Avaliação antropométrica de meninos praticantes de escolinhas de futebol |
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*Mestre em Ciências da Saúde – UnB. Docente do Curso de Educação Física do Instituto de Ensino Superior da Funlec (IESF) - Campo Grande, MS **Graduado em Educação Física pelo Instituto de Ensino Superior da Funlec (IESF) - Campo Grande, MS |
Joel Saraiva Ferreira* Clemilson Neves** (Brasil) |
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Resumo Com o objetivo de avaliar as características antropométricas de praticantes de escolinhas de futebol, desenvolveu-se esta pesquisa, a qual buscou identificar as quantidades dos diferentes componentes corporais em meninos com idade de 08 a 12 anos, bem como os valores médios de estatura, massa corporal, índice de massa corporal (IMC) e dos perímetros corporais destes indivíduos. Para tanto, na coleta dos dados utilizou-se o método antropométrico, sendo avaliados quatorze indivíduos do gênero masculino, na faixa etária especificada. Os dados coletados foram tabulados e receberam tratamento estatístico no programa Excel for Windows XP. A análise dos dados demonstrou valores médios de estatura (1,41 ± 0,074), massa corporal (32,8 ± 5,672), IMC (16,29 ± 1,665) e percentual de gordura corporal (12,5 ± 5,184), que classificam o grupo como eutrófico. Já em relação aos perímetros corporais, o tórax (CV = 6,05) apresentou-se como a variável mais homogênea entre os membros do grupo e a coxa (CV = 9,60) como a variável menos homogênea. Com isso, conclui-se que a prática de futebol não tem contribuído para o desenvolvimento de uma condição antropométrica semelhante entre o grupo avaliado, quanto a hipertrofia de membros inferiores. Porém, esta modalidade pode trazer benefícios para as crianças que a praticam, principalmente mantendo e/ou obtendo um baixo percentual de gordura corporal, o que possivelmente contribui para a diminuição nos riscos destes indivíduos tornarem-se adultos obesos. Unitermos: Futebol. Antropometria. Crianças e adolescentes. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008 |
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Introdução
A atividade física é importante no estilo de vida de crianças e adolescentes e pode ser realizada de diversas formas, incluindo jogos livres, exercícios, educação física escolar e esportes organizados. No entanto, a relação entre a atividade física, o exercício regular e a saúde nem sempre foram tão óbvias como são atualmente. Afinal de contas, o objetivo da sociedade moderna era tornar à vida mais fácil de ser vivida e não mais trabalhosa. Os médicos não exigiam que seus pacientes fizessem mais exercícios para combater a hipertensão, o excesso de gordura corporal e doenças cardíacas; e tampouco havia apoio da mídia para promover o exercício e um estilo de vida mais ativo. Isso aplicava-se a indivíduos adultos e, conseqüentemente, às crianças e adolescentes (ROBERGS e ROBERTS, 2002).
Num passado mais recente, a atividade física e o desempenho em crianças passaram a despertar interesse nos estudos sobre o crescimento e maturação, buscando conhecer as quantidades dos diferentes componentes e suas relações com o estado de saúde e conseqüências que a falta de atividades físicas traz às crianças que são sedentárias, considerando as tendências do desenvolvimento de vários fatores de risco durante a infância e a adolescência, ressaltando um papel proeminente para a atividade física regular. Acredita-se que a participação periódica em atividades físicas é necessária para um excelente desenvolvimento e maturação. Logo, é importante entender os processos normais de crescimento e maturação com objetivo de se poder avaliar e compreender, de forma sistemática, os efeitos da atividade física regular nos processos anteriormente relacionados. A atividade física, no entanto, é apenas um dos fatores que podem influenciar o crescimento e a maturação. Os estados de crescimento e maturidade individuais também influenciam o desempenho físico (MALINA e BOUCHARD, 2002).
Pensando nisso, a antropometria representa um importante recurso de assessoramento para uma análise completa de um individuo, em qualquer faixa etária, seja ele atleta ou não, pois oferece informações ligadas ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento, sendo por isso crucial na avaliação do estado físico e no controle das diversas variáveis que estão envolvidas durante uma prescrição de treinamento.
