A marca da elegância no ídolo esportivo Heleno de Freitas | |||
*Doutorando
em Educação Física
**Profa. do Mestrado e Doutorado em
Educação Física Universidade Gama Filho, Rio de
Janeiro (Brasil) |
Salo Tavaler* Dra. Vera Lúcia de Menezes Costa** |
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Resumo
Este artigo pretende discutir a construção dos sentidos da elegância e
da masculinidade na imagem do ídolo do futebol dos anos 1940, Heleno de
Freitas. Para o desenvolvimento desta tarefa selecionamos quatro autores
da bibliografia esportiva brasileira que retratam a trajetória do ídolo
esportivo Heleno de Freitas e de onde extraímos alguns recortes textuais
para serem analisados. A temática abordada insere-se na linha de pesquisa
sobre “Imagem” pertencente ao Grupo de Pesquisa Lires – LEL do
PPGEF/UGF no Rio de Janeiro. Este estudo procura intensificar o olhar
sobre os textos como produtores de sentidos. A metodologia utilizada
nessas análises foram composta Análises de conteúdo (BARDIN, 1977),
objetivando identificar os discursos aí contidos. Acreditamos que o
cruzamento interdisciplinar de diferentes áreas do conhecimento poderá
contribuir para o aprofundamento e a compreensão dos fenômenos sociais.
O entendimento do imaginário via uma historiografia esportiva levou-nos a
concluir que o sentido da elegância em Heleno de Freitas foi registrado
pela maneira em que os autores o adjetivam como uma figura que se trajava
elegantemente, tendo um corpo esguio parecendo um galã possuidor de
refinado comportamento. Essa parece ter sido uma marca bastante
significativa na vida do ídolo. O porte atlético, a figura longelínea,
as roupas minuciosamente preparadas, os cabelos engomados e penteados e os
maneirismos refinados foram habilmente transformados em instrumentos e
arma de sedução, apontando-nos um modelo de perfeição masculina
dominante baseado em razão, responsabilidade e sedução, um espírito
que permitiu ídolo e história se unissem no imaginário da época
reproduzindo a tradição de um mundo esportivo masculino.
Unitermos: Discurso. Elegância.
Futebol. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008 |
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I. Introdução
O tema “A marca da elegância no ídolo esportivo Heleno de Freitas” é um recorte da personalidade do ídolo enfocado e está relacionado com o nosso projeto de pesquisa ora em desenvolvimento. A opção pela Elegância remete a marca deixada por este ídolo como uma das mais significativas e terá como referencial o cotidiano vivenciado nos espaços público e privado de sua história de vida. O pano de fundo de nossa narrativa abrangerá a década de 40 (1940-1950), época do apogeu de sua carreira esportiva e de grandes transformações culturais, políticas e esportivas na vida dos cidadãos da Cidade do Rio de Janeiro então Capital da República. Para o desenvolvimento desta tarefa selecionamos quatro autores da bibliografia esportiva brasileira, CASTRO & MÁXIMO (1965), RANGEL (1970), AUGUSTO (2004) e SANDER (2004) que retratam a trajetória do ídolo esportivo Heleno de Freitas que teve seu apogeu na década de 40 (1940-1950) e de onde extraímos alguns recortes textuais e para serem analisados. Os textos analisados foram redigidos seis décadas após seu falecimento e foram selecionados para se perceber como o sentido investigado foi construído por esses autores em diferentes épocas. A metodologia aplicada nessas análises compôs-se de Texto, Análise de Conteúdo e de Discurso (BARDIN, 1977) .
