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Indicadores de flexibilidade em escolares de 11 anos de
idade de uma escola de Campo Grande-MS, Brasil

 

 *Mestre em Ciências da Saúde – UnB.

Docente do Curso de Educação Física do Instituto de Ensino Superior da Funlec (IESF).

Técnico da Escola de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul – ESP/MS.

**Graduada em Educação Física pelo Instituto de Ensino Superior da Funlec (IESF).

(Brasil)

Joel Saraiva Ferreira*

Nilda Cardoso Ledesma**

joelsaraiva@bol.com.br

 

 

 

Resumo

          A flexibilidade consiste na qualidade física que permite ao individuo executar um movimento de grande amplitude músculo-articular sem representar riscos de lesões. Pode ser treinada e acrescentar benefícios ao corpo em crianças, jovens, adultos e idosos. Para que as crianças atinjam um desenvolvimento motor harmonioso, a flexibilidade é imprescindível pela necessidade de ajustes posturais no período de maior crescimento, que exigem o equilíbrio nas cadeias musculares anteriores e posteriores, responsáveis pelo equilíbrio do corpo e sustentação da coluna vertebral. Para que os métodos do treinamento da flexibilidade sejam efetivos e seguros, há que se observar o período maturacional, idade biológica e a técnica de execução dos movimentos. Sabendo disso, desenvolveu-se esta pesquisa com o objetivo de avaliar o nível de flexibilidade de escolares de 11 anos de idade, de uma escola da rede privada de ensino da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. A pesquisa caracterizou-se como descritiva, a partir do desenvolvimento de estudo transversal, sendo avaliados 30 indivíduos de ambos os gêneros. Após a coleta e análise dos dados, concluiu-se que os níveis de flexibilidade encontrados foram baixos para a respectiva população (valores médios de 19 cm e 25 cm, para meninos e meninas, respectivamente), o que pode estar ocorrendo por estímulos insuficientes ou uma prática ineficiente. São necessárias, portanto, revisões nos planejamentos e aplicações das aulas de Educação Física para garantir o desenvolvimento do equilíbrio muscular através de exercícios de alongamento e flexibilidade.

          Unitermos: Escolares. Flexibilidade. Treinamento.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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Introdução

    Muito se diz da importância das atividades físicas como fator positivo para a melhoria da qualidade de vida. Porém, deve-se antes de tudo encontrar formas de conscientizar as pessoas para a importância das várias práticas corporais que podem ser vivenciadas e, com isso, efetivamente despertarem para uma prática sistematizada como parte do cotidiano, tornando esse hábito parte imprescindível para o bem-estar.

    Dentre muitos fatores que acabam por tornar essa prática desvinculada da vida de grande parte da população, o sedentarismo é um fator constante e sem precedentes, haja vista os efeitos deletérios que são atribuídos à não prática de exercícios físicos na promoção da saúde. Diante de tais fatos, consideramos esta questão muito abrangente, pois envolve a preocupação e a exigência profissional de encontrar alternativas para a questão, por entender que as doenças hipocinéticas constituem atualmente na maior preocupação dos órgãos de saúde pública no mundo. Preocupação essa legítima, pois envolve as pessoas em todas idades, gêneros e condições sociais (BOUCHARD, 2003).

    Atualmente as aulas de Educação Física, em algumas escolas, têm uma predileção pelos conteúdos desportivos, em detrimento aos outros instrumentos que existem para serem desenvolvidos com igual importância, impedindo o acesso de seus alunos a uma formação crítica, autônoma e efetivamente formadora da cultura corporal. Tais práticas não contribuem com experiências motoras acessíveis a todos, já que o teor das aulas de treinamento desportivo é altamente excludente, e, ainda assim, profissionais com formação tecnicista, não percebem que muitas vezes as aulas aplicadas dessa forma totalmente técnica e de alto nível, só serão possíveis se seus alunos tiverem grande desenvolvimento motor antes de partir para a especificidade que caracteriza o treinamento desportivo (MATTOS & NEIRA, 2000).

    Paradoxalmente, as aulas recreativas como única prática e que acaba incluindo aqueles alunos com baixo desempenho motor, acaba por levar a uma resistência pelas aulas de Educação Física na escola. Aqueles alunos que já têm uma cultura física vivenciada pelos pais ou por alguém que participa da sua formação, não encontram uma justificativa que lhe atenda dentro da escola, o que os leva muito cedo para as academias ou clubes desportivos (SOARES, 2001).

Referencial teórico

    Estudo da flexibilidade

    Flexibilidade consiste na “capacidade que um atleta tem de executar movimentos de grande amplitude pelas forças extremas ou ainda que requeiram a movimentação de muitas articulações. Dentre outras definições como mobilidade, elasticidade, capacidade de articulação” (WEINECK, 2003, p.471).