Marins e Giannichi (2003) destacam que, um referencial importante que pode ser obtido pela antropometria, é a elaboração do perfil antropométrico específico para cada esporte. Como este perfil indica se um indivíduo terá maiores ou menores possibilidades de desempenho em um dado esporte, ele serve como orientação para aqueles que pretendem iniciar uma vida desportiva. O emprego da antropometria pode ser considerado como componente de controle de um treinamento, visto que alguns de seus elementos (composição corporal) sofrem interferência direta de acordo com o grau de treino.
Concomitantemente, medidas de composição corporal podem ser usadas para monitorar mudanças durante o crescimento e desenvolvimento e para classificar o nível de gordura corporal, já que há evidências que crianças mais gordas têm tendência mais forte à obesidade quando adultas e um risco relativamente maior de desenvolver doenças cardiovasculares. Meninos com mais de 25% e meninas com mais de 30% de gordura corporal relativa têm maior pressão sanguínea sistólica e diastólica, colesterol total e relação lipoprotéica de colesterol (a proporção de colesterol LDL para colesterol HDL) indicando um risco relativamente maior de desenvolvimento de doença cardiovascular (HEYWARD e STOLARCZYK, 2000).
Assim, o desenvolvimento de pesquisas envolvendo a Antropometria, juntamente com a prática desportiva realizada por crianças e adolescentes é de fundamental importância para a compreensão de processos importantes relacionados aos possíveis benefícios e riscos específicos de tal prática. Para tanto, observa-se que, para uma correta utilização da técnica antropométrica é necessário que o pesquisador tenha um razoável conhecimento de anatomia, bem como dos instrumentos e procedimentos necessários para uma perfeita coletas de dados.
Material e método
População
Participaram dos testes os alunos regularmente matriculados na escolinha de futebol Novos Talentos/Clube do 07, da cidade de Campo Grande – MS, com idade de 08 a 12 anos, que estivessem há mais de seis meses na prática da modalidade, com frequência semanal mínima de três treinos, com duração de 60 minutos cada. Foram excluídos da pesquisa os indivíduos quem não tiveram condições de cumprir as exigências da avaliação antropométrica, bem como aqueles que não quiseram participar da pesquisa, ou se os responsáveis não autorizaram participar da mesma, através do Termo de consentimento livre e esclarecido.Com estes critérios, obteve-se um total de quatorze indivíduos (n =14) que participaram do estudo.
Instrumento para coleta de dados
Para a execução da pesquisa, utilizou-se o método antropométrico, avaliando as medidas.
Massa corporal: medida com auxilio de uma balança mecânica, com precisão de 100g.
Estatura: medida em metros, com auxílio de uma fita métrica fixada a uma parede sem rodapé nem desnível.
Perimetria: circunferências medidas em centímetros, com uma fita métrica com 2 metros de comprimento, de material flexível e rebubinação automática. Utilizou-se o protocolo descrito por Petroski (2003).
Dobras cutâneas: medida com um adipômetro, com precisão de 0,1mm e pressão constante de 10g/cm² em qualquer abertura.
Para o calculo do índice de massa corporal (IMC), utilizou-se a equação:
IMC= Massa corporal em Kg
(estatura em m)2
Para cálculo do percentual de gordura corporal, utilizou-se as medidas de dobras cutânea do tríceps e subescapular, conforme equação de LOHMAN (1992).
Apresentação dos resultados
Após a coleta de dados, os resultados obtidos com a avaliação antropométrica foram tabulados, utilizando o programa Excel for Windows XP, e estão apresentados nas tabelas a seguir.
Tabela I. Peso, estatura e IMC dos alunos da escolinha de futebol Novos Talentos/Clube do 7 (n = 14).
