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Perfil do crescimento somático de crianças e jovens provenientes de cidades com características culturais alemã, italiana e portuguesa do estado do RS – Brasil

Somatic Growth Profile of Children and Young Deriving From Germany, Italy and Portuguese Cultural Characteristics Cities of Rio Grande do Sul State – Brasil

 

*Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR – ESEF/UFRGS).

**Professor Programa de Pós-graduação em Ciência do Movimento Humano UFRGS;
Coordenador geral do PROESP-BR.

(Brasil)

Eraldo dos Santos Pinheiro* | Gabriel Gustavo Bergmann*

Daniel Carlos Garlipp* | Rodrigo Soares Rodrigues*

Adroaldo Gaya* **

esppoa@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O crescimento somático ocorre sob influência de fatores genéticos e ambientais. O potencial máximo de crescimento é definido pelos fatores genéticos, enquanto que o alcance ou não deste potencial dependerá de fatores ambientais adequados. O objetivo do estudo foi descrever o perfil do crescimento somático de crianças e jovens de 07 a 17 anos de idade dos dois sexos provenientes de cidades com diferentes características culturais (CC). A amostra foi composta por 4437 escolares, sendo 2280 do sexo feminino e 2157 do sexo masculino proveniente das cidades de Pelotas e Rio Grande (representando indivíduos com CC portuguesa -CCP-); Santa Rosa e Santa Cruz do Sul (representando indivíduos com CC alemã -CCA-); e Caxias do Sul (representando indivíduos com CC italiana -CCI-). As variáveis estudadas foram estatura (EST) e massa corporal (MC). Os resultados demonstram que a EST dos meninos CCA é maior dos 07 aos 09 anos e dos 15 aos 17 anos. As meninas CCP apresentaram desvantagem na EST em todas as idades. Quando à MC, dos 07 aos 09 anos os meninos da cidade CCI têm desvantagem em relação aos demais, sendo que para as idades seguintes os valores são semelhantes Nas meninas a MC apresentou diferenças a partir dos 11 anos, com as CCP tendo uma menor MC até os 17 anos. Os resultados demonstraram uma pequena variação que não permitem definir com segurança se os aspectos culturais podem intervir no processo de crescimento.

          Unitermos: Crescimento. Cultura. Estatura. Massa corporal.

 

Abstract

          The somatic growth occurs by genetic and environment factors influence. The growth maximum potential is define by genetic factors, whereas the reach or not of this potential depends of adequate environment factors. The aim of the study was to describe the somatic growth profile of 07 to 17 years old children and young of two sexes from different cultural characteristics cities (CC). The sample was composed by 4437 students (2280 boys and 2157 girls) from Pelotas and Rio Grande cities (representing individuals with Portuguese CC -PCC-); Santa Maria and Santa Cruz (representing individuals with Germany CC -GCC-); and Caxias do Sul (representing individuals with Italy CC -ICC-). The studied variables were stature (STA) and body mass (BM). The results show that GCC boys’ STA is bigger at 07 to 09 and 15 to 17 years old than others two CC boys. The PCC girls showed lesser STA than other two CC girls in all ages. The BM of ICC boys is lesser at 07 to 09 years old than other two CC boys, and for others grow old the values are vary close. The girls’ BM showed difference at 11 years old, with PCC girls presents lesser values than others two CC girls until the 17 years old. The results showed a little variation on somatic growth that does not permit to define if the cultural aspects can interfere on the somatic growth process.

          Keywords: Growth. Culture. Stature. Body mass.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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Introdução

    Durante o processo de crescimento e desenvolvimento biológico do ser humano, ocorre uma série de transformações em sua condição física manifestadas pelas mudanças nas características antropométricas das dimensões, estrutura e composição corporais(1). Neste sentido, as variáveis crescimento e desenvolvimento de crianças, principalmente em idade escolar, têm sido alvo de constantes investigações.

    Da utilização antropológica ao instrumento clínico, as medidas de estatura e da massa corporal têm-se constituído como um recurso quase universal pela maioria dos investigadores para a determinação dos níveis de crescimento. Em alguns países o crescimento de uma população constitui um indicador do estado de saúde bem mais válido do que qualquer informação acerca do valor do produto interno bruto(2). Assim, principalmente pela facilidade de medida e baixo custo, os índices de estatura e massa corporal são frequentemente utilizados como marcadores de saúde e estado nutricional de uma população(3).

    Entretanto, o padrão de desenvolvimento tanto da estatura, quanto da massa corporal, não ocorre da mesma maneira para todos os indivíduos. O desenvolvimento do crescimento somático é regido por uma série de fatores que variam de indivíduo para indivíduo. Esta variação no ritmo de crescimento pode ser explicada pela influência de dois fatores. Genéticos e ambientais.

