações finais

    De acordo com os dados levantados nesta breve revisão pode-se observar que existe um consenso entre os diversos estudos analisados no sentido que a atividade física deve ser incentivada como meio de prevenção e coadjuvante no tratamento da osteoporose.

    Aparentemente, atividades que causem maior nível de estresse ósseo como TF têm maior impacto sobre a DMO quando comparado a atividades aquáticas.

    Entretanto, atividades aquáticas como natação e hidroginástica já comprovaram sua eficiência no desenvolvimento do condicionamento cardirrespiratório, flexibilidade, coordenação, equilíbrio.

    Assim, podemos sugerir que um programa de exercícios para prevenção e tratamento da osteoporose poderia ser composto de atividades aquáticas conjugadas com TF.

    Tal proposta vai de encontro às diretrizes do American College of Sport Medicine (ACSM, 2004) as quais preconiza que o programa de atividades físicas para portadores de osteoporose deverá enfatizar a força e o impacto, a flexibilidade, a coordenação, o equilíbrio e o condicionamento cardiovascular, já que esses fatores contribuirão indiretamente para a melhora da osteoporose, pois diminuirão o risco de queda e habilitarão o idoso a ter um estilo de vida mais ativo, evitando assim a perda óssea pela inatividade.

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