Média |
Desvio Padrão |
Coeficiente de variação |
|
MASSA CORPORAL (Kg) |
32,800 |
5,672 |
17,28 |
ESTATURA (m) |
1,41 |
0,074 |
5,22 |
IMC (Kg/m2) |
16,29 |
1,665 |
10,21 |
Observa-se na Tabela I que grupo avaliado tem na estatura a variável mais homogênea, seguida pelo IMC e, conseqüentemente, vemos o peso corporal destacando-se como o item que apresenta maior grau de variabilidade entre os membros do grupo.
Tabela II. Perímetros corporais dos alunos da escolinha de futebol Novos Talentos/Clube do 7 (n = 14).
Média |
Desvio Padrão |
Coeficiente de variação |
|
TÓRAX (cm) |
66,7 |
4,041 |
6,05 |
BRAÇO (cm) |
20,6 |
1,935 |
9,37 |
CINTURA (cm) |
59,6 |
4,257 |
7,14 |
QUADRIL (cm) |
70,5 |
6,479 |
9,18 |
COXA (cm) |
39,5 |
3,802 |
9,60 |
PANTURRILHA (cm) |
27,7 |
2,207 |
7,95 |
A Tabela II indica uma relativa homogeneidade entre os vários perímetros que foram mensurados, destacando-se que a maior variação encontra-se no perímetro da coxa e a menor variação no perímetro do tórax. Tal constatação indica que possivelmente a prática do futebol por parte da população investigada ainda não influencia significativamente a hipertrofia muscular de membros inferiores, pois caso isso ocorresse, os perímetros dos membros inferiores deveriam apresentar as menores variações, já que todos os indivíduos estão expostos ao mesmo tipo de estímulo físico, que é o treinamento de futebol.
Tabela III. Percentual de gordura corporal dos alunos da escolinha de futebol Novos Talentos/Clube do 7 (n = 14).
Média |
Desvio Padrão |
|
Percentual de gordura corporal |
12,5 |
5,184 |
Na Tabela III podemos observar que a média de percentual de gordura não apresenta-se como um valor discrepante, apesar do desvio padrão apresentar-se com um valor relativamente elevado, indicando que o grupo de indivíduos avaliados contém valores que não concentram-se em torno da média.
Discussão
Modernamente, o estudo da Antropometria tem sido usado como um instrumento muito útil na identificação de variáveis relacionadas ao crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes (GUEDES e GUEDES, 1997) e os dados médios obtidos em relação a massa corporal (32,800 Kg), estatura (1,41 m) e índice de massa corporal (16,29 Kg/m2) dos praticantes de escolinhas de futebol, assim, demonstram tal importância ao evidenciarmos a existência de um grupo considerado eutrófico (De ROSE; PIGATTO e De ROSE, 1984).
No entanto, este mesmo grupo apresenta um grau de variabilidade elevado no item massa corporal (CV = 17,28%), o que não ocorre com a estatura (CV = 5,22%), indicando que o ambiente ao qual estão expostos tais indivíduos (casa + escola + treinamento), influencia muito mais as alterações relacionadas a massa corporal, interferindo muito pouco no crescimento longitudinal dos mesmos, já que os padrões aceitáveis estão sendo atingidos na variável estatura (MALINA e BOUCHARD, 1991), a qual mantém-se mais homogênea no grupo estudado. Conseqüentemente, a dispersão observada no IMC (CV = 10,21%), deve-se primordialmente a variável massa corporal, em detrimento a estatura.
Mesmo com todos os indivíduos do grupo pesquisado estando expostos a um estímulo comum (exercício físico), realizado com sessões de 60 minutos e freqüência semanal de três dias, observa-se que possíveis expectativas quanto a resultados semelhantes naqueles perímetros que estão diretamente envolvidos com tal prática desportiva, que são as circunferências localizadas nos membros inferiores (HELGERUD, 2001), não se confirmam. Ao contrário, vemos o perímetro da coxa como aquele com maior grau de dispersão entre os membros do grupo (CV = 9,60%), enquanto que o perímetro mais homogêneo é o tórax (CV = 6,05%). Tais medidas demonstram mais uma vez que outros fatores, diferentes da prática esportiva, ainda se sobressaem no organismo dos indivíduos pesquisados, possivelmente em função da carga genética e do nível maturacional de cada indivíduo (MALINA e BOUCHARD, 1991).
