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Análise cinesiológica do golpe seoi-nage do judô:
riscos de lesão para a articulação da coluna vertebral

   
*Graduado em EF Universidade de Franca. Mestrando em Educação Especial - UFSCar.
**Doutora em Educação Especial - UFSCar. Docente da Universidade de Franca.
Docente do Centro Universitário Claretiano de Batatais - CEUCLAR.
Coordenadora da Especialização em EF Escolar - UNIFRAN.
(Brasil)
 
 
Paulo Augusto Costa Chereguini*
paulochereguini@hotmail.com  
Maria Georgina Marques Tonello**
ginatonello@unifran.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Os objetivos deste trabalho foram: 1) determinar um método capaz de visualizar a mecânica do golpe Seoi-Nage do judô 2) descrever o movimento do golpe Seoi-Nage 3) verificar a existência de possíveis riscos de lesão à articulação da coluna vertebral e 4) oferecer embasamento teórico quanto à execução correta da técnica. Os modelos para a filmagem foram dois atletas praticantes de judô do sexo masculino. Para a análise do golpe foram feitas filmagens a partir de duas câmeras. Ao final do estudo, pôde-se constatar que o movimento consiste de uma seqüência, partindo da posição anatômica à flexão lateral da coluna e inclinação da pelve (ambas para a esquerda), rotação para a esquerda com flexão (plano sagital) e manutenção isométrica de postura de flexão (plano sagital) no final do movimento. A combinação desses movimentos aliada as forças externas como a gravidade, o peso do corpo do oponente e as contrações musculares podem contribuir significativamente para o aparecimento de lesões agudas ou crônicas na coluna vertebral. O conhecimento desses fatores pelo profissional que trabalha com o judô é de vital importância para prescrição de exercícios com baixo risco de lesão bem como para prevenção de possíveis lesões.
    Unitermos: Judô. Cinesiologia. Lesão. Recursos cinematográficos.
 
Abstract
     The objectives of this work: 1) to determine an method capable to visualize the mechanics of the Seoi-Nage technique from judo 2) to describe the Seoi-Nage technique movement 3) to verify the existence of possible risks of injury to the joint of the vertebral column and 4) to offer theoretical basement for the correct execution of the technique. The models for the filming were two experienced male judo athletes. For the analysis of the technique, it had been done records with two cameras. In the end of the study, it could be evidenced that the movement consists from a sequence beginning from the anatomical position to lateral flexion of the column and inclination of the pelvis (both for the left), rotation for the left with flexion (sagittal plane) and isometric maintenance of position of flexion (sagittal plane) in the end of the movement. The combination of these movements allied to the external forces as the gravity, the opponent's body weight and the muscular contractions can contribute significantly to the appearance of acute or chronic injuries in the vertebral column. The knowledge of these factors by the professional who works with judo is of vital importance for prescription of exercises with low risk of injury as well as for the prevention of possible injuries.
    Keywords: Judo. Kinesiology. Injury. Cinematographic resources.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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Introdução

    Este trabalho apresenta como um de seus objetivos estudar uma forma coerente de avaliação da execução da técnica do golpe Seoi-Nage do judô, demonstrando suas características, seus aspectos positivos e negativos e desenvolver um protocolo experimental de avaliação simples, de baixo custo, precisa e não invasiva, usando como ferramenta a cinemetria bidimensional.

    Inicialmente foi feito um apanhado de informações a respeito da história, das técnicas e do tipo de treinamento da modalidade esportiva judô. Posteriormente, foi realizada uma revisão anatômica da articulação da coluna vertebral, apoiada em bases fundamentais da biomecânica. Por fim, fez-se uma revisão do mecanismo de ocorrência de lesões, enfocando particularmente as articulações e os efeitos decorrentes na região da coluna vertebral. Com esta revisão, acredita-se poder embasar o leitor à cerca da etiologia lombálgica, podendo associá-las ou não à prática do judô, enfoque deste estudo.