    Os fatores genéticos do crescimento não são passíveis de alteração, sendo determinados no momento da fecundação com participação de 50% do código genético da mãe e 50% do código genético do pai. A partir deste momento, já está determinado o potencial máximo de crescimento deste indivíduo. O alcance ou não deste potencial máximo será definido pelos fatores ambientais. Quando os fatores ambientais forem adequados, possivelmente este indivíduo alcançará seu potencial máximo de crescimento. No entanto, quando não for proporcionado ambiente adequado dificilmente este indivíduo alcançará seu potencial máximo de crescimento. De acordo com alguns autores(4), os principais componentes ambientais de influência no crescimento são: a nutrição, o nível socioeconômico, a urbanização, a atividade física, o estresse psicológico, a época do ano e o clima.

    Tendo em vista a diversidade de influências culturais existentes no estado do Rio Grande do Sul devido a intensa colonização européia, principalmente alemã, italiana e portuguesa, este estudo teve como objetivo descrever o perfil do crescimento somático de crianças e jovens de 07 a 17 anos de idade dos dois sexos provenientes de cidades de características culturais predominantemente alemã, italiana e portuguesa.

Materiais e métodos

    Este estudo descritivo foi realizado a partir de uma amostra retirada do banco de dados do Projeto Esporte Brasil(5) composta por 4437 escolares, sendo 2280 do sexo feminino e 2157 do sexo masculino, com idades entre 7 e 17 anos, provenientes de cidades de características culturais predominantemente alemã -CCA- (Santa Cruz e Santa Rosa), italiana -CCI- (Caxias do Sul) e portuguesa -CCP-(Rio Grande e Pelotas) (tabela 1).

Tabela 1. Distribuição da amostra estratificada por característica cultural, sexo e idade.

Idade

Característica Cultural

Total

Alemã

Italiana

Portuguesa

Masc.

Fem.

Masc.

Fem.

Masc.

Fem.

Masc.

Fem.

07 anos

56

49

26

36

59

50

141

135

08 anos

75

84

20

20

66

77

161

181

09 anos

83

74

16

18

81

76

180

168

10 anos

99

96

22

19

84

87

205

202

11 anos

110

130

56

98

81

68

247

296

12 anos

105

125

76

100

68

69

249

294

13 anos

117

115

86

99

61

60

264

274

14 anos

106

109

65

56

52

44

223

209

15 anos

70

54

96

91

71

48

237

193

16 anos

47

49

68

102

20

21

135

172

17 anos

24

15

70

131

21

10

115

156

TOTAL

892

900

601

770

664

610

2157

2280

    Para a efetivação do estudo, o crescimento somático foi determinado a partir das informações de estatura e massa corporal dos escolares. A estatura foi medida em cm entre o vértex e plano de referência do solo por intermédio de um estadiômetro com resolução de 0,1 cm. A massa corporal foi medida em kg através de uma balança digital com 0,1 kg de precisão com os escolares vestindo o mínimo possível de roupas.

    Para o tratamento dos dados inicialmente procedeu-se um estudo exploratório a fim de avaliar a normalidade destes seguindo os pressupostos da análise paramétrica. Esta análise constou da inspeção da simetria (Skewness), do achatamento (Kurtosis) e do teste de normalidade Kolgomorov-Smirnov. Como os resultados do estudo exploratório demonstraram a normalidade dos dados, seguimos com as análises estatísticas paramétricas. Foram utilizadas, as médias e os desvios padrão para a descrição dos resultados. Com o intuito de melhor apresentar as curvas de crescimento (estatura e massa corporal), recorremos ao ajuste destas curvas por intermédio dos modelos polinomiais. Para os dois sexos e para as três culturas, os polinômios cúbicos foram os modelos que melhor explicaram estatisticamente as variações observadas em relação à idade. Para verificar possíveis diferenças entre os grupos foi utilizada a análise de variância (ANOVA) com teste post hoc de Scheffé. O nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05). Todos os dados foram tratados no pacote estatístico SPSS for Windows 10.0.

Resultados e discussões

    A estatura dos meninos se desenvolveu de forma linear e crescente ao longo das idades (gráfico 1), corroborando com as informações de uma série de estudos que utilizaram a mesma faixa etária(6,7,8). Com relação às diferenças entre as três culturas, aparentemente elas não ocorrem, com exceção dos 07 aos 09 anos de idade onde os meninos CCA têm uma pequena vantagem. Esta vantagem diminui ao longo dos anos e fica praticamente sobreposta às curvas dos meninos CCI e CCP até por volta dos 15 anos, quando volta a ocorrer em favor dos meninos CCA, permanecendo até os 17 anos. Resultados semelhantes foram encontrados por alguns autores(9).

Gráfico 1. Desenvolvimento da estatura dos meninos dos 7 aos 17 anos.

Gráfico 2. Desenvolvimento da estatura das meninas dos 7 aos 17 anos.

    As meninas, diferentemente dos meninos, apresentam um desenvolvimento da estatura linear até por volta dos 12 anos, quando começam a diminuir a velocidade no ganho de estatura, praticamente estabilizando este ganho entre 15 e 16 anos (gráfico 2). Estas informações vão ao encontro dos resultados divulgados por outros estudos(10,11). Com relação às diferenças entre as culturas, as meninas CCP apresentam desvantagem ao longo de todas as idades. Até os 14 anos as meninas CCI e CCA apresentam curvas sobrepostas, e assim como os meninos, as meninas oriundas das cidades CCA também apresentam vantagem a partir dos 15 anos, mantendo-a até a idade final do estudo. Mais uma vez os resultados de importantes estudos(9) se assemelham aos nossos achados.