II. Biografia e problematização
A trajetória de vida de um herói ou ídolo sempre fascinou a humanidade por parecerem estar mais próximo das divindades e dos seres sobrenaturais e quando se trata de um ex-jogador e ídolo de futebol em um país considerado “País do Futebol” faz crescer o interesse. A procura pelo campo biográfico seja de vultos históricos, ídolos esportivos ou heróis do passado têm aumentado consideravelmente, possivelmente pela mística que a envolve bem como pelos imaginários construídos. Dessa maneira, também a história de vida de qualquer ídolo esportivo é documentada pelos veículos comunicacionais e diferentes biografias existentes em cada época, assim como a construção dos inúmeros sentidos. A figura do ídolo esportivo e ex-jogador de futebol Heleno de Freitas pertencente ao Botafogo Futebol Clube do Rio de Janeiro, que atuou na década de 40, alvo de nosso estudo, foi portador de diversas marcas que o deixaram famoso, como sua técnica e habilidade no esporte, seu meio de atuação profissional assim como no ambiente privado de sua vida. Uma dessas marcas o fez sobressair-se de seus pares e foi a “Elegância” e será sobre este tema que tentaremos transmitir o sentido que foi construído, como, de que maneira e quais os atributos que recebeu. Para a confecção desse estudo estruturamos nossas análises fundamentadas nos eixo conteúdo-discursivo, nas quais caracterizamos o texto como nosso produto referencial. Procurou-se identificar e extrair elementos discursivos tendo como fonte as provas acessadas, objetivando encontrar o sentido investigado. A reconstituição do passado é um dos meios de certificarmo-nos com relativo grau de aceitabilidade sua origem, sua autenticidade e sua importância para depois comprovarmos nossas hipóteses. O questionamento principal que levaram-nos a indagar ao realizar este estudo foi a de descobrir que marcas a figura de Heleno de Freitas legou ao imaginário da época ? Sintetizar em algumas páginas a figura de Heleno de Freitas é tarefa que principia delimitada pela multiplicidade de características de sua personalidade como pelo espaço deste artigo. Tentaremos descrever sua trajetória ancorada na construção de sua marca limitando-nos aos seguintes autores: CASTRO & MÁXIMO (1965), RANGEL (1970), AUGUSTO (2004) e SANDER (2004), que biografaram sua vida, extraindo dos mesmos os elementos principais do sentido elegância.
III. Contexto
Nosso tema tem como pano de fundo a década de 1940 na Cidade do Rio de Janeiro. É necessário situar nosso enfoque para perceber como essa ambiência sócio-cultural influenciou o sentido investigado e identificar algumas correntes que o moldaram. Para ingressarmos no mundo social em que viveu Heleno de Freitas faz-se necessário localizar-mos a época de sua trajetória para que possamos visualizar os hábitos sócio-culturais e as influências mais marcantes desta época, sem aprofundarmos sem aprofundarmos nessas questões. No aspecto cultural e sócio-econômico a Cidade como o Brasil recebeu enorme influência dos Estados Unidos devido ao ingresso do País no palco da Segunda Guerra Mundial. Especificamente no âmbito cultural esse domínio foi significativo e foi intermediado pelo cinema, o rádio e a mídia responsáveis por modelar conceitos estéticos intervindo na moda, comportamento e música, ou seja, criando novos hábitos e costumes que se tornarão referência. (DE DEUS & BERCITO, 1999, p.95). Este pressuposto deve-se ao fato de nosso estudo abordar elementos biográficos assim como contextuais e que segundo (LEVI, 1989, p.175), “a época, o meio e a ambiência também são muito valorizados como fatores capazes de caracterizar meio e uma atmosfera que explicaria a singularidade das trajetórias”. No aspecto cultural, o cinema brasileiro como o rádio constituiu-se em meios de comunicação e lazer das massas, o cinema americano com seus filmes, músicas, astros assim como jornais e revistas invadiram o mercado brasileiro. Muitas companhias de teatro, dança e ópera estiveram no Rio, mantendo fervilhando a vida noturna. O futebol, de certa maneira penetrava na vida esportiva e social e, segundo TOLEDO (2000: 58) “os anos 40 e 50 demarcam, no plano da sociabilidade esportiva, uma maior aceitação dos torcedores” e esta participação irá contribuir na construção e divulgação do prenúncio e ascensão dos futuros ídolos na massa de torcedores. O jogo nos cassinos era outro meio de lazer para as classes mais favorecidas, foi proibido pelo então presidente Dutra em todo o Brasil em 1946, fechando esses recintos. Esse era um segmento em que transitava Heleno de Freitas no meio da alta roda da sociedade.