Revisão bibliográfica

Judô

    Segundo Tegner (1969), Jigoro Kano levou muitos anos estudando, avaliando, comparando e praticando as antigas artes de luta, para em 1882 sistematizar tudo que havia aprendido e poder criar uma nova arte, conhecida como judô, o "Caminho Suave". Judô literalmente significa "o modo suave" ou "o modo mais fácil", haja vista que "ju" significa suave ou fácil, e "do" caminho ou vida, ou seja, o caminho da suavidade, em seu sentido mais amplo moral e espiritual. O uso do intelecto e não meramente o uso dos músculos, seria uma "suavização" da maneira de enfrentar o mundo e seus problemas práticos, sendo esta a idéia básica do "Caminho da Vida".


Coluna vertebral

    A coluna vertebral funciona não somente como base de suporte para a cabeça e órgãos internos, mas também para inserção de ligamentos, ossos e músculos das extremidades, caixa torácica e a pelve; mas como também é móvel, serve como elo entre as extremidades superiores e inferiores, possibilitando ampla liberdade de movimentos a eles e a si própria, protegendo ainda a medula espinhal (CAMPOS, 2002). Sua estrutura é composta por 33 vértebras, separadas por 23 discos (apesar de alguns autores citarem como sendo 24 discos) intervertebrais, dividida em cinco regiões distintas com formas, funções e configuração específicas, sendo: região cervical (7 vértebras), torácica (12), lombar (5), sacral (5 - fundidas) e coccígea (4 - fundidas) (figura 1).

    Visualizando a coluna anteriormente ou posteriormente, esta não apresenta curvas em seu prolongamento, no entanto, quando lateralmente, podem-se evidenciar algumas destas, que podem variar em amplitude, entre outros aspectos, com a idade do indivíduo (NORKIN & LEVANGIF, 2001).

    O movimento intervertebral é extremamente limitado, possui pouca mobilidade de movimentos, uma vértebra pode mover-se sobre outra adjacente em seis distintas direções de forma translatória (3) e rotatória (3). Estes movimentos e suas amplitudes dependem de vários fatores como a postura e curvatura da coluna, orientação de suas facetas articulares, da elasticidade e espessura dos discos intervertebrais, além da extensibilidade dos músculos, ligamentos e cápsulas articulares, que diferem entre as regiões (figura 2).

    Para que haja estabilidade da coluna, tanto em movimento quanto em repouso, é necessária a integridade tanto dos ligamentos intrassegmentares, que são principalmente os ligamentos: amarelo (flavo), interespinhoso, intertransversal e supraespinhal, quanto dos que se estendem ou unem um número maior de vértebras em uma unidade, constituindo principalmente nos ligamentos longitudinais anterior e posterior, mesmo que para total segurança exista a necessidade de assistência muscular; muitos dos músculos por serem inervados são propensos à sensação de dor. (CAMPOS, 2002).

    Existem muitas forças que atuam na coluna vertebral quando estão submetidas a atividades funcionais e também quando em repouso, são elas: compressão axial, compressão e tensão, que causam inclinação, torção e cisalhamento. A capacidade da coluna de resistir a estas cargas é variável, e entre estas variáveis pode-se citar: local, intensidade e duração da aplicação da força, além da idade, da postura e do nível de condicionamento da pessoa, bem como da integridade de seu sistema nervoso (CAMPOS, 2002).

    Diz-se na biomecânica que devido à coluna ter a capacidade de realizar movimentos nos três planos (frontal, sagital e transversal) dentro de seus três eixos (sagital, frontal e longitudinal respectivamente) ela possui três graus de liberdade de movimento.

    As lesões podem ser originadas de duas formas: através de uma única carga (lesão aguda) ou através de várias delas repetidas por um longo tempo (lesão crônica). Uma persistência no sofrimento de insultos crônicos pode predispor progressivamente o tecido lesado a condições degenerativas e a uma lesão ainda mais grave (WHITING e ZERNICKE, 2001).


Método

Participantes

    Participaram deste estudo dois atletas praticantes de judô, sendo um na situação de tori, que designa o atleta que executa o golpe, e, o outro na de uke, designa o atleta que recebe, ou é projetado durante o golpe, com idades respectivas 20 e 21 anos (classe sênior, Confederação Brasileira de Judô - CBJ) do sexo masculino. Foi estipulado que os atletas possuíssem altura aproximada de 1,70 metro e 65 Kg (categoria meio leve, CBJ), reconhecidamente identificados por características antropométricas ecto-mesomórficas e que não apresentavam relatos de alterações posturais nem de dor na região da coluna vertebral.