    No que se refere à massa corporal, os meninos apresentam uma curva similar à de estatura, com desenvolvimento linear e crescente ao longo das idades, indo ao encontro dos resultados de um conjunto de estudos(6,7,8). Com referência às diferenças entre as culturas, estas parecem ocorrer apenas dos 7 aos 10 anos, tendo os meninos CCI pequena desvantagem, resultados que vão ao encontro do estudo em realizado em Santa Catarina(9). (gráfico 3)

    As meninas, assim como para a estatura, apresentam uma curva de massa corporal linear e crescente até em torno dos 12 anos, quando iniciam uma desaceleração e praticamente estabilizam seus ganhos por volta dos 16 anos (gráfico 4). Da mesma forma que para a EST os resultados de MC foram ao encontro dos resultados apresentados por estudiosos do crescimento somático(10,11). As meninas CCP apresentam uma desvantagem a partir dos 12 anos, e esta desvantagem persiste até os 17 anos. As meninas CCI mantêm-se em vantagem a partir dos 12 anos em relação às meninas CCA que ficam entre as meninas CCI e CCP. Estes resultados diferem do estudo realizado em Santa Catarina(9), que encontraram valores de MC inferiores nas meninas CCP nas primeiras idades (07-10 anos).

Gráfico 3. Desenvolvimento da massa corporal dos meninos dos 7 aos 17 anos.

Gráfico 4. Desenvolvimento da massa corporal das meninas dos 7 aos 17 anos.

Conclusões

    O crescimento somático (EST e MC), independentemente das CC, apresentou desenvolvimento crescente dos 07 aos 17 anos para os meninos, e dos 07 aos 12 anos para as meninas, tendo estas a partir desta faixa etária uma redução na velocidade de crescimento. Com relação às diferenças entre as CC, os resultados demonstraram pequenas variações. No caso das meninas, as de CCP apresentaram uma pequena desvantagem em relação às meninas de CCA e CCI tanto em EST quanto em MC, enquanto nos meninos estas diferenças não foram tão evidentes. Desta maneira, os resultados não permitem definir se os aspectos de CC são intervenientes no processo de crescimento somático.

Referências

  1. Ferreira M, Böhme MTS. Diferenças sexuais no desempenho motor de crianças: influência da adiposidade corporal. Rev Paulista de Educ Fís, São Paulo. 1998 (12) 2:181-192.

  2. Prista A. Variação de Curta Duração do Crescimento Somático, Composição Corporal e Aptidão Física. In. Prista A, Maia J, Saranga S, Marques A. Saúde, Crescimento e Desenvolvimento. Um Estudo Epidemiológico em Crianças e Jovens de Moçambique. Lisboa. Ed. Multitema, 2002.

  3. Crawford SM. Antropometry. In: Docherty, D. Measurement in Pediatric Exercise Science, Illinois, Champaign, Human Kinetics Books, 1996.

  4. Eveleth PB. Population Differences in growth: Environmental and genetic factors. In: Falkner F, Tanner JM. Human growth: Methodology ecological, genetic, and nutritional effects on growth. New York, Plenum Press; 1986. p. 221- 239.

  5. Gaya A. PROESP-BR. Projeto Esporte Brasil – Indicadores de saúde e fatores de prestação esportiva em crianças e jovens. Manual de aplicação de medidas e testes motores. Revista Perfil. 2002; (6) 6: 09-34.

  6. Gaya A, Torres L, Silva M, Garlipp D, Bergmann G, Lorenzi T, et al. Perfil do crescimento somático de crianças e adolescentes da região sul do Brasil. Perfil. 2002 (5)6 p.79-85.

  7. Garlipp C. Bergmann G. Lorenzi T, Marques AC, Gaya A, Torres L, et al. Perfil do crescimento somático de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos do Estado do Rio Grande do Sul. Perfil. 2005 (7) 7: 31-36.

  8. Guedes DP, Guedes JERP. Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes. São Paulo: Balieiro, 1997.

  9. Lopes AS, Pires Neto CS. Antropometria e composição corporal de crianças de diferentes características étnico-culturais no estado de Santa Catarina, Brasil. Rev Bras de Cineantropom e Desempenho Hum.1999; (1) 1:37-52.

  10. Böhme MTS. Aptidão Física e Crescimento Físico de Escolares de 7 a 17 Anos de Viçosa-MG – Parte IV. Rev Mineira de Educ Fís 1994; 2(1): 27-41.

  11. Lorenzi T, Garlipp D, Bergmann G. Perfil do crescimento somático de escolares de 7 a 14 anos. In: GAYA, A. e SILVA, M. organizadores. Areia Branca: um estudo multidimensional sobre escolares do município de Parobé. Parobé: Evergráfica Editora; 2003. p. 149-162.

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