IV. Moda e suas influências
Um dos caminhos para acessarmos o sentido da elegância em Heleno de Freitas é a que se relaciona com a indumentária e o vestuário ditadas por uma moda. A explicitação desses conceitos inseridos numa cultura e contextualidade específica são importantes para o entendimento de sua dinâmica construtiva. A moda, afora suas influências, sentidos estético-culturais apresenta-se como uma segunda nominação no espaço social e também como forma de ritualização, transformando-se e atualizando-se de acordo com o lócus de sua atuação ou meio que se quer ingressar.
A moda, sendo um veículo semiótico-comunicante, instrumentaliza-se como portal de ingresso para alguns e limitador para outros além de ser uma forma de discurso abrangendo indumentária e corpo no qual o primeiro moldar-se-á ao segundo como amalgama, ao mesmo tempo em que é uma linguagem é uma forma de expressão da roupa e do corpo que a veste. Para se entender a moda será necessário indagar a problemática que se quer compreender e selecionar a metodologia adequada para responder às questões formuladas.
A explicação da moda exige uma “abordagem interdisciplinar” (NACIF, 1993), pois a mesma imbrica-se numa diversidade de temáticas que a envolvem. A razão disto é que a mesma relaciona-se a outros aspectos como indumentária e seu processo de produção envolvendo uma variedade de focos de estudo. BARNARD (2003) sustenta que devido à multiplicidade de disciplinas que se imbricam no estudo da moda e indumentária, ambas irão apresentar “perfis diferentes”.
Dessa maneira podemos compreender que cada área possui diferente objetivo e uma comunicação própria e específica, já LIMA (2002, p. 50) aponta a relação entre moda, corpo e época ao afirmar, “A moda está ligada diretamente à construção do corpo que sempre foi redefinido de acordo com a estética de cada época, como ‘espelho do seu tempo e da cultura que a produziu’”. Fundamentado em BAUDRILLARD e seu conceito de sedução, CARLI (2002) afirma que estas seduções sofrem transformações e são dirigidas e orientadas para diferentes partes do corpo, ora realçando-as ora modificando-as. A vestimenta ou indumentária pretende além de pavonear e ornamentar o corpo imprimir e produzir uma sedução. A moda, configurada e teatralizada pelas indumentárias são possivelmente pertencentes ao elenco da conceitualização de “habitus” na concepção bourdiana (BOURDIEU, 2004).
Ao analisarmos a origem do sentido estético da moda na década de 40 no Rio de Janeiro constata-se que a mesma foi elaborada pela influência de vários veículos comunicacionais destacando-se entre eles o cinema e as revistas ilustradas. O processo iniciava-se segundo NACIF (2002) pelo sistema publicitário que precedia os filmes americanos nos quais os modelos das roupas eram divulgados em revistas especializadas principalmente no vestuário feminino. No gênero masculino presume-se que tenha acontecido de forma idêntica, pois conforme QUEIROZ (2002: 57) afirma que “esse ideal vem sendo construído há muitas décadas pela indústria de Hollywood e conseqüentemente por todas as mídias”. DE DEUS & BERCITO (1999: 94), também relatam a influência da moda americana no Brasil pelo viés do cinema. “Os astros de Hollywood que faziam suspirar os fãs brasileiros também inauguravam aspirações de consumo, padrões estéticos e mesmo de comportamentos”. Segundo o autor a referida influência agrega outra corrente a “americana” antes exclusiva das “maisons parisienses” e cita os astros que serviram de ligação para este consumo. “A galeria dos maiores incluía nomes como Cary Grant, Humprhey Bogart, Robert Taylor, Tyrone Power, Gary Cooper, Errol Flynn, dentre os homens, e Vivien Leigh, Marlene Dietrich, Joan Crawford, Greta Garbo, Katherine Hepburn e Loretta Young, dentre as estrelas” (p. 94).