Materiais

    Os registros foram feitos por duas câmeras que operam no sistema SVHS, uma PANASONIC modelo AG 456, e a outra JVC modelo GYX3. Foram utilizados também, dois tripés para câmera de vídeo, um para cada câmera, para apoio, posicionamento e regulação da altura da filmagem.

    Para selecionar as melhores imagens filmadas e convertê-las em imagens digitalizadas, utilizou-se o programa Adobe Premiere versão 6.0. com auxílio de um computador com placa de vídeo da marca Matrox 2500 e processador Pentium 4, 1.0 GHz, 384 MB RAM. Para gravar estas imagens selecionadas para um compact disc recordable (CD-R), marca SONY 700 MB, utilizou-se o programa Ahead Nero versão 5.5.9.0 e para a análise das características da mecânica e dinâmica do golpe, contida nas imagens digitalizadas, foi utilizado o software Adobe Premiere versão 6.0, o mesmo utilizado para digitalização.

    Por fim, para melhor identificação dos pontos de interesse, o tori utilizou uma sunga preta (de banho) colante ao corpo e lhe foram fixados trinta e quatro adesivos circulares brancos, de um centímetro e meio de diâmetro. O uke utilizou um kimono, vestimenta para competição de judô, nos tamanhos padrões estipulados pela CBJ.


Procedimentos

    Os procedimentos foram divididos em 6 fases: 1) escolha do golpe a ser executado; 2) escolha do sujeito e modelo antropométrico para aplicação do golpe; 3) montagem do cenário, e localização e marcação dos pontos anatômicos de interesse no corpo do tori; 4) aquisição das imagens (filmagens); 5) processamento das imagens (digitalização) e 6) análise cinesiológica dos movimentos da coluna vertebral durante a execução do golpe, à partir da obtenção dos quadros de visualização, ou frames.

    Optou-se por estudar o golpe Seoi-nague, cujas fases são descritas por Virgílio (1990): desequilíbrio (kuzushi), preparação ou "encaixe" (tsukuri) e execução ou projeção (kake). Seja qual for a técnica de projeção (nague-waza) e sua possibilidade de aplicação, propiciar o desequilíbrio (kuzushi) do adversário é primordial para o sucesso das fases subseqüentes, tanto que esse é um dos "ensinamentos máximos" deixados por Jigoro Kano - seiryoku zenio: "o melhor uso de energia - ceder para vencer", ou seja, um mínimo de força para um máximo de eficiência (FRANCHINI, 2001).

    Para a superfície da aplicação da técnica foram colocados dez tatames da cor verde na espessura de quatro centímetros, formando uma área retangular, onde foram posicionados junto a um plano de fundo negro. As duas câmeras, C1 e C2, que operam no sistema SVHS, foram posicionadas cada uma de frente para um dos planos de fundo (figura 3).

    Para melhor análise da mecânica e dinâmica do golpe o tori projetou seu adversário vestindo inicialmente somente uma sunga preta, sem kimono, em que foram fixados em seu corpo trinta e quatro adesivos brancos circulares de um centímetro e meio de diâmetro, e, em seguida, repetiu a projeção utilizando a vestimenta típica da prática do Judô, o kimono.

    As câmeras foram acionadas ao mesmo tempo e ambas tiveram todas as imagens gravadas, sob ângulos diferentes. Realizada a gravação, em que as imagens foram digitalizadas, passando por uma conversão analógico-digital com auxílio do computador, e, a fase de captação das imagens, selecionou-se 64 imagens, ou frames, desejados referentes aos movimentos do golpe. Terminada a seleção dos frames foi possível iniciar a verificação dos resultados.

    Para auxiliar na comparação entre o volume de treinamento ou prática do judô e fatores que poderiam influenciar do surgimento da lesão, além de se obter dados regionais dessa ocorrência, elaborou-se um questionário, composto de oito testes, para técnicos de judô, entregues a doze deles, durante as competições dos "Jogos Abertos do Interior", realizado no ano de 2002, na cidade de Franca/SP.