Quanto ao percentual de gordura corporal, observa-se que o valor médio (12,5%) obtido pelo grupo é considerado adequado para a faixa etária pesquisada (HEYWARD e STOLARCZYK, 2000), o que indica uma situação bastante favorável, já que esse é um período crítico para o desenvolvimento da obesidade, pois compreende a fase de transição entre a infância e a adolescência, momento onde fatores hormonais podem contribuir para um excesso de peso corporal, que poderá permanecer por toda a vida (DIETZ, 1994).
Podemos então avaliar como positivas as variáveis observadas, as quais possivelmente não são produto exclusivo do treinamento físico praticado pelo grupo pesquisado, apesar do mesmo contribuir substancialmente para modificar variáveis antropométricas e funcionais (WILMORE e COSTILL, 1994). No tocante a performance, sabe-se que é necessário um incremento maior na intensidade e no volume dos treinamentos (WEINECK, 2003); porém a população pesquisada,por encontrar-se em uma faixa etária ainda em período de crescimento e desenvolvimento, pode ater-se mais a aptidão física relacionada à saúde que ao desempenho atlético (GUEDES e GUEDES, 1997), o qual será uma conseqüência natural àqueles que acumularem todas as variáveis necessárias para a continuidade na vida esportiva.
Conclusão
Após ter analisado os resultados obtidos com a avaliação antropométrica dos alunos da escolinha de futebol Novos Talentos/Clube do 07, constata-se que a prática de futebol, mesmo com freqüência de três vezes por semana, em sessões de 60 minutos, não tem contribuído para o desenvolvimento de uma condição antropométrica semelhante entre os meninos de 08 a 12 anos de idade, no que se refere a hipertrofia muscular de membros inferiores, já que há um elevado grau de dispersão entre os indivíduos do grupo pesquisado, especificamente nesta variável.
Evidencia-se, no entanto, que a prática de futebol traz benefícios para as crianças que praticam essa modalidade, quanto a obtenção e/ou manutenção de um percentual de gordura corporal adequado, o que possivelmente contribui para a diminuição no risco destes indivíduos tornarem-se adultos obesos.
Referências
De ROSE, E. H.; PIGATTO, E.; De ROSE, R. C. F. Cineantropometria, Educação Física e Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1984.
DIETZ, W. H. Critical periods in childhood for the development of obesity. American Journal of Clinical Nutrition, v. 59, p. 955-959, 1994.
GUEDES, D. P. e GUEDES, J. E. P. Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes. São Paulo: CLR Balieiro, 1997.
HELGERUD, J. et al. Aerobic endurance training improves soccer performance. Méd Sci Sports Exerc, v. 33, n. 11, p. 1925-1931, 2001.
HEYWARD, V. H. e STOLARCZYK, L. M. Avaliação da Composição Corporal Aplicada. São Paulo: Manole, 2000.
LOHMAN, T. G. Advances in body composition assessment. Champaign, Illinois: Human Kinetics Books, 1992.
MALINA, Robert M. e BOUCHARD, Claude. Growth, maturation and physical activity. Champaign, Illinois: Human Kinetics Books: 1991.
MALINA, Robert M. e BOUCHARD, Claude. Atividade física do atleta jovem - do crescimento à maturação. São Paulo: Roca, 2002.
MARINS, João Carlos Bouzas e GIANNICHI, Ronaldo. Avaliação e prescrição de atividade física. 3a. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
PETROSKI, Édio Luiz. Antropometria – técnicas e padronizações. 2ª ed. Porto Alegre: Pallotti, 2003.
ROBERGS, R. A. e ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais da fisiologia do exercício. São Paulo: Phorte, 2002.
WEINECK, Jurgen. Treinamento Ideal. 9a. ed. São Paulo: Manole, 2003.
WILMORE, J. H. e COSTILL, D. L. Physiology of sports and exercise. Champaign, Illinois: Human Kinetics Books, 1994.
revista
digital · Año 12
· N° 118 | Buenos Aires,
Marzo 2008 |