Percebe-se por esses enunciados a influência da moda no Brasil e Rio de Janeiro devido à penetração do cinema americano e os padrões de beleza hollywoodianos, ditando hábitos de costumes, comportamentos, atingindo outros setores da vida cultural brasileira. O conceito de se estar na moda aceitando como paradigma a influência americana na modelagem e no corte dos trajes masculinos enfatiza a “valorização simbólica da alfaiataria” (NACIF, 2000), acessível a uma determinada classe social incluindo-se Heleno de Freitas. Embora a roupa feminina e masculina na maioria das vezes fosse feita sob encomenda (NACIF, 2000), Heleno de Freitas fazia questão de “estar na moda masculina vigente” e por isso encomendava seus ternos a De Sicco, alfaiate de Getúlio Vargas, demonstrando seu apreço em distinguir-se valorizando o corte atualizado e confeccionado por um renomado alfaiate possivelmente de custo elevado para os padrões daquela época. NACIF (1993) afirma que os espaços de ostentação restritos a uma elite dominante como os cassinos e os luxuosos restaurantes destinavam-se como redutos privados da “burguesia carioca” (MAUAD, 1990), dos anos 30 e 40 e configuravam-se como ambientes de visibilidade dessa classe social. É nestes ambientes de uma elite que Heleno de Freitas transitava exibindo-se com dos seus cinqüenta ternos, cortados e confeccionados no rigor da moda (RANGEL, 1970).
V. Elegância
A elegância é uma adjetivação que aparece usualmente no metier da moda e que por sua vez sendo um signo semiótico carrega consigo uma cultura e uma comunicabilidade.
Os códigos de elegância estão atrelados a um modelo ou referencial estético dominante e alcança inúmeras dimensões como o corte de cabelo, penteados, indumentárias, modos e hábitos comportamentais que uma vez instalados tornar-se-ão padrão que convertidos em moda ensejará diferentes modismos que serão copiados e imitados como um signo de elegância de um contexto. No que tange ao modismo masculino esse referencial interliga os conceitos de elegância como forma de representação de uma masculinidade, ou seja, ambos estarão ligados entre si. Um exemplo clássico desse sentido pode-se observar nas imagens do famoso astro do cinema americano da década de 20 -Rodolfo Valentino- cujo penteado foi uma de suas marcas de elegância e masculinidade e também adotado por Heleno de Freitas. Heleno de Freitas ao jogar pelo Boca Juniors da Argentina seu magnetismo pessoal veio somar-se ao do famoso Carlos Gardel (RANGEL, 1970). AUGUSTO (2004: 128), descreve-o como “misto de Carlos Gardel e Rodolfo Valentino”. Enquanto Rodolfo Valentino tinha o cinema e seus filmes como palco disseminatório de sua imagem, Heleno de Freitas como um sósia o fazia por intermédio do futebol e nos gramados dos Estádios. Ambos os atores de certa forma obedeciam e utilizavam os códigos estéticos de elegância de suas épocas e contextos. A elegância pressupõe paradigmas diversos ou específicos a cada época abrangendo o corpo e seus adornos; assim teríamos uma moda corporal e uma moda vestimentar. Ela pode visualizar-se por um objeto, podendo ser uma gestualidade uma linguagem uma indumentária um comportamento ou um hábito.
A elegância, segundo os padrões burgueses, não deixa de constituir-se como uma exposição de um habitus e, conseqüentemente, de uma condição sócio-econômica com poder aquisitivo adequado para inserir-se no contexto, nos lócus de pertença e freqüência e nos padrões exigidos por uma classe social. Estes ambientes exigem normas de condutas para ingresso nesse universo evidenciando uma seleção natural no qual o traje além de ser o limitador e separador das classes sociais ele é a visualização de uma elegância que se quer mostrar. Estas colocações pressupõem que exista um código de comportamento de determinada classe social que se faz representar “nos diversos produtos sociais” (NACIF, 2000), e como a indumentária é um salvo-conduto a mesma adquire a representação da classe que se quer fazer representar. Os códigos de comportamentos de determinada classe social como sua representatividade tendo como referencial a indumentária ou o traje apresentam “padrões” (MAUAD, 1990), e são específicas a cada época e aos paradigmas culturais, estético-corporais e sócio-econômicos. O fato de qualquer indivíduo estar na moda não obriga necessariamente a ser considerado elegante, outros códigos estarão implícitos. Não desvalorizando os conceitos existentes sobre a influência da moda nas indumentárias nem tampouco valorizando em excesso a influência dos ditames da estética e beleza corporal largamente exploradas por cada época, gostaríamos de acrescentar algumas observações que estão incluídas no sentido elegância.