Protocolo para análise da dinâmica do golpe

    Procurou-se uma metodologia simples, de baixo custo, precisa que permitisse uma análise bidimensional das formas geométricas da coluna vertebral durante o movimento, no entanto, não foi viável adotar um modelo de pontos anatômicos semelhante aos utilizados usualmente em outros trabalhos científicos, os quais utilizam para a determinação da dinâmica da coluna, a identificação de pontos anatômicos, marcados na pele sobre os processos espinhosos na coluna, como exemplo nos trabalhos de Brenzikofer (1993), haja vista que estaria impedida a visualização dos pontos localizados na pele sobre os processos espinhosos, ou seja, no dorso, devido esta região estar sobreposta pelo corpo do uke. Desta forma, para visualização dos pontos de interesse foram fixados, em seqüência pré-estipulada, trinta e quatro adesivos brancos circulares de um centímetro e meio de diâmetro.


Resultados e discussão

    Com auxílio do software de visualização que possibilitou a análise das marcações dos pontos no corpo do tori a partir dos frames selecionados, foram verificados os seguintes movimentos da coluna vertebral, seguidos nesta ordem:

  1. Posição anatômica: como pode se verificar, no frame quatro, captado pela câmera dois (C2) na primeira projeção sem kimono (figura 4);


    Figura 4. Coluna vertebral em vista lateral

  2. Flexão lateral da coluna e inclinação da pelve, ambas para a esquerda: verificado no frame seis, captado pela câmera um (C1) na primeira projeção sem kimono (figura 5);


    Figura 5. Coluna vertebral em flexão lateral e inclinação da pelve, ambas para a esquerda.

  3. Rotação para a esquerda com flexão (plano sagital): observado, mais especificamente, no frame sete, captado pela C1 na segunda projeção sem kimono (figura 6);


    Figura 6. Rotação para a esquerda com flexão (plano sagital).

  4. Manutenção isométrica da postura de flexão (plano sagital): no frame onze, pela C2 na primeira projeção sem kimono (figura 7).


    Figura 7. Manutenção isométrica da postura de flexão (plano sagital).

    Foram analisadas também as forças que agem durante a mecânica do golpe, são elas:

    1. Força de contração da musculatura abdominal anterior, propiciando um maior potencial de estresses do tipo: 1) rotatórios, tais como flexão lateral, rotação e flexão da coluna vertebral acarretando em inclinação e torção das vértebras e 2) translatórios de compressão axial e de cisalhamento (figura 5).

    2. Força da gravidade agindo sobre a coluna, acarretando em uma compressão axial (figura 6 e 7).

    3. Força e peso referente ao corpo do oponente, acarretando sobrecarga por compressão axial. Sobrecarga do peso do oponente na coluna do tori, que foi suportada até o momento em que os membros inferiores se envolvem no movimento e toda a força colocada nos membros superiores também foi transferida para a coluna vertebral em forma de compressão axial (figura 6 e 7).

    Comparando a análise dos movimentos da coluna vertebral e das forças atuantes nela com as revisões bibliográficas e questionários pode-se sugerir, ou até mesmo estabelecer, a todos aqueles que estão envolvidos com a prática do judô algumas considerações que se referem à prática ou aplicações do golpe Seoi-Nage e sua implicação lesiva a articulação da coluna vertebral, são elas:

    Flexões acentuadas, aliadas à sobrecarga durante a aplicação deste golpe, podem deixar mais suscetíveis a lesões, ou mesmo lesá-las, os ligamentos longitudinais posterior e o interespinhoso, pois são os mais ligamentos mais fracos que possuem a função de resistência à flexão, haja vista que, por muitas vezes, o atleta realiza em um mesmo dia, ou mesma competição, de seis a oito lutas, o que é provável que haja acentuado desgaste físico, podendo alterar a mecânica de execução do golpe, predispondo-o a lesão.

    A região cervical, por ser a mais móvel das regiões da coluna vertebral, permite grande mobilidade em todas as direções, inclusive quando na soma de vários deles, deixando assim esta região mais suscetível à lesão.