    Numa definição mais detalhada, Fox, Bowers e Foss (1991, p.134), definem com divisões: Estática e Dinâmica. “Flexibilidade estática é a amplitude do movimento ao redor de uma articulação. Flexibilidade dinâmica oposição ou resistência de uma articulação ao movimento em qualquer amplitude”.

    Para os fisiologistas americanos Roberts e Robergs (2002, p.90), a flexibilidade é “a capacidade de maximizar a amplitude articular no movimento.” Com o objetivo de defini-la associada a outra capacidade física, Achour Júnior (2003, p.415), complementa que “flexibilidade e força são importantes para a saúde neuromuscular, por evitar lesões freqüentemente observadas onde existe o desequilíbrio da força dos músculos.” Numa perspectiva visando o universo escolar, encontra-se a definição de Matos e Neira (2000, p.61), que consideram a flexibilidade “componente importante no desempenho muscular, para a saúde geral e aptidão física”.

    Ao analisar todas essas definições com muita atenção e sem desconsiderar suas abordagens, busca-se reforçar a relação da saúde com os benefícios adquiridos através da prática de exercícios de alongamentos e flexibilidade em adolescentes na escola. A utilização de um protocolo de avaliação física seria indispensável, pois a detecção de alunos portadores de algum impedimento funcional asseguraria uma correta prescrição de atividades e ainda, determinaria o grau de evolução dos demais no decorrer das aulas.

    Tais atividades estão em consonância com os planejamentos das aulas de Educação Física escolar, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, que prevêem e outorgam ao educador físico conscientizar os alunos numa educação motora para a manutenção da saúde, dando-lhes a oportunidade de vivenciar e compreender através das vivências motoras os conceitos importantes para a sua formação corporal (MATOS e NEIRA, 2000)

    Tipos de Flexibilidade

    Segundo Weineck, (2003), os tipos de flexibilidade são vários e estão listados a seguir:

  • Flexibilidade Geral - Compreende o maior número dos principais sistemas articulares e que depende do nível de desempenho físico de quem o pratica.

  • Flexibilidade Específica - Refere-se à prática desportiva e a uma determinada articulação que é utilizada como um gesto desportivo próprio.

  • Flexibilidade Ativa - É estabelecida pela contração dos músculos agonistas e relaxamento dos músculos antagonistas na realização de um movimento de maior amplitude.

  • Flexibilidade Passiva - Apresenta-se como a maior amplitude de movimento de uma articulação com auxílio de uma pessoa ou material, pois a capacidade de extensão é bem utilizada.

  • Flexibilidade Estática – realizada quando o corpo mantém um alongamento por um determinado tempo.

    Considerando as definições, nota-se que para aplicar exercícios com o objetivo de desenvolver flexibilidade, necessita-se, antes de tudo, amplos conhecimentos de cinesiologia, biomecânica, anatomia humana, e ainda, saber avaliar quantitativamente e qualitativamente a individualidade biológica, sem perder o objetivo desta prática.

    Dentro do programa de desenvolvimento da flexibilidade, os exercícios de alongamento contribuem para a eficácia nos resultados. A diferença entre um e outro, está no tempo de permanência estática do movimento. No caso de se buscar flexibilidade o tempo deverá ser 30 segundos por segmento corporal, ou mais, para um resultado importante (ACHOUR JUNIOR, 2003).

    Portanto, o treinamento da flexibilidade envolve sobrecarregar o tecido de modo que este se adapte a um novo comprimento, sem perder força, o que nos mostra que os alongamentos efetivos para a busca de flexibilidade devem empregar baixa força, longa duração e serem executados no final de um esforço físico.

Material e método

    População

    A população estudada delimita-se em crianças com idade de 11 anos, de ambos os gêneros, sendo estes, estudantes do Colégio Oswaldo Tognini/ Funlec, dos turnos matutino e vespertino, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Obedecendo a tais critérios, obteve-se um total de trinta indivíduos avaliados (n = 30).

    A avaliação foi realizada mediante autorização dos pais ou responsável de cada um desses alunos, em documento encaminhado previamente e com a autorização da direção da escola (Termo de consentimento livre e esclarecido).

    Instrumento para coleta de dados

    Os valores de flexibilidade foram obtidos através do teste de “sentar e alcançar”, com a ajuda do aparelho denominado Banco de Wells.

    Para a realização do teste o avaliado posicionava-se sentado, com os pés apoiados no aparelho e com as pernas estendidas. Em seguida iniciando uma flexão do tronco e do quadril, com as mãos sobrepostas e apoiadas sobre a fita métrica instalada na parte superior do Banco de Wells. A leitura da flexibilidade foi feita pelo avaliador, quando o avaliado atingiu o ponto máximo de flexão do tronco e quadril à frente.