A elegância entendida como adorno e moldura de um corpo envolverá os múltiplos ornamentos como; o corte do terno, o tecido específico para cada estação climática, sua cor e tonalidade, espessura do tecido, feitio da calça com ou sem bainha, lenço no bolso de paletó, colete, gravata e seus padrões, sapatos (lisos, com ou sem fivela, com cadarço), relógios e isqueiros (prateados, de ouro), pulseiras, anel (decorativo, de grau). O cabelo também merecerá atenção como o tipo de corte, tipo de penteado, da mesma forma o odor que se quer anexar ao corpo receberá colônias, perfumes com diferentes fragrâncias. Todos esses elementos ornamentais são complementados por uma gesticulação, comportamentos de polidez (beijar a mão da dama, puxar a cadeira para que ela se assente) e uma linguagem que denotem a procedência desse corpo e, portanto de um sentido. Acreditamos que o conceito de elegância é um duplo discurso, sendo o primeiro emitido e ditado de forma externa por outras instituições e o outro pelo o que transmitimos com nossa imagem e como os outros nos percebem. Mais adiante ao procedermos a análise de conteúdo sobre as emissões registradas nos textos selecionados sobre como foi percebido o sentido da elegância em Heleno de Freitas essas colocações ficarão mais esclarecidas.
VI. Análise da elegância em Heleno de Freitas
Selecionamos alguns trechos nos textos de quatro autores da historiografia esportiva brasileira sobre futebol que enfocaram a trajetória de Heleno de Freitas para proceder nossa proceder a análise de conteúdo. Dentro do delineamento da análise de conteúdo elegemos a “palavra” que será o elemento a ser categorizado e selecionado para realizar inferências procurando descobrir os sentidos ocultos ou implícitos no texto, pois segundo BARDIN (1977: 44), “a análise de conteúdo procura conhecer ‘aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça’”. Para efetuar a presente análise optamos por um método de análise categorial onde serão listados os adjetivos que mais se aproximam do sentido elegância identificados nos textos considerando-os como unidades de significação. Para a consecução desta tarefa criamos uma grade para cada fonte bibliográfica fundamentada em BARDIN (1977) adaptada aos nossos objetivos enfatizando a análise qualitativa devido a pequena amostra contendo poucos dados quantitativos.
VII. 1. Análise dos adjetivos sobre Heleno de Freitas
Grade 1 - Os adjetivos apontados por AUGUSTO (2004) são glamouroso (2), boa pinta (1), galã (2) e gentleman (1) e remetem-nos a uma idéia de um personagem/astro do cinema no qual as palavras glamour, galã, boa pinta pertencem ao universo discursivo do cinema.
Grade 2 - Os adjetivos apontados por SANDER (2004) são educação fina (1), elegância,(1), maneiras educadas (1), pinta de galã (1), gentleman (1) e glamouroso (1) remetem-nos a sentidos de um personagem dotado de comportamento e hábitos próprios a uma distinção de uma elite e de classe social privilegiada.
Grade 3 - RANGEL (1970) aponta os seguintes adjetivos: bem penteado(1), bem vestido (1), boa figura (1), cavalheiro (1) e elegante (1). Semelhantemente a SANDER (2004), remetem-nos a sentidos de análise, indicativos do aspecto externo do personagem (ornamentos, adornos e comportamento), pertencentes ao universo discursivo da moda. Grade 4 - Os adjetivos apontados por CASTRO & MÁXIMO (1965) são elegância (1), elegante (3), galã (3), e irrepreensível (1) remetendo-nos a um sentido que incluem o personagem pertencentes ao universo discursivo da moda e do cinema.