    A ocorrência da contração abdominal durante grande parte do tempo de execução do golpe, propicia um maior potencial de estresses rotacionais e de cisalhamento, especialmente a região lombar da coluna vertebral.

    Acredita-se que algumas estruturas tais como os processos espinhosos, articulações zigapofisárias, e ligamento longitudinal posterior podem correr maiores risco de se lesarem com a prática do golpe em questão, quando na execução ou projeção de adversários (ukes) possuidores de massa corporal elevada, devido ao fato da parte posterior da coluna vertebral se submeter a uma elevada compressão.

    Durante o movimento de flexão realizada entre a última vértebra lombar e a primeira da região sacral da coluna vertebral, a pressão exercida sobre os discos intervertebrais é grande, aumentada ainda mais com as contrações abdominais, movimentos de rotação e flexão lateral e sobrecarga referente ao peso do corpo do adversário.

    Um outro possível risco lesivo à coluna vertebral é a fratura das lâminas das vértebras lombares, pois esta estrutura é suscetível à lesão em caso movimentos descoordenados, aliados sobreposição de sobrecarga.

    O movimento de flexão ocorrido durante a execução do golpe acarreta em uma compressão da parte anterior do disco intervertebral e uma protuberância do anel fibroso também anteriormente, deslocando o núcleo pulposo posteriormente. Assim podendo lesar ou até deformar estas estruturas, ainda mais facilmente por existir a combinação com o movimento de rotação, isso por estressar todas as fibras ao mesmo tempo.

    Dessa forma a combinação destes dois movimentos que acontece durante a execução do golpe não é recomendada a alunos iniciantes, só com uma técnica mais apurada é que o aluno tem condições de realizar esta composição de movimentos de maneira conduzida. Possibilitando uma maior estabilidade à sua coluna, diminuindo significativamente o risco de lesioná-la.

    A repetição freqüente e em alta velocidade dos movimentos de flexão aliado a sobrecarga, que são presentes na projeção do golpe em questão, propicia uma maior suscetibilidade à lesão e estresses as estruturas posteriores da região lombar, podendo até levar a uma hipermobilidade e à degeneração das facetas.

    Uma fraqueza ou lesão da musculatura abdominal pode influenciar em uma possível lesão da coluna vertebral durante execuções do golpe em questão, sendo ainda mais lesiva em situações ou aplicações irregulares, pois a contração isométrica desta musculatura é essencial durante situações dinâmicas.

    O movimento de rotação existente durante a execução do golpe é restringido devido acontecer ao mesmo tempo o movimento de flexão; este movimento propicia um certo grau de risco de lesão principalmente à região lombar.

    Apesar de não serem medidos nesse trabalho os graus de rotação, acredita-se que este movimento não deva ultrapassar os três graus ou até mesmo dois graus, isto evitando que as fibras do anel fibroso se lesem ou falhem. Por existir ainda aliada à rotação uma sobrecarga provinda do corpo do adversário, as facetas articulares também podem se lesar, devido elas se impactarem, além ainda de poder haver uma série de lesões para toda a coluna.

    A inclinação da pelve para esquerda, ou para a direita, dependendo do lado de execução, interfere na postura da coluna vertebral; entretanto não é possível afirmar quais suas implicações para oferecer risco de lesão à coluna vertebral neste estudo, devido aos recursos disponíveis e utilizado.

    A compressão da coluna vertebral durante a aplicação do golpe, acarreta em uma exteriorização do fluxo sanguíneo, diminuindo o volume ósseo; caso aconteçam durante o treinamento deste golpe intervalos para o retorno deste fluxo. É possível afirmar que o risco de lesão seja mínimo (pensando no fator compressão), no entanto, caso não haja estes intervalos e estes estresses sejam contínuos ou por uma longa duração, acredita-se que aumente significativamente o risco dos corpos vertebrais se lesarem. Na projeção deste golpe, de adversários que possuem massas corporais elevadas o risco de lesão pode ser ainda maior.

    A partir da revisão bibliográfica podemos afirmar que durante as execuções repetidas do golpe, devido haver sobrecarga continuamente, os discos intervertebrais exibem arrasto, ou seja, movimentos do tipo translatórios, impondo assim a tarefa de resistência de toda força de cisalhamento exclusivamente às articulações zigapofizárias, sendo estas as primeiras estruturas a se lesarem caso estejam anteriormente lesadas, ou mesmo em situações aonde a sobrecarga é bastante superior a sua capacidade de suportá-las.