    A fita métrica fixada na parte superior do Banco de Wells apresentava o valor “23” correspondesse a linha plantar dos pés do avaliado. Desta forma, obteve-se valores superiores ao número “23” para indivíduos que ultrapassaram a linha da planta dos pés com a flexão do tronco e do quadril, e valores inferiores a “23” para aqueles que não ultrapassaram a linha plantar.

    A estatura foi aferida com estadiômetro fixado à uma parede sem rodapé nem desnível e a massa corporal foi medida com uma balança digital devidamente calibrada, conforme protocolo proposto por PETROSKI (2003).

    Para o calculo do índice de massa corporal (IMC), utilizou-se a equação:

IMC= Massa corporal em Kg

       (estatura em m)2

    Todos os dados foram coletados no horário das aulas de Educação Física dos alunos, com auxílio e consentimento do profissional responsável por cada turma. Os alunos foram encaminhados ao Laboratório de Avaliação Física do Instituto de Ensino Superior da Funlec (IESF), onde efetuou-se a tomada das variáveis analisadas na pesquisa.

Apresentação e discussão dos resultados

    Após a coleta de dados, os resultados obtidos com a avaliação física foram tabulados, utilizando o programa Excel for Windows XP, e estão apresentados na Tabela 1 e Tabela 2.

Tabela 1. Medidas de peso corporal, estatura, IMC e flexibilidade em MENINOS com 11 anos de idade (n = 16).

 

Média

Desvio Padrão

Massa corporal (Kg)

41,800

9,242646

Estatura (m)

1,46

0,054635

IMC (kg/m2)

19,28

3,707188

Flexibilidade (cm)

19

6,961501

Observa-se na Tabela 1 que os alunos do gênero masculino apresentam os itens estatura, massa corporal e IMC com valores médios dentro dos parâmetros considerados adequados para a faixa etária deste grupo, de acordo com sua maturação biológica. Já o nível de flexibilidade do grupo se mostra baixo, pois evidencia a presença de um valor indicativo de que esses indivíduos não conseguem ultrapassar o ponto anatômico da planta dos pés, quando realizam o movimento de flexão do tronco e do quadril, estando com as pernas estendidas.

Tabela 2. Medidas de peso corporal, estatura, IMC e flexibilidade em MENINAS com 11 anos de idade (n = 14).

 

Média

Desvio Padrão

Massa corporal (Kg)

43,500

10,39771

Estatura (m)

1,53

0,03758

IMC (kg/m2)

18,52

4,120606

Flexibilidade (cm)

25

5,084992

    A apresentação dos valores expostos na Tabela 2 identifica características peculiares do gênero feminino no tocante à média de massa corporal, estatura e IMC dessas alunas, já que não há nenhuma discrepância em relação àquilo que é preconizado como normatização para tal faixa etária. No que se refere a flexibilidade, observa-se um valor médio indicativo de superioridade de desempenho no movimento de flexão do tronco e do quadril, quando comparado ao gênero masculino. Mesmo assim, chama a atenção o baixo valor obtido neste teste, também por parte do gênero feminino.

Conclusões

    Há uma evidente diferença orgânica relacionada a flexibilidade de crianças na faixa etária de 11 anos, notando-se que a aceleração no crescimento e maturação confirmam-se maiores no grupo feminino que no grupo masculino.

    Os resultados encontrados mostram ainda que o nível de flexibilidade é baixo, se considerarmos a população como um todo, por estar representando uma população ativa e em desenvolvimento. Essa perda da flexibilidade ou o ganho pouco significativo pode estar ocorrendo por estímulos insuficientes ou uma prática ineficiente. Pode-se perceber a resposta orgânica a esta capacidade física, na redução de movimentos e limitações importantes que poderão acometer o desempenho motor tanto nas atividades diárias, no esporte e na saúde destas crianças.

    São necessárias, portanto, revisões nos planejamentos e aplicações das aulas de educação física e treinamento desportivo para garantir o desenvolvimento do equilíbrio muscular através de exercícios de alongamento e flexibilidade em crianças.

Referências

  • ACHOUR JUNIOR, A. Exercícios de alongamento – Anatomia e Fisiologia. Barueri: Manole, 2003.

  • FOX, BOWERS, FOSS. Bases fisiológicas da Educação Física e dos desportos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

  • MATTOS, M. G. e NEIRA, M. G. Educação Física na adolescênciaconstruindo o conhecimento na escola. São Paulo: Phorte, 2000.

  • PETROSKI, E. L. Antropometria - técnicas e padronizações. 2ª ed. Porto Alegre: Pallotti, 2003.

  • ROBERGS, R. A. e ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais de Fisiologia do Exercício para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte, 2002.

  • WEINECK, J. O Treinamento ideal. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2003.

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