VII. 2. Totalização dos adjetivos (Grades 1, 2, 3 e 4)
Os adjetivos identificados nos textos totalizaram , Galã (5), Elegante (4), Glamouroso (3), Gentleman (2), Educação Fina/Elegância (2) e respectivamente um (1) para; Maneiras educadas, Boa pinta, Bem penteado, Bem vestido, Boa figura, Cavalheiro e Irrepreensível, totalizando 23 adjetivos.
Os adjetivos apontados pelos autores AUGUSTO, SANDER, RANGEL E CASTRO & MÁXIMO sinalizam que as palavras citadas em nossas análises pertencem ao universo discursivo da moda, cinema e de distinção de classe social. De modo geral as vinte e uma sentenças que fundamentaram nossas análises e de onde foram selecionados os adjetivos levam-nos a inferir que os quatros autores enfatizam no ídolo Heleno de Freitas os aspectos estético-visuais, físicos e sua maneira gentil de se comportar em público. Fica evidente que Heleno de Freitas denota sua condição de pertença a uma família de condição sócio-econômica considerável devido a ter recebido uma educação refinada , fato constatado pela sua exterioridade traduzida na maneira de se comportar, gesticular, no uso de roupas elegantes da moda masculina da época aspectos esses registrados quando comparam-no à um galã, boa pinta, glamouroso assim como também a sua beleza física quando adjetivam-no como bonito possuidor de um corpo esguio. Sua condição sócio-econômica enquanto jogador de futebol e ídolo bem remunerado lhe permitiu o ingresso em recintos da burguesia carioca exigindo-lhe trajar indumentárias atualizadas no corte e feitio da moda vigente.
VIII. Conclusão
A construção do sentido da elegância pelos quatro autores que fundamentaram os referenciais passa pelas qualificações emitidas por seus enunciados. Os adjetivos citados por esses autores em diferentes tempos coincidem de certa maneira entre si quando citam signos que verbalizam e comunicam o sentido que se quer transmitir qual seja o da “elegância”. Tal sentido antes de estar corporificado na figura e personalidade de Heleno de Freitas (HF), tem suas raízes nos contextos vividos pelo jogador assim como as influências culturais exercidas à època da década de 1940, ditadas pelo cinema e revistas americanas e pela moda inserida nesses veículos comunicacionais na Cidade do Rio de Janeiro. A educação, o meio de social de pertença, a condição sócio-econômica e os ambientes que freqüentava levando-o a trajar-se de acordo com os padrões de beleza e da moda masculina vigente, moldaram uma parte significativa de sua exterioridade e personalidade. O eixo que fundamentou este trabalho foi composto pela “palavra” e contribuíram para a construção do arcabouço do sentido investigado quer seja a Elegância em Heleno de Freitas: uma figura que se trajava elegantemente, tendo um corpo esguio, parecendo um galão de cinema, possuidor de refinado comportamento. Ficou demonstrado pelos enunciados nas provas historiográficas que o sentido da elegância em Heleno de Freitas foi registrado pela maneira em que os autores o adjetivam como uma figura que se trajava elegantemente, tendo um corpo esguio parecendo um galã possuidor de refinado comportamento. A elegância foi, senão a maior, uma marca bastante significativa na vida do ídolo. O porte atlético, a figura longelínea, as roupas minuciosamente preparadas, seus cabelos engomados e penteados e seus maneirismos refinados foram habilmente transformados em instrumentos e arma de sua sedução. Essa narrativa da sedução que a muitos encantou foi comprovada pela marca que a elegância deixou na sua vida profissional e privada, testemunhada pelos registros que apontam o imaginário coletivo de nossa história esportiva. Apontou-nos um modelo de perfeição masculina dominante baseado em razão, responsabilidade e sedução, um espírito que permitiu ídolo e história se unissem no imaginário da época reproduzindo a tradição de um mundo esportivo masculino.
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revista
digital · Año 13
· N° 119 | Buenos Aires,
Abril 2008 |