    Movimentos irregulares, aliados à sobreposição da coluna vertebral por sobrecarga, também podem ocasionar no rompimento dos pares interarticulares, podendo ainda conseqüentemente lesar os ramos nervosos no forame intervertebral, ocorrência conhecida como espondilolistese.

    Mesmos a estrutura do núcleo pulposo do disco intervertebral de atletas jovens também estarão mais suscetíveis a se lesarem se submeterem a estresses por sobrecarga por várias horas num treinamento de judô.

    Outra preocupação advinda de movimentos irregulares, ocasionados por aplicações incorretas ou diferentes da que foi executada neste estudo, podem gerar um potencial de lesão para as estruturas da coluna vertebral bem como para o quadril e membros inferiores, pois estas estruturas estão intimamente ligadas, visto que qualquer movimento que ocorra em qualquer um destes níveis afeta de forma recíproca as outras.

    Os responsáveis pela prescrição de treinamentos de judô, principalmente ao de alto nível, devem atentar-se a forma de execução dos golpes, pois como verificamos certas formas de traumas podem ocasionar na separação das placas terminais dos corpos vertebrais, pois estas estruturas estão precariamente fixadas.

    Combinando muitas das informações anteriores, afirma-se que a combinação de torção com compressão axial e inclinação, aumentam significativamente o risco de ocorrer lesões a estruturas da coluna, com exemplo a ruptura das fibras do disco intervertebral.


Considerações finais

    Percebemos através deste estudo que é de fundamental importância para os treinadores o conhecimento de técnicas de avaliação das lesões, dos fatores de risco, além dos movimentos que são executados durante um golpe, para assim prescreverem da melhor forma os treinamentos.

    A repetição de posturas pode aumentar o risco de lesão devido ao aparecimento da fadiga. Não somente a fadiga física como também a fadiga mental proporciona um aumento na probabilidade da ocorrência de uma lesão. Isso devido a debilidade ou comprometimento da força muscular, coordenação, atenção, concentração e dos mecanismos de propriocepção.

    A fraqueza da musculatura abdominal anterior pode aumentar o risco de lesão, devido esta musculatura ser a principal estrutura tanto para movimentar quanto para estabilizar a coluna com uma sobrecarga do oponente.

    É importante ressaltar que o executante foi um atleta com bom nível de condicionamento físico, elevou o uke (participante que recebeu a técnica) e o projetou de forma relativamente fácil para suas condições e executou apenas algumas repetições. Em situação de treinamento, o executante realiza várias repetições do exercício, com adversários de pesos diferentes, inclusive com companheiros ou adversários com o dobro de seu peso, aumentando o risco de lesão. Entretanto, por se tratar de um dos golpes mais utilizados e eficientes na prática do judô, recomenda-se que os atletas sejam submetidos a treinamentos complementares, tais como os de alongamento, fortalecimento e relaxamento específicos à musculatura extensora da coluna vertebral.


Bibliografia

  • BRENZIKOFER, R.; ORTOLE, R. L. Análise das curvaturas e torções 3D da coluna vertebral. Anais do V Congresso Brasileiro de Biomecânica. Campinas. 1993.

  • CAMPOS, M. de A. Exercícios Abdominais: uma abordagem prática e científica. Rio de Janeiro: Sprint, 2002. 256p.

  • FRANCHINI, E. Judô: Desempenho Competitivo. São Paulo: Manole, 2001. 253p.

  • NORKIN, C. C.; LEVANGIF, P. K. Articulações: estrutura e função - Uma abordagem prática e abrangente. São Paulo: Revinter, 2001. p.124-64.

  • TEGNER, B. Guia Completo de Judô. Rio de Janeiro: Record, 1969. 303p.

  • VIRGÍLIO, S. A arte do Judô. Campinas: Papirus, 1986.161p.

  • WHITING, W. C.; ZERNICKE, R. F. Biomechanics of Muscoskeletal Injury. Champaign: Human Kinetics, 1998. 